Mas onde raio estão tantos católicos?

A Universidade Católica fez um estudo que concluiu que o número de católicos está a descer, em Portugal.

Nada de espantoso.

Segundo o dito estudo, citado pelo Público, 8 em cada 10 portugueses são católicos e cerca de 45% dos portugueses vai í  missa com regularidade.

Torço o nariz.

Da minha família mais chegada, pelo menos 12 elementos não são católicos.

Não conheço ninguém que vá í  missa com regularidade – e conheço muita gente!

E, se mesmo assim, o número de católicos está a descer, isso quer dizer que, antes (em 1999), ainda eram mais do que 8 em cada 10 portugueses?!

Cheira-me que este estudo foi feito aos domingos de manhã, í  porta das igrejas, í  saída da missa…

“The Hour” – 1ª temporada

—As séries da BBC são conhecidas pela sua elevada qualidade e esta “The Hour” não foge í  regra.

São 6 episódios, escritos por Abi Morgan e que contam a história do nascimento e do fim de um  programa noticioso da BBC, que se destacou no panorama da comunicação social nos finais dos anos 50 do século passado.

O apresentador do programa, Hector Madden, é casado com a filha de um dos directores da BBC e parece ter pouco talento como jornalista e só ter conseguido aquele lugar por ser casado com quem é. Dominic West faz bem o papel deste canastrão que, í s tantas, parece mais preocupado em comer a produtora do programa. Já tinha visto este actor em The Wire, outra série excelente.

A produtora, Bel Rowley, é interpretada por Romola Garai, uma beldade que se adapta mesmo bem í  beleza típica dos anos 50. Bel balança entre o amor físico com o canastrão e o amor platónico com o principal jornalista.

O tal jornalista, Freddie Lyon, é interpretado por Ben Whishaw, um lingrinhas com muita coragem física e muita lábia, um verdadeiro jornalista de investigação.

A acção é um misto de crónica de época, espionagem em tempos de guerra fria e mistério. Como pano de fundo, a invasão do canal do Suez pelo Egipto, presidido por Nasser, e a resposta tíbia do governo inglês, chefiado por Eden.

Vale a pena ver, quando a Fox Life decidir repeti-la.

600 insultos

Em janeiro de 2010 cheguei aos 500 insultos.

Foi preciso mais um ano para chegar aos 600!

Mas isto continua a crescer…

abafa-a-palhinha, abécula, abelhudo, abichanado, agarrado, agiota, alarve, alcouceira, alcoviteira, aldrabão, aleivoso, amarelo, analfabruto, anjinho, anormal, apanhado do clima, arrelampado, arrogante, artolas, arruaceiro, aselha, asno, asqueroso, assassino, atrasado mental, atraso de vida, avarento, avaro, ave rara, aventesma, azeiteiro

Bacoco, bácoro, badalhoca, badameco, baixote, baldas,  baleia, balhelhas, balofo, banana, bandalho, bandido, barata tonta, bárbaro, bardajona, bardamerdas, bargante, barrigudo, basbaque, bastardo, batoque, batoteiro, beata, bebedanas, bêbedo, bebedolas,  beberrão,  besta quadrada,  betinho, bexigoso, bichona, bicho do mato,  biltre, bimbo, bisbilhoteira, boateiro, bobo, boca de xarroco, boçal, bode, bófia, boi, boneca de trapos,  borracho, borra-botas,  bota de elástico, brochista, bronco, brutamones

cabeça de abóbora, cabeça-de-alho-chí´cho, cabeça-de-vento, cabeça no ar, cabeça oca, cabeçudo, cabotino, cabra, cabrão, cábula, caceteiro, cacique, caco, caga-tacos, cagão, caguinchas, caixa de óculos, calaceiro, calão, calhandreira, calinas, caloteiro, camafeu, camelo, canalha, canastrão, candongueiro, cão, caquética, cara-de-cu-í -paisana, caramelo, carapau de corrida, careca, carniceiro, carraça, carrancudo, carroceiro, casmurro, cavalgadura, cavalona, cegueta, celerado, cepo, chalado, chanfrado, charlatão, chato, chibo, chico-esperto, choné, choninhas, choramingas, chulo, chunga, chupado das carochas, cigano, cínico, cobarde, cobardolas, coirão, comuna, cona-de-sabão, convencido, copinho de leite, corno, cornudo, corrupto, coscuvilheira, coxo, crápula, cretino, criminoso,cunanas, cusca

