A Desordem dos Médicos

Conflito de interesses: estou inscrito na Ordem dos Médicos desde 1977 e continuo a pagar as quotas regularmente.

Sempre trabalhei no SNS: Hospitais Civis de Lisboa, entre 1978 e 1985, e como médico de família no mesmo Centro de Saúde, desde 1985 até à reforma, em 2018. Durante alguns meses, fiz estágio de Saúde Pública em Armamar e fiz Serviço Médico à Periferia em Mourão; fiz ainda o Serviço Militar Obrigatório, como médico, em Évora.

Durante toda a minha carreira profissional, nunca fui apoiado pela Ordem dos Médicos. Nunca frequentei cursos de actualização organizados pela Ordem, nunca senti necessidade de pedir apoio da Ordem. No entanto, para exercer, fui obrigado a inscrever-me como associado.

Quando deixei a especialidade de Psiquiatria para me dedicar à carreira de médico de família, foi o Estado que me forneceu a Formação em Exercício, um curso que frequentei, ao mesmo tempo que continuava a trabalhar no Centro de Saúde. No final dessa Formação, fiz um exame público e fui considerado especialista em Medicina Geral e Familiar. No entanto, para obter esse grau pela Ordem dos Médicos, teria de pagar uma determinada quantia. Achei que era injusto pagar por algo que a Ordem nunca ofereceu: formação. Por isso, para a Ordem dos Médicos continuei a ser, até ao fim, um simples médico de clínica geral.

Durante os 33 anos que trabalhei como Médico de Família no mesmo Centro de Saúde, frequentei diversos cursos de actualização de conhecimentos, muitos organizados pelo SNS, alguns pela indústria farmacêutica e alguns ainda, organizados por Fundações, nomeadamente, o Instituto de Cardiologia de Almada.

Nenhum organizado pela Ordem dos Médicos.

Ao longo de toda a minha carreira de 40 anos, a Ordem apenas serviu como instituição a quem paguei as quotas, sempre a tempo e horas, e que nunca se dignou sequer saber quem eu sou.

Era assim como ser sócio do Benfica e nunca ir assistir aos jogos…

Claro que nós sabíamos que a Ordem existia e lá estava, caso precisássemos dela, sobretudo em questões legais.

Felizmente, também, nunca precisei da Ordem por essas razões.

Mais eis que, desde que o Dr. Miguel Guimarães se tornou Bastonário, a Ordem se transformou numa espécie de partido político.

Miguel Guimarães aparece mais vezes nos telejornais que o líder da Oposição – e, se calhar, não é por acaso.

O homem ataca tanto o governo que até a minha irmã pensava que ele era do PCP!…

Mas não, o Dr. Guimarães é, sobretudo, um criador de problemas, já que não está interessado em fazer parte das soluções.

De todas as suas intervenções televisivas recordo aquela em que, a propósito de uma oferta de emprego para médicos, na Galiza, ele veio dizer, compungido, que, em Espanha, a profissão de médico era apreciada e venerada e, por isso, os salários eram como deviam ser. Dias depois, quando se soube que, afinal os tais salários principescos correspondiam quase a trabalho escravo, não vi o Dr. Guimarães vir dizer que, afinal, em Espanha, a profissão médica era menosprezada.

Nunca ouvi da boca daquele oftalmologista, uma palavra de elogio ao SNS.

Oftalmologista, sim…

Mas não há dúvida que vê tudo deturpado…

“O Olhar do Outro”, de Maria Filomena Mónica (2020)

Sempre achei curiosa a leitura de comentários de visitantes estrangeiros ao nosso país, depois do terramoto de 1755. Li-os, esporadicamente, em artigos de jornal.

Maria Filomena Mónica fez-nos o favor de ler dezenas de publicações em que diversos autores estrangeiros comentam visitas ao nosso país, desde o século 18 ao século 20.

