A carta í  troika

” Cara troika:

Espero que esta a vá encontrar bem de saúde, que eu bem felizmente, com a ajuda de Deus e de Miguel Relvas (pena que ele se tenha ido embora, mas a vida é assim, injusta…)

Venho por este meio informar que, apesar do chumbo da cáfila de juízes do Tribunal Conschional, eu e o Vítor estamos determinados a cumprir o que prometemos.

Assim, para compensar os milhões que o Tribunal Conschional nos roubou, vamos começar por cortar os subsídios de desemprego e de doença.

De facto, se um tipo está desempregado, não precisa de tanto dinheiro, já que não gasta nada em passagens para ir e vir para o trabalho. Do mesmo modo, se um fulano está doente, deve estar em casa, quem sabe acamado, e também não precisa de dinheiro para se deslocar, muito menos para gastar em bicas e outras coisas que ainda vão piorar a doença.

Decidimos, também, igualar os salários da função pública aos privados: polícias, militares e juízes, por exemplo, vão passar a ganhar porra nenhuma. Se os privados se aguentam sem polícias, militares e juízes, o Estado também se há-de safar sem eles!

Mais uns mesitos desta nossa política e Portugal estará onde deve estar: ao nível do tempo em que Lord Byron por cá passou,  por volta de 1800 e picos.

Foi ele que disse: “Quem entrar nesta cidade (Lisboa) que, resplandecendo ao longe, parece celestial, vagueia pelas ruas decepcionado com tantas coisas desagradáveis aos olhos do forasteiro”

Finalmente, os turistas do Norte da Europa virão visitar-nos em massa, para ver como a Europa era antigamente.

Espero que estas medidas sejam do vosso agrado e, caso tenham outras ideias mais radicais, é só dizer – eu e o Vítor estamos ao vosso dispor.

O vosso servidor,

Pedro Passos Coelho”

– Nota: esta carta é forjada; Pedro Passos Coelho nunca citaria Lord Byron…

É um pássaro? É um avião? Não – é o bispo de Bragança!

Se fosse um anjo, poderia voar.

bispo_carroMas D. José Cordeiro, bispo de Bragança,  não é um anjo – é um anjinho.

Depois de engatar a marcha atrás, para tirar o carro da garagem do episcopado, não mais parou: galgou o gradeamento e estatelou-se em cima do Renault Clio do pobre do empregado da gasolineira em frente!

Não deixa de ser uma parábola: o Volkswagen Passat de 30 mil euros do bispo, esmaga o Renault Clio de 900 euros do paroquiano…

D. José Cordeiro é o mais jovem bispo português, com 45 anos e o Passat também deve ser o carro mais novo da Igreja portuguesa, pois foi comprado na passada 6ª feira.

Foi uma estreia de arromba!

O padre Fernando Calado, do Gabinete da Diocese de Bragança, confirmou que o bispo tem carta de condução e que o acidente deve ter sido provocado por algum problema mecânico, pois «falharam os travões e o senhor bispo não conseguiu parar o automóvel».

Mas o Diário de Notícias, sempre em cima do acontecimento, «contactou um mecânico conceituado na cidade de Bragança», que disse: «o acidente dificilmente se ficará a dever a falha mecânico (…). Inclino-me mais para azelhice.»

bispoOra aí está: o bispo de Bragança é um azelha!

A menos que…

Recordo que este foi o bispo que denunciou o roubo de hóstias consagradas, que, segundo ele, seriam depois usadas em bruxarias (vide “Eles andem aí!…” – http://www.coiso.net/?p=5270).

E não será isto obra de alguma bruxaria, feita com uma hóstia roubada?

Resta dizer que o sr. bispo não sofreu sofrimentos de maior – só na alma.

Quem estava inconsolável era o gasolineiro, que disse: «quando ouvi o estrondo do carro do senhor bispo, nem queria acreditar».

Mas tens que acreditar, meu filho!

É nisso que se baseia qualquer religião…

Até os larápios estão em crise

Uma pequena notícia do DN comprova que a crise atingiu todos os sectores da sociedade, incluindo os larápios.

Na tranquila cidade de Bragança, uma mulher foi detida por ter roubado um polvo congelado, num hipermercado.