debochado, delambida, demente, depravado, desastrada,  desaustinado, desavergonhada, desbocado, desbragado, descabelada, desdentado, desgraçado, deslavado, desleal,  desmancha prazeres, desmazelada, desengonçado,  desenxabida, deshumano, desonesto, despistado, déspota, destrambelhado, destravada, destroço, devasso, ditador, doidivanas, doido varrido, drogado

egoísta, embirrento, embusteiro, empata-fodas, empecilho, emplastro, enconado, energúmeno, enfadonho, enfezado, engraxador, enjoado da trampa, enrabador, escanifobética, escanzelada, escarumba, escroque, escumalha, esgalgado, esganiçada, esgroviada, espalha-brasas, espalhafatoso, espantalho, esqueleto vaidoso, estafermo, estapafúrdio, estouvada, estroina, estúpido, estupor

faccioso, facínora, fala-barato,  falhado, falsário, falso, fanático, fanchono, fanfarrão, fantoche, fariseu,  farropilha, farsante, farsolas, fatela, fedelho, feia-comó-demo, fersureira, figurão, filho da mãe, filho da puta, fingido, fiteiro, flausina, foção, fodido, fodilhona, foleiro, forreta, fraco-de-espírito,  fraca figura, franganote, frangueiro, frasco, frígida, frouxo, fufa, fuinha, fura-greves, fútil

gabarola, gabiru, galdéria, galinha choca, ganancioso, gandim, gandulo, garganeira, gato pingado, gatuno, gazeteiro, glutão, gordalhufo, gordo, gosma, grosseiro, grunho

herege, hipócrita, histérica,

Idiota, imaturo, imbecil, impertinente, impostor, incapaz, incompetente, indigente, indolente, infame, infeliz, infiel, imprudente, insípido, insolente, intriguista, inútil

Javardo, judeu

labrego, labroste, lacaio, ladrão, lambão, lambe-botas, lambéconas, lambisgóia, lamechas, lapa, larápio, larilas, lavajão, lerdo, libertino, língua-de-trapos, língua viperina, linguareira, lingrinhas, lontra, lorpa, louco, lunático,

má rês, madraço, mafioso, maganão, magricela, mal criado, mal enjorcado, mal fodida, malacueco, malandreco, malandrim, malandro,  malfeitor, maltrapilho,  maluco, mamalhuda, mandrião, maneta, mangas-de-alpaca, manhoso, maníaco, manipulador, maniqueista, maquiavélico, marado-dos-cornos, marafado, marafona, maria-vai-com-as-outras, maricas, mariconço, mariquinhas-pé-de-salsa, marmanjo, marrão, marreco, masoquista,  mastronço, matarroano, matrafona, matrona, medricas, medroso, megera, meia-leca, melga, meliante, menino da mamã, mentecapto, mentiroso, merdas, merdoso, mesquinho, mijão, mimado, mineteiro, miserável, mixordeiro, moina, molengão, mongas, monhé, monstro, monte-de-merda, morcão, mosca morta, mostrengo, mouco, mula, múmia

nababo, nabo, não-fode-nem-sai-de-cima, não-tens-onde-cair-morto, narcisista, narigudo, nariz-arrebitado, necrófilo, néscio,  nhonhinhas, nhurro, ninfomaníaca, nódoa, nojento, nulidade,

obcecado, obstinado, obtuso, olhos-de-carneiro-mal-morto, onanista, oportunista, ordinário, orelhas-de-abano, otário,

