Cavaco forever!

Finalmente, Cavaco Silva fez-nos o favor de traçar o perfil do seu sucessor (confirmar aqui).

Ficamos assim a saber que, quem quiser suceder a Cavaco como presidente dos portugueses:

a) Não deve ter e muito menos emitir opiniões pessoais sobre:

– Falcatruas, desfalques, roubos ou qualquer outro fenómeno relacionado com bancos como o BPN, BPP, BES ou qualquer outro, nacional ou estrangeiro, pequeno ou grande;

– Prisão de anteriores primeiros-ministros, secretários de Estado, subsecretários ou mesmo directores-gerais;

– Burlas com vistos gold, silver ou mesmo latão;

– Fugas ao fisco ou a Segurança Social perpetradas por actuais ou antigos primeiros-ministros;

– Luvas obtidas com negócios que envolvam submarinos, blindados, tanques de guerra ou mesmo tanques de lavar roupa;

b) Por outro lado, o futuro presidente deve ter larga experiência em política externa e, tal como Cavaco:

– Exercer intensa actividade diplomática na guerra da Ucrânia;

– Trabalhar para a reunificação das Coreias;

– Continuar o esforço para o combate ao terrorismo, nomeadamente no que respeita ao Estado Islâmico;

– Mediar os conflitos no Mali, Sara Ocidental, Eritreia e Iémen;

– Manter na ordem o eixo franco-germano.

Em resumo: quem melhor que o próprio Cavaco pode suceder-lhe?

Sendo assim, é urgente propor um referendo nacional que permita mudar a Constituição, permitindo que Cavaco tenha um terceiro mandato!

Um primeiro-ministro que bebe laranjada

Vi hoje, num telejornal: Passos Coelho, num almoço qualquer, a beber laranjada, daquela ranhosa, tipo marca branca do Minipreço.

Ora, o que se pode esperar de um primeiro-ministro que bebe laranjada ao almoço?

Mas também não é razão para o crucificarmos só porque ele não “tinha noção” que era preciso contribuir para a Segurança Social.

Afinal, os funcionários da TAP não têm direito a viagens í  borla?

E os funcionários dos transportes públicos por acaso pagam bilhete?

Sendo assim, Passos Coelho, que inventa os impostos, devia estar isento de os pagar.

Lógico.

Ao fim e ao cabo, Passos faz o que qualquer português tenta fazer: fugir aos impostos.

Quem nunca recusou factura para não pagar IVA, por exemplo, que atire a primeira pedra ao primeiro-ministro.

Aliás, em qualquer caso, atirem a pedra.

Muitas.

Afinal, Passos Coelho não é perfeito!

Foi um balde de água fria!

Afinal, o nosso primeiro-ministro não é perfeito!

Vive em Massamá, viaja em executiva, não favorece os amigos e não enriquece com a política, mas não é perfeito.

E porquê?

Porque não sabia que tinha que descontar para a Segurança Social e porque estacionou mal o carro algumas vezes.

Parece que também se esqueceu de qualquer coisa relacionada com o IRS, além de ter pedido exclusividade como deputado quando, afinal, trabalhava para a Tecnoforma.

Em resumo: o homem tem defeitos!

Mas como ele muito bem disse, não se aproveitou do cargo para favorecer amigalhaços, como fez o Outro.

Claro que o Outro esperneou e lá dos confins da terra da Florbela Espanca, enviou uma cartinha, onde diz que “o primeiro-ministro está próximo da miséria moral”.

í“ Sócrates, que falta de imaginação!

Então com os cortes, a crise, o défice e a dívida, querias que o Coelho tivesse uma moral rica?

Pois se o homem garantiu que não enriqueceu!

Títulos

22/2

* “Primeira governadora bissexual quer acabar com corrupção”

E é preciso ser bissexual para isso?

* “Imprensa alemã diz que Maria Luís pediu dureza a Schauble”

Dureza, ao ministro das Finanças alemão?…
Nem com Viagra!…

23/2

* “Rabejador de ouro é dos forcados de Vila Franca”

Rabejador de ouro?
Não me lixem!…

* Nani chorou depois de marcar um golo.