A lista de autores é extensa, começando com Giuseppe Baretti, logo a seguir ao terramoto, e passando por muitos outros, uns mais conhecidos que outros; destaco, apenas, William Beckford, Lord Byron, Joseph Forrester, Hans Christian Andersen, Mark Twain, Miguel Unamuno, Saint-Exupéry, Simone de Beauvoir, Sartre, Gabriel Garcia Marquez e Enzensberger.

Os diversos turistas que por cá passaram até ao final do século 19 e princípio do século 20 foram unânimes em considerar os portugueses feios, porcos e maus, as ruas de Lisboa sujas e cheias de cães e mendigos, os nobres uns pedantes iletrados e o povo, uma cambada de analfabetos, sujos e maltrapilhos.

Claro que uns mais e outros menos, acharam que o país era bonito, o povo é que nem por isso.

As coisas melhoraram um pouco, à medida que o século 20 foi avançando e, depois da revolução de abril, as visitas foram sobretudo políticas. Destas, destaco os escritos de Gabriel Garcia Marquez, que, sobre a euforia post-25 de abril, escreveu:

“Toda a gente fala e ninguém dorme. A maioria das pessoas trabalha sem horários e sem pausas, apesar de os portugueses terem os salários mais baixo da Europa. Marcam-se reuniões para altas horas da noite, os escritórios ficam de luzes acesas até de madrugada… Se alguma coisa vai dar cabo desta revolução é a conta da luz”.

Nem todos os visitantes do século 19 disseram mal dos trabalhadores portugueses. Forrester, que esteve por cá em 1831, escreveu:

“Têm uma aparência desleixada, mas isso deve-se a serem pobres, andarem mal calçados e estarem mal alimentados. Mas são alegres, felizes, espertos, generosos, hospitaleiros, honestos, trabalhadores, sóbrios, sofredores, perseverantes e destituídos de ambições.”

Tantos adjectivos, deixam-nos confusos!

Oswald Crawfurd visitou Portugal em 1866, mas esta sua frase podia ter sido escrita actualmente:

“Se for suficientemente rico, um nobre português vive em Lisboa ou no Porto e se tiver uma casa no campo, apenas a visita um ou dois meses no outono; e, mesmo quando é o caso, muitas vezes prefere a miséria de um casebre na praia, entre uma multidão, à vida no interior do país.”

A primeira vez que Simone de Beauvoir veio a Portugal foi em 1945, em plena ditadura salazarista.

Eis o que escreveu:

“Desde que uma miúda seja crescida, como aquela que vi a remexer nos caixotes de lixo do Porto – isto é, que tenha aí uns 14 ou 12 anos – procurará ganhar dinheiro seja de que maneira for. Das 194 prostitutas que haviam sido tratadas num centro de saúde, 43% eram menores; o governo dá uma carteira profissional às mulheres desde que tenham 14 anos.”

E mais à frente:

“O povo português sempre foi pobre. Mas desde 1939 que o custo de vida aumentou 140% e, nalguns produtos, até mais, uma vez que um fato completo que, antes da guerra, custava 350 escudos, agora custa entre 1200 a 1500… Uma lei proíbe que as pessoas andem descalças no interior da cidade de Lisboa, bem como nos arredores, mas esta gente tira os chinelos porque não os quer gastar… pois não tinha possibilidade de comprar outros (sapatos)”.

O último visitante, Enzensberger, conclui:

“Se as estatísticas fossem verdadeiras, a maior parte dos portugueses estavam mortos.”

Livro muito curioso e que fazia muita falta.

O estranho caso dos dois homens chamados Gil

Fenómenos muito estranhos se passam neste país e, muitas vezes, não nos damos conta deles.

O Público de hoje relata um desses fenómenos estranhos.

A estranheza começa logo pelo local onde o fenómeno ocorreu: as freguesias de Colmeias e Memória, no distrito de Leiria.

