A morte de Richard Wright

Ora bem… o homem já morreu há uns dias e só agora arranjo um pedacinho para escrever algo sobre ele – aliás, algo sobre a minha “ideia” de Richard Wright.

Para mim, os Pink Floyd sempre foram um colectivo.

Eu explico: tenho 55 anos e fui contemporâneo de muitos destes senhores.

Para mim, tudo começou com os Beatles, que eram quatro. Sempre os identifiquei separadamente. Dois + um + um. Isto é: Lennon e McCartney + Harrison + Ringo. Os que sempre gostaram dos Beatles, percebem o que eu estou a dizer.

Os que têm vergonha de dizer que gostavam dos Beatles, por serem demasiado “populares”, fazem de conta que eles não existiram e elaboram grandes textos sobre, por exemplo, os Love, que ninguém sabe quem foram. Ou então, tipos com a idade do meu filho, masturbam-se com Brian Wilson, o maníaco-depressivo dos Beach Boys, dizendo que o tipo é um génio. Esses gajos não sabem o que é ouvir, pela primeira vez, “Eleonora Rugby”, num programa da Rádio Renascença, entre Tony de Matos e Simone de Oliveira e sentir que se estava a ouvir algo de subversivo.

(Um pequeno aparte: se for disléxico, direi Brain, em vez de Brian – será por isso que o gajo era o “cérebro” dos Beach Boys?)

Portanto, os gajos medianos, que gostavam dos Beatles, sabiam que havia ali uma dupla de génio (Lennon & McCartney), um gajo com jeito, mas tímido (Harrison) e um bronco, que foi a reboque, mas que aguentou a onda (Ringo). Os mais “intelectuais”, dirão que Harrison é que era o grande génio e que Lennon e McCartney nunca o deixaram vir í  superfície (caso contrário, os Beatles teriam sido outra coisa qualquer…), e os mais “outsiders” dirão, ainda, que Ringo é que era o bonzão e que deixou os outros tomarem a dianteira, só porque era “cool” e não estava para se chatear.

Isto, quanto aos Beatles.

No que respeita aos Stones, convenhamos que aquilo era o Jagger e o Richards e que os restantes, eram apenas decorativos. Hoje, passados todos estes anos, o Charlie Watts e o Ronnie Wood já têm o seu lugar no Panteão, quanto mais não seja pelos anos que já levam a aturar os outros dois, e por terem sobrevivido a tantas bebedeiras e tantas drogas. E todos nós sabemos como difícil é aturar velhotes, sobretudo se forem drogados…

E ainda houve o Brian Jones, que morreu afogado em drogas e cloro da piscina e o Bill Wyman, que saiu a tempo de manter a sua sanidade mental.

Claro que, quando Wyman morrer, ainda há-de aparecer alguém a dizer que ele é que foi o verdadeiro Rolling Stone e que só abandonou a banda porque Jagger e Richards se tornaram mercenários do rock.

Bom, mas isto era para ser sobre Richard Wright.

Portanto, os Pink Floyd, para mim, nunca foram o Wright, o Mason, o Waters, o Gilmour ou o Barrett. Para mim, os Pink Floyd eram um grupo de gajos que faziam uma música que eu nunca tinha ouvido antes.

Tenho três memórias vívidas da música dos Pink Floyd. Duas, bastante arcaicas e outra, um pouco mais recente.

Primeira: no meu quarto de adolescente, com as paredes forradas com fotografias de pop-rock stars, rasgadas das revistas Bravo (em alemão, nunca percebi patavina) e Salut Les Copins. Sentado no beliche de baixo (em cima dormia o meu irmão), a ouvir o álbum “A Saucerful of Secrets” (1967). Devia ter cerca de 15 anos. Fiquei estupefacto com os efeitos estereofónicos. Querem eram aqueles gajos?

Segunda: 1973. Eu e o meu amigo Hermínio, colegas no Liceu Passos Manuel, passeando pela Rua do Salitre, e cantando, em voz alta, músicas do “Dark Side of the Moon”.

Terceira: 22 de Julho de 1994. Estádio de Alvalade. Show dos Pink Floyd, já sem Roger Waters. O meu filho desentende-se com um gajo que está í  nossa frente e que, em vez de ficar sentadinho, desfrutando do rock planante dos Pink Floyd, está em pé, abanando a cabeça, ao som da música, não nos deixando ver o espectáculo como deve ser. Cena de socos. Rápida e concisa. O gajo passou o resto do concerto sentadinho.

