Cavaco precisa de uma segunda opinião

A culpa parece ser da confusão no SNS.

É óbvio que a medicação não está a fazer efeito.

Todos nós vimos as sincinesias que o senhor apresenta sempre que está em público. Para quem não se lembra, os movimentos sincinésicos são movimentos involuntários e desnecessários, que, por vezes, os mais idosos efectuam. Frequentemente, esses movimentos são efeitos secundários da medicação que se toma para outras patologias.

Parece-me que Cavaco Silva está completamente tomado por esses movimentos e deve ser isso que complica a escrita dos seus textos para o Público.

Hoje, por exemplo, fez publicar um texto em que diz que todos os cronistas e comentadores foram enganados pelas contas certas do PS. Todos, mas todos, sem excepção – menos ele, claro, o iluminado Sr. Silva, o tal que é tão honesto que ainda há de nascer alguém mais honesto do que ele – ele, que nada teve a ver com o sr. Loureiro, muito menos com o seu chefe de bancada, Duarte Lima.

Claro que estou a ser injusto.

Sou a favor do envelhecimento activo.

Com 84 anos, Cavaco merece ter voz activa num partido de futuro como o PSD!

Os jovens devem rever-se nele, no seu exemplo, no homem que aproveitou os dinheiros da União Europeia para asfaltar o país, que reduziu os barcos de pesca, que cortou as entradas dos futuros médicos nas faculdades, que amarfanhou a agricultura.

No entanto, talvez fosse melhor alterar-lhe a terapêutica…

Que dizem?

Teorias da Conspiração

Está-se mesmo a ver que Marcelo Rebelo de Sousa e a Lucília Gago, a Procuradora-Geral da República (para quem, daqui a uns meses, pergunte quem é essa?), combinaram, entre si, o modo de queimarem rapidamente o primeiro-ministro. Marcelo perguntou a Lucília se ela tinha alguma coisa que pudesse lixar o António Costa e ela respondeu que havia uma investigação sobre o lítio, o hidrogénio verde e ofícios correlativos que talvez pudesse envolver o Costa, mas que era uma coisa muito ténue. O Presidente da República disse logo para ela desenvolver o caso, que aquilo era o suficiente. Estava farto do Galamba e da impertinência do Costa! Vamos lixá-lo!

Ou então, não foi nada disso.

Foi o Ministério Público que, desde o tempo do Sócrates, quando acabou com as férias judiciais de três meses, que estava deserto para lixar os governos do PS. Assim que apareceu esta investigação, sugerida pela Dona Sandra Felgueiras, aproveitou e montou toda esta narrativa, de acordo com os apaniguados do André Ventura, porque toda a gente sabe que as polícias estão infiltradas pelo Chega.

Ou então, nada disto é verdade.

A verdade é que António Costa estava farto desta treta e não sabia como se havia de libertar. A mulher dele já lhe tinha dito que há que tempos que ele não lhe tocava e que não aturava mais reuniões de trabalho. Foi então que ele se lembrou de pedir ao Galamba para aceitar uns almoços e uns jantares pagos pelo data center de Sines, de modo a provocar o Ministério Público. Foi, aliás, o próprio Costa que meteu umas notas de 50 euros em quatro ou cinco envelopes e os escondeu no gabinete do Escária, de maneira a causar toda esta polémica. Ficou, assim, livre para ir namorar com a mulher.

Ou então, também não foi nada disto.

Se calhar, a verdade tem a ver com a força popular conseguida por Montenegro e Rui Rocha. Ambos, juntos, estão a entusiasmar multidões, de tal maneira, que o próprio Ministério Público achou que era altura de divulgar este processo escandaloso de corrupção, em que foram pagos jantares que ascenderam a 100 euros, de modo a fazer cair, finalmente, este governo corrupto até aos ossos e deixar que Montenegro e Rocha possam, enfim, liderar um governo, juntamente com Ventura.

Que lindo será o futuro de Portugal!

Os 60 anos de casados dos Cavaco e a importância de dormir sem cuecas

O Diário de Notícias é uma instituição nacional. Foi fundado em 1864, o que quer dizer que noticiou a queda da monarquia, o início da Grande Guerra, o golpe militar do 26 de maio de 1926 e o nascimento do Estado Novo, a segunda Grande Guerra e por aí fora.

O Diário de Notícias passou por muitas fases, assim como a sua revista dominical, a Notícias Magazine.

Folheio esta revista todos os domingos, com um fastio monumental, e depressa a atiro para a reciclagem, não conseguindo encontrar-lhe nenhum motivo de interesse.

