63 anos

Sou do tempo em que os iogurtes vinham em frascos de vidro que tínhamos que devolver ao comerciante porque tinham tara e em que o leite e o pão eram vendidos de porta a porta.

Sou do tempo em que era preciso uma licença para usar isqueiro em público e em que os homens tinham que obter uma licença militar para poder sair do país, mesmo que fosse para fazer turismo.

Sou do tempo  em que a televisão era a preto e branco, só tinha um canal e a emissão fechava antes da meia-noite com o hino nacional.

Sou do tempo  em que se podia comprar cigarros avulso e se podia fumar em todo o lado, nos transportes públicos, nos cinemas, na televisão, em directo, até nas enfermarias.

Sou do tempo  em que as equipas de futebol jogavam com os mesmos onze jogadores, do princípio ao fim do jogo, não sendo permitidas substituições.

Sou do tempo  em que os preservativos eram reutilizados, não havia pensos higiénicos e as fraldas eram de pano.

Sou do tempo em que se vendiam grilos dentro de pequenas gaiolas de plástico, que depois alimentávamos com alface.

Sou do tempo em que escrevíamos em máquinas de escrever com fitas bicolores que se enrodilhavam com frequência e, se queríamos uma cópia, usávamos papel químico.

Sou do tempo em que usávamos protectores de metal nas solas dos sapatos e quando, mesmo assim, as solas se rompiam, o sapateiro punha meias-solas.

Sou do tempo  em que, nas capelistas, se apanhavam malhas nas meias de vidro com uma máquina que tinha uma espécie de vareta de metal, na ponta de um fio, e que fazia um barulho tipo besouro.

Sou do tempo em que havia uma capelista em cada bairro e havia também funileiros, que arranjavam tachos e panelas, metendo-lhes asas ou fundos novos.

Sou do tempo em que as agulhas das seringas eram fervidas antes de serem usadas novamente.

Sou do tempo em que telefonar para o estrangeiro só era possível com a ajuda de uma telefonista.

Sou do tempo em que os discos tinham 78 rotações e em que gravávamos músicas em fitas magnéticas.

Sou do tempo em que, para chamar o guarda-nocturno, se batiam as palmas três vezes.

Sou do tempo em que a maioridade se obtinha aos 21 anos e se as pessoas se quisessem casar antes dessa idade, precisavam do consentimento dos pais e de duas testemunhas.

Sou do tempo em que a única maneira de ir directamente de Lisboa a Cacilhas era de barco porque, para ir de carro, tinha-se que ir por Vila Franca de Xira.

Sou do tempo em que faltávamos í s aulas para ir para a porta dos liceus femininos ver as miúdas saírem.

Sou do tempo  em que o açúcar e outros produtos de mercearia eram vendidos avulso, em cartuchos de papelão, que tinham um cheiro peculiar quando chovia.

Sou do tempo em que as cuecas de homem todas tinham abertura í  frente e as camisas, esticadores nos colarinhos.

Sou do tempo em que, na Baixa, havia, pelo menos dez  cinemas, a saber: Condes, Éden, í“deon, Politeama, S. Jorge, Tivoli, Chiado Terrasse, Ideal, Central e Olympia.

E é por essas e por outras que já tenho 63 anos!

A direita com dor de corno

A direita está í  brocha…

Pela primeira vez, na história da jovem democracia portuguesa (é mais nova que eu!), os partidos í  esquerda do PS votaram a favor do Orçamento Geral do Estado.

Que confusão isto deve fazer a algumas cabeças…

Passos Coelho até já adoptou como slogan “social-democracia sempre!”.

Liberal de merda!…

Quanta í  sucessora de Portas, a azougada Assunção Cristas, disse hoje que o CDS admite governo com PSD e PS, mas sem António Costa.

Infantil.

É o mesmo que dizer que António Costa admite governo de PS, PSD e CDS, mas sem Passos Coelho ou Assunção Cristas.

Ou que a Catarina Martins aceita governo BE, PS e PCP, mas sem o Jerónimo de Sousa.

Ou que o Jerónimo admite governo do PCP, PS e BE, mas sem o António Costa e a Catarina.

A Assunção é uma querida mas tem pouco jeito para isto.

Quanto ao ex-primeiro-ministro, continua a inaugurar e a visitar lares de terceira idade, como se continuasse no poder.

Todos os dias surge nos telejornais, a fazer declarações, com aquele ar solene de quem continua í  frente dos destinos da Nação.

Ainda ontem, no jornal da RTP, aparecia num lar qualquer, a falar sobre a função social do Estado, ele, que tudo fez para eliminar essa parte das obrigações do poder central, entregando-a í  caridadezinha. E a criatura disse coisas, atacando o governo actual.

Um pouco aflitos, os jornalistas da RTP, como contraditório, repetiram afirmações do ministro Vieira da Silva, que foi inaugurar três lares ou algo semelhante, mas que não teve direito a reportagem.

Passos Coelho parece que continua a ser primeiro-ministro.

