“Este País Não É Para Velhos”, de Cormac McCarthy

estepais.jpgDecidi ler o livro antes de ver o filme. Quando vejo o filme primeiro, fico com pouca vontade de ler o livro. Regra geral.

Gostei muito do outro livro que li de McCarthy, “A Estrada”. Considerei-o, mesmo, um dos melhores livros dos últimos tempos. Por isso, fiquei um pouco desiludido com este “No Country For Old Men”, publicado em 2005.

É um livro árido, com uma história muito simples, violência a rodos e um xerife que gosta de filosofar. Há páginas inteiras de diálogos, aparentemente desnecessários, fazendo lembrar os diálogos de “Pulp Fiction”

Exemplo:

“Arrombas cofres, é?
Se eu arrombo cofres?
Isso.
Como é que essa ideia te passou pela cabeça?
Não sei. És um arrombador de cofres ou não?
Não.
Bom, alguma coisa tens de ser. Certo?
Toda a gente é alguma coisa.
Alguma vez estiveste na Califórnia?
Sim. Já estive na Califórnia. Tenho um irmão a viver lá.
E ele gosta daquilo?
Não sei. Vive lá.
Mas tu não eras capaz de lá viver, pois não?
Não.
Achas que é para lá que eu devo ir?”

E assim sucessivamente. Gosto destes diálogos mas, í s tantas, farta um bocado. Outra técnica que McCarthy usa e abusa, neste livro, é a da utilização da conjunção copulativa.

Exemplo:

“Pí´s a mão em concha e varreu o troco de cima do balcão para a palma da outra mão e guardou as moedas no bolso e deu meia volta e dirigiu-se para a porta.”

Até parece que McCarthy estava já a pensar no argumento para um filme…

Seinfeld – 9ª série

seinfeld9.jpg“We couldn’t get any better” – foi por isso que Jerry Seinfeld e Larry David decidiram acabar com a melhor série norte-americana de comédia, ao fim de 9 anos de êxito total.

Não conseguiam fazer melhor, tinham atingido o ponto mais alto e, a partir daquele momento, ou mantinham o nível ou seria sempre a descer. Num dos extras do DVD, Seinfeld confessa, também, que estava farto; enquanto o restante elenco ia para férias, ele não tinha outro remédio senão preparar a temporada seguinte. Terão sido nove anos sem parar e o homem estava estoirado.

Mas é pena não poder ver episódios novos de Seinfeld. Ainda por cima, a nona série é uma das melhores.

Serenity now!

Dá o telemóvel í  criança, velha de um carago!

Toda a gente viu. Era quase impossível não ver. As imagens passaram em todos os telejornais de todos os canais, várias vezes ao dia; as fotos vieram em todos os jornais: a desgraçada de uma professora tira o telemóvel a uma calmeirona de 15 anos, que não se fica e se atira í  professora, tentando reaver o aparelho de telecomunicações. Seguem-se momentos de grande angústia, em que as duas se engalfinham, tentando, cada uma delas, ficar com o telemóvel.   (http://www.youtube.com/watch?v=AfIkEw98duM)

Um verdadeiro choque tecnológico.

Nos dias seguintes, as maiores sumidades em psicologia, adolescência, menopausa e telecomunicações, deram as suas opiniões sobre este caso raro: uma aluna enfrentando uma professora, como se nenhum desses especialistas, nunca na vida, tivesse presenciado um caso semelhante.

Resta fazer algumas perguntas:

1. De que marca era o telemóvel para merecer uma luta daquelas?

2. Teria ligação í  internet?

3. Qual seria o operador?

4. Tendo a miúda uns verdes 15 anos, não se pode considerar que a professora exerceu violência sobre a criança?

5. E o puto que filmou a cena toda, não merecia um subsídio para realizar uma curta metragem? (há que incentivar as artes!)

“Little Miss Sunshine”, de Jonathan Dayton

littlemisssunshine.jpgOra aqui está um filme curioso sobre mais uma daquelas americanices que nos deixam estupefactos: os concursos de beleza para miúdas de 6 ou 7 anos.