No meio de tudo isto, lá estava o Wright, discreto, de volta do Farfisa, fazendo aqueles sons todos que me deixavam estarrecido.

Confesso: mal sabia o nome dele.

No entanto, sei que os Pink Floyd se mantiveram Pink Floyd sem Syd Barrett, continuaram Pink Floyd sem Roger Waters, mas teriam sido outra coisa qualquer sem Richard Wright.

E penso que, ao dizer isto, estou a fazer um grande elogio aos Pink Floyd.

Abaixo os eufemismos! Vivam os coxos!

—Esta pequena notícia que saiu no Público de ontem é uma pedrada no charco dos eufemismos que nos inundam.

Já o falecido George Carlin se insurgia contra os eufemismos, no livro “Quando é que Jesus Traz as Costeletas” (Europa-América, 2004).

Não são “contínuas”, são “auxiliares de acção educativa”, não são “empregadas da limpeza”, são “auxiliares de acção médica”, a “instrução primária” passou a “ensino básico”, o “lixo”, agora, são “resíduos sólidos urbanos”, e etc, etc…

Por isso, é de louvar esta Associação Nacional dos Coxos (ANC), que não tem vergonha nenhuma de se chamar assim mesmo, sem eufemismos – nem Associação Nacional das Pessoas com Deficiência numa Perna, nem Associação Nacional dos Indivíduos que Andam de Forma Diferente. É dos Coxos e acabou!

E mais: a Associação Nacional dos Coxos não tem problema nenhum em pedir í  Assembleia da República que institua o dia 23 de Março como o Dia Nacional dos Coxos!

Mas os deputados devem todos pertencer í  Associação Nacional dos Surdos e ainda não deram ouvidos í  proposta dos Coxos. Diz o presidente da ANC, António Francisco: “se houvesse deputados coxos, o dia já era nosso”.

Olha que não sei, ó Francisco. É óbvio que há deputados gagos e não é por isso que há um Dia Nacional dos Gagos.

Mas estou contigo quando dizes que “ser coxo não é defeito”. Ser deputado pode ser muito pior!

Finalmente, um aviso: não será perigoso fazer um Encontro Nacional de Coxos em Fátima?

Imaginem que a Nossa Senhora decide fazer um milagre…

A Associação Nacional dos Coxos deixaria de existir…

Teoria da conspiração – Da gripe das aves a King Jong-Il

Graça Freitas, sub-directora geral da Saúde vai ter dificuldade em explicar por que razão o Estado português gastou 2,5 milhões em Seltamivir, o medicamento da Roche Farmacêutica para combater a gripe das aves.

Há dezenas de contentores metálicos, guardados em local secreto, com o precioso medicamento para uma pandemia que, até agora, matou 243 pessoas, menos do que as vítimas mortais causadas pelos furacões deste ano.

Dentro de 3 anos, o Seltamivir atinge o prazo de validade e vai para o lixo e eu fico com a impressão de que tudo isto não passou de mais uma jiga-joga para encher os bolsos de alguém.

Claro que isto sou eu a ter a mania da perseguição. A gripe das aves não é uma invenção de um lobby qualquer da Organização Mundial de Saúde, ligado, de algum modo, í  Roche, nem que seja através de um tipo que viveu no Alasca e que influenciou John McCain a propor Sarah Palin para vice-presidente dos EUA.

Penso que, no Alasca, também há petróleo e o mesmo tipo que empurrou Sarah para a frente, deve ter interesses na Bolívia, na Venezuela e em Gondomar. Daí, a afirmação de Valentim, referindo-se aos ianquis:

—

Mas tenho dúvidas se foi Valentim que disse isto, se foi Hugo Chavez. Por vezes, sinto-me confuso e a culpa deve ser minha, mas baralho muito o Valentim com o Alberto João, o Chavez com a Manuela Ferreira Leite, e todos eles com o Marcelo Rebelo de Sousa. í€s tantas, já não sei quem disse o quê…

Bom, mas o que me preocupa verdadeiramente é a área ardida. Este ano, não chegou aos 9 mil hectares, o que corresponde ao pior resultado dos últimos 20 anos. Onde andam os nossos pirómanos? Que é feito deles? O que será preciso fazer para os incentivar a trabalhar mais denodadamente? Será que deixaram de se sentir entusiasmados com as imagens televisivas das chamas a consumir a floresta?

