Títulos

Três títulos do Público de hoje:

– «O raio do protão é mais pequeno do que se pensava mas o enigma perdura»

O raio do protão? E o sacana do neutrão?

– «Não devemos excluir, de antemão, uma evolução dos tratados», disse o ministro alemão do Negócios Estrangeiros

Se não excluímos a evolução dos tratados, excluímos a dos doentes?

– «Contrato de venda da Ana será assinado no final da próxima semana»

Venda da Ana não será lenocínio?

Não se importa de repetir?

«A filigrana dos restauros torna ainda mais notável a economia e a depuração de um som em que o silêncio teve sempre um papel importante»

– Jorge Mourinha

«Uma electrónica solene, de ambientes escuros, que tanto persegue a fisicalidade como climas emocionais introspectivos».

– Vitor Belanciano

in Ipsilon, suplemento do Público

Soares tem gripe?

DN informa:

«Mário Soares já regressou a casa»

E acrescenta: «Segundo a última edição do Expresso, Soares sofreu uma encefalite (infecção do cérebro), que resultou de uma gripe mal curada».

Uma gripe mal curada, carago?!

Que raio é uma gripe mal curada, porra?!

A gripe é uma virose e, por definição, NíƒO TEM CURA!

A gripe é uma virose autolimitada, que desaparece, ao fim de alguns dias, quer se tome, ou não, medicamentos que, aliás, apenas servem para melhorar os sintomas – não a doença.

O que terá, talvez, acontecido foi que o vírus atravessou a chamada barreira hemato-encefálica e invadiu as meninges do velhote.

Aprendam: não há gripes mal curadas, caramba!

Javalis e ciclistas

Título do DN de hoje:

«Investigadora alerta para o aumento “drástico” do risco de acidentes com javalis»

Fui ler a notícia, ligeiramente alarmado. Depois de um dia de tempestade, em que postes de alta tensão e árvores caíram sobre as estradas e depois de ter feito uma viagem tranquila de quase 300 quilómetros, fiquei preocupado por não ter abalroado um único javali.

É que, segundo Estrela Matilde, investigadora da Universidade de Évora, registaram-se 221 acidentes rodoviários com javalis nos últimos 12 anos, nas estradas do Alentejo e do Algarve. Caramba! São quase 18 acidentes por ano, mais do que um por mês!

E a investigadora diz que este número deve estar muito abaixo da realidade porque, diz ela, «falei com algumas pessoas e a maior parte delas disse-me que levou o javali para casa para compensar de alguma forma o estrago no automóvel».

Resta saber se alguns automobilista não atropelam os javalis de propósito para se aboletarem, depois, com uns excelentes bifes e umas suculentas costeletas í  borliu!

Logo acima desta interessante notícia, o DN publica outra, igualmente notável.

O título é: «Sete pessoas atropeladas por dia nas zonas urbanas».

Coitadas dessas sete pessoas!… Atropeladas todos os dias!…

Ontem, apesar do temporal que varreu o país, realizaram-se manifestações em várias cidades do país, organizadas pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta. Segundo o seu presidente, José Manuel Caetano, em 2012, foram atropelados 3557 peões e/ou ciclistas.

Mais, muito mais, do que os javalis…

E, muito provavelmente, este número também deve estar subvalorizado porque alguns automobilistas são muito capazes de levar o peão ou o ciclista para casa, para compensarem os estragos nos automóveis…

– “Querida! Olha o que eu trouxe para o jantar!”

Discussão aberta í  porta fechada

Passos & Moedas decidiram organizar uma conferência aberta í  sociedade civil, destinada a discutir a reforma do Estado.

A senhora que organizou a conferência, a mando de Passos & Moedas, disse, na sessão de abertura (a única que podia ser filmada/gravada), que é preciso “criar condições para um debate aberto, livre, profundo, participado e construtivo”.

Por isso mesmo, a organização impí´s, como regra, que os jornalistas, embora possam assistir í s sessões da conferência, não podem gravar sons nem imagens, nem usar citações sem autorização dos oradores.

A maioria dos jornalistas presentes, abandonou a sala.

Não percebo porquê.

Haverá lá debate mais aberto, livre, profundo, participado e construtivo do que ficarmos a falar sozinhos?

Não é verdade que, quanto mais aberto se é, mais fechado se fica?

E quanto mais livre nos julgamos, mais presos estamos?

E quanto mais profundo se afirma, mais superficial se parece?

E quanto mais participado se pretende, mais isolado se acaba?

E quanto mais construtivo se quer, mais destrutivo se é?

Passos aprendeu isso na Interforma.

Moedas descobriu isso ao ler o relatório do FMI, o tal que ele acha “muito bem feito”.

E quanto a nós, que elegemos estas criaturas, queixamo-nos de quê?

