Esta é a verdadeira razão que leva Montenegro a não querer debater com o Rui Tavares e o Paulo Raimundo

Ficámos a saber – aparentemente, com alguma estupefação – que o líder do PSD, Luís Montenegro, se recusa a participar nos debates pré-eleitorais com o líder da CDU, Paulo Raimundo e com o líder do Livre, Rui Tavares. No seu lugar, indicou o nome do desconhecido Nuno Melo, que parece que é o líder de uma agremiação chamada CDS, uma sigla que talvez signifique Centro Democrático Social, mas não há a certeza.

As televisões, em uníssono, disseram que não era possível essa alteração, que o acordo tinha sido que os debates decorreriam entre os líderes dos partidos e/ou coligações com assento parlamentar.

Ripostou o PSD que, em 2015, também Jerónimo de Sousa, então líder da CDU, tinha sido substituído por Heloísa Apolónia, líder de Os Verdes, para debater com Paulo Portas, da coligação Prá Frente Portugal, no lugar de Passos Coelho.

O problema é que qualquer destes quatro políticos faziam parte de partidos com assento no Parlamente, ao passo que o tal Melo, ninguém sabe quem é, muito menos o dito CDS.

Enfim, perante a recusa do Montenegro, há quem diga que ele tem medo de debater com o Tavares e o Raimundo – e, no fundo, têm razão.

O que, de facto, acontece é que Montenegro é um perigoso esquerdista encapotado, uma espécie de agente secreto da esquerda radical que milita num partido de direita para o minar por dentro. Se Montenegro for eleito e se se tornar primeiro-ministro de Portugal, a primeira coisa que ele vai fazer é uma aliança política-económica com Cuba.

É por isso que ele teme confrontar-se com Tavares e Raimundo: teme ser descoberto, receia que, durante o debate, se descubra que, afinal, ele é um trotskista dos sete costados.

E isto não é especulação; foi uma fonte de Belém que me assegurou ser verdade.

Agora, aguentem-se…

Promessas eleitorais

Depois de ouvir as propostas dos partidos políticos para as próximas eleições, decidi fazer um resumo, tentando juntar uma proposta daqui com outra dali.

Assim temos:

– Um médico de família para cada português; para os portugueses doentes, dois médicos de família para cada um;

– Acabar com os tempos de espera nos hospitais; passam a ser os hospitais que ficam à espera dos doentes;

– Uma casa para viver e outra para passar férias; toda a gente tem o direito a passar férias numa casa;

– Rendas de bilros acessíveis para todos;

– Retirar o suplemento à Judiciária, de modo a que fique nivelada com as outras polícias;

– Descongelar os anos aos professores; desse modo ficarão mais velhos e poderão reformar-se já;

– Aumentar todas as pensões e baixar todos os hotéis;

– Diminuir IRS, IVA e IMI; passam todos a ser escritos com letra minúscula (irs, iva e imi);

Assim de repente, é o que me lembro. Se tiver mais ideias, depois digo.

Não cultives canabis num campo agrícola e outros conselhos

O Correio da Manhã é um manancial de curiosidades.

Ficamos a saber, por exemplo, que uma mulher pode ser identificada pela polícia na Brandoa pelo simples facto de morder no marido. O pobre do homem foi “transportado ao Hospital Amadora-Sintra com vários ferimentos no corpo” e tudo porque aconteceu um “desentendimento doméstico”.

Pelo contrário, “um homem de 55 anos foi detido pela GNR por agredir a ex-companheira e ter em sua posse uma faca em Tomar”. Se fosse na Brandoa, talvez se safasse…

Já em Oliveira de Azeméis, “um homem de 34 anos foi preso pela PJ por obrigar a companheira a vender o corpo em casa”. Se o tivesse vendido na rua ou num jardim, talvez se safasse… Ou, se não tivesse sido tão garganeiro e, em vez de vender o corpo da mulher, tivesse vendido só partes, um braço ou uma perna, talvez a pena fosse mais leve.

