Se tivesse começado a ler este livro sem saber quem era o autor, teria muito provavelmente, desistido.
Em 2010, Vargas Llosa (1936-2025) ganhou o Prémio Nobel e três anos depois publicou este livro desinspirado e até um pouco descuidado, na minha modesta opinião.
O autor conta-nos duas histórias, em capítulos alternados, histórias essas que, a certa altura, se cruzam de um modo um pouco artificialmente.
O herói discreto que fala o título, é o mestiço Felícito Yanaqué, dono de uma empresa de transportes da cidade de Piura que começa a receber cartas anónimas que o ameaçam se não pagar uma espécie de avença. Este Felícito tem um casamento infeliz com um mulher que dele engravidou por acidente e tem, também, uma amante jovem, a quem montou casa e a quem paga uma mensalidade. Tudo isto é contado menorizando sempre o papel das mulheres: a esposa de Felícito é gorda, feia, beata e há muito tempo que não vai para a cama com ele e Mabel, a amante, é jovem, bonita e, no fundo, uma espécie de prostituta sindicalizada.
A outra história baseia-se no casal Rigoberto e Lucrécia. Ele é um tipo culto, que gosta de boa literatura, música erudita e grandes pintoras, e ela é apenas uma mulher. Têm um filho de 15 anos que, de repente, começa a ter visões, na pessoa de um homem que lhe fala de religião. Há ainda um octogenário Ismael, viúvo e muito rico, que se casa com a criada, só para chatear os dois filhos que lhe querem rapinar a herança.
Em resumo, uma história mal enjorcada, muito machista e que poderia ter sido escrita há muitas décadas – isto, para além de alguns erros de narrativa que não vêm para o caso.