Mas eis que, na edição de hoje, encontro dois artigos que me prendem a atenção.

Na capa, uma foto de dois jovens noivos: Maria e Aníbal Cavaco Silva. A revista assinala os 60 anos do seu matrimónio e fico a saber que “não sabemos qual de nós se apaixonou primeiro”. Sentados na sua casa, Cavaco e Maria, respondem a inúmeras perguntas, preenchendo 16 páginas da revista. Dezasseis páginas por extenso.

Cavaco diz, por exemplo que “a decisão de casar foi a decisão mais acertada” da vida dele e Maria adianta que “recorda um rapaz muito desportista, muito inteligente, muito empenhado”. E fico a pensar que tenho dificuldade em imaginar Cavaco desportista, embora não me custa a imaginá-lo empenhado…

Ultrapassadas essas 16 páginas, avanço na revista, ainda não refeito do choque das afirmações do emérito casal, e deparo com o artigo da página 52, com o sugestivo título “Dormir sem cuecas. Falemos das vantagens”.

Nunca tinha lido nada sobre este cadente tema. Ainda por cima, durmo sem cuecas desde que me lembro. O que vale é que existem especialistas que percebem destas coisas.

Por exemplo, a ginecologista Cláudia Vinagre esclarece que “tanto o excesso de calor como de frio prejudicam o sono, pelo que ter roupa de cama confortável e adequada à temperatura ambiente é essencial”.

Ainda bem que há pessoas que estudam estas coisas e chegam a conclusões tão brilhantes, caso contrário, uma pessoa até podia, inadvertidamente, dormir de sobretudo no verão ou em pelota no inverno.

A dermatologista Alexandra Osório é mais ousada e acrescenta que “dormir sem roupa e acompanhado permite que o toque de pele com pele estimule a produção de oxitocina, que é precursora de outras hormonas do bem-estar”. E chegámos à malandrice. Contrariando a opinião da sua colega Vinagre, a dermatologista atira com a roupa ao chão e preconiza que durmamos todos nus, para produzirmos oxitocina. Já cheira a hormonas.

Mas vai ficar pior porque o psicólogo e sexólogo Fernando Mesquita afirma que “ao não usar pijama ou roupa interior durante o sono, existe uma maior ventilação da zona genital que poderá ajudar a prevenir algumas infeções fúngicas como é o caso da candidíase”.

Portanto, todos nus é que é bom: não só produzimos hormonas, como ainda prevenimos infeções fúngicas.

Penso que a Notícias Magazine poderia ter aproveitado para fazer algumas perguntas ao casal Cavaco, baseadas neste artigo. Dezasseis páginas e nem uma pergunta sobre como se veste o casal Cavaco na cama.

Imagino Aníbal e Maria, nus, na cama, a fabricar oxitocina e a combater os fungos. Que inspirador!

O Carlitos no 25 de Novembro

– Carlitos! – gritou a mãe – São horas do lanche! Vem comer o teu pão com manteiga, açúcar e canela!

– Não me apetece lanchar!

– Já disse, Carlitos! Vem lanchar! Tens de comer, senão não cresces e ficas pequenino! Além disso, hoje é o dia em que as forças da esquerda foram derrotadas e podemos dizer que a nossa nova democracia está consolidada e que nunca mais cairemos numa sociedade de tipo cubana!

Ouvindo isto, Carlitos Moedas parou de brincar e entrou em casa, pronto para comer o seu pão com manteiga, açúcar e canela e beber o seu leitinho morno com Toddy.

– Mamã, isso que disseste da nossa democracia é verdade? – perguntou o Carlitos.

– Claro que é! Os comunistas foram derrotados em toda a linha!

– Que bom, mamã. Os comunistas são feios, não são? Quando eu for grande, não quero ser comunista!

E foi devido a este singular episódio que Carlos Moedas, hoje Presidente da Câmara de Lisboa, se lembrou de anunciar que o 25 de Novembro será comemorado em 2024!

  • Carlos Moedas nasceu em 1970

A crise na habitação segundo o Público

E, de repente, surgiu a crise na habitação.

Ninguém falou nisto, anos a fio, ninguém ligou nenhuma à falta de habitações e ao aumento das rendas e, de repente, assim que o governo criou um Ministério da Habitação e deitou cá para fora uma polémica lei da habitação, todos começaram a falar disto, a criticar a lei e a invectivar o governo. Ainda por cima, a ministra da Habitação é a mais nova ministra desde sempre, portanto, toca a deitá-la abaixo.

Hoje, o título do Público é elucidativo.