Finalmente, no que à droga diz respeita, dois conselhos do Correio da Manhã:

Segundo a notícia, “um jovem de 19 anos foi detido pela GNR de Barcelos na posse de 25 doses de haxixe. Foi parado numa operação de trânsito e mostrou-se «nervoso»”.

Primeiro conselho: nada de nervos quando se transporta droga. Se se mantiver a calma, nada acontece, a bófia não chateia.

Segundo outra notícia: “um homem de 57 anos foi detido no concelho da Guarda por cultivar canábis num campo agrícola”

Segundo conselho: se quiser cultivar canábis, escolha a varanda, por exemplo.

O Correio da Manhã sempre a ajudar o próximo!

A pilinha do Dr. Barreiros e o buraco do Dr. Toy

Em vésperas de festejar os 50 anos do 25 de Abril, assistimos a grandes êxitos da música portuguesa, protagonizados por dois dos nossos maiores cantautores nacionais: Quim Barreiros e Toy.

Agora que o Natal está a chegar, nada melhor do que oferecer aos nossos familiares os novos grandes êxitos destes dois ícones da estupidez nacional, tão adorados por tunas académicas, festivais populares e autarquias em geral. É uma maneira de dizer aos nossos familiares que queremos que eles se fodam.

O Dr. Quim Barreiros, do alto dos seus 76 anos, descobriu agora que a sua pichota se chama sarapanta. Aparentemente, foi esse o nome que a sua mãezinha querida lhe deu, conforme os versos do seu novo grande êxito:

Eu tenho um sarapanta/ Que a minha mãe me deu
Anda sempre escondido/ Quem manda nele sou eu

Ficamos, portanto, a saber que a mãe do Dr. Barreiros chamava sarapanta à sua pilinha, mas que, hélas!, é ele que manda nela!

Apesar disso, o Dr. Barreiros anda sempre com aquilo escondido, vá-se lá saber porquê!… Deve ter vergonha daquela coisa. Porventura, espreme-a, em vez de a abanar, depois de fazer chi-chi.

Pelo desenrolar do poema – obra-prima do Dr. Barreiros – ficamos a saber que a sua sarapanta só se levanta quando lhe mexem. Ora leiam:

Ora mexe mexe mexe/ Aqui no sarapanta
E quanto mais lhe mexes/ Mais ele se levanta

Apesar dos seus 76 anos, o Dr. Barreiros não precisa de Viagra ou Cialis. Basta que lhe mexam na coisa, e ela logo se levanta. Felizardo! Deve ser do acordeão!…

Continuando a ouvir esta peça lúbrica do cancioneiro nacional, ficamos a saber que há quem goste de fazer sexo oral ao Dr. Barreiros.

Há quem lhe faça festinhas/ Há quem o queira beijar
Se lhe apertam o pescoço/ Ele começa a cantar

Que o Dr. Barreiros tenha uma pila que cante, eis algo que nós desconhecíamos!

Resta perguntar, por que carga de água o Dr. Barreiros decidiu chamar sarapanta à sua pila. A explicação é que foi a única palavra que ele conseguiu encontrar que rimasse com “levanta”.

Apetece, portanto, dizer, como dizia Paulo Fernando, no Dois do Quelhas, que este disco é intocável, mas, felizmente, não é inquebrável!

E por isso, vamos parti-lo!

Quanto ao buraco do Dr. Toy, trata-se de uma canção que serve como anúncio ao Intermarché e que seria suficiente para que todas as donas de casa nunca mais pusessem os pés naqueles espaços comerciais.

No spot publicitário vemos o Dr. Toy, de mangueira na mão, preparando-se para meter combustível no seu carro, com duas lambisgoias sorridentes atrás dele. E ele canta:

Eu meti em todas/ agora sei como é
Eu meti em todas/ e agora só meto no intermarché
Com a mangueira na mão/ sempre acerto no buraco
É da minha formação/ a meter nunca fui fraco
Meto sempre devagar/ e fico com a certeza
Onde meto é o lugar/ que não dá muita despesa

Por outras palavras: o Dr. Toy gosta de meter, desde que não gaste muito dinheiro. Portanto, deve procurar, naqueles anúncios manhosos do Correio da Manhã, onde poderá satisfazer as suas necessidades sem desperdiçar muito dinheiro.