Uma miúda concorre a um desses concursos e obriga a sua família disfuncional a acompanhá-la na viagem de mais de mil quilómetros: o aví´ paterno (Alan Arkin), que começou há pouco tempo a snifar heroína, o tio materno, homossexual e o maior especialista americano em Proust, o meio irmão, que não fala há meses porque fez voto de silêncio até saber se consegue entrar na Força Aérea, o pai (Greg Kinnear), que inventou um daqueles métodos de auto-ajuda mas que, no fundo, é um falhado, e a mãe (Toni Collette), que será a mais “normal” desta malta toda.

A viagem e as múltiplas peripécias que a família vai ultrapassando faz com que os vários elementos se conheçam melhor uns aos outros e se aproximem, ultrapassando os vários diferendos que os afastavam.

O título, em português (“Uma Família í Beira de um Ataque de Nervos”), devia ser proibido!

“The Moguls”, de Michael Traeger

amadores.jpgConfesso que fui ao dicionário e “moguls” significa «autocratas, manda-chuvas», embora também possa significar “mongóis” ou, ainda, «saltos que um esquiador dá, quando desce uma montanha coberta de neve e que tem altos e baixos». Nada disto se aplica a este filme pelo que, pela primeira vez, acho que o título em português (“Os Amadores”) é melhor do que o original.

Jeff Bridges é o principal actor, em modo Big Lebovski e o filme é uma palermice que faz sorrir de vez em quando. Resumo do argumento: sem dinheiro e sem emprego, Andy (Bridges) e um grupo de amigos igualmente patetas, decide fazer um filme pornográfico só com amadores.

Bom filme para ver num sábado de aleluia…

“Marie Antoinette”, de Sofia Coppola

marieantoinette.jpgUma sucessão de quadros rococó, com banda sonora punk. Sofia Coppola ficou fascinada pelos vestidos da corte de Luís XVI e o guarda-roupa ganhou um í“scar. Kirsten Dunst tem o ar gaiato que Maria Antonieta talvez tivesse quando, aos 17 anos, se casou com o futuro rei de França. Viver em Versailles e não saber, sequer, onde ficava o resto do país. Luís XVI passa o filme em caçadas e tem duas reuniões com os seus conselheiros, sobre o apoio da França aos independentistas americanos. E, de súbito, está uma multidão andrajosa í  porta – vem buscar o rei e a rainha, afim de lhes cortarem as respectivas cabeças.

Um filme de futilidades, com uma banda sonora curiosa e um guarda-roupa de encher o olho.

O resto, é paisagem – e a de Versalhes forma verdadeiros bilhetes postais.

Piercings, cães maus e assassínios

Sócrates continua a desafiar a sorte.

Depois de atacar os funcionários públicos, os professores, os operários e camponeses, os fumadores, e os professores outra vez, decidiu, agora, fazer a vida negra aos donos de certos cães e aos adeptos de piercings e tatuagens.

Com efeito, o Governo prepara-se para aprovar legislação que obriga í  esterilização de todos os cães pertencentes a sete raças consideradas perigosas.

Para os donos dos rotweilers, dogues argentinos, pitbulls, cães de fila e similares, Sócrates quer fazer aos seus cães o mesmo que Hitler fez aos judeus.

Ao mesmo tempo, um deputado do PS tem pronto um projecto de lei que proíbe piercings e tatuagens aos menores de 18 anos e em certas zonas do corpo, nomeadamente, na língua e nos genitais (redundante…)

Isto cheira-me mesmo a perseguição.

Imaginem um professor fumador, com um piercing no escroto e dono de um pitbull.

Se esse prof der de caras com o Sócrates, vai-lhe fazer o mesmo que Marcelo Caetano fez a Ramos Horta.

Dá-lhe um tiro.

E lá se vai a estatística!…

É que Lisboa é a segunda capital da Europa com menos assassínios (0,68 por 100 mil habitantes).

Melhor, só mesmo La Valeta, onde, entre 2004 e 2006 não houve homicídios.