Hoje mesmo, o DN publica uma longa reportagem sobre o novo dia-a-dia do Passos Coelho, titulando na primeira página: “A nova vida de Passos: não tem segurança, ganha menos e almoça no gabinete”.

Tenho uma novidade para vocês: quero que o Passos se foda!

Títulos

“PS divide-se até nas presidenciais americanos” – Sol

– Ora aqui está uma grande preocupação para António Costa: se os militantes do PS gostam mais de Clinton ou de Sanders! Este pasquim de direita é de ir í s lágrimas!…

“Passos vai levar outro banho”, diz Jardim” – Público

– Quer dizer que Passos Coelho já tomou outro banho antes?

“Mais de 40% dos portugueses afirmam não saber nada sobre a hepatite C” – Público

– E sobre a psoríase, a colite ulcerosa, a tromboflebite ou a gravidez ectópica?

“É possível alimentar um recluso com 2,31 euros/dia?” – Público

– Até menos, se fizer greve de fome…

“Ministro promete demitir presidente do CCB na segunda” – Público

– Porquê esperar por segunda?

“Ministros, políticos e comunidade gay contra Bloco de Esquerda” – DN

– Catarina Martins, assim, vai para o inferno, coitada…

“Turismo de marijuana legal no Colorado está a acabar nas urgências” – DN

– É só rir!…

“O vírus zika esconde-se nos testículos, mas não é o único” – DN

– É dos tomates!…

O Aníbal das medalhas

Cavaco será lembrado assim, no futuro: o Aníbal das medalhas.

A menos de um mês de se ir embora, sem pena nem paixão, ao Cavaco deu-lhe a fúria das medalhas e foi í  despensa buscar o refugo que lá tinha e desatou a condecorar í  fartazana.

Para além deste oito ex-ministros que estão na foto, Aníbal decidiu condecorar Sousa Lara!

Quem?

Para vós, gente ignorante, Sousa Lara é segundo conde de Guedes, quarto marquês de Lara, fidalgo de Cota de Armas em Portugal e Espanha e cidadão honorário do Texas (e se não acreditam, confirmem aqui…)

Lara é ainda Cavaleiro de Graça e Devoção da Ordem Soberana e Militar de Malta, comendador da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Comendador da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha, Grande Oficial da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro de Itália e Cavaleiro de Justiça da Ordem Constantiniana de S. Jorge da Casa das Duas Sicílias (tudo isto com maiúsculas).

E agora, graças ao Aníbal das medalhas, é também Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Claro que toda a gente o recorda como o grande subsecretário de Estado da Cultura que, em 1992, impediu que José Saramago concorresse ao Prémio Literário Europeu, com o blasfemo livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo - e em boa hora o fez: está bem que Saramago ganhou o Nobel, mas está morto e Lara está bem vivo e até foi condecorado pelo Cavaco, coisa que o Saramago nunca conseguiu!

Mas há mais razões para Lara ter sido condecorado: o homem é bacharel em Administração Ultramarina, doutor em Ciência Política, licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina e em Ciências Antropológicas e Etnológicas e é ainda formado em Genealogia, Heráldica e Direito Nobiliárquico!

Com tal currículo, Cavaco não podia deixar de o condecorar.

A cereja no topo do bolo: Lara é pai do padre Duarte Sousa Lara, que recentemente declarou que a igreja católica precisa de mais exorcistas (ler aqui).

Duarte Sousa Lara disse que, hoje em dia, há mais pessoas com distúrbios espirituais, devido ao incremento da bruxaria.

Fica assim explicada a recente distribuição de condecorações por parte de Aníbal Cavaco Silva…

cavaco condecora

As condecorações de Cavaco

Cavaco tem a honra de ser o único presidente post-25 de Abril que sai de cena com avaliação negativa por parte dos eleitores.

Eanes, Soares e Sampaio saíram em alta e podem, ainda hoje, gozar do respeito por parte da maioria dos seus concidadãos.

Cavaco não.

Vai-se retirar para Boliqueime e limitar-se a gerir o negócio da gasolineira que herdou do pai.

E continua a fazer borrada atrás de borrada.

Agora, decidiu condecorar ex-ministros.

A lista é longa: Vitor Gaspar, Bagão Félix, ílvaro Santos Pereira, Luís Campos e Cunha, Paulo Macedo, Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato e Rui Pereira.

Por um lado, alguns destes ministros ainda podem muito bem vir a ficar em prisão preventiva por algum negócio que possam ter tido com o Veiga, com o Salgado ou com o Sócrates.

E por outro, pergunto: qual o critério para condecorar um ministro que esteve escassos quatro meses no activo e que se demitiu rapidamente?

Falo do Campos e Cunha, primeiro ministro das Finanças do Sócrates.

É que a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique é atribuída pelo “espírito patriótico e de serviço” no desempenho das suas funções.

Quatro meses como ministro demonstra espírito patriótico e de serviço?

í“ Cavaco, então condecora-me a mim, que sou médico do SNS há 39 anos, porra!

