Que falta fazem os blindados!

Notícia de ontem, no DN:

“Uma mulher, alta e musculada, foi detida pela GNR depois de roubar e agredir duas menores junto a um centro comercial, em Albufeira. Já no interior do posto do destacamento de Albufeira, a suspeita de 30 anos voltou a fazer uso dos atributos físicos para agredir ainda quatro militares”.

Já viram bem a ousadia da malta?!

Agora até as gajas (altas e musculadas) dão porrada nos militares. E logo aos quatro de cada vez!

O governo fez muito mal em desistir dos blindados, carago!

“Dexter” – 1ª temporada

dexter1Michael C. Hall é o responsável por metade do êxito de Dexter, uma série negra, desenvolvida para televisão por James Manos Jr., a partir da novela de Jeff Lindsay.

Dexter é um perito forense da polícia de Miami que, simultaneamente, é um serial killer. No entanto, graças à educação do seu pai adoptivo, também ele polícia, Dexter foi canalizando os seus instintos assassinos para os “maus”.

E assim, Dexter faz o que, no fundo, muitos de nós gostaríamos que fosse feito: justiça pelas suas próprias mãos, matando os maus, embora com requintes de psicopata.

Como é habitual nestas séries, a galeria de personagens secundárias é rica e variada, permitindo histórias laterais. Por outro lado, episódio a episódio, vamos conhecendo a infância de Dexter, ao mesmo tempo que surge um duelo com outro psicopata que, afinal, conhece o seu segredo.

E, repito, a personagem criada por Michael C. Hall é excelente, não tendo nada a ver com a que o mesmo actor personificava em “Six Feet Under”, outra grande série.

Vejamos se a segunda temporada mantém o mesmo nível.

CSI – New York, 2ª série

csiny2A diferença entre o CSI de Nova Iorque e os outros está, fundamentalmente, no conteúdo das histórias. Pelos vistos, na dita Big Apple, os crimes são mais bizarros: tipos que se entretêm a fazer surf no tejadilho do metro; um jantar anual com iguarias exóticas, no Waldorf Astoria, que inclui centopeias e escaravelhos; um alpinista que escala o Empire State, e que morre, mas não da queda; adolescentes despejam todas as caixas de comprimidos que encontram em casa, e fazem uma festa em que misturam os medicamentos, aleatoriamente, com álcool; loiras com boob jobs, fazem corridas de patins, em que se agridem até à morte, perante uma multidão frenética.

Estranhos hábitos e estranhos crimes numa grande cidade. A claridade do CSI-Miami contrata com o cinzentismo deste CSI-New York.

O par principal é formado por um sorumbático e formal Marc Taylor (Gary Sinise) e pela mais atrevidota, mas pouco, Stella Bonasera (Melina Kanakaredes).

Por enquanto, a fórmula vai resultando…

“Mr. Brooks”, de Bruce A. Evans

Kevin Costner é Mr. Brooks, um bem sucedido homem de negócios, bom chefe de família, filantropo e tudo. No entanto, Mr. Brooks é, também, um serial killer, um viciado em assassínios.

Esta dupla personalidade é resolvida, pelo realizador, com um segundo actor, neste caso, um assustador William Hurt, que é a “versão má” de Mr. Brooks.

Desta vez, porém, Mr. Brooks tem uma testemunha do seu duplo homicídio, um fotógrafo amador que pretende seguir o exemplo de Mr. Brooks e tornar-se num assassino.

Há ainda uma detective durona (Demi Moore) e a filha de Mr. Brooks que, pelos vistos, está, tambem a tornar-se numa assassina. Runs in the family…

Com este material, o filme podia ser bem melhor, embora os diálogos entre Brooks/Costner e Brooks/Hurt sejam deliciosamente perturbadores.

A dissolução de Santiago

Santiago Lopez tem 75 anos e é mexicano.

Preso na passada quinta-feira, confessou publicamente que dissolveu em ácidos corrosivos algumas centenas de elementos de gangues rivais.

Não está bem certo se foram 305 ou 289. Tem pena de não ter escrito o nome deles todos num caderninho. Mas foram cerca de 300.

Santiago não fazia este trabalho à borla. Era pago por Teodoro Simental, um dos barões da droga.

Santiago recebia cerca de 462 euros por semana para dissolver cadáveres em soda cáustica.

Santiago não os matava – só os dissolvia.

E já fazia este trabalho há 10 anos. Era assim uma espécie de “gancho” após a idade da reforma.

Esses cerca de 300 mexicanos estavam todos envolvidos no narcotráfico e, de um modo ou de outro, tinham-se metido no caminho de Simental, que por isso os matava.

E Santiago, dissolvia-os.

Por mim, está perdoado…

Até já as ávores matam homens!

Quando surgiu o Correio da Manhã, a malta dizia que se amarrotava o jornal e saía sangue, tal era a quantidade de notícias sobre crimes e derivados.

Depois, surgiu o jornal O Crime e outros semelhantes, como, mais recentemente, o 24 Horas.