—Se calhar, não seria má ideia criar um Diploma para o Melhor Incendiário, seguindo o exemplo do Diploma de Mérito para os melhores alunos, uma espécie de reedição do Quadro de Honra, uma moda dos meus tempos de liceu.

Sócrates e outros membros do Governo percorreram o país, entregando Diplomas de Mérito a bons alunos do 12º ano e puseram-se a jeito para serem gozados pelos Sindicatos, que pensam que a Educação está uma merda, esquecendo-se que eles, os professores, não deviam fazer parte do problema, mas sim da solução.

De qualquer modo, o Tiago Leopoldo, que é o puto de cabelo comprido, escusava de se ter exposto daquela maneira ou, no mínimo, não permitia que o Sócrates lhe pusesse aquela mão paternalista sobre o ombro. Um estudante mesmo que seja marrão, deve manter uma certa independência em relação ao poder – caso contrário, transforma-se numa espécie de Morais Sarmento, que faz flexões para o fotógrafo do Expresso e tem a lata de dizer que foi convidado para líder do PSD e não aceitou.

Eu, se fosse do PSD, mudava já de Partido. Um Partido que poderia ter tido um dirigente como Morais Sarmento só merece acabar sendo liderado por uma fulana como Manuela Ferreira Leite…

Claro que tudo isto deve ter a mão dos americanos. Eles fomentam as sublevações na Bolívia, provocam Chavez (ou Valentim, já nem sei) e até provocaram um AVC em Kim Jong-Il, o dirigente da Coreia do Norte e um dos membros do Eixo do Mal.

Sim, não me venham dizer que o Kim não tomava os anti-hipertensores e as estatinas e a aspirina e que teve o ACV por desleixo do médico de família. Ali, houve mão dos americanos, nomeadamente da Sarah Palin que, como toda a gente sabe, é uma falsa puritana, sendo contra o aborto, mesmo em caso de violação, mas aceitando o sexo dentro do casamento, mesmo em caso de disfunção eréctil.

Enfim, tudo isto deve estar relaconado com a onda de criminalidade violenta que assola Portugal.

Felizmente, essa onda vai acabar quando o director da PSP, Oliveira Pereira (duas árvores no mesmo apelido!) conseguir impor a sua vontade. Diz ele que “um políca mascar pastilha elástica e fumar, só com autorização superior!”

E pergunto eu: e snifar coca? e praticar sodomia? e aderir ao espiritismo?

Um polícia quer-se puro, bem fardado, dentes limpos, sem vícios – e que peça desculpa aos bandidos sempre que os aleije.

Confesso: há aqui algo que não está certo, mas não sei o quê…

Não voltes, Scolari!

E não voltes mesmo! Não estás perdoado!

Prefiro a selecção a perder 2-3 mas a jogar ao ataque, do que o futebol defensivo, depressivo e calculista do 1-0.

Claro que falhar tantos golos e dar tantas facilidades na defesa, como ontem aconteceu contra a Dinamarca, precisa de correcção rápida. O ataque parecia o do Manchester, com a pontaria do do Benfica; a defesa parecia mesmo a do Benfica, incluindo o Quim, que se armou em Ricardo e saiu a um cruzamento de olhos fechados.

Confesso que também não gostava muito do Queirós, mas o homem melhorou com os anos que passou ao lado de Ferguson e, sobretudo, desde que rapou o bigode.

Bom… respira-se fundo e espera-se que as coisas melhorem.

Não quero voltar ao tempo das vitórias morais, mas também odeio o futebol de Scolari.

Something in between, ok?

O Partido sou eu

—Sou assim desde criança.

Quando era pequenito, lembro-me de brincar sozinho com o meu comboio eléctrico e não deixar que mais ninguém lhe tocasse. A mãe ralhava comigo e dizia: «Paulo, por favor, não seja egoísta! Deixe o Miguel brincar!”

Mas eu encolhia os ombros e não deixava que o Miguel sequer se aproximasse. E fazia o mesmo com a pista de carros de corrida, e com as miniaturas Dinky Toys e, claro, com os Action Man. E tantos Action Man que eu tinha!…

Mais tarde, tive um jornal só para mim. Chamava-se “Independente”, que é como quem diz “Sozinho”. Quem precisa dos outros?