São estes enormes poetas que fazem de Portugal o grande país que é!

O Dr. Barreiros e o Dr. Toy querem fazer de conta que são grandes poetas brejeiros, mas não passam de lavajões malcriados. Desconhecem a elegância da poesia satírica.

A propósito, talvez não seja má ideia recordar um dos sonetos de Bocage. Talvez estes dois doutores percebam a diferença, embora duvide.

“É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro, tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro;

À roda da raiz produz carqueja;
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um u;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.

É o que eu desejo ao Dr. Barreiros e ao Dr. Toy.

A crise na habitação segundo o Público

E, de repente, surgiu a crise na habitação.

Ninguém falou nisto, anos a fio, ninguém ligou nenhuma à falta de habitações e ao aumento das rendas e, de repente, assim que o governo criou um Ministério da Habitação e deitou cá para fora uma polémica lei da habitação, todos começaram a falar disto, a criticar a lei e a invectivar o governo. Ainda por cima, a ministra da Habitação é a mais nova ministra desde sempre, portanto, toca a deitá-la abaixo.

Hoje, o título do Público é elucidativo.

Diz assim:

“Jovens com casa própria caem para metade nas duas últimas décadas: só pouco mais de 25% consegue ter casa antes dos 25 anos e a compra passou a ser cada vez mais feita com recurso a crédito”

Mas o que é isto?

Só conseguimos comprar a nossa casa aos 34 anos – e éramos ambos médicos. E claro que a Caixa Geral de Depósitos emprestou 90%!

Segundo o título do Público, parece que era comum os jovens com menos de 25 anos adquirirem casa própria e sem recurso a empréstimo!

E ainda dizem que isto está cada vez pior, porra!

Um presidente que acredita na indigestão

Marcelo desmaiou!

Estava na faculdade de Ciências e Tecnologia, a inaugurar um laboratório, quando alguém lhe ofereceu um moscatel. Quente.

O presidente não resiste a um copo – seja de moscatel, de ginjinha, de cerveja ou de qualquer outro líquido com uma percentagem de álcool aceitável.

Ignorando o facto – grave! – de já ter engolido o conteúdo de uma embalagem de Fortimel, Marcelo bebeu o Moscatel.

Estava quente!

Toda a gente sabe o mal que faz um cálice de moscatel quente.

Assim que o moscatel entrou no estômago presidencial, iniciou-se uma reação química com o Fortimel que ainda lá estava, a sobrenadar.

Consultando as precauções que constam da embalagem do Fortimel, podemos ler que só deve ser usado como suplemento, não sendo adequado como fonte alimentar única.

Ora, o presidente não almoçou e usou o Fortimel como fonte alimentar única. Ainda por cima, emborcou um cálice de moscatel. Quente!

Desceu-lhe a tensão!

Estava-se mesmo a ver.

Aliás, todos os médicos receitam moscatel quente aos hipertensos. É conhecida a sua ação hipotensora.

Felizmente, Marcelo recuperou bem. Depois de ter feito exames no Hospital, teve alta às 8 horas, mesmo na abertura dos telejornais!

Marcelo afirmou aos jornalistas que, muito provavelmente, o Moscatel interferiu com a digestão do Fortimel.

Um presidente que acredita nas indigestões, é mesmo o que todos nós merecemos!

Adoramos ir à faca!

O Diário de Notícias titula, em manchete a vermelho: “Bónus a médicos fez disparar cirurgias, mas um terço dos doentes é operado tarde demais”.

Fiquei preocupado.

Será que um terço dos portugueses, apesar de serem operados, já não tiveram salvação possível e morreram?

Parece que não.

Na página 12, o título é mais moderado: “Incentivos a cirurgias permitem recordes em 2023, mas 30% ainda são tratados fora de tempo”.

Isto é: um terço dos operados esperam mais tempo para ser operados do que o recomendado. No entanto, dizer que são operados “tarde demais”, é apenas mais um sintoma do populismo que tomou conta dos órgãos de comunicação social.

