Californication – 1ª série

—Criada por Tom Kapinos, Californication é uma série muito divertida. Começando logo com o protagonista a sonhar que está numa igreja e que uma freira lhe oferece um “blow job”, podia descambar numa grandessíssima ordinarice, mas não – consegue manter uma classe muito elevada, mesmo quando a miúda de 16 anos, montada no escritor falhado Hank Moody, lhe prega dois valentes socos no momento em que atinge o orgasmo.

David Duchovny faz um Hank Moody muito cool: fumador, desleixado, desarrumado, deprimido, provocador, mas, no fundo, um gajo porreiro, que anda um pouco í  deriva.

A sua ex-companheira deixou-o porque ele era demasiado desordenado e juntou-se com um tipo muito certinho, mas que não tem piada nenhuma e continua a deixar-se seduzir pelo escritor. A filha de ambos, uma teen-ager estranha, com ar gótico, balança entre o papá e a mamã e tem a mania que vai ser uma pop star. O agente de Moody, é um careca libidinoso, que se envolve em jogos sado-masok com a secretária porque o seu casamento está uma seca, mas acaba por se envolver numa “ménage í  trois” que, em vez do excitar, o inibe.

Enfim, a galeria de secundários é ilustre e há muito material para desenvolver.

Ao contrário da imagem do californiano bem parecido, bronzeado e musculoso, Hank Moody é longilíneo, tem barriguinha e apresenta-se sempre com a barba por fazer e com o ar de quem dorme mal há décadas. Apesar disso, não se safa nada mal nos engates.

A série mostra muitas maminhas, rabiosques e, em geral, mais superfície epidérmica do que é habitual na televisão e, em 12 episódios, percorre quase todas as fantasias heterossexuais mais consensuais.

Uma boa arrancada. Vejamos o que a 2ª série nos reserva.

“Benjamin Button”, de David Fincher

—Em 1921, Scott Fitzgerald (1896-1940) publicou um conto intitulado “The Curiou Case of Benjamin Button”, que serviu de inspiração a Eric Roth e Robin Swicord para escreverem o argumento deste filme.

A história é conhecida. Benjamin (Brad Pitt) nasce velho, um bebé cheio de rugas e artroses e vai rejuvenescendo ao longo da vida, acabando por morrer jovem. Pelo caminho, acontecem-lhe muitas coisas, incluindo uma namorada (Cate Blanchett), que vai envelhecendo, í  medida que ele fica cada vez mais jovem e pujante.

O tempo é o principal personagem desta história, a começar pelo relojoeiro cego que constrói um relógio cujos ponteiros andam para trás, e continuando pelo fluir do tempo, com as duas guerras mundiais, os anos 60 e os Beatles e, finalmente, os dias de hoje, marcados pelo Katrina, que inunda New Orleans, onde a maior parte da história se passa, embora Benjamin também ande pela Rússia, por Paris e pelos oceanos, a bordo de um rebocador, cujo comandante, na impossibilidade de ser artista, se tatuou a si próprio.

Há muitas histórias, dentro da história de Benjamin Button e, por muito convencional que o filme possa ser, sabe sempre bem ver e ouvir uma história bem contada.

E, no que respeita a óscares, o dos efeitos visuais e o da caracterização, pelo menos, não vão escapar.

Dias Alzheimer Loureiro

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A assinatura de Dias Loureiro aparece em diversos documentos da Sociedade Lusa de Negócios, apesar do ex-ministro de Cavaco e actual conselheiro de Estado ter dito que não tinha nada a ver com aquilo.

Confrontado, Dias Alzheimer Loureiro diz que “passaram 8 anos sobre os factos relatados, o que o pode levar a ter lapsos de memória”.

Compreendi-te…

E tenho pena.

Se quiseres, dou-te o nome de uns comprimidos que são bons para isso, embora a coisa seja irreversível, pá…

“Mr. Brooks”, de Bruce A. Evans

—Kevin Costner é Mr. Brooks, um bem sucedido homem de negócios, bom chefe de família, filantropo e tudo. No entanto, Mr. Brooks é, também, um serial killer, um viciado em assassínios.

Esta dupla personalidade é resolvida, pelo realizador, com um segundo actor, neste caso, um assustador William Hurt, que é a “versão má” de Mr. Brooks.

Desta vez, porém, Mr. Brooks tem uma testemunha do seu duplo homicídio, um fotógrafo amador que pretende seguir o exemplo de Mr. Brooks e tornar-se num assassino.

Há ainda uma detective durona (Demi Moore) e a filha de Mr. Brooks que, pelos vistos, está, tambem a tornar-se numa assassina. Runs in the family…

Com este material, o filme podia ser bem melhor, embora os diálogos entre Brooks/Costner e Brooks/Hurt sejam deliciosamente perturbadores.