Mas precisava de voos mais altos. Quis um Partido político. Podia ter fundado um, mas demoraria muitos anos até que o Partido fosse conhecido e me levasse ao Poder. Por isso, aproveitei-me do CDS. Acrescentei-lhe a sigla PP e dei a entender que queria dizer Partido Popular quando, obviamente, quer dizer Paulo Portas.

O ano passado, o vice-presidente do Partido pediu a demissão. Aceitei mas não disse nada a ninguém.

Quem precisa de vices-presidentes?

Quem precisa de secretários-gerais?

Quem precisa mesmo de militantes?

Eu sou o Partido!

O Partido sou eu!

Ah! Ah! Ah!

Jornalismo de segunda

A onda de crimes violentos, em Portugal, é uma treta!

Tudo invenção da comunicação social!

A prova é esta notícia, publicada no DN de ontem e intitulada “Crianças dão de caras com ladrão a assaltar casa”.

—A prosa, da autoria de Júlio Almeida, é digna de uma composição da instrução primária. Eu tive um professor primário, chamado André, que se metia nos copos. Por vezes, nas aulas depois do almoço, já chegava com um grãozinho na asa. Compreensivelmente, não lhe apetecia ter que aturar putos de 9 anos. Então, com a sua voz de trovão, informava a turma: “Hoje vamos fazer uma composição. O tema é: ‘o eléctrico parou’. Têm duas horas para a fazer!”. E sentava-se í  secretária a dormir a sesta, enquanto nós puxávamos pelo bestunto, a tentar imaginar uma história que ilustrasse aquela frase: “o eléctrico parou”.

Foi o mestre André que me ensinou a escrever, estou convencido disso. E quer-me parecer que este Júlio Almeida, correspondente do DN em Aveiro, também deve ter tido um professor parecido com o meu. O Director do jornal deve ter espalhado a ordem: são precisas notícias sobre a onda de criminalidade, em Portugal. Tudo merece ser noticiado: a velhinha assaltada nos Correios, o velhote roubado na paragem de autocarro, o miúdo assaltado na escola, tudo faz parte desta onda de criminalidade que assola o país.

Vai daí, o Júlio Almeida foi í  procura de qualquer coisa que pudesse ilustrar este facto. E eis que dá de caras com esta história, que começa assim:

“Um susto de morte” foi o que sentiu a família residente em Chão do Rio, Riomeão, no concelho de Santa Maria da Feira”.

Logo aqui, o texto parece uma daquelas composições que a malta fazia na instrução primária, quando assinava: Artur Fernando, Avenida Gomes Pereira, Benfica, Lisboa, Portugal, Europa, Planeta Terra, Universo!

Eu sei lá onde fica Chão do Rio! Eu sei lá onde fica Riomeão! Mesmo Santa Maria da Feira… mas, vá lá… o concelho já basta, para quê o nome do lugar?

Adiante.

“O pai, corticeiro numa fábrica de Santa Maria de Lamas, entrou pelo portão de ferro, eram cerca das 18.00, sem dar conta de qualquer anormalidade.”

Logo no segundo parágrafo da noticia, aparece o pai. Mas… o pai de quem? O pai do Céu? O pai do bandido? O pai das crianças? O pai do jornalista?

Enfim, o pai é corticeiro em Santa Maria de Lamas, embora viva em Santa Maria da Feira. Começamos a desconfiar das Santas Marias em toda esta história…

Continuemos com a notícia/composição: “Seriam as duas filhas menores a dar o primeiro alarme quando, depois de abrirem a porta da casa térrea, depararam com a presença de um estranho de saco numa mão e capacete de moto, na outra. Ao deparar com as crianças, de 13 e 7 anos, o suspeito, que estava desarmado, de luvas postas e cara í  mostra, pediu-lhes ‘calma’ dizendo que ‘andava aos limões’ e imediatamente fugiu, saltando de uma altura de metro e meio”.

O texto é delicioso, sobretudo o pormenor do ladrão dizer que “andava aos limões”. Quase que temos pena dele e ficamos aflitos quando sabemos que o pobre homem saltou de uma altura de metro e meio. Será que se aleijou?

Voltemos í  composição: “o dono da casa foi logo atrás do homem que, ao deparar-se com um precipício nas traseiras, correu pelo meio dos quintais vizinhos, saltando entre silvas e arame farpado que lhe causaram arranhões no corpo”.