Ignorando mais este título exagerado do antigamente circunspecto Diário de Notícias, gostaria de me deter neste número impressionante: em 2023, 758 mil portugueses foram operados e, nos primeiros quatro meses deste ano, já foram operados mais 246 mil. Por outras palavras, um milhão de portugueses operados em menos de ano e meio!

Operar 1% da população em menos de ano e meio, é obra, caramba!

Gostamos mesmo de ir à faca, porra!

Coisas da democracia

Três notícias na edição de hoje de o Público, fazem-nos pensar um pouco sobre o valor das democracias.

Em Portugal, a nova secretária de estado do Tesouro foi demitida depois de ter recebido meio milhão de euros de indemnização por ter sido despedida da TAP.

Faltavam-lhe dois anos de contrato, tal como a Fernando Santos, o selecionador nacional de futebol que, no entanto, recebeu 3,5 milhões de indemnização.

Percebe-se a diferença: Santos ganhou um campeonato da Europa, enquanto Alexandra Reis, a secretária de Estado, não ganhou coisa nenhuma – a não ser a tal indemnização.

Nos Estados Unidos, o congressista republicano George Santos admitiu que mentiu sobre a sua formação académica e o seu histórico profissional durante a campanha para as eleições intercalares de novembro.

Santos é adepto de Trump e afirmou que não é criminoso; acrescentou: “o meu pecado foi ter enfeitado o meu currículo. Peço desculpa. Fazemos coisas estúpidas na vida”. Mesmo assim, pretende tomar posse como congressista.

Em Israel, o Parlamento aprovou duas leis que poderão permitir que os políticos passem a ter um poder quase absoluto e em que as mulheres, homossexuais, estrangeiros, ou até judeus não ortodoxos, possam perder direitos.

Um dessas alterações torna possível que políticos condenados por crimes graves como corrupção, possam ser ministros.

São coisas da democracia – o pior regime político, mas o único que é aceitável…

“Informadores da Pide – Uma Tragédia Portuguesa” – de Irene Flunser Pimentel (2022)

Em plena época de incêndios, apete dizer que Portugal é um país de incendiários.

Não é verdade.

O que Portugal é, é um país de delatores, de denunciantes, de traidores – pelo menos, é este o sentimento que fica depois de ler este brilhante livro de Irene Flunser Pimentel que, sem juízos de valor (a não ser nas notas finais, também elas brilhantes) nos conta a história desta verdadeira tragédia portuguesa.

Quantos terão sido os informadores da Pide? Talvez cerca de 20 mil!

Não se sabe ao certo quantos foram, mas foram muitos milhares e instalaram na sociedade portuguesa o clima de medo que todos (pelo menos os da minha geração) sentiram, nos anos da ditadura. Transcrevo da página 166:

“O facto de muitos anónimos escreverem recorrentemente ao Ministério do Interior e à PIDE a oferecerem os seus serviços como informadores é revelador de que existia, no seio da população portuguesa, uma espalhada cultura de denúncia. Se foi um facto que a PIDE/DGS teve muitos informadores, a principal razão da sua eficácia foi o «clima de desconfiança criado pelo pressentimento da sua existência». O mesmo terá acontecido com a escuta telefónica, com a qual a PIDE «obtinha mais vantagens» ao difundir a suspeita de que haveria um número incalculável de telefones vigiados pela polícia, do que com as escutas que efectivamente executava.”

Muitas vezes, os informadores traíam alguém em troca de algum favor, para conseguir um emprego melhor, para receber dinheiro, para obter uma casa – era o espírito da cunha, do favorzinho, que ainda hoje impera na nossa sociedade. Claro que, graças a essa delação, alguém era preso, talvez torturado, mas o informador não se preocupava com isso.

Portugal, um país de delatores. Exagero? Talvez não. Transcrevo da página 140:

“O excesso de denúncias chegou mesmo a ser criticado e condenado pelos próprios ministros do Interior da ditadura, como se pode ver através de duas circulares de épocas diferentes, separadas por vinte anos, 1951 e 1971, da autoria dos então detentores dessas pastas. Preocupado com a quantidade de denúncias anónimas ou de candidaturas a informador que regularmente lhe chegavam, o ministro do Interior, nomeado na remodelação governamental de agosto de 1950, Joaquim de Trigo Negreiros, enviou, em 11 de outubro de 1951, uma circular à PIDE, a queixar-se da generalização da delação.”