 

Temos que desvalorizar o Moedas!

O FMI encomendou um relatório a Carlos Moedas, adjunto de Passos Coelho.

moedasO objectivo era arranjar maneira de cortar 4 mil milhões de euros na Saúde, na Educação e na Segurança Social.

Moedas fez um trabalho perfeito.

Claro que se enganou aqui e ali, mas tudo coisas sem importância.

Por exemplo: o relatório diz que os gastos do Serviço Nacional de Saúde são 7% do PIB – o que, embora seja abaixo da média dos países desenvolvidos, é excessivo e insustentável, propondo que desça para 5%. Acontece que a despesa do SNS está nos 5,2% do PIB.

O relatório Moedas também diz que é preciso cortar nas reformas para estimular o envelhecimento activo. No entanto, um relatório da UE de 2012 diz que os portugueses são dos que mais continuam a trabalhar depois da reforma (21,9% dos idosos entre os 65 e os 69 anos ainda trabalhavam).

Finalmente, o relatório diz que os médicos portugueses ganham mais que, por exemplo, os alemães. Ora, um médico português, em princípio de carreira, recebe 1390 euros, podendo atingir, no topo da carreira, os 5063; os alemães ganham entre 3700 e 7000 euros.

Ninharias.

Moedas disse que este era um relatório muito bem feito. Passos Coelho corroborou.

Podem limpar o rabo com ele.

A soneca do cabo da GNR de Valpaços

O Diário de Notícias é insubstituível.

O que seria de mim sem estas deliciosas notícias, enviadas pelos correspondentes.

Desta vez, a notícia vem de Valpaços e é da responsabilidade de José António Cardoso e Paula Carmo.

E foram necessários dois jornalistas porque a história é complexa.

Vamos a factos:

«Carlos Nogueira, 43 anos, militar da GNR, agora a prestar serviço em Mirandela, foi condenado a dois meses de prisão, pena substituída por 60 dias de multa í  taxa diária de sete euros por, segundo o tribunal, ter abandonado o seu comandante de patrulha quando exercia funções na cidade Valpaços».

Dois meses de prisão por abandonar o comandante em plena patrulha? Não será pouco?

Avancemos na redacção:

«O militar agora condenado confirmou em tribunal que foi indigitado para o patrulhamento da cidade transmontana entre  a uma e as nove da manhã, e que saiu juntamente com o comandante de patrulha, o qual, logo no início, lhe ordenou que conduzisse a viatura em que se deslocavam.»

Tudo normal: o comandante mandou que o outro fosse a conduzir. Por isso mesmo era o comandante! Avancemos:

«Cerca das quatro horas (…) o cabo terá indicado a central de camionagem como destino. Lá chegados, teria mandado encostar o jipe entre dois autocarros e de imediato “rebaixou as costas do banco, informando-me que queria dormir.»

Claro que esta é a versão do militar. Como sabemos, um comandante não dorme, descansa os olhos…

Perplexo, Carlos Nogueira prossegue a sua narrativa: “Ainda perguntei e a patrulha? Vai tu se quiseres, eu vou dormir, pois amanhã tenho que fazer uns biscates de construção civil, a GNR para mim é um part-time”.

Carlos Nogueira ficou sem palavras e, assim que o comandante começou a roncar, nos braços de Morfeu, foi-se embora e participou os factos.

Ah! grande comandante! Queres patrulhar Valpaços? Vai tu, que eu tenho que bater uma sorna porque amanhã vou fazer cimento! Isto de ser GNR é só para garantir a reforma! A minha vida não é isto!

Naturalmente, o pobre do Carlos Nogueira foi condenado a dois meses de prisão.

Quanto ao comandante, quem sabe, terá sido promovido?

Erotismo ou pornografia?

Notícia do DN de hoje:

«O Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada considerou que os espectáculos eróticos são de cariz artístico e, por isso, o imposto de valor acrescentado deve ser cobrado í  taxa reduzida».

Resumindo a história: o Salão Erótico de Lisboa cobrou bilhetes com 5% de IVA. A Administração Fiscal considerou que o evento era “pornográfico, com sexo ao vivo e exposição física”, pelo que os bilhetes deveriam ter 21% de IVA.

Segundo a lei, a taxa reduzida de 5% aplica-se a “espectáculos, provas e manifestações desportivas, práticas de actividades físicas e desportivas e outros divertimentos públicos”, excluindo, portanto, “espectáculos de carácter pornográfico ou obsceno”.

Se assim fosse, a organização do Salão Erótico teria que pagar, com juros, 157 mil euros de multa.

Mas o Tribunal decidiu: aquilo não foi pornográfico – foi erótico.

Portanto: sexo artístico paga 5% de IVA; sexo í  bruta, paga 21%.

Isto não será inconstitucional?