O Partido sou eu

Sou assim desde criança.

Quando era pequenito, lembro-me de brincar sozinho com o meu comboio eléctrico e não deixar que mais ninguém lhe tocasse. A mãe ralhava comigo e dizia: «Paulo, por favor, não seja egoísta! Deixe o Miguel brincar!”

Mas eu encolhia os ombros e não deixava que o Miguel sequer se aproximasse. E fazia o mesmo com a pista de carros de corrida, e com as miniaturas Dinky Toys e, claro, com os Action Man. E tantos Action Man que eu tinha!…

Mais tarde, tive um jornal só para mim. Chamava-se “Independente”, que é como quem diz “Sozinho”. Quem precisa dos outros?

Mas precisava de voos mais altos. Quis um Partido político. Podia ter fundado um, mas demoraria muitos anos até que o Partido fosse conhecido e me levasse ao Poder. Por isso, aproveitei-me do CDS. Acrescentei-lhe a sigla PP e dei a entender que queria dizer Partido Popular quando, obviamente, quer dizer Paulo Portas.

O ano passado, o vice-presidente do Partido pediu a demissão. Aceitei mas não disse nada a ninguém.

Quem precisa de vices-presidentes?

Quem precisa de secretários-gerais?

Quem precisa mesmo de militantes?

Eu sou o Partido!

O Partido sou eu!

Ah! Ah! Ah!

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