Diz assim:

“Jovens com casa própria caem para metade nas duas últimas décadas: só pouco mais de 25% consegue ter casa antes dos 25 anos e a compra passou a ser cada vez mais feita com recurso a crédito”

Mas o que é isto?

Só conseguimos comprar a nossa casa aos 34 anos – e éramos ambos médicos. E claro que a Caixa Geral de Depósitos emprestou 90%!

Segundo o título do Público, parece que era comum os jovens com menos de 25 anos adquirirem casa própria e sem recurso a empréstimo!

E ainda dizem que isto está cada vez pior, porra!

A Universidade Laranja é Canja!

Decorre em Castelo de Vide, mais uma edição da Universidade Laranja.

Já não vamos a tempo de nos inscrevermos e temo que, mesmo que conseguíssemos frequentá-la, o resultado seria um valente chumbo. Se o PSD tivesse uma linha política que se percebesse, ainda poderíamos tentar, mas assim é difícil. Sociais-democratas já sabemos que não são; serão então liberais, anarco-capitalistas, populistas, nacionalistas envergonhados?

Sim, nacionalistas. Então não ouvimos um seu destacado membro elogiar a política de habitação do Salazar? Ou aquilo não era um elogio a Salazar, mas sim um ataque ao Costa?

Adiante.

Depois de muito trabalho, conseguimos arranjar uma lista das cadeiras ministradas na Universidade Laranja. Aqui estão elas.

* Como se tornar candidato a presidente sem se pôr em bicos dos pés – pelo Dr. Marques Mendes

* Vejam como sou inteligente e alto – pelo Dr. Hugo Soares

* Como se tornar especialista em tudo, mas mesmo tudo, excepto submarinos – pelo Dr. Paulo Portas

* Estudo comparativo entre Antónios ou Como Salazar e Costa podiam formar uma coligação – pelo ilustre Doutor por Extenso Leitão Amaro

* Como escavar trincheiras – pelo Professor Rebelo de Sousa

* Aprender ucraniano em três quartos de hora – também pelo Professor Rebelo de Sousa

É pena já não irmos a tempo para nos inscrevermos…

Jornadas da Juventude Envelhecida

Se estivéssemos na Primeira República, o Papa vinha a Portugal mas era em gesso! Nesses tempos, tínhamos um regime verdadeiramente laico.

Agora, os pichas-moles do governo, cederam ao presidente beato e vamos levar com as Jornadas Mundiais da Juventude e com Portugal transformado numa enorme sacristia. Não vai faltar o cheio a estearina queimada e a bafio. Ainda me lembro bem de S. Marcelo a agitar os bracinhos e a gritar “Conseguimos! Conseguimos!”

Estive a ler, por curiosidade ateia, o programa das Jornadas e fiquei estupefacto com a falta de originalidade dos organizadores.

As festividades começam na chamada Colina do Encontro. Sabem onde fica? Pois, no Parque Eduardo VII.

Dar o nome de um monarca britânico ao parque já foi uma ideia abstrusa, mas renomeá-lo Colina do Encontro ainda é mais estranho. Conhecendo a fama de que goza o parque, no que respeita a encontros mais ou menos suspeitos, e aliando isso à tradição de abuso de menores no seio da santa madre igreja, temos de concordar que Colina do Encontro não foi uma boa ideia.

Depois de se encontrarem todos na tal colina, segue-se uma vigília no Campo da Graça, que não fica na Graça, mas sim no Parque Tejo. E por que se chama Campo da Graça? Porque é lá que se vão realizar os Encontros Rise Up. Diz o programa que Rise Up é um novo modelo de catequese, mas a mim soa-me a mais uma ordinarice. Rise up quer dizer levantar-se, aumentar, vir à superfície… malandrecos, estes católicos…

Segue-se a chamada Cidade da Alegria, o que não espanta. Depois dos encontros na colina e de se terem levantado, estão todos muito alegres. A Cidade da Alegria é um espaço que junta a Feira Vocacional e o Parque do Perdão. Está tudo explicado, depois de terem pecado, os jovens têm direito a ser perdoados, através da confissão. Os confessionários foram construídos por presidiários e, dentro deles, estarão padres dispostos a perdoarem todos os pecados cometidos na Colina e arredores.

Haverá ainda um Festival da Juventude, onde certamente serão consumidas toneladas de hóstias e, para terminar, haverá mais uma missa.

Em resumo, uma seca de Jornadas!

Expresso e a conjunção adversativo mas

Hoje é dia de debate sobre o estado da nação e o Expresso decidiu fazer um inquérito sobre “o que melhorou e o que está por fazer”.

