“O Sentido do Fim”, de Julian Barnes (2011)

barnesVencedor do Man Booker de 2011, Julian Barnes tem uma escrita sóbria e perfeita.

The Sense of an Ending, escrito na ressaca da morte da sua companheira, a agente literária Pat Kavanagh, conta-nos a história de Tony Webster que, já reformado, tem conhecimento do suicídio de um amigo da juventude e que este lhe teria deixado, em testamento, um diário.

Para o obter, Webster tem que entrar em contacto com uma antiga namorada e todo esse processo o faz recordar momentos do passado.

Nascido em 1946, Barnes, falando pela voz do personagem, diz coisas que me são muito familiares, nomeadamente no que diz respeito aos grupinhos de rapazes do Liceu e às suas conquistas amorosas mais ou menos frustradas.

A propósito do ultrapassado conceito de “andar” com uma rapariga:

“…erasentido do fim isto que costumava acontecer: conhecíamos uma rapariga, sentíamo-nos atraídos por ela, tentávamos cativá-la, convidávamo-la para um ou dois eventos sociais – o pub, por exemplo – depois convidávamo-la para sair a sós, convidávamo-la de novo e, após um beijo de boas noites de intensidade variável passávamos, por assim dizer, “a andar” com ela. Só quando estávamos pratica e publicamente comprometidos, é que descobríamos a política sexual dela. E por vezes isso significava que o corpo dela era tão estrito e reservado como uma zona de pesca exclusiva.”

E isto era mesmo assim porque, como também diz o protagonista do livro, estávamos nos anos 60, sim senhor, mas esses anos não foram iguais em toda a parte, nem para toda a gente.

Sentindo-se já um pouco decadente, Tony Webster também projecta o seu futuro, desta maneira:

“Ser velho, estar no hospital e ter enfermeiras que nunca vi a chamarem-me Anthony, ou pior, Tony. Deixa-me espetar-te isto no braço, Tony. Toma mais papa, Tony. Evacuaste, Tony? Claro que, quando isso acontecer, a excessiva familiaridade do pessoal de enfermagem deverá estar no fim da minha lista de preocupações; mas ainda assim.”

O tempo, a passagem do tempo, é um dos cernes deste livro, e Barnes resume isso muito bem neste período:

“Mas o tempo… o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e não de as enfrentar. Tempo… deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas, bizarras.”

Com tradução de Helena Cardoso e edição Quetzal, eis um livro que recomendo vivamente.

Outras obras de Julian Barnes Arthur & George (2005) e Amor & Etc (2000)

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