Está quieto, ó Portas!

Agora ficámos a saber quem é o culpado pelas novas medidas de austeridade que o governo do Costa se viu obrigado a tomar.

E o culpado foi o Paulo Portas.

Sem que ninguém lhe encomendasse o sermão, o futuro ex-líder do CDS foi a Bruxelas falar com o presidente da Comissão Europeia e disse-lhe isto:

“Estive em Bruxelas esta semana, pedi ao senhor Juncker que não fosse intransigente porque se houvesse um desacordo grave o problema não era para o Governo, era para Portugal e os portugueses seriam os primeiros a ser prejudicados mais dia menos dia”.

E pronto, está-se mesmo a ver que Junker, perante este pedido, apertou com o Costa o mais que pí´de, porque deve ter pensado que Portas estava a ser sarcástico.

E só podia ser: então o CDS ganhou as eleições em coligação com o PSD e o Costa é que formou governo e o Portas, ainda por cima, quer ser bonzinho e ajudá-lo, pedindo ao Junkers para não ser intransigente?

Estava a gozar, certamente!…

E toca de apertar o torno ao Costa.

Retira-te mas é para os teus negócios de família e deixa-nos em paz, ó Paulinho!…

Coisas do Orçamento

Confirma-se que António Costa recorreu í  chantagem para conseguir que a Comissão Europeia aceitasse o Orçamento Geral do Estado.

De facto, Costa ameaçou propor o nome de Cavaco Silva para o cargo de Comissário europeu caso o Orçamento não fosse aprovado e Bruxelas não teve outro remédio senão pactuar.

Nem era mais por causa de Cavaco, mas sim por causa da Dona Maria, que gosta de meter o nariz em tudo.

No entanto, o acordo continua a não ser total.

Parece que há uma divergência de 200 milhões de euros.

Trocos.

Costa garantiu que vai conseguir tapar esse buraco de 200 milhões.

Sabe-se que há 280 portugueses que devem mais de um milhão de euros ao fisco.

Costa vai conseguir obrigar esses cidadãos a pagarem o que devem.

Como?

Recorrendo, mais uma vez, a Cavaco Silva.

Como ex-presidente, Cavaco tem direito a carro e motorista; em vez de ficar sentado no seu gabinete a criar bolor, vai fazer de cobrador de fraque.

Além de ficar entretido, fará qualquer coisa de útil e dará uma ajuda ao país.

Talvez assim consiga que o Presidente Rebelo de Sousa o condecore no 10 de Junho.

O ataque do vírus Zika

O vírus Zika provoca microcefalia.

Marcelo Rebelo de Sousa almoçou com Cavaco.

As medidas de austeridade de Passos Coelho eram provisórias para nós mas definitivas para Bruxelas.

Carrilho do Sporting assina pelo Benfica, segundo o presidente do Porto.

O Papa manda tapar as estátuas nuas do Vaticano para não insultar o chefe do governo do Irão.

Os sindicatos da CGTP convocam uma greve porque querem as 35 horas já e não daqui a 6 meses.

Donald Trump continua com muitas hipóteses de ser o candidato republicano í  presidência dos States.

O líder do PCP chama engraçadinha í  candidata do Bloco í  presidência da República.

António Costa tem um lapsus linguae e chama primeiro-ministro a Passos Coelho.

Não é preciso ser picado pelo mosquito do Zika para ter microcefalia…

Uma campanha alérgica

Começou a campanha eleitoral para a presidência da República e, pela primeira vez, não sei sinceramente em quem votar.

Não gosto do psicólogo que dá aulas de encorajamento ou lá o que é; tem uns óculos de massa muito feios e os incisivos muito afastados.

O senhor que abandonou os debates e se recusou a participar, merece a minha simpatia por isso; foi menos um chato que tivemos que aturar, mas acho que tem um abdómen demasiado proeminente para presidente. Ficava mal nas fotos oficiais.

Aquele rapazinho que trouxe as assinaturas num cabaz é apalhaçado e nunca gostei de palhaços.

O Neto tem idade para ser aví´.

O Morais diz que é limpinho mas não gosto do penteado e algo me diz que ali há gato escondido.

O ex-padre é a contradição em pessoa: católico e comunista? Se a religião continua a ser o ópio do povo, o comunismo será a naloxona?

A Marisa tem boa voz para o fado, não para discursar no 10 de Junho.

A de Belém é muito pequena; mal chegaria ao microfone das Nações Unidas, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, a convidasse para discursar.

O Nóvoa tem um nome bom demais para trocadilhos e ninguém sabe onde estava no 25 de Abril, 28 de Setembro, 11 de Março e 25 de Novembro, da parte da tarde.

Finalmente, o candidato que é como a pescada, que antes de o ser já o era, é um fiasco. Afinal, depois de décadas de comentário político, não tem opinião sobre nada.

Pensando bem, deve ser por isso que vai ganhar as eleições.

Cavaco, qual eucalipto, que tudo seca í  sua volta, até a Presidência da República secou!