Um dos membros da Junta que une essas duas freguesias, demitiu-se em dezembro do ano passado e era preciso eleger um seu substituto. Com a entrada em cena do Covid, essa eleição acabou por só se realizar em maio. Foi então eleito para o lugar do demissionário, um outro elemento do PS, de nome Gil Costa, mecânico de profissão.

Um mês depois, já com o desconfinamento em vigor, a Junta de Freguesia de Colmeias e Memórias reúne-se novamente e é então que a garbosa Oposição repara que o Gil Costa recém-eleito não fazia parte da lista do PS; quem fazia parte da lista era a sua esposa.

De facto, na lista do PS constava um Gil Costa, mecânico, mas era outro.

Em resumo: nas freguesias de Colmeias e Memória, existem dois homens chamados Gil Costa e ambos são mecânicos de automóveis e ambos são do PS, só que um fazia parte da lista e outro, não, embora a sua mulher fizesse.

Quais são as hipóteses de isto acontecer em qualquer outro país?…

Atestados

A propósito de um twitter que vi por aí, de uma médica, sobre os atestados para carta de condução, lembrei-me que fiz uma lista dos atestados que me pediram ao longo dos anos.

Como médico de família, durante 33 anos, numa zona com vários bairros sociais, alguns desses atestados eram “especiais”.

Aqui fica a lista (não exaustiva), sem qualquer comentário:

– atestado de doença

– atestado para tirar e/ou renovar carta de condução

– atestado de uso e porte de arma

– atestado de robustez física para exercer determinada profissão ou para frequentar um curso

– atestado específico para certas faculdades (ausência de problemas de visão, audição, etc)

– atestado em como pode frequentar a creche, infantário e/ou ATL

– atestado para praticar natação ou qualquer outro desporto

– atestado para uso de arma de caça

– atestado para embarcação de recreio e patrão de mar

– atestado em como já não pode assinar o nome para que outra pessoa possa levantar a reforma

– atestado para os professores deixarem a filha ir à casa de banho mais vezes

– atestado em como precisa de fazer acupunctura por sofrer de deficiência congénita

– atestado para não fazer ginástica quando está menstruada

– atestado em como a mãe está doente para que o filho, que está preso, seja transferido para uma prisão mais perto de casa

– atestado de doença crónica para que o filho receba bolsa de estudo

– atestado de necessidade de acompanhamento psicológico para que a ADSE comparticipe a psicoterapia

– atestado para que a cantina da empresa forneça dieta

– atestado para mudar do 4º andar para o 1º porque sofre de asma

– atestado de doença crónica para que a assistente social arranje creche para a filha

– atestado para o filho não ficar muito atrás na sala de aula porque vê mal

– atestado para não fazer natação e/ou ginásio durante determinado mês, para não perder a inscrição

– atestado para reaver o dinheiro de tratamento estético post-parto

– atestado para reaver o dinheiro já pago para uma viagem que não se realizou por motivo de doença

– atestado para a filha deficiente poder levar um objecto metálico numa viagem de avião

– atestado de deficiente mobilidade para que lhe instalem um poliban

– atestado de doença crónica para a filha ter direito a bolsa de estudo

– atestado de doença crónica para ter prioridade no atendimento em serviços públicos

– atestado para poder dançar

– atestado para ser reembolsada do preço do bilhete de um concerto a que não assistiu porque estava com dores na sacro-ilíaca

– atestado para não usar luvas com pó de talco

– atestado para não dar aulas no próximo ano lectivo

– atestado para a criança não ir para o infantário porque a mãe fracturou um pé e não pode conduzir

– atestado para poder beber água nas aulas de educação física

O estranho vírus que ataca o queixo das pessoas

A população está em pânico.

As autoridades de saúde falam num vírus que se transmite pelas gotículas da saliva, mas as pessoas desconfiam. Toda a vida cuspiram para o chão e nunca houve problemas e nunca ninguém viu nenhuma dessas gotículas que os especialistas falam.

