“Crónicas do Mal de Amor”, de Elena Ferrante (2012)

Depois de ler A Amiga Genial, fiquei fã da escrita desta misteriosa autora italiana e procurei, em vão, esta colectânea das suas primeiras três novelas.

cronicas do mal de amorEncontrei o livro já no final do ano passado e li-o em paralelo com o terceiro volume daquela saga napolitana das duas amigas (o segundo volume, História do Novo Nome, também já está na prateleira dos lidos).

Pelos vistos, Elena Ferrante está na moda e até merece textos na revista The New Yorker. Este Crónicas do Mal de Amor junta as três primeiras novelas da escritora: Um estranho Amor (1999), Os Dias de Abandono (2002)  e A Filha Obscura (2006).

Na primeira novela, uma filha vai ao funeral da mãe que se suicidou e descobre que, nos últimos tempos, ela terá tido um romance serí´dio com um antigo namorado não correspondido. Na segunda, um mulher abandonada pelo marido, que se apaixonou por uma jovem, desespera-se, sozinha com os dois filhos e com um cão. Na terceira novela, uma professora divorciada a passar férias sozinha, rouba uma boneca a uma criança, na praia, sem saber muito bem porquê.

Estas três situações servem para as protagonistas recordarem momentos da sua infância, sempre passadas em Nápoles; são mulheres azedas, cujas vidas foram amargas e todas elas têm razão de queixa das suas mães e da sua infância.

A linguagem de Ferrante é crua, por vezes mesmo explícita, não se coibindo de uns palavrões sempre que são necessários. É uma escrita escorreita, sem rodriguinhos, mas que torna as personagens reais e credíveis.

Aconselho vivamente.

 

O Aníbal das medalhas

Cavaco será lembrado assim, no futuro: o Aníbal das medalhas.

A menos de um mês de se ir embora, sem pena nem paixão, ao Cavaco deu-lhe a fúria das medalhas e foi í  despensa buscar o refugo que lá tinha e desatou a condecorar í  fartazana.

Para além deste oito ex-ministros que estão na foto, Aníbal decidiu condecorar Sousa Lara!

Quem?

Para vós, gente ignorante, Sousa Lara é segundo conde de Guedes, quarto marquês de Lara, fidalgo de Cota de Armas em Portugal e Espanha e cidadão honorário do Texas (e se não acreditam, confirmem aqui…)

Lara é ainda Cavaleiro de Graça e Devoção da Ordem Soberana e Militar de Malta, comendador da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Comendador da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha, Grande Oficial da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro de Itália e Cavaleiro de Justiça da Ordem Constantiniana de S. Jorge da Casa das Duas Sicílias (tudo isto com maiúsculas).

E agora, graças ao Aníbal das medalhas, é também Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Claro que toda a gente o recorda como o grande subsecretário de Estado da Cultura que, em 1992, impediu que José Saramago concorresse ao Prémio Literário Europeu, com o blasfemo livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo - e em boa hora o fez: está bem que Saramago ganhou o Nobel, mas está morto e Lara está bem vivo e até foi condecorado pelo Cavaco, coisa que o Saramago nunca conseguiu!

Mas há mais razões para Lara ter sido condecorado: o homem é bacharel em Administração Ultramarina, doutor em Ciência Política, licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina e em Ciências Antropológicas e Etnológicas e é ainda formado em Genealogia, Heráldica e Direito Nobiliárquico!

Com tal currículo, Cavaco não podia deixar de o condecorar.

A cereja no topo do bolo: Lara é pai do padre Duarte Sousa Lara, que recentemente declarou que a igreja católica precisa de mais exorcistas (ler aqui).

Duarte Sousa Lara disse que, hoje em dia, há mais pessoas com distúrbios espirituais, devido ao incremento da bruxaria.

Fica assim explicada a recente distribuição de condecorações por parte de Aníbal Cavaco Silva…

cavaco condecora

As condecorações de Cavaco

Cavaco tem a honra de ser o único presidente post-25 de Abril que sai de cena com avaliação negativa por parte dos eleitores.

Eanes, Soares e Sampaio saíram em alta e podem, ainda hoje, gozar do respeito por parte da maioria dos seus concidadãos.