Vejam como somos violentos para com os ladrões, obrigando-os a arranharem-se nas silvas e nos arames farpados, construindo precipícios nas traseiras das nossas casas, enfim, dificultando-lhes a sua actividade, de um modo sádico.

Mas não é tudo. A vida dos ladrões portugueses está cada vez mais difícil. Ora vejamos: “Os constantes gritos de socorro lançados, chamaram a atenção de vizinhos, alguns seus familiares que, em pouco tempo, cercaram o presumível larápio acabando por imobilizá-lo com algumas ‘pauladas’, com receio que estivesse armado.”

Não chegava o bandido ter ficado todo arranhado com as silvas e os arames farpados! Ainda teve que levar umas pauladas, coitado! Quem defende os bandidos, em Portugal? O Procurador Geral da República? O Cavaco Silva? O Nuno Rogeiro?

Mas a notícia/composição/romance prossegue: “Atendendo a que as meninas do casal estavam em ‘estado de choque’ com o que tinham presenciado no ‘assustador’ final da tarde, seria requisitado o apoio do INEM que mobilizou para o local uma psicóloga para as confortar”.

E o ladrão? Não teve direito a apoio psicológico? Francamente! O tipo é apanhado pelas miúdas, tem que mentir, dizendo que anda aos limões, é obrigado a saltar de uma altura de metro e meio, de fugir por entre silvas e arames farpados, acaba por levar umas pauladas e, no fim, é preso e não tem direito, sequer, ao apoio de uma psicóloga?! Como querem, depois, que a reinserção social seja possível?

Na minha opinião, a culpa é, também, do próprio ladrão, que não deve muito í  inteligência. Ora vejam lá o que ele tentou roubar: “ouro no valor de dois mil euros, bijutaria diversa, dois telemóveis, um relógio de pulso oficial do Futebol Clube do Porto e uma quantia em dinheiro que a família não quis divulgar”.

Roubar um relógio do FCP? Grande estúpido! Só se fosse para o esmagar, destruir, partir, compactar, atomizar, esmigalhar, dissolver, evaporar, condensar, esfarrapar, e, depois, deitar fora!

Humilhado, o ladrão “foi presente a tribunal e ficou em liberdade a aguardar julgamento, mas sujeito a apresentações periódicas no posto da polícia”.

Felizmente, o DN publica uma foto da casa assaltada. Desafio todos os larápios das redondezas a assaltarem a casa! Não deixem que o vosso bom nome seja arrastado na lama por jornalistas de segunda!

Agora, a sério: esta notícia é bem o espelho do jornalismo que se pratica em Portugal. Como é que os jornalistas portugueses enfrentam, de um modo responsável, o aumento da criminalidade, em Portugal? Noticiando tudo, desde o assalto mais idiota, como este, ao assassinato mais violento. Esta notícia ocupa três quartos da página 22 do DN de ontem, a toda a largura da página (5 colunas). Fica tudo ao mesmo nível. E, noticiando tudo, todos ficamos com a ideia de que, em cada esquina, há um bandido í  nossa espera.

Tenham vergonha, caramba!

“Arthur & George”, de Julian Barnes

—Deste escritor britânico, já li “Inglaterra, Inglaterra” (1998) e “Amor & Etc” (2000). Nenhum deles me entusiasmou muito. O mesmo aconteceu com este “Arthur & George”, finalista do Booker Prize de 2005.

O Arthur deste livro não outro senão o famoso oftalmologista Arthur Conan Doyle que, já depois de ser famoso como autor dos romances de Sherlock Holmes, se interessa pelo caso de George Edalji, um solicitador indiano, falsamente acusado de estropiar cavalos e preso por isso.

Durante anos, Arthur tinha humilhado a polícia britânica, através de Sherlock Holmes e, agora, tinha a oportunidade de se armar, ele próprio em detective e de provar que George está inocente e que tudo não passou de incompetência da polícia. Ao mesmo tempo que esta história se vai desenrolando, vamos sabendo mais coisas sobre Conan Doyle: que a sua esposa Touie tem tuberculose e está acamada há anos, que Doyle está apaixonado por outra mulher, Jean, mas esperam 10 anos, até que Touie morra, para consumarem esse amor, que Doyle era um adepto fervoroso do espiritismo e que era contra o voto das mulheres, etc, etc. O livro acaba, assim, por ser uma espécie de biografia do outro Conan Doyle, para além de Sherlock Holmes.

Repito: não me entusiasmou muito…