“The Painted Veil”, de John Curran

—Baseado num romance de Somerst Maugham (1925), já adaptado em 1934, com Greta Garbo, e em 1957, com Eleanor Parker, “The Painted Veil” tem uma fotografia soberba e mostra-nos a paisagem única dos montes que rodeiam o rio Li, perto de Guilin, na China.

Foi muito agradável rever aquelas paisagens, que visitei há 5 anos, e só é pena que o filme não mostre mais.

A história é um melodrama dos antigos: nos anos 20 do século passado, um médico bacteriologista britânico (Edward Norton), com um casamento falhado com uma menina rica (Naomi Watts), que o engana com um embaixador engatatão, decide castigar-se, a si próprio e í  esposa, partindo para a China, para uma localidade onde grassa em epidemia de cólera.

Norton mantém uma postura digna de qualquer inglês puritano, que está lixado com a vida e com o mundo e penso que só se sorri uma vez, em todo o filme. Naomi Watts também interpreta bem o papel de menina mimada, que acaba por se arrepender da frivolidade e admirar o trabalho do marido.

No fim, ele morre e ela fica viúva. É bonito e faz chorar. A banda sonora é interessante, mas daí até ganhar um Globo de Ouro…

“The Man”, de Les Mayfield

—O que faz Samuel L. Jackson ao lado de Eugene Levy?

Patetices.

“The Man” (traduzido obviamente para “Agente Acidental”), é uma comédia que não faz mal nenhum a ninguém, mas se o realizador tivesse ficado quieto em casa, também não se perdia nada de especial.

Samuel L. Jackson, claro, é o polícia que quer prender os bandidos.

Eugene Levy, que não tem cara de actor, é um vendedor de produtos ortodí´nticos que está no sítio errado í  hora errada, de modo que os bandidos pensam que ele é que é o gajo que vai negociar com eles a compra de um carregamento de armas roubadas.

Seguem-se vários desencontros, algumas cenas escatológicas, que incluem traques e ainda há tempo para o polícia ir ver um espectáculo de ballet da filha.

Coisas…

Louçã e as coelhinhas

Francisco Louçã, na Convenção do Bloco de Esquerda:

“Imaginem que se colocam dois coelhos numa cova; de certeza que vão surgir coelhinhos, se for um casal de coelhos. Mas experimentem pí´r duas notas de 100 euros, juntas uma com a outra, numa caixinha; acham que vão surgir muitas notas de 20 euros dessa caixinha?”

Das duas, uma: ou Louçã estava com os copos ou deixou de tomar as gotas, porque:

– Colocar dois coelhos numa cova não será atentar contra os direitos dos animais?

– Se a cova for muito funda, os coelhinhos não morrerão asfixiados?

– Colocar os coelhos numa cova não será o mesmo que enterrar os coelhos? Que mal fizeram eles?

– Se os coelhos forem ambos machos ou ambos fêmeas, por muito que forniquem, provavelmente não sairão coelhinhos nenhuns daquela cova, não é, Xico?

E mais:

Por que razão duas notas de 100 euros deveriam dar origem a notas de 20 euros? Será que Louçã acha que os filhos valem menos que os pais? Não seria melhor Louçã começar de imediato, psicanálise?

Quanto a mim, vou pegar nestas duas coelhinhas e colocá-las numa cova.

—

Depois, ai delas, se não sairem, muitas notas de 20 euros lá de dentro!

Obrigado pela ideia, Louçã!

E viva a 4ª Internacional! Trotsky ficaria orgulhoso!

“Homem na Escuridão”, de Paul Auster

—Na contracapa deste livro, há a citação de uma crítica que diz: “Brilhante… Provavelmente o melhor romance de Paul Auster. Um doloroso somatório de todos os seus livros”.

Não podia estar em maior desacordo.

Penso que este é o pior dos livros de Auster que já li (e já li onze dos seus livros).

Um homem de 70 anos, insone, está deitado, na escuridão do seu quarto. Para se entreter, começa a engendrar a história de um tipo que, de repente, acorda numa América do futuro, em guerra civil. A ideia é boa, como quase todas as ideias de Auster mas, a páginas tantas, parece que não conseguiu desenvolver a história, deixa-a morrer e começa a contar outras histórias relacionadas com o insone.

No último terço do livro, mais ou menos, o protagonistas conta í  neta, também ela insone, a história do seu amor pela sua defunta mulher, da separação dos dois e da reconciliação. E é tudo muito banal, muito história de telenovela, sem emoção, sem graça.

Um livro falhado, na minha opinião.