A mulher devolveu o polvo mas o juiz não perdoou e, seguindo a máxima, segundo a qual, “o polvo congelado jamais será roubado”, determinou que ela ficasse com termo de identidade e residência, até ser presente a tribunal.

Na mesma cidade, três outros larápios roubaram, de um expositor, sete relógios, no valor total de 240 euros.

Vejam bem: um polvo congelado e sete reles relógios, que nem 35 euros cada um valiam!

A crise toca a todos!

De ou da?

Há por aí uma grande discussão quanto í  diferença entre a proposição “de” e “da”, a contracção entre a mesma proposição e o artigo definido “a”.

Isto porque um decreto-lei sobre a limitação de mandatos dos presidentes das câmara e das juntas, devia dizer “presidente da câmara” e diz “presidente de câmara”.

Os tipos que defendem que os presidentes se possam manter indefinidamente, ganhando teias de aranha nos cargos, dizem que a lei, ao grafar “presidente de câmara” se refere ao presidente de uma determinada câmara e, portanto, um tipo que tenha sido presidente de Sintra ao longo de três mandatos, pode candidatar-se a Lisboa.

Acrescentam que, se a lei tivesse grafado “presidente da câmara”, então sim, o dinossauro já não poderia candidatar-se novamente.

É óbvio que é exactamente ao contrário.

“Presidente de câmara” é um função em absoluto, “presidente da câmara” refere-se a uma câmara específica.

Mas, enfim, qual é a diferença entre um palerma de merda e um palerma da merda?

Eles andem aí!…

O Diário de Notícias publicou duas locais que me deixaram preocupado.

Muito.

Uma na sexta-feira, intitulada “Bispo denuncia roubo de hóstias para bruxaria”, e outra hoje, sob o título “Matadouro ao abandono é palco de rituais satânicos durante a noite”.

É que agora, que o Papa renunciou, estamos í  mercê do Diabo!

Na primeira notícia é o bispo de Bragança e Miranda, D. José Cordeiro que diz: «estou muito preocupado com a profanação dos sacrários e os roubos das hóstias consagradas que ultimamente se têm verificado na minha diocese. E ao que me dizem, destinam-se a bruxaria».

Também fiquei preocupado, depois de ler estas declarações. É que não é um padreco qualquer que diz isto, mas sim um bispo, que é um daqueles padres mais importantes, que tem direito í queles chapéus grandes, em bico, que dão uma solenidade completamente diferente í  personagem.

Mas o país está assim tão mal que os ladrões já não se contentam em roubar carteiras, fios de ouro ou até arte sacra, e decidem fanar também hóstias?

Bolas – aquilo não passa de pão! Sem fermento, ainda por cima!

Diz a notícia que as hóstias roubadas são, depois, «vendidas a “bruxos” para a realização de missas negras. Aproveitam-se da ignorância das pessoas para prometerem curas milagrosas… (as hóstias) podem valer 250 euros e, caso tenham sido consagradas por um bispo, chegam a atingir 5 mil euros».

Mais preocupado fiquei!

Então, se os “bruxos” se “aproveitam da ignorância das pessoas”, por que raio se dão ao trabalho de roubar as hóstias?

Bastava que fabricassem as hóstias lá em casa e, depois, diziam aos ignorantes que eram hóstias consagradas pelo senhor bispo.

Quem acredita em bruxos papa qualquer hóstia!

E a notícia acrescenta que «A Espanha pode ser o destino de muitas hóstias furtadas».

Ora aí está todo o fulgor das nossas exportações!

No final, a notícia assusta-nos, ao dizer: «na vizinha diocese de Vila Real não se registaram furtos recentes, mas um padre local revela que detectou haver paroquianos que não engolem a hóstia para depois a poder utilizar em rituais».

Grandes sacanas!

Sugiro que os padres coloquem acólitos í  porta da igreja a verificarem se os paroquianos engolem o corpo de Deus como deve ser, porra!

A segunda notícia chega-nos de Viseu e começa assim:

«O antigo matadouro de Viseu estará a ser utilizado para a prática de culto satânico. Na madrugada do passado dia 11, um grupo de pessoas, vestindo capas pretas e capuzes (sic) na cabeça, invadiu o espaço pintando nas paredes e3 no chão vários símbolos como pentagramas, símbolo evocatório do Diabo, e símbolos enoquianos entre outros desenhos.»