Está explicado porque permite que lhe continuem a chamar Nani…

* “Ex-espião pediu levantamento de segredo de Estado”

Claro que este gajo só podia ser português (e foi para espião porque não sabia fazer mais nada…)

26/2

* “Comerciantes apoiam venda de remédios em bares e quiosques”

– Olhe, por favor, um whisky duplo e um Ben-u-Ron, por favor.
– Para mim, um gin tónico e dois Kompensan…

* “Belmiro e Soares dos Santos juntos í  procura de jovens talentosos”

… merceeiros libidinosos…

“O Sentido do Fim”, de Julian Barnes (2011)

barnesVencedor do Man Booker de 2011, Julian Barnes tem uma escrita sóbria e perfeita.

The Sense of an Ending, escrito na ressaca da morte da sua companheira, a agente literária Pat Kavanagh, conta-nos a história de Tony Webster que, já reformado, tem conhecimento do suicídio de um amigo da juventude e que este lhe teria deixado, em testamento, um diário.

Para o obter, Webster tem que entrar em contacto com uma antiga namorada e todo esse processo o faz recordar momentos do passado.

Nascido em 1946, Barnes, falando pela voz do personagem, diz coisas que me são muito familiares, nomeadamente no que diz respeito aos grupinhos de rapazes do Liceu e í s suas conquistas amorosas mais ou menos frustradas.

A propósito do ultrapassado conceito de “andar” com uma rapariga:

“…erasentido do fim isto que costumava acontecer: conhecíamos uma rapariga, sentíamo-nos atraídos por ela, tentávamos cativá-la, convidávamo-la para um ou dois eventos sociais – o pub, por exemplo – depois convidávamo-la para sair a sós, convidávamo-la de novo e, após um beijo de boas noites de intensidade variável passávamos, por assim dizer, “a andar” com ela. Só quando estávamos pratica e publicamente comprometidos, é que descobríamos a política sexual dela. E por vezes isso significava que o corpo dela era tão estrito e reservado como uma zona de pesca exclusiva.”

E isto era mesmo assim porque, como também diz o protagonista do livro, estávamos nos anos 60, sim senhor, mas esses anos não foram iguais em toda a parte, nem para toda a gente.

Sentindo-se já um pouco decadente, Tony Webster também projecta o seu futuro, desta maneira:

“Ser velho, estar no hospital e ter enfermeiras que nunca vi a chamarem-me Anthony, ou pior, Tony. Deixa-me espetar-te isto no braço, Tony. Toma mais papa, Tony. Evacuaste, Tony? Claro que, quando isso acontecer, a excessiva familiaridade do pessoal de enfermagem deverá estar no fim da minha lista de preocupações; mas ainda assim.”

O tempo, a passagem do tempo, é um dos cernes deste livro, e Barnes resume isso muito bem neste período:

“Mas o tempo… o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e não de as enfrentar. Tempo… deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas, bizarras.”

Com tradução de Helena Cardoso e edição Quetzal, eis um livro que recomendo vivamente.

Outras obras de Julian Barnes Arthur & George (2005) e Amor & Etc (2000)

Erotismo ou pornografia?

Confesso que o “fenómeno” das “50 Sombras de Grey” me passou praticamente ao lado.

Só recentemente, com a estreia do filme baseado no livro, me interessei perifericamente pela coisa. Ouvi então falar de “pornografia para mamãs” e deparei-me com acérrimas defensoras do estilo.

Claro que não li os livros da E. L. James, nem faço tensão de os ler. Tenho uma prateleira cheia de livros a sério para ler.

2015-02-21 11.40.14Só que ontem, ao visitar a Fnac, em busca de um livro de contos de Joyce Carol Oates (“Terra Amarga”), deparei com uma prateleira pejada deste lixo:  “O Inferno de Gabriel”, “Pede-me o que quiseres”, “Proposta Indecente”, “Noites Escaldantes”, “Rosa Selvagem”, “O íŠxtase de Gabriel”, e, claro “As 50 Sombras de Grey”.