Pensem bem na chatice que deve ser viver numa cidade em que ninguém merece ser assassinado e ninguém tem paciência para matar ninguém!

A menos que, para manter a estatística, os assassinos de La Valeta, arrastem as suas vítimas para os arredores da cidade e só depois de ultrapassarem os limites da cidade, as matem.

PSD – new look

Só hoje me apeteceu escrever qualquer coisa sobre a nova imagem do PSD.

Luís Filipe Meneses quer ficar na história do PSD como o líder que tirou duas das três setas ao símbolo.

Meneses pensou assim: o PCP mantém a foice e o martelo, mas escondeu o símbolo atrás da CDU; o PS deixou cair o punho e adoptou a rosa, com uma mãozinha discreta a agarrá-la; o CDS, assim de repente, ninguém se lembra do que querem dizer aquelas duas setas a apontar para uma bola ao centro – portanto, era tempo de acabar com as três setas do PSD.

E Meneses tirou duas das setas e manteve apenas uma delas, bem saliente, laranja sobre fundo azul, a apontar para cima. Parece um anúncio ao Viagra.

meneses_seta.jpg

Sotavento algarvio: da serra í  praia

A Pousada de S. Brás de Alportel é um excelente ponto de partida para passeios vários.

Pode começar-se em Alte que pode já não ser a «aldeia mais algarvia do Algarve», mas tem um não sei quê de «new age», sobretudo na zona das fontes. E a luz é, de facto, única.

alte.jpg

Merece a pena parar em Salir, mas escusam de procurar o castelo; as ruínas estão mesmo muito arruinadas. Em Loulé, vi apenas 10 pessoas. Eram todas as brasileiras e estavam todas no único café aberto. Como é possível tanto deserto, num sábado í  tarde. Lou Reed vai actuar em Loulé, em Julho. Para quantos?…

Faro tem uma atracção irresistível: as cegonhas. Estão por todo o lado: no topo dos candeeiros, nas torres das igrejas, no cimo dos edifícios. Enchem os céus com os seus voos planados e os ares com o matraquear dos seus longos bicos.

faro.jpg

Começa-se o passeio pelo jardim Manuel Bívar, junto í  Doca de Recreio, passa-se por baixo do Arco da Vila e caminha-se até ao Largo da Sé, bordejado por dezenas de laranjeiras, em flor e em fruto e carregadas de abelhas. São tantas que o ruído que fazem se confunde com água a correr. Na torre da Sé, mais um casal de cegonhas, claro. Nota alta para os telhados em tesoura de todos os edifícios do largo, seminário incluído.

Depois, perdemo-nos pelas ruelas até chegarmos í  beira da Ria Formosa.

Olhão tem uma marginal com cerca de 800 metros. Dá para comer um gelado, enquanto se caminha de uma ponta í  outra. A animação era muita, ao fim da tarde.

olhao.jpg

Castro Marim é minúsculo. Do castelo, em ruínas, avista-se o sapal, uma área protegida e, claro, Espanha, do lado de lá do Guadiana.

No interior do castelo, costumam organizar-se feiras medievais e ainda lá estão os restos da última, para além de muitas ervas que, entretanto, foram crescendo.

cstromarim.jpg

O traçado quadriculado de Vila Real de Santo António tem o dedo do Marquês de Pombal, que foi quem inventou esta povoação, há mais de 200 anos, tirando, assim, a Castro Marim o epíteto de cidade mais a sudeste de Portugal.

vrsa.jpg

Entre Vila Real e Tavira ficam muitas praias, incluindo a preferida: Manta Rota. Fica, também, Cacela-a-Velha, de onde a Vila Formosa é mais formosa.

cacela.jpg

O passeio por Tavira começou no Jardim Público, junto ao rio Gilão e continuou pela Vila Adentro, até ao centro histórico, que está bem preservado. Passear junto í  igreja de Santa Maria do Castelo e pelos jardins do próprio castelo. Destaque para a torre do relógio da igreja. As horas podem ver-se de bem longe.

tavira.jpg