Cavaco não.

Vai-se retirar para Boliqueime e limitar-se a gerir o negócio da gasolineira que herdou do pai.

E continua a fazer borrada atrás de borrada.

Agora, decidiu condecorar ex-ministros.

A lista é longa: Vitor Gaspar, Bagão Félix, ílvaro Santos Pereira, Luís Campos e Cunha, Paulo Macedo, Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato e Rui Pereira.

Por um lado, alguns destes ministros ainda podem muito bem vir a ficar em prisão preventiva por algum negócio que possam ter tido com o Veiga, com o Salgado ou com o Sócrates.

E por outro, pergunto: qual o critério para condecorar um ministro que esteve escassos quatro meses no activo e que se demitiu rapidamente?

Falo do Campos e Cunha, primeiro ministro das Finanças do Sócrates.

É que a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique é atribuída pelo “espírito patriótico e de serviço” no desempenho das suas funções.

Quatro meses como ministro demonstra espírito patriótico e de serviço?

í“ Cavaco, então condecora-me a mim, que sou médico do SNS há 39 anos, porra!

“A Ilha da Infância”, de Karl Ove Knausgard (2009)

E cheguei ao fim da metade deste projecto colossal do norueguês Knausgard, com o título global, mais ou menos provocador, de A Minha Luta.

ilha da infanciaDepois de A Morte do Pai , o meu preferido até agora, e de Um Homem Apaixonado, este A Ilha da Infância custou-me um pouco a acabar.

Claro que são interessantes as descrições das aulas de natação, das idas í  escola, das brincadeiras de um grupo de miúdos que teve o privilégio de viver uma infância ao ar livre, sempre de bicicleta de um lado para outro; no entanto, este terceiro volume da obra de Knausgard não tem nenhuma daquelas incursões teóricas e/ou filosóficas sobre a escrita, a pintura, a arte em geral, ou sobre as virtudes e os defeitos da espécie humana.

São 400 páginas de brincadeiras, alegrias e desilusões de um miúdo, muitas delas dedicadas ao seu ódio de estimação: o pai austero, sempre pronto a humilhá-lo e a castigá-lo; percebe-se agora bem o ódio que Knausgard destila pelo pai no primeiro volume.

Uma coisa me deixa um pouco perplexo: a infância de Kanusgard pode ter sido recheada de brincadeiras, mas raramente há um gesto de afecto; do pai, nem pensar, mas também a mãe me parece muito fria e ausente e a relação com o irmão mais velho é isenta da cumplicidade que quase sempre existe entre irmãos.

Na página 241, Knausgard resume bem a influência do pai:

«A minha mãe salvou-me, porque, se não estivesse estado presente, eu teria crescido somente com o meu pai e, nesse caso, ter-me-ia suicidado, mais tarde ou mais cedo, de uma maneira ou de outra.»

Noutra altura, Knausgard conta como tudo naquela família obedecia a rotinas e rituais, nomeadamente, comer-se uma maçã a meio da tarde. Certo dia, o pobre do Karl Ove terá comido duas, pensando que o pai não desse por isso; pois no dia seguinte, o pai obrigou-o a comer várias maçãs, uma atrás da outra, até ele quase vomitar, para lhe provar que uma maçã por dia era o número certo!

Aguardemos pelo quarto volume.

Está quieto, ó Portas!

Agora ficámos a saber quem é o culpado pelas novas medidas de austeridade que o governo do Costa se viu obrigado a tomar.

E o culpado foi o Paulo Portas.

Sem que ninguém lhe encomendasse o sermão, o futuro ex-líder do CDS foi a Bruxelas falar com o presidente da Comissão Europeia e disse-lhe isto:

“Estive em Bruxelas esta semana, pedi ao senhor Juncker que não fosse intransigente porque se houvesse um desacordo grave o problema não era para o Governo, era para Portugal e os portugueses seriam os primeiros a ser prejudicados mais dia menos dia”.

E pronto, está-se mesmo a ver que Junker, perante este pedido, apertou com o Costa o mais que pí´de, porque deve ter pensado que Portas estava a ser sarcástico.