Mas o Diário de Notícias é um clássico. Sempre.

Desde os tempos de El Rei D. Luis.

Pois é, o DN existe desde 1864!

Então, tomem lá com alguns títulos do DN de ontem.

«Gaia: Roubaram tabaco armados com caçadeiras e uma metralhadora»; «Assaltos a caixas multibanco aumentaram»; «Ovar: Detido gangue da pistola prateada»; «Valongo: Duo armado rouba mulher que seguia a pé na rua»; «Amarante: Ladrões de casa detidos»; «Tomar: Trabalhador ferido em queda»; «Marinha Grande: Carro roubado na praia»; «Caldas da Rainha: Árvore mata homem» (tudo na página 21).

«Coimbra: Detido homem que estará ligado ao tiroteio no Bairro do Ingote»; «Vila Flor: Pai e filho tentaram matar vizinho a tiro»; «Oliveira do Bairro: Detido terceiro suspeito de roubo a donos de restaurante»; «Lourinhã: Amarraram condutor e fugiram com o tabaco»; «Albergaria: Rapaz incendiava autocarros para se exibir aos amigos» (tudo na página 22).

«Covilhã: Homem de 77 anos mata companheira de 82»; «Setúbal: Agente da PSP apanhou ladrão a assaltar o seu carro»; «Vouzela: Bombas roubadas com faca» (página 23).

«Porto: Metade da cidade tem medo de sair à rua à noite»; «Coimbra: Carro ardeu e obrigou a evacuar prédio»; «Abrantes: Homem morreu em despiste de tractor»; «Lourosa: Marroquinos baleados» (página 25).

Este país está a saque!

Até já as ávores matam homens!

Pelo menos, nas Caldas da Rainha…

Columbo – 3ª série

Rever Columbo é fazer uma viagem no tempo.

Recuamos até 1971 e recordamos as modas de então, as calças à boca de sino, as mini-saias, os penteados, os interiores modernaços das casas mas, sobretudo, os espadas!

Que lindos que eram os carros americanos, no fim dos anos sessenta, princípio dos anos setenta. Desnecessariamente enormes! A mala dava para esconder dois ou três cadáveres de americanos grandes. O motor ficava a nadar dentro do compartimento da frente, onde quase cabia um Fiat 600.

Peter Falk inventou um boneco muito bom. Columbo tinha diversas características que o definiam: o charuto sempre na mão e quase sempre apagado, a gabardina amarrotada e encardida, as botas, com muito uso e pó a mais, o fato cor de salmão, acanhado e o carro, contrastando com todos os outros, um Peugeot 403 cabriolet, de 1959, com um motor ruidoso e o ar de quem já percorreu muitos quilómetros.

A série tinha dois grandes trunfos: Peter Falk, claro, e o facto de cada episódio começar sempre com a perpetração do crime e assistirmos, depois, à desmontagem dos àlibis quase perfeitos, graças à perspicácia insuspeitada de Columbo, às suas perguntas como-quem-não-quer-a-coisa e ao facto de os criminosos menosprezarem o detective, baseados na sua aparência desleixada.

Uma série de 5 estrelas, mesmo 30 anos depois.

Jornalismo de segunda

A onda de crimes violentos, em Portugal, é uma treta!

Tudo invenção da comunicação social!

A prova é esta notícia, publicada no DN de ontem e intitulada “Crianças dão de caras com ladrão a assaltar casa”.

A prosa, da autoria de Júlio Almeida, é digna de uma composição da instrução primária. Eu tive um professor primário, chamado André, que se metia nos copos. Por vezes, nas aulas depois do almoço, já chegava com um grãozinho na asa. Compreensivelmente, não lhe apetecia ter que aturar putos de 9 anos. Então, com a sua voz de trovão, informava a turma: “Hoje vamos fazer uma composição. O tema é: ‘o eléctrico parou’. Têm duas horas para a fazer!”. E sentava-se à secretária a dormir a sesta, enquanto nós puxávamos pelo bestunto, a tentar imaginar uma história que ilustrasse aquela frase: “o eléctrico parou”.

Foi o mestre André que me ensinou a escrever, estou convencido disso. E quer-me parecer que este Júlio Almeida, correspondente do DN em Aveiro, também deve ter tido um professor parecido com o meu. O Director do jornal deve ter espalhado a ordem: são precisas notícias sobre a onda de criminalidade, em Portugal. Tudo merece ser noticiado: a velhinha assaltada nos Correios, o velhote roubado na paragem de autocarro, o miúdo assaltado na escola, tudo faz parte desta onda de criminalidade que assola o país.

Vai daí, o Júlio Almeida foi à procura de qualquer coisa que pudesse ilustrar este facto. E eis que dá de caras com esta história, que começa assim:

“Um susto de morte” foi o que sentiu a família residente em Chão do Rio, Riomeão, no concelho de Santa Maria da Feira”.