Pelo contrário, toda a gente fala de um vírus novo que ataca preferencialmente o queixo das pessoas: agarra-se com os seu tentáculos e parece que penetra através da pele, instalando-se, depois nos pulmões, provocando pneumonias muito graves.

Felizmente, as pessoas têm contas no Facebook e perceberam que podiam defender-se desse novo vírus usando máscaras que protegessem o queixo.

Tenho visto muita gente com máscaras nos queixos. Que civismo!

No entanto, não há unanimidade neste ponto.

Há algumas faixas da população que pensam que o vírus não ataca o queixo, mas sim o pescoço, pelo que a máscara deve ser colocada ao nível da chamada maçã de Adão.

Uma minoria da malta, acredita – sabe-se lá porquê! – que o cabrão do vírus entra pelo couro cabeludo e, nesse caso, a máscara deve ser colocada na cabeça, como se fosse um daqueles chapéus ridículos dos palhaços ricos.

E depois, há sempre os originais que, não acreditando em nenhuma destas teorias, usam a máscara pendurada de uma das orelhas, ou enfiada num braço, como se fosse uma pulseira.

Ora, eu penso que as autoridades de saúde deviam ter um papel pedagógico nisto tudo e deviam explicar por que razão o vírus se chama corona.

Sabemos que corona quer dizer coroa e pensamos: será um vírus monárquico para corroer a República?

Mas depois, sabemos que ele está a fazer estragos em Espanha e na Suécia, que são monarquias, e pensamos: será um vírus republicano, a lixar as monarquias e que se expandiu para algumas repúblicas?

Ou então, o nome corona vem da marca de cerveja mexicana e o vírus é uma invenção dos vitivinicultores para lixar a indústria cervejeira.

Ou então, já bebi whisky a mais e não escrevo mais nada hoje…

O Covid 19 transmitido pelo Senhor

No domingo de Páscoa, algumas almas caridosas decidiram levar o Senhor a beijar aos velhinhos dos lares.

Num lar em Vila Verde, o senhor prior trouxe o crucifixo que, nesta época do ano, toma o nome específico de compasso e uma das empregadas do lar, devidamente mascarada, levou-o a cada um dos velhinhos, para que o beijassem. Entre cada beijoca, a empregada limpava a saliva do velhinho do corpo do Senhor, com um paninho, sempre o mesmo.

Enquanto a empregada ia oferecendo o crucifixo a cada velhinho, o padre ia cantando Aleluia, Aleluia, mas não era a do Leonard Cohen, e o padre estava desafinado. Via-se que alguns dos idosos beijavam o Senhor com alguma displicência, fruto, talvez, de perturbações neurológicas próprias da idade avançada.

Alguém filmou esta cena pungente e colocou-a no Facebook, para que todos pudessem ver como se celebra a Páscoa em Vila Verde, em tempos de pandemia.

No vídeo, vê-se a empregada a dar o crucifixo a beijar a um velhinho muito trôpego que, coitadinho, lambuza o corpo do Senhor todo; a empregada limpa-o com o paninho e oferece o crucifixo ao velhinho seguinte, que recusa beijar o Senhor. Algum ateu, certamente. Como podem aceitar ateus destes em lares tão pios?

Há outro vídeo que circula por aí, feito numa rua de Barcelos e que mostra uma senhora, também muito pia, segurando um crucifixo XL. Os crentes, guardando a devida distância entre si, por causa do coronavírus, atravessam a estrada, à vez, para beijar o Senhor.

Finalmente, num outro lar, em Melgaço, a própria directora do lar decidiu levar o Senhor a beijar aos velhinhos residentes. Entre cada ósculo, borrifava o corpo do Senhor com um desinfectante em spray. Esta piedosa senhora foi mais longe, visitando também alguns velhinhos que ainda vivem nas respectivas residências. Anunciava a sua chegada com o tilintar de um sininho, oferecia uma máscara ao idoso e ele beijava o Senhor através da máscara.

