“Third”, dos Portishead

portishead.jpegNunca fui muito í  bola com a música dos Portishead. Aquela coisa dos discos parecerem riscados, sempre me pareceu um truque intelectualóide. E a voz da menina irritava-me, sempre tão aflita, tão deprimida, tão “tirem-me daqui, que não suporto viver”! A arte como sofrimento encenado, sempre me fez comichões. Além disso, confesso que também nunca os ouvi com atenção.

Em 2005, no entanto, a voz de Beth Gibbons despertou-me a atenção, no disco “Cinema”, de Rodrigo Leão. Ela canta o tema “Lonely Carousel”, nesse disco. E fiquei com vontade de ouvir melhor os discos dos Portishead.

Agora, que saiu o terceiro, exactamente chamado “Third”, fiz uma revisão da matéria e posso dizer que gosto, mas em doses pequeninas, como um bom whisky. Ontem, por exemplo, decidi ouvir os três discos de enfiada e sobrevivi com alguma dificuldade. Tanta melancolia deixa um gajo deprimido!…

Sopranos – 6ª série

sopanos6.jpgChegou ao fim a mãe e o pai da nova geração de séries de televisão e, sem dúvida, uma das melhores.

Acabou em boa altura. A família está numa encruzilhada: Meadow quer ser advogada e defender as minorias; A. J. quer ir para a tropa, representar os States no Afeganistão; Carmela adapta-se í s mortes, í s amantes, a tudo, desde que tenha uma casa na praia, um relógio com diamantes ou um bom carro; Tony Soprano depois de levar um tiro do tio, mata o seu próprio sobrinho e vê o seu braço direito, Sílvio Dante, moribundo, ligado í s máquinas.

A sexta série é uma das mais violentas e mais abjecta, em termos de sentimentos. Toda a psicopatia daquela malta é revelada em todo o seu esplendor. O desprezo pela vida, ao mesmo tempo que as tradições da família são preservadas a todo o custo.

O modo abrupto como a o último episódio termina foi uma boa opção, como quem diz que a história, afinal, continua mas, valerá a pena continuar a contá-la?

Mamas de silicone vencem Simpsons

O país de Hugo Chavez continua a surpreender.

A entidade reguladora da televisão venezuelana, que é uma entidade estatal, decidiu proibir a emissão dos Simpsons, por considerar que se trata de uma série “imprópria para crianças”.

Em seu lugar, a Televen (a RTP lá do sítio), começou a emitir a série Baywatch.

De facto, as crianças venezuelanas, sobretudo os rapazinhos, devem achar mais interessante ver as maminhas de silicone a saltitar das meninas das Marés Vivas, em vez dos bonecos amarelos dos Simpsons a beber cerveja e a arrotar.

Resta dizer que o nome da entidade reguladora da televisão Venezuela é, ela mesma, “imprópria para crianças”, já que se chama Conatel…

“Crónicas de Uma Pequena Ilha”, de Bill Bryson

cronicaspequenailha.jpg“Notes From a Small Island” foi publicado em 1995 e os ingleses não devem ter ficado muito satisfeitos com o título que Bryson escolheu; no entanto, comparando com a Austrália, a Inglaterra não passa de uma pequena ilha.

Como é habitual, a leitura destas crónicas de Bryson é muito divertida e escolhi alguns nacos, quase ao acaso.

Sobre a passividade e a paciência dos ingleses:

“Sempre achei lamentável – de um ponto de vista global – que uma experiência tão importante, no que diz respeito í  organização de uma sociedade, fosse calhar ao povo russo quando afinal o povo britânico teria lidado com ela muito melhor. Tudo aquilo que é necessário para levar a cabo um sistema socialista rigoroso é algo que, afinal, faz parte do instinto do povo britânico. Para começar, gostam de passar por privações. São bons a trabalhar em união face a uma situação adversa, em benefício de um bem comum como é evidente. São capazes de se manter em filas durante tempo indeterminado, de forma paciente, e aceitar com resignação impar uma necessidade de racionamento, restrições leves e uma súbita e preocupante escassez de bens essenciais, como só alguém que já alguma vez esteve num supermercado í  procura de pão, numa tarde de sábado, poderá compreender. Sentem-se í  vontade face a burocracias sem rosto e, como a Sra. Tatcher provou, são tolerantes para com as ditaduras. Possuem um dom especial para dizerem piadas acerca da autoridade, sem a desafiarem de facto, e ficam deveras satisfeitos com a derrocada dos ricos e dos poderosos. A partir dos 25 anos, a maioria dos britânicos veste-se como os alemães da parte leste. Em resumo, as circunstâncias são todas a favor.”