E só podia ser: então o CDS ganhou as eleições em coligação com o PSD e o Costa é que formou governo e o Portas, ainda por cima, quer ser bonzinho e ajudá-lo, pedindo ao Junkers para não ser intransigente?

Estava a gozar, certamente!…

E toca de apertar o torno ao Costa.

Retira-te mas é para os teus negócios de família e deixa-nos em paz, ó Paulinho!…

Coisas do Orçamento

Confirma-se que António Costa recorreu í  chantagem para conseguir que a Comissão Europeia aceitasse o Orçamento Geral do Estado.

De facto, Costa ameaçou propor o nome de Cavaco Silva para o cargo de Comissário europeu caso o Orçamento não fosse aprovado e Bruxelas não teve outro remédio senão pactuar.

Nem era mais por causa de Cavaco, mas sim por causa da Dona Maria, que gosta de meter o nariz em tudo.

No entanto, o acordo continua a não ser total.

Parece que há uma divergência de 200 milhões de euros.

Trocos.

Costa garantiu que vai conseguir tapar esse buraco de 200 milhões.

Sabe-se que há 280 portugueses que devem mais de um milhão de euros ao fisco.

Costa vai conseguir obrigar esses cidadãos a pagarem o que devem.

Como?

Recorrendo, mais uma vez, a Cavaco Silva.

Como ex-presidente, Cavaco tem direito a carro e motorista; em vez de ficar sentado no seu gabinete a criar bolor, vai fazer de cobrador de fraque.

Além de ficar entretido, fará qualquer coisa de útil e dará uma ajuda ao país.

Talvez assim consiga que o Presidente Rebelo de Sousa o condecore no 10 de Junho.

O ataque do vírus Zika

O vírus Zika provoca microcefalia.

Marcelo Rebelo de Sousa almoçou com Cavaco.

As medidas de austeridade de Passos Coelho eram provisórias para nós mas definitivas para Bruxelas.

Carrilho do Sporting assina pelo Benfica, segundo o presidente do Porto.

O Papa manda tapar as estátuas nuas do Vaticano para não insultar o chefe do governo do Irão.

Os sindicatos da CGTP convocam uma greve porque querem as 35 horas já e não daqui a 6 meses.

Donald Trump continua com muitas hipóteses de ser o candidato republicano í  presidência dos States.

O líder do PCP chama engraçadinha í  candidata do Bloco í  presidência da República.

António Costa tem um lapsus linguae e chama primeiro-ministro a Passos Coelho.

Não é preciso ser picado pelo mosquito do Zika para ter microcefalia…

Uma campanha alérgica

Começou a campanha eleitoral para a presidência da República e, pela primeira vez, não sei sinceramente em quem votar.

Não gosto do psicólogo que dá aulas de encorajamento ou lá o que é; tem uns óculos de massa muito feios e os incisivos muito afastados.

O senhor que abandonou os debates e se recusou a participar, merece a minha simpatia por isso; foi menos um chato que tivemos que aturar, mas acho que tem um abdómen demasiado proeminente para presidente. Ficava mal nas fotos oficiais.

Aquele rapazinho que trouxe as assinaturas num cabaz é apalhaçado e nunca gostei de palhaços.

O Neto tem idade para ser aví´.

O Morais diz que é limpinho mas não gosto do penteado e algo me diz que ali há gato escondido.

O ex-padre é a contradição em pessoa: católico e comunista? Se a religião continua a ser o ópio do povo, o comunismo será a naloxona?

A Marisa tem boa voz para o fado, não para discursar no 10 de Junho.

A de Belém é muito pequena; mal chegaria ao microfone das Nações Unidas, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, a convidasse para discursar.

O Nóvoa tem um nome bom demais para trocadilhos e ninguém sabe onde estava no 25 de Abril, 28 de Setembro, 11 de Março e 25 de Novembro, da parte da tarde.

Finalmente, o candidato que é como a pescada, que antes de o ser já o era, é um fiasco. Afinal, depois de décadas de comentário político, não tem opinião sobre nada.

Pensando bem, deve ser por isso que vai ganhar as eleições.

Cavaco, qual eucalipto, que tudo seca í  sua volta, até a Presidência da República secou!