Logo aqui, o texto parece uma daquelas composições que a malta fazia na instrução primária, quando assinava: Artur Fernando, Avenida Gomes Pereira, Benfica, Lisboa, Portugal, Europa, Planeta Terra, Universo!

Eu sei lá onde fica Chão do Rio! Eu sei lá onde fica Riomeão! Mesmo Santa Maria da Feira… mas, vá lá… o concelho já basta, para quê o nome do lugar?

Adiante.

“O pai, corticeiro numa fábrica de Santa Maria de Lamas, entrou pelo portão de ferro, eram cerca das 18.00, sem dar conta de qualquer anormalidade.”

Logo no segundo parágrafo da noticia, aparece o pai. Mas… o pai de quem? O pai do Céu? O pai do bandido? O pai das crianças? O pai do jornalista?

Enfim, o pai é corticeiro em Santa Maria de Lamas, embora viva em Santa Maria da Feira. Começamos a desconfiar das Santas Marias em toda esta história…

Continuemos com a notícia/composição: “Seriam as duas filhas menores a dar o primeiro alarme quando, depois de abrirem a porta da casa térrea, depararam com a presença de um estranho de saco numa mão e capacete de moto, na outra. Ao deparar com as crianças, de 13 e 7 anos, o suspeito, que estava desarmado, de luvas postas e cara à mostra, pediu-lhes ‘calma’ dizendo que ‘andava aos limões’ e imediatamente fugiu, saltando de uma altura de metro e meio”.

O texto é delicioso, sobretudo o pormenor do ladrão dizer que “andava aos limões”. Quase que temos pena dele e ficamos aflitos quando sabemos que o pobre homem saltou de uma altura de metro e meio. Será que se aleijou?

Voltemos à composição: “o dono da casa foi logo atrás do homem que, ao deparar-se com um precipício nas traseiras, correu pelo meio dos quintais vizinhos, saltando entre silvas e arame farpado que lhe causaram arranhões no corpo”.

Vejam como somos violentos para com os ladrões, obrigando-os a arranharem-se nas silvas e nos arames farpados, construindo precipícios nas traseiras das nossas casas, enfim, dificultando-lhes a sua actividade, de um modo sádico.

Mas não é tudo. A vida dos ladrões portugueses está cada vez mais difícil. Ora vejamos: “Os constantes gritos de socorro lançados, chamaram a atenção de vizinhos, alguns seus familiares que, em pouco tempo, cercaram o presumível larápio acabando por imobilizá-lo com algumas ‘pauladas’, com receio que estivesse armado.”

Não chegava o bandido ter ficado todo arranhado com as silvas e os arames farpados! Ainda teve que levar umas pauladas, coitado! Quem defende os bandidos, em Portugal? O Procurador Geral da República? O Cavaco Silva? O Nuno Rogeiro?

Mas a notícia/composição/romance prossegue: “Atendendo a que as meninas do casal estavam em ‘estado de choque’ com o que tinham presenciado no ‘assustador’ final da tarde, seria requisitado o apoio do INEM que mobilizou para o local uma psicóloga para as confortar”.

E o ladrão? Não teve direito a apoio psicológico? Francamente! O tipo é apanhado pelas miúdas, tem que mentir, dizendo que anda aos limões, é obrigado a saltar de uma altura de metro e meio, de fugir por entre silvas e arames farpados, acaba por levar umas pauladas e, no fim, é preso e não tem direito, sequer, ao apoio de uma psicóloga?! Como querem, depois, que a reinserção social seja possível?

Na minha opinião, a culpa é, também, do próprio ladrão, que não deve muito à inteligência. Ora vejam lá o que ele tentou roubar: “ouro no valor de dois mil euros, bijutaria diversa, dois telemóveis, um relógio de pulso oficial do Futebol Clube do Porto e uma quantia em dinheiro que a família não quis divulgar”.

Roubar um relógio do FCP? Grande estúpido! Só se fosse para o esmagar, destruir, partir, compactar, atomizar, esmigalhar, dissolver, evaporar, condensar, esfarrapar, e, depois, deitar fora!

Humilhado, o ladrão “foi presente a tribunal e ficou em liberdade a aguardar julgamento, mas sujeito a apresentações periódicas no posto da polícia”.

Felizmente, o DN publica uma foto da casa assaltada. Desafio todos os larápios das redondezas a assaltarem a casa! Não deixem que o vosso bom nome seja arrastado na lama por jornalistas de segunda!

Agora, a sério: esta notícia é bem o espelho do jornalismo que se pratica em Portugal. Como é que os jornalistas portugueses enfrentam, de um modo responsável, o aumento da criminalidade, em Portugal? Noticiando tudo, desde o assalto mais idiota, como este, ao assassinato mais violento. Esta notícia ocupa três quartos da página 22 do DN de ontem, a toda a largura da página (5 colunas). Fica tudo ao mesmo nível. E, noticiando tudo, todos ficamos com a ideia de que, em cada esquina, há um bandido à nossa espera.

Tenham vergonha, caramba!