Sobre o grande amor dos britânicos pelos animais: 

“Não existe nada que me faça sentir mais inadaptado na Grã-Bretanha do que a atitude dos seus habitantes para com os animais, í  excepção da crença inabalável que possuem em relação í s previsões climatéricas e o gosto geral por piadas que envolvam a palavra «bottom». Sabiam que a National Society for the Prevention of Cruelty to Children foi fundada 60 anos depois da Royal Society for Prevention of Cruelty to Animals, e como uma derivação desta? E sabiam que, em 1994, a Grã-Bretanha votou a favor de uma directiva da União Europeia que requeria a fixação de períodos de descanso para os animais de carga, mas contra a que estabelecia períodos de descanso para trabalhadores das fábricas?”

Sobre a imprevisibilidade do clima, na Inglaterra: 

“Tenho um pequeno recorte, já um bocado velho, que trago comigo e do qual me sirvo, í s vezes, para me divertir. Foi tirado de um boletim meteorológico que vinha no Western Daily Mail e diz: «previsão: tempo seco e quente, mas mais fresco e com alguma chuva».”

Sobre a cultura geral dos ingleses:

“Ao fim e ao cabo, é um país onde a grande final de um programa como Mastermind é frequentemente ganha por motoristas de táxis e guarda-freios. Nunca cheguei í  conclusão se isto é impressionante ou assustador – se é um país onde os maquinistas conhecem Tintoretto e Leibniz, ou um país onde as pessoas que conhecem Tintoretto e Leibniz acabam como maquinistas.”

São quase 350 páginas de devaneios de um americano, passeando por Inglaterra, tomando nota das idiossincrasias dessa pequena grande ilha, sempre com muito humor. E ficamos a saber que, afinal, não é só em Portugal que os patos-bravos dão cabo das cidades, construindo monstros de vários andares e descaracterizando as cidades do interior.

Alberto João Jardim mostra o caminho

A “Pequena Esmeralda” é um assunto recorrente nos media.

Apesar da solidariedade que podemos sentir pela miúda, não deixa de ser irritante o modo como os órgãos de comunicação tomaram partido, endeusando o sargento, que é pai afectivo da “Pequena Esmeralda” e diabolizando o pai biológico que, pelos vistos, há anos que anda a tentar obter a custódia da filha.

Não vou tomar partido, porque o assunto só me interessa como exemplo do mau jornalismo.

Ontem, mais um episódio: o tribunal tinha determinado que o pai afectivo levasse a “Pequena Esmeralda” (mesmo quando atingir a maioridade, a Esmeralda há-de continuar a ser pequena…) a visitar o pai biológico.

O encontro iria ter lugar no tribunal. No entanto, e apesar do dispositivo de segurança digno de uma estrela pop, a multidão de curiosos (avisados pela comunicação social) e de jornalistas era tal, que a miúda, compreensivelmente, teve medo de sair do carro e o encontro não aconteceu. Mas os jornalistas já se apressaram a dizer quando e onde será o novo encontro, para que tudo se possa repetir.

A reportagem que vi na televisão era mais um exemplo de voyeurismo barato: o sargento, de pé, junto ao carro, esbracejando lá para dentro; no interior do carro, a “Pequena Esmeralda”, com um rodela de distorção no rosto, cirandava entre o banco da frente e o de trás; depois, o pai biológico entrava noutro carro, e raspava-se, com a multidão de donas de casa sem nada para fazer, a gritar “vai-te embora! Malandro!”

Alberto João Jardim é que mostra como se deve fazer: proibiu a presença de jornalistas no congresso do PSD-Madeira. Diz ele que é para evitar que alguns “empregados da comunicação social” venham, depois, dizer mentiras sobre o que se passa no congresso. O eterno presidente da Madeira diz que só deixa os jornalistas entrarem para assistirem aos seus discursos de abertura e de fecho.

E podem crer que aquilo vai estar cheio de jornalistas.

A menos que, í  mesma hora, a “Pequena Esmeralda” tenha marcado algum encontro com alguém da família.

Afinal, as rapidinhas não prestam?

Sexólogos americanos conduziram um estudo, agora publicado no Journal of Sexual Medicine, que pretende esclarecer o que se entende por uma boa queca.

Como sou demasiado preguiçoso para procurar o estudo na Net, tenho que me contentar com as referências ao mesmo, publicadas na imprensa portuguesa.

E aí é que a porca torce o rabo.

Se eu acreditar no Diário de Notícias, se a queca (considerando, apenas a penetração, o que é pouco. Sempre.) demorar 1 a 2 minutos, é «demasiado curto»; se demorar 3 a 7 minutos, é «adequado»; se durar de 7 a 13 minutos, é «desejável»; se se prolongar por mais de 13 minutos, é «demasiado longo».