A razão deste pormenor, escapou-me. Por que raio é que os velhotes internados não tiveram direito a uma máscara? A culpa é do Governo, que não fornece máscaras em quantidade suficiente.

A directora deste lar de Melgaço explicou, no Facebook, que os velhinhos estavam há muito tempo sem visitas, muito tristes e desanimados e, assim, levando-lhes o Senhor a beijar, eles ficaram mais felizes.

E mais infectados, acrescento eu – mas isto sou eu, um ateu empedernido, que nunca beijou o Senhor…

Perante estes casos, percebe-se melhor por que razão há muitos mais casos de coronavírus do Norte do que no resto do país.

Por isso, penso que as autoridades de Saúde deveriam divulgar o seguinte aviso:

A DGS ACONSELHA:

FAÇA O TESTE DO COVID 19 ANTES DE BEIJAR O SENHOR

Coronavírus, esse ingrato

Acabei de saber que ainda não há nenhum português infectado com o coronavírus. Foram já testados mais de 50 portugas e todos deram negativo.

Correcção: já existem dois heróicos portugueses infectados, mas estão no Japão e não contam para esta contabilidade. Eles sim, são verdadeiros cidadãos do Mundo – enquanto nós, cá continuamos nesta triste paróquia, sem nenhum caso confirmado.

Até a Nigéria e o Barhein já têm casos de coronavírus – e nós, nada!

Apesar de todos os esforços para acompanharmos o resto da Europa – e estes últimos anos, até nos temos aproximado um pouco da média europeia – apesar de todos os esforços do Centeno, é vê-la muito à frente.

Itália, Alemanha, Espanha, França, Croácia, todos com casos confirmados e Portugal, sempre o mesmo atrasado!…

O que se passa, afinal?

O coronavírus não quer nada connosco? Chega ali a Vilar Formoso e volta para trás? Nunca ouviu falar de Portugal? É daqueles que pensa que somos uma província espanhola?

Ou então, os testes do Ricardo Jorge dão todos negativos porque foram comprados na candonga, por causa das cativações do Centeno.

Seja como for, eu se fosse ao Sexta às Nove ou àquela senhora da TVI, cujo nome me escapa, fazia já uma investigação porque isto traz água no bico e pode muito bem ser a ponta de um iceberg que meta fraude, evasão fiscal e compadrios vários.

O problema é que temos muita gente a contar com o coronavírus para acabar com o Serviço Nacional de Saúde, de uma vez por todas.

Os que defendem os cuidados de saúde privados, por razões óbvias; estão desejando que os tais milhares de infectados caiam nos hospitais públicos para que o caos se instale.

Os que dizem defender o SNS estão em pulgas para que isso aconteça para depois dizerem “nós bem avisámos”. Os das ambulâncias, porque são poucas e o material é obsoleto, os dos enfermeiros porque são poucos e não progridem nas carreias, os dos médicos, porque estão todos à beira da reforma e os serviços de urgência não estão preparados.

E perante tudo isto, o coronavírus faz-nos um manguito e vai infectar para outras paragens.

Ingrato!

Indicadores do SNS – Que diz a isto Sr. Bastonário?

Exerci Medicina durante 40 anos, sempre no SNS, 33 dos quais como Médico de Família e já sabia que o nosso SNS era excelente, universal, tratando todos da mesma maneira e com grande cuidado na prevenção.

A OCDE faz estudos. A OCDE é uma instituição insuspeita; não consta que seja esquerdista…

Segundo a OCDE, nos EUA, morrem 175 pessoas por cada 100 mil por causas que podiam ser evitáveis; a média dos países da OCDE é de 133; em Portugal, o número desce para 110.

No que respeita à taxa de internamento por diabetes, na Alemanha, 209 doentes em cada 100 mil pessoas, são internadas por esses motivo, em França, 151, na Bélgica são 139, na Dinamarca, 92, na Noruega, 77 – em Portugal, apenas 52 (a média na OCDE é de 129!).