As denúncias por vezes – muitas vezes – eram mesquinhas, como esta (página 218):

“…o mesmo elemento da polícia política denunciou o presidente da Câmara de Mourão, por ver «com indiferença o pessoal» da DGS, ao não cumprimentar, no café, o chefe e os agentes do posto fronteiriço de S. Leonardo.”

Lemos em conjunto este livro que nos fez, mais uma vez, recordar a importância do 25 de Abril de 1974 e gostaria de esfregar as suas páginas nas trombas de alguns tipos que por aí andam a tentar fazer o tempo andar para trás.

E termino citando uma das notas finais da autora:

“Viu-se que houve informadores em toda a sociedade portuguesa, desde operários a assalariados rurais, a escriturários, comerciantes, proprietários, médicos que traíram o seu juramento, jornalistas, fotógrafos, presidentes de Câmara e directores de empresa, militares e civis, homens e mulheres, jovens e de meia-idade, padres, que transmitiram o que ouviam na confissão, professores dos vários graus de ensino que denunciaram alunos e estudantes. Viu-se também que quase todos, além de ganhos financeiros e de partilha do poder em ditadura, utilizaram o velho hábito da «cunha» para arranjar um emprego melhor ou subir na carreira da Administração Pública».

De facto, uma tragédia portuguesa!

“As Pessoas Invisíveis”, de José Carlos Barros

José Carlos Barros (Boticas, 1963), ganhou o Prémio Leya de 2021 com este romance que li em três tempos.

A história começa por altura da Segunda Guerra Mundial, à exploração de volfrâmio e à amizade entre um engenheiro alemão e Xavier Sarmiento, um jovem que descobre que tem o dom de curar, graças a mezinhas e rezas e outros truques.

Vamos acompanhando este Xavier, que depois se torna chefe de milícias e espalha o terror em África. A história conta-nos, então, um dos massacres mais esquecidos ocorridos em Moçambique. E, no fim, dá a volta, terminando com o filho de Xavier, já nos anos 80, pouco depois da morte de Sá Carneiro.

Com uma linguagem muito curiosa que, aqui e ali, faz lembrar alguns romances e Aquilino, Barros vai dando conta de episódios da política nacional, como este:

“Tudo acontece longe de Vilarinho. Os planos dos alemães para a invasão de Portugal, depois de a França ter caído sob o domínio do Terceiro Reich. Os planos do Caudilho de ocupar o país vizinho e de ficar com os portos estratégicos à sua mercê. Os planos de Roosevelt para a ocupação dos Açores e de Cabo Verde. Os planos de todos para tomar conta do país, enquanto Salazar mexe os cordelinhos invisíveis da neutralidade e vai andando assim, se se molhar, entre os pingos da chuva.”

Aliás, o livro tem algumas citações de Salazar, como esta:

“Depois do próprio Salazar, em 1933, desafiar os Governadores Coloniais a participarem do esforço de «organizar a protecção das raças inferiores, cujo chamamento à nossa civilização cristã é uma das concepções mais arrojadas e das mais altas obras da colonização portuguesa»”.

Quase no final do romance, em eleições dos anos 80, em Vilarinho houve três votos no Partido Comunista.

“Até que o padre Américo confessou que um dos votos era da sua responsabilidade. Que estava na cabina de prumos metálicos e tabopan perfurado, a debruçar-se sobre o boletim, quando perdeu o sentido e parecia que o demónio lhe tomava a mão. E então pôs uma cruz no quadradinho da foice e do martelo, a significar assim o esconjuro e, por essa via, a eliminação do que o símbolo representava. E, ainda possuído por uma entidade exterior, ainda meio atordoado, dobrou a papeleta em quatro, caminhou em direcção da mesa, introduziu-a na urna e recolheu o bilhete de identidade. E só quando saiu da escola se compenetrou do erro e da gravidade dele. E que desde domingo nem conseguia dormir.”

Recomendo.