No entanto, se eu me fiar no Sexta-feira (semanário de distribuição gratuita – e há sempre que desconfiar do que é de borla…), «três a treze minutos é o tempo ideal para o acto sexual (…); não é preciso uma relação longa para satisfazer uma mulher». E para satisfazer um homem? Ou para satisfazer duas mulheres? O jornal não esclarece, mas acrescenta: «conclui-se também que dez a 30 minutos é uma relação demasiado longa». O que terá acontecido aos 13 minutos, referidos pelo DN?

Divergências í  parte, ambos os jornais concordam que uma penetração sexual que dure entre um a dois minutos, é pouco satisfatória.

É o fim do velho Pepe Rápido!

Alérgico ao Senhor

Não resisto a esta diatribe.

O suplemento Tabu (título bem adequado!), do semanário Sol, da semana passada, publica um artigo intitulado «Comungar sem glúten».

Refere o artigo que «comungar pode dar direito a lesões intestinais, anemia, infertilidade e muitas outras maleitas». E isto porque a hóstia é feita com farinha de trigo, que contém glúten e há por aí muita gente alérgica ao glúten. Os portadores de doença celíaca, por exemplo, não suportam o glúten.

Fácil de resolver, diria qualquer ateu inteligente.

Errado.

A igreja católica, neste como noutros assuntos, é inflexível! A hóstia representa o corpo do Senhor e «as hóstias sem glúten são impróprias para a comunhão», segundo um documento de 1995, da Congregação da Doutrina da Fé, cujo perfeito era, então, Joseph Ratzinger, o actual Papa.

Que fazer, então?

É que um católico que não engole o Senhor regularmente, não é católico, não é nada.

Mais uma vez, fácil de resolver.

Segundo o padre Peter Siltwell, director da faculdade de Teologia da Universidade católica, citado pelo jornal, «ninguém está a ser excluído do sacramento. Quem quiser pode comungar através do cálice sagrado. É o que faço na minha capela.»

Então, mas o cálice sagrado contém vinho. Vamos dar vinho, por exemplo, a uma criança?

Por que não? diz o senhor padre. Â«É só uma quantidade mínima, umas pequenas gotas».

Portanto, para o padre Stilwell, não faz mal nenhum dar um pouco de vinho a beber a uma criança. O vinho é o sangue de Cristo, está abençoado – logo, não é um mau exemplo, não é incitamento ao consumo de álcool, não é condenável.

Enfim, o raio que os parta.

Agora, confesso que a ideia de um católico alérgico ao Senhor não me sai da cabeça.

Cuba í  beira do colapso

É conhecida a piada que diz que a revolução cubana teve três grandes êxitos: a saúde, a educação e a segurança social, e três grandes fracassos: o pequeno-almoço, o almoço e o jantar.

Mas o regime sempre teve a desculpa dos parvalhões dos americanos, que insistem em manter um bloqueio que já não faz sentido, se é que alguma vez fez sentido…

A farsa do «não-fode-nem-sai-de-cima» de Fidel Castro acabou.

O jovem e prometedor Raul Castro está agora, de pleno direito, í  frente dos destinos da nação cubana.

Mas começou mal.

Qual Marcelo Caetano das Caraíbas, Castro II começou por permitir os telemóveis e, agora, decidiu autorizar que os seus compatriotas frequentem os mesmos hotéis que os turistas estrangeiros.

Já falta pouco para que Cuba seja anexada pelos States…

Turmas dos filhos dos doutores?

O Bloco de Esquerda quer contribuir para a bagunça na Escola Pública. Não lhe chega os diversos ministros da Educação e as respectivas equipas de peritos que, paulatinamente, têm vindo a lixar o ensino, com sucessivas reformas e contra-reformas.

O Bloco quer mais. Quer “turmas heterogéneas”.

E o que será isto de “turmas heterogéneas”? Serão turmas com gordos e magros, altos e baixos, miúdos e miúdas, brancos e pretos?

Também.

Mas o Bloco quer que a heterogeneidade atinja, também, o QI e propõe que se acabem com “as turmas dos filhos dos doutores e as turmas dos repetentes”.

O quê?!

Não se importa de repetir?

O Bloco quer que se acabem com as “turmas dos filhos dos doutores e as turmas dos repetentes”.

Quer dizer: o Bloco pensa que os filhos dos doutores nunca chumbam o ano. E isto porquê? Porque os filhos de doutores são mais inteligentes que os outros ou porque os filhos dos doutores são beneficiados e passam sempre?

Não há pachorra para estes intelectuais de pacotilha, caramba!