Quanto a mortes por enfarte, a média da OCDE é de 115 por 100 mil; na Alemanha, esse número desce para 102, na Noruega, para 66, mas em Portugal é apenas de 51.

Mortes por cancro: média da OCDE – 201 por 100 mil. Dinamarca, por exemplo, 230; Portugal – 196.

Finalmente, sobrevivência de cancro da mama após 5 anos: na OCDE, a média é de 97.4 anos. Portugal é o quarto país com melhor taxa – 98.7 %.

Que merda de SNS nós temos, na verdade!…

“História Libidinosa de Portugal”, de Joaquim Vieira (2019)

Nada destas coisas nos ensinaram no Liceu!

São centenas de bastardos a inundar a História de Portugal e que Joaquim Vieira decidiu investigar e reunir neste volume que escorre facadas no matrimónio.

Praticamente todos os reis tiveram amantes (ou barregãs, termo espantoso) e, consequentemente, filhos ilegítimos, que só não foram mais porque a mortalidade infantil era muito alta.

E entre essas barregãs, muitas eram freiras que, embora casadas com Cristo, recebiam no seu regaço os membros viris da realeza…

Um exemplo (pág. 62):

“Sendo as suas (de D. Dinis) visitas às religiosas feitas durante a noite, D. Isabel, ao saber por antecipação de uma dessas incursões, terá aguardado o marido a meio do percurso de ida, acompanhada por damas da corte com archotes acesos, dizendo ao rei quando surgiu: «Ide vê-las. Nós alumiamos o vosso caminho». E assim teriam nascido os nomes de Lumiar (a meio caminho do trajecto) e de Odivelas» (onde ficava o Mosteiro de Odivelas, onde D. Dinis ia molhar o bico…)

O livro está organizado por ordem cronológica, começando com a fundação de Portugal e das aventuras extraconjugais de D. Afonso Henriques e vai por ali fora, seguindo as várias dinastias.

Para além da listagem de amantes e de bastardos, Vieira conta-nos também outras histórias curiosas, como esta, na página 245, sobre a fealdade de D. João VI e da sua futura esposa Carlota Joaquina.

Ambos seriam tão feios que o marquês de Bombelles afirmou “ser preciso «fé, esperança e caridade para consumar este ridículo casamento: a fé para acreditar que a infanta é uma mulher; a esperança para crer que dela nascerão filhos; e a caridade para resolver fazer-lhos»”

Terminada a monarquia, também a República teve os seus episódios libidinosos (curiosa a história em volta de Balsemão e do seu ilegítimo) e Joaquim Vieira relata alguns deles, terminando relatando a tendência que José Sócrates mostrou para ajudar mulheres em aflições de dinheiro, sugerindo que, por vezes, também ele se socorria de senhoras da mais velha profissão do mundo.

O livro termina com esta frase curiosa:

“Ditosa pátria que tais filhos tem, empenhados, dia após dia, em dar continuidade à história libidinosa da nação”.

Aconselho a leitura (edição Oficina do Livro)

O milagre das Glock

Conta a lenda que o dono de uma empresa avícola, de nome Manuel Gonçalves das Neves, aceitou exportar para a Guiné-Bissau, umas quantas pistolas Glock e respectivas munições, gamadas à PSP por João Paulino e António Laranjinha, especialistas na matéria.

Preparando-se para enviar para a Guiné um carregamento de ovos produzidos pelas galinhas da sua empresa, foi abordado pela Judiciária, que o terá interrogado:

“Manuel, que levais aí, senhor?”

“São ovos, senhor polícia, são ovos!…” – exclamou Manuel.

Foram ver e eram mesmo ovos!

Só que, entre os ovos, estavam também carregadores e munições para as Glock fanadas.

E o empresário foi preso, o que foi uma injustiça, já que ele pretendia, apenas, ajudar os guineenses a defenderem-se.