Faz lembrar aquela anedota do homem que, depois de levantar halteres de 100 quilos, é apupado porque não consegue levantar 105.

Vejamos os títulos:

Educação: “abandono escolar continua a cair, qualificações a aumentar, mas há uma crise de professores”.

Saúde: “SNS tem mais profissionais, mas não chegam para dar médico de família a todos”.

Economia: “é das que mais crescem, mas nível de vida não descola da cuada da Europa”.

Salários: “chegaram ao fim de 2022 acima de 2019, mas entraram no ano a cair.

Emprego: “perto dos máximos, mas há menos pessoas a trabalhar com ensino superior.”

Pobreza: taxa desce em 2021, mas Portugal mantém-se longe da meta para 2030”.

Pensões: “aumentos reais garantidos, mas reformas continuam baixas”.

Inflação: “está a descer, mas continua elevada nos bens alimentares”.

Dívida pública: “cai mais rápido do que previsto, mas Portugal mantém-se no grupo dos mais endividados”.

Ambiente: “uso de transporte está a aumentar em Lisboa e no Porto, mas o carro continua a liderar.”

Bancos: “estão mais rentáveis, mas procura de crédito arrefece”.

Como se vê, não há notícia boa que não mereça um mas.

Apetece-me dizer que o Expresso era um jornal como deve ser, mas agora é uma merda!

Um presidente que acredita na indigestão

Marcelo desmaiou!

Estava na faculdade de Ciências e Tecnologia, a inaugurar um laboratório, quando alguém lhe ofereceu um moscatel. Quente.

O presidente não resiste a um copo – seja de moscatel, de ginjinha, de cerveja ou de qualquer outro líquido com uma percentagem de álcool aceitável.

Ignorando o facto – grave! – de já ter engolido o conteúdo de uma embalagem de Fortimel, Marcelo bebeu o Moscatel.

Estava quente!

Toda a gente sabe o mal que faz um cálice de moscatel quente.

Assim que o moscatel entrou no estômago presidencial, iniciou-se uma reação química com o Fortimel que ainda lá estava, a sobrenadar.

Consultando as precauções que constam da embalagem do Fortimel, podemos ler que só deve ser usado como suplemento, não sendo adequado como fonte alimentar única.

Ora, o presidente não almoçou e usou o Fortimel como fonte alimentar única. Ainda por cima, emborcou um cálice de moscatel. Quente!

Desceu-lhe a tensão!

Estava-se mesmo a ver.

Aliás, todos os médicos receitam moscatel quente aos hipertensos. É conhecida a sua ação hipotensora.

Felizmente, Marcelo recuperou bem. Depois de ter feito exames no Hospital, teve alta às 8 horas, mesmo na abertura dos telejornais!

Marcelo afirmou aos jornalistas que, muito provavelmente, o Moscatel interferiu com a digestão do Fortimel.

Um presidente que acredita nas indigestões, é mesmo o que todos nós merecemos!

João Miguel Iznogoud Tavares

Em 1962, os belgas Goscinny e Tabary criaram uma personagem de banda desenhada a que deram o nome de Iznogoud. Trata-se de um grão-vizir que se quer tornar califa e tudo engendra para o conseguir. É um ser desprezível, que recorre à mentira, à trapaça, às armadilhas mais torpes, no sentido de tirar o califa do Poder e ficar com o seu lugar.

João Miguel Tavares é um cronista que partilha com Iznogoud todas essas qualidades. Aproveita todo o rabo de notícia para construir um ataque ao governo. No fundo, Tavares, tal como Iznogoud, quer tirar o governo do Poder e colocar lá alguém do seu agrado.

Ao longo das últimas crónicas, Tavares tem acusado membros do governo, incluindo o Costa, de dizerem meias-verdades – isto é, não estão propriamente a mentir, mas também não dizem a verdade toda.

E afinal, Iznogoud faz o mesmo. Constantemente. É a sua técnica habitual.

O título da crónica de hoje, por exemplo, é este “Visitar Viktor Orbán e esquecer Pedrógão Grande”.

António Costa assistiu a parte de um jogo de futebol, sentado ao lado do primeiro-ministro húngaro. É verdade. E António Costa não foi a Pedrógão Grande no sexto aniversário dos grandes incêndios. Também é verdade.

Mas, acontece que Costa não foi visitar Orbán. Dizer isso é mentir. E Costa não esqueceu os incêndios de Pedrógão. Dizer isso também é mentir.

Portanto, que credibilidade merece um cronista que mente assim, tão descaradamente?

A mesma que nos merece um personagem de banda desenhada.

Desprezível.