pacóvio, palerma, palhaço, palhaçote, palonça, panasca, paneleiro, panhonhas, panilas, pantomineiro, papa-açorda, papalvo, paranóico, parasita, pária, parolo, parvalhão, parvo, paspalhão, paspalho, passado, passarão, pata-choca, patarata, patego, pateta, patife, patinho feio, pato, pató, pau-de-virar-tripas, pedante, pederasta, pedinchas, pega-de-empurrão,  peida-gadoxa,  pelintra, pendura, peneirenta, pérfido, perliquiteques, pernas-de-alicate, pés de chumbo, pesporrente, petulante, picuinhas, piegas, pilha-galinhas, pílulas, pindérica, pinga-amor, pintas, pinto calçudo,  pintor, piolho, piolhoso, pirata, piroso, pitosga, pobre de espírito, pobretanas, poltrão, porcalhão, porco, pote de banhas, preguiçoso, presunçoso, preto, provocador, proxeneta, pulha, punheteiro, puta, putéfia

Quadrilheira, quatro-olhos, quebra-bilhas, queixinhas, quezilento

rabeta, rabugento, rafeiro, ralé, rameira, rameloso, ranhoso, raquítico, rasca, rascoeira, rasteiro, rata de sacristia,  reaccionário, reaças, reles, ressabiado, retorcido, roto, rufia, rústico

sabujo, sacana, sacripanta, sacrista, sádico, safado, safardana, salafrário, saloio, salta-pocinhas, sandeu, sapatona, sarnento, sarrafeiro, sebento, seboso, serigaita, sevandija, snob, soba, sodomita, somítico, sonsa, sórdido, sorna, sovina, sujo

tacanho, tagarela, tarado, taralhouca, tavolageiro, teimoso, tinhoso, tísico, títere, toleirão, tolo, tonto, torpe, tosco,  totó, trabeculoso, trafulha, traiçoeiro, traidor, trambolho, trapaceiro, trapalhão, traste, tratante, trauliteiro, tresloucado, trinca-espinhas, trique-lariques,  triste, troca-tintas, troglodita, trombalazanas, trombeiro, trombudo, trouxa,

Unhas de fome, untuoso, urso

Vaca gorda, vadio, vagabundo, vaidoso, valdevinos, vândalo, velhaco, velhadas, vendido, verme, vesgo, víbora, viciado, vigarista, vígaro, vira-casacas,

Xé-xé, xico esperto

zarolho, zé-ninguém, zelota, zero í  esquerda,

Não é nada mierda, carago!

O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, disse, numa intervenção no Fórum Europa – Tribuna Galícia, a decorrer em Vigo, o seguinte:

«Se não conseguirmos uma ligação decente, a integração na Euroregião torna-se mais difícil porque o que há agora não é nada, e isso é um problema».

Só que a agência Servimedia, ao serviço do El Mundo, traduziu “não é nada” por “mierda”.

O gabinete de comunicação da Câmara do Porto, apressou-se a esclarecer que, além de Rui Rio «nunca ter utilizado tal expressão – nem durante a intervenção, nem durante a conversa que manteve com os jornalistas no final da sessão – a palavra mierda, em Portugal, é considerada um palavrão, jamais utilizado por uma figura pública, ainda para mais durante um ato público».

É mentira, claro.

Antecedentes, há muitos.

E podia citar o antigo primeiro-ministro, almirante Pinheiro de Azevedo que, sitiado, no Parlamento, por uma multidão de manifestantes, gritou: «Bardamerda para o socialismo!”.

Podia, também, citar alguns dos nossos ilustres deputados que, publicamente, se insultam e se mandam, uns aos outros, para lugares pouco recomendáveis (certificar este texto de 2009).

Claro que Rui Rio, como bom tripeiro que é, podia muito bem dizer mierda em público – e muito pior.

Mas não disse.

Em resumo: a Servimédia fez Servimierda.