Não sei se isto é “pornografia para mamãs”. Há muitos anos, o meu tio Zé Ricardo diria que era literatura para grávidas e pupilos do exército.

No fundo, vai dar ao mesmo.

Gina91Por brincadeira, lembrei-me dessa publicação democrática que surgiu em setembro de 1974, resultado das “portas que Abril abriu” e que se chamava Gina.

Assim como nunca me passou pela cabeça comprar um dos calhamaços de E. L. James, também nunca comprei um único exemplar da Gina.

Isso não quer dizer que eu não conheça ambos os fenómenos.

Para o comprovar, aqui ficam algumas frases respigadas de ambas as obras:

1)”Eu não faço amor, eu fodo com força”

2) “Agora vou-te cavalgar, enfiar-me toda nessa grossa verga.”

3) “…A linha entre o prazer e a dor, é muito fina.”

4) “Paris é uma cidade onde todos os dias se passam histórias de orgias”

5) “…Por algum motivo não consigo ficar longe de você.”

6) “Olha para o costureiro e não resiste í  tentação de lhe tirar as calças para baixo e ver como está o seu membro”

7) “Ele deixa-me louca. Ouço-o sorrir.
O gelo no meu umbigo esta derretendo. Estou para lá de quente – quente e gelada e querendo-o dentro de mim. Agora.”

8) “Solta um pequeno gemido, quando sente aquele monstro começar a entrar nas suas entranhas”.

Claro que os entendidos perceberam logo que as frases 1, 3, 5 e 7 são citações da E. L. James, enquanto as 2, 4, 6 e 8 são da Gina.

Escusam de perder tempo a ler as coisas. Procurem aqui: http://pensador.uol.com.br/frases_cinquenta_tons_de_cinza/ e aqui http://revistagina.tumblr.com/.

Tudo isto me fez lembrar um texto do Mário-Henrique Leiria, publicado em O Coiso, em 16 de Maio de 1975, sob o título “Erotismo ou pornografia”.

Rezava assim:

“O Coiso tem andado bastante preocupado, dado que se sente inculto, ignorante, indigno de ser intelectual do novo tipo. O Coiso não sabe qual é a diferença entre erotismo e pornografia, vejam vocês!

(…) Sem saber essa diferença que parece ser fundamental, como é que ele podia candidatar-se a crítico literário, de arte, de teatro, de televisão, enfim, crítico importante no processo revolucionário? Sim, como?

Achei por bem que nos fí´ssemos esclarecer. É que eu tenho um amigo, professor universitário, é evidente, que sabe dessas coisas. É democrata tremendo há já um ano e alguns dias, o que nos dá garantias suficientes. Além disso, percebe muito de semântica e tem uma barba razoável. Mais garantias ainda.

Fomos, velozes.

O meu amigo, professor universitário, repito, afirmou-nos, concreto:

– Ora vejamos. Quando declaro grunf tobutu grink zunk zunk anabólico toribu chi cué damoi trabusni, isto é erotismo. Dado que a incidência zunk zunk se projecta directa e integralmente em trabusni. Muito bem. Mas se eu afirmar, peremptório, grunf tobutu grink zunk zunk anabólico toribu chi cué trabusni damoi, isto é pornografia. E porquê? Porque, meus caros, a incidência passa de trabusni para damoi. Creio que fui suficiente e dialecticamente claro. E agora deixem-me trabalhar.”

Espero que vocês também tenham ficado esclarecidos.

Nota: livros verdadeiramente aconselhados, a quem gosta de sexo na literatura ou literatura no sexo: Sexus, Nexus, Plexus, Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, todos de Henry Miller, Henry & June, Passarinhos, Incesto, Delta de Vénus, de Anais Nin, A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, A Vida Sexual de Catherine M., de Catherine Millet, etc…