Medo!

Ora e quem descobriu esta cena diabólica?

Voltemos í  notícia:

«O alerta é dado por um jovem de 22 anos que, na altura, passou no local e assistiu aos estranhos acontecimentos. “Regressava a casa depois de estar com uns amigos e, pelas três da manhã, ao circular junto ao antigo matadouro, reparei nuns focos de luz em movimento no interior. Abrandei e, mais í  frente, vi um grupo de pessoas de capas pretas a entrar”, conta Artur Costa.

De início ainda pensou que no interior do matadouro estavam toxicodependentes ou marginais, mas quando viu várias figuras negro ficou na dúvida».

Compreende-se… o jovem Artur Costa, ao ver uns tipos vestidos de negro, ficou na dúvida se eram toxicodependentes, marginais ou servos do Diabo. Como se sabe, tanto uns como outros, gostam de se vestir de preto, sobretudo os seguidores de Lúcifer que consomem cocaína, por exemplo…

Ao jovem Artur não lhe ocorreu que poderia ser um grupo de foliões mascarados, já que era segunda-feira de Carnaval…

O mais curioso é que o jornalista (Alfredo Teixeira) não se importa nada em divulgar a fonte da notícia e pespega com o nome do jovem, só faltando dizer onde ele mora e qual é a matrícula do seu carro.

E acrescenta:

«Artur Costa parece ter sido o único a detectar estas práticas no interior do antigo matadouro, uma vez que a população que reside nas proximidades nunca se apercebeu de nada de estranho no edifício.»

Mas o jovem, que deve ser um perito na matéria, está preocupado e relembra que, em 2010, «uma situação foi denunciada na localidade de Ranhados, envolvendo a prática de bruxaria no cemitério local. Foram encontradas várias galinhas pretas mortas, encima (sic) de panos pretos, velas, caixas de fósforos e uma garrafa de whisky».

Aqui, mijei-me a rir!

Com que então, os servos de Satanás gostam da pinga!

E afinal, o que pretende Artur Costa?

«O que eu pretendo é chamar a atenção para este problema, não tanto pelo culto que foi realizado ali, mas para o facto de qualquer pessoa poder entrar ali. Pode acontecer mesmo alguma tragédia caso desperte a atenção de crianças».

Quer-me parecer que estas duas notícias estão relacionadas.

Não que eu pense que as hóstias roubadas em Bragança sejam, depois, usadas em rituais satânicos no matadouro de Viseu.

O que eu acho é que está tudo doido, o jornalista Alfredo Teixeira, o jovem Artur Costa e o até o bispo de Bragança e Miranda!

E quem fiscaliza o fiscal, afinal?

O governo avisa que quem não exigir factura está sujeito a uma multa de 75 a 2 mil euros.

Esta bizarria pressupõe que haja fiscais das finanças í  porta das lojas.

Do lado de fora, claro.

A gente sai lá de dentro, com o saquinho das calças de bombazine acabadinhas de comprar e o gajo ataca:

“Onde está a factura?”

E nós, í  brocha, í  procura da dita, de bolso em bolso.

E toma lá: multa de 75 a 2 mil euros, dependendo, se calhar, dos nomes que chamares ao fiscal.

O ex-secretário de Estado da Cultura, Viegas, ficou famoso (finalmente!) pelo texto que publicou, sobre esta formidável questão.

Escreveu ele, no seu blog A Origem das Espécies:

“Caro Paulo Núncio: queria apenas avisar que, se por acaso, algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira tentar «fiscalizar-me» í  saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando forem legalizados) com o simpático objectivo de ver se eu pedi factura das despesas realizadas, lhe responderei que, com pena minha pela evidente má criação, terei de lhe pedir para ir tomar no cu, ou, em alternativa, que peça a minha detenção por desobediência.”

Esta reacção (mandar o fiscal tomar no cu) deve valer 2 mil euros de multa, digo eu…

Mas… e se eu sair da loja sem factura e não aparecer nenhum fiscal para me multar?

Poderei eu multar o Estado?

Esta é que é a grande questão.

O governo tem que arranjar maneira de fiscalizar os fiscais, para ver se eles estão, efectivamente, a fiscalizar os cidadãos.