“Como É Possível Ser Português?”, de Michel BJ Cartier

Nascido em 1939, em França, Cartier vive em Portugal há anos o que o fez aventurar-se a escrever esta espécie de dicionário, directamente em português.

—Não faria mal nenhum, não fosse o caso de, aqui e ali, não se perceber o que ele quer dizer. Além disso, não houve grande cuidado na revisão do texto, já que Cartier repete a mesma coisa várias vezes, em partes diferentes do livro. Por exemplo, sobre o herói de BD Tintin, esclarece que o nome do seu autor Hergé, é um pseudónimo de Georges Remi, pelo menos, em dois trechos do livro. Também refere, em três ocasiões diferentes, que a palavra “azar” provém do árabe az-zahr, que significa dado. E estes são apenas dois de muitos exemplos de repetições desnecessárias e que poderiam ter desaparecido se o texto tivesse sido revisto.

Como estrangeiro que é, Cartier sacou bem alguns vícios da nossa língua coloquial e quase que consegue ter alguma graça.

Exemplo, com a palavra “andar”:

«Deslocar-se a pé. Em outras palavras, indica e traduz a locomoção. Mas é também sinónimo de piso (Eu moro no 5º andar). e mesmo de apartamento (Visite o nosso andar modelo). Não confundir com “andor” (apesar do facto de que o mesmo não pode andar sozinho). Se alguém pode perfeitamente andar a correr, a recíproca não existe (e porque não?). Usa-se também peremptoriamente associado com “tocar” na expressão definitiva, sinónima de “E pronto!” ou “Vamos embora!”: Toca a andar! (pronunciada: tocandar). Encontra-se também em expressões curiosas e automáticas feitas principalmente pelo telefone, tais como: “Onde é que tu andas?”, ou: “O que é que tu andas a fazer?” Os pais podem também chamar a atenção do filho ou da filha, exigindo: “Anda cá!”»

Se o autor se tivesse cingido í  análise destas palavras ou frases da nossa linguagem do dia-a-dia, talvez tivesse conseguido fazer um livrinho coerente e simpático, fazendo lembrar um brilhante Elucidário de Conhecimentos Quase Inúteis (1985), de Roby Amorim, pequena publicação onde eram explicadas as origens dde algumas expressões correntes, como “ir para o maneta”.

Mas Cartier mistura muita coisa, pequenas informações linguísticas, datas históricas, citações de filósofos e escritores franceses e até referências í  actualidade política (uma das entradas, por exemplo, é TGV…)

E por vezes, parece que se perde no português, que perde o fio í  meada. Um exemplo: a propósito da palavra “dias”, espanta-se por usarmos “segunda, terça, quarta, quinta, sexta”, enquanto os ingleses e os franceses têm um nome para cada dia da semana. Mas, depois, acrescenta: «Infelizmente, os Portugueses não são os únicos originais neste aspecto: também os Gregos (apesar dos inumeráveis deuses da Antiguidade) “traduzem” os quatro primeiros dias da semana, contando por números ordinais (no feminino, como em Português), depois do Sábado (Savvato que é neutro) e do Domingo (Kuriaki, também feminino); Sexta-feira, também no feminino, se diz Paraskevi. Onde é que se encontra e exclusividade ou originalidade portuguesa? Mas, de todo o jeito e em poucas palavras: Deus seja louvado!»

Perceberam? Eu não.

E há muitos trechos destes no livro, o que é pena, porque o resultado final acaba por ser um pouco entediante.

Acrescentaria: o autor pergunta “Como é possível ser português?” e eu pergunto: “como é possível uma editora publicar um livro destes?”

Privilégio

Ontem, estava a brincar com o meu neto Tiago, no quarto dele, quando ele me disse:

“Olha, espera aqui um bocadinho porque eu tenho que ir fazer cocó!”

Depois, hesitou durante dois segundos e acrescentou:

“Não… podes vir comigo porque eu gosto muito de ti…”

E foi assim que tive o privilégio de acompanhar o meu neto durante a sua gloriosa cagada!