No seu artigo semanal de ontem, no Público, o maquiavélico Pacheco Pereira desenvolve uma teoria da conspiração curiosa:
Segundo ele, o optimismo de Marcelo Rebelo de Sousa e o seu aparente apoio incondicional ao governo de António Costa tem, como único objectivo, a derrota de Passos Coelho nas eleições autárquicas, de modo a que o PSD encontre um novo líder que possibilite a coligação com o PS.
Seria assim o fim da chamada geringonça e o ressurgimento do bloco central.
Pacheco Pereira não sabe da missa a metade.
A verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa é um comunista puro e duro.
Nos tempos em que viveu em Angola, foi contactado por um militante do MPLA formado em Moscovo e aderiu, clandestinamente, ao PCP.
Paulatinamente (e clandestinamente), como bom e verdadeiro comunista, foi minando o sistema por dentro; durante anos criou factos políticos, como jornalista e como comentador, até que conseguiu ser eleito Presidente da República, com a unanimidade própria das pop stars.
Neste momento, Marcelo parece apoiar o governo de António Costa, mas é apenas estratégia.
O objectivo é conquistar o Poder total, substituir Jerónimo de Sousa na liderança do PCP e transformar Portugal numa República Soviética com capital em Celorico de Basto.
Só agora se tornou óbvio que toda a governação cavaquista, ao longo de mais de uma década e mais outra década de presidência, fizeram parte de uma estratégia a longo prazo para preparar o caminho ao Partido Comunista para, finalmente, fazer parte do governo da Nação.
Mesmo o discurso que Cavaco fez após as eleições de 4 de Outubro, que todos consideraram ser crispado e de crítica à possibilidade da formação de um governo PS/PCP/BE, não passou de poeira para os nossos olhos – foi só para disfarçar…
Disseram os comentadores que Cavaco, ao ser tão duro, apenas reforçou a vontade dos partidos da esquerda se unirem – ou seja, Cavaco fez de propósito.
Sabe-se agora que, enquanto esteve a doutorar-se, na Universidade de York, nos anos 70, Cavaco foi recrutado pelo KGB e era ele que, em segredo, escrevia os discursos de Álvaro Cunhal, depois do 25 de Abril.
Para manter o disfarce, Cavaco aderiu ao PSD e tornou-se seu líder, para assim poder melhor preparar o caminho à chegado do PCP ao Poder.
Já só faltam 3 dias para que Jerónimo Sousa e Francisco Louçã se encontrem para estudar eventuais alianças eleitorais.
Lenine e Trotsky dão voltas nos túmulos!
Mais tarde, quando a aliança der para o torto, quando o “governo patriótico e de esquerda” se revelar pouco patriótico e nada de esquerda – esperemos que Jerónimo não dê com uma picareta na cabeça do Louçã, como fizeram ao inventor da “doença infantil do comunismo.”
O PCP está a realizar o seu 18º Congresso, o primeiro desde a morte do Pai Cunhal.
Esta imagem do Congresso é esmagadora.
Ai, desculpem!… enganei-me… esta é uma imagem de um Congresso do PC Chinês… Agora é que é:
Esta é que é uma foto do Congresso do PCP, no Campo Pequeno, mas também podia ser de qualquer outro Congresso de qualquer outro PC de qualquer outro país, delirantemente a caminho do socialismo.
Segundo as teses do 18º Congresso do PCP, importantes, “nomeadamente pelo seu papel de resistência à «nova ordem» imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção de um sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e RDP da Coreia”
Cuba – 51º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (Portugal está no 29º lugar);
China – 81º lugar (num total de 177 países);
Vietname – 105º lugar no ranking;
Laos – 130º lugar;
Coreia do Norte – dados indisponíveis desde 1995; nesse ano, tinha um Índice de Desenvolvimento Humano semelhante ao do Laos.
Ainda segundo as teses do Congresso, o eixo do capitalismo internacional é formado pela União Europeia, os Estados Unidos e o Japão.
Os EUA estão no 11º lugar do IDH; o Japão, no 8º lugar e, na União Europeia, a classificação vai desde o 5º lugar da Irlanda ao 32º da República Checa.
Mas todos nós sabemos como é difícil a caminhada em direcção ao socialismo.
Cuba ainda só desde 1959 é que vai em direcção ao socialismo.
A China é um pouco mais antiga nessa caminhada: começou-a em 1949.
Vietname e Laos são novatos nestas coisas do socialismo e só começaram a caminhar nesse sentido depois da retirada dos americanos, em 1976.
Quanto à Coreia do Norte, nem para isso há dados disponíveis. Aliás, a sua própria existência real é posta em dúvida por muitos observadores internacionais.
Lemos as teses deste 18º Congresso do PCP e fazemos uma viagem no tempo. Recuamos, pelo menos, 30 anos.
Por exemplo:
“Apesar dos reveses sofridos, a violenta ofensica do imperialismo não dá sinais de recuo, antes se acentuam os seus traços fundamentais – exploração, opressão, agressão, militarismo e guerra. No caldo de cultura da crise e da pretensão do imperialismo de impor ao mundo a sua hegemonia, cresce o perigo de aventuras militares de dramáticas consequências”.
Por exemplo:
“Intensifica-se a exploração dos trabalhadores com a extensão do uso da força de
trabalho e a redução, por todos os meios possíveis, da sua remuneração, visando arrecadar a maior fatia possível de mais-valias, tirando partido do enfraquecimento temporário do movimento comunista e operário.”
Por exemplo:
“O socialismo, objectivo programático do PCP, tendo no horizonte o comunismo, não só traduz a superioridade dos valores de liberdade e justiça social que animam os comunistas de todo o mundo na sua luta contra o capital, como constitui, na actualidade, uma possibilidade cada vez mais necessária e urgente.”
O problema é que os autores das teses deste Congresso acreditam piamente no que escrevem, como quem acredita, sem vacilar, nas sagradas escrituras.
Ver Jerónimo de Sousa a discursar, tendo, como fundo, uma bancada vermelha e com a saliva seca acumulada nas comissuras labiais, ver centenas de militantes, de punho erguido, masturbando a atmosfera e gritando, cadenciadamente. “Assim se vê, a força do PêcÊ”, um tipo sente-se transportado para o passado e pergunta-se como é possível que este tipo de partido ainda tenha tanta força e influência, no panorama nacional.
E ali, na primeira fila, Carvalho da Silva, da CGTP e Mário Nogueira, da Fenprof, a mostrarem que, apesar de tudo e de todos, são eles que continuam a marcar a agenda sindical em Portugal, na Função Pública, nas fábricas, nas escolas.
Mas, enfim, como dizia o José Mário Branco, nos idos de 1982, na cantiga-poema “FMI”: “votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais e votas na direita moderada nas presidenciais”.
Não é filho?
Assim se explica que tenhamos o Cavaco como presidente da República, o Sócrates como primeiro-ministro e o Carvalho da Silva e o Mário Nogueira a mandar nas ruas.