Em breve viveremos num verdadeiro paraíso fiscal, em que todos seremos fiscais uns dos outros!

Javalis e ciclistas

Título do DN de hoje:

«Investigadora alerta para o aumento “drástico” do risco de acidentes com javalis»

Fui ler a notícia, ligeiramente alarmado. Depois de um dia de tempestade, em que postes de alta tensão e árvores caíram sobre as estradas e depois de ter feito uma viagem tranquila de quase 300 quilómetros, fiquei preocupado por não ter abalroado um único javali.

É que, segundo Estrela Matilde, investigadora da Universidade de Évora, registaram-se 221 acidentes rodoviários com javalis nos últimos 12 anos, nas estradas do Alentejo e do Algarve. Caramba! São quase 18 acidentes por ano, mais do que um por mês!

E a investigadora diz que este número deve estar muito abaixo da realidade porque, diz ela, «falei com algumas pessoas e a maior parte delas disse-me que levou o javali para casa para compensar de alguma forma o estrago no automóvel».

Resta saber se alguns automobilista não atropelam os javalis de propósito para se aboletarem, depois, com uns excelentes bifes e umas suculentas costeletas í  borliu!

Logo acima desta interessante notícia, o DN publica outra, igualmente notável.

O título é: «Sete pessoas atropeladas por dia nas zonas urbanas».

Coitadas dessas sete pessoas!… Atropeladas todos os dias!…

Ontem, apesar do temporal que varreu o país, realizaram-se manifestações em várias cidades do país, organizadas pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta. Segundo o seu presidente, José Manuel Caetano, em 2012, foram atropelados 3557 peões e/ou ciclistas.

Mais, muito mais, do que os javalis…

E, muito provavelmente, este número também deve estar subvalorizado porque alguns automobilistas são muito capazes de levar o peão ou o ciclista para casa, para compensarem os estragos nos automóveis…

– “Querida! Olha o que eu trouxe para o jantar!”

A soneca do cabo da GNR de Valpaços

O Diário de Notícias é insubstituível.

O que seria de mim sem estas deliciosas notícias, enviadas pelos correspondentes.

Desta vez, a notícia vem de Valpaços e é da responsabilidade de José António Cardoso e Paula Carmo.

E foram necessários dois jornalistas porque a história é complexa.

Vamos a factos:

«Carlos Nogueira, 43 anos, militar da GNR, agora a prestar serviço em Mirandela, foi condenado a dois meses de prisão, pena substituída por 60 dias de multa í  taxa diária de sete euros por, segundo o tribunal, ter abandonado o seu comandante de patrulha quando exercia funções na cidade Valpaços».

Dois meses de prisão por abandonar o comandante em plena patrulha? Não será pouco?

Avancemos na redacção:

«O militar agora condenado confirmou em tribunal que foi indigitado para o patrulhamento da cidade transmontana entre  a uma e as nove da manhã, e que saiu juntamente com o comandante de patrulha, o qual, logo no início, lhe ordenou que conduzisse a viatura em que se deslocavam.»

Tudo normal: o comandante mandou que o outro fosse a conduzir. Por isso mesmo era o comandante! Avancemos:

«Cerca das quatro horas (…) o cabo terá indicado a central de camionagem como destino. Lá chegados, teria mandado encostar o jipe entre dois autocarros e de imediato “rebaixou as costas do banco, informando-me que queria dormir.»

Claro que esta é a versão do militar. Como sabemos, um comandante não dorme, descansa os olhos…

Perplexo, Carlos Nogueira prossegue a sua narrativa: “Ainda perguntei e a patrulha? Vai tu se quiseres, eu vou dormir, pois amanhã tenho que fazer uns biscates de construção civil, a GNR para mim é um part-time”.

Carlos Nogueira ficou sem palavras e, assim que o comandante começou a roncar, nos braços de Morfeu, foi-se embora e participou os factos.

Ah! grande comandante! Queres patrulhar Valpaços? Vai tu, que eu tenho que bater uma sorna porque amanhã vou fazer cimento! Isto de ser GNR é só para garantir a reforma! A minha vida não é isto!

Naturalmente, o pobre do Carlos Nogueira foi condenado a dois meses de prisão.

Quanto ao comandante, quem sabe, terá sido promovido?