“Viagens”, de Olga Tokarczuk (2007)

Olga Tokarczuk é uma escritora polaca nascida em 1962 e que, no ano passado, venceu o Man Booker Internacional com este curioso livro.

Psicóloga de formação e activista de esquerda, Tokarczuk tem sido acusado pelos líderes polacos de direita de denegrir a imagem da Polónia. Só se for por ganhar tantos prémios literários, digo eu, porque, além do importante Man Booker, a escritora tem também sido distinguida com outros prémios, nomeadamente na Alemanha.

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Este Viagens é um livro muito curioso porque é formado por pequenas “entradas”, digamos, assim, pequenos textos, a propósito de viagens. Tem, no entanto, um tema a que a escritora volta obsessivamente: as exposições e os museus que mostram plastinação de corpos e partes do corpo humano, ou as colecções de bizarrias encerradas em frascos com formaldeído, como fetos com duas cabeças ou colunas deformadas, etc.

Parece um pouco tétrico, mas não é nada disso. Ao fim e ao cabo, Olga T. fala sobre o corpo humano, sobre a vida e sobre a morte, sobre a viagem que pode ser a da vida, até í  morte.

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Três histórias sobressaem: a do coração de Chopin, que é secretamente levado de volta para Varsóvia pela sua irmã; a de uma mulher que regressa í  sua terra natal para envenenar o seu antigo namorado, moribundo, a pedido deste; e a do homem que está í  beira da loucura, depois da mulher e do filho terem desaparecido durante uma viagem í  Croácia, para aparecerem dias depois, sem qualquer explicação.

Aconselho.

“O Quarto de Marte”, de Rachel Kushner (2018)

Rachel Kushner nasceu no Oregon em 1968 e mudou-se para San Francisco em 1979. É autora de três romances premiados: Telex from Cuba (2008), The Flamethrowers (2013) e este The Mars Room (2018), que fez parte da lista finalista do Man Booker Prize desse ano.

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O Quarto de Marte é um daqueles livros que se lê de uma penada e ficas com pena de ter acabado.

A protagonista da história é Romy Hall, que está presa e foi condenada a duas penas perpétuas consecutivas. Romy (que diz ter o mesmo nome que a actriz Romy Schneider) vai-nos contando as peripécias da prisão de Stanville e também os seus receios em relação ao filho Jackson, de 10 anos, que ficou com a avó, quando Romy foi presa, e ainda as suas recordações dos desvarios que cometeu em San Francisco.

Pelas suas palavras, ficamos a saber que Romy, como muitas outras pessoas, foi vítima das circunstâncias.

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O Quarto de Marte é o nome de uma casa de strip-tease, onde Romy trabalhou, e onde conheceu homens que, depois, a maltrataram e a quem ela aplicou o respectivo correctivo – imaginamos nós, porque o texto nunca refere explicitamente os crimes que ela terá cometido para ter sido condenada a duas prisões perpétuas.

Para além da história de Romy Hall, que percorre todo o livro, conhecemos ainda as histórias de outras personagens, como a de Bo Crawford.

Este pedaço tocou-me especialmente, porque já vou no terceiro Honda Civic consecutivo:

“Vena Hubbard, uma mulher que trabalhava na lavandaria da cadeia, convivera com Bo Crawford e apaixonara-se por ele. Ela começou a sonhar com uma nova vida. Isto veio a saber-se mais tarde, em relatos jornalísticos que procuravam narrar a quebra de segurança na cadeia. Vena e Bo tinham falado em fugir para o México, mas antes de se dirigirem para lá, o seu plano era fazerem uma paragem rápida em casa de Vena para matarem Mack, o marido desta. Depois rumariam í  fronteira no carro dela, um Honda Civic. Tinham mapas e as poupanças dela, assim como uma espingarda que pertencia a Mack, que levariam com eles depois de o matarem. (Gordon perguntou a si mesmo se uma espingarda caberia sequer dentro de um Honda Civic”).

Claro que cabe!

Aconselho.

“Once Upon a Time in Hollywood”, de Quentin Tarantino (2019)

Beethoven compí´s nove sinfonias. Tarantino realizou nove filmes.

Não vou comparar Beethoven com Tarantino. Seria o mesmo que comparar grelos cozidos com laranjas.

Mas sempre direi que, no que respeita í s sinfonias de Beethoven, é impossível dizer qual é a melhor. Será a famosa Quinta ou a Nona, conhecida como Coral? Será a Terceira, a Heróica, ou a Sexta, a Pastoral?

Já no que diz respeito aos nove filmes de Tarantino, o melhor é, sem dúvida, Pulp Fiction.

A este nono filme de Tarantino, falta-lhe alguma coisa para ser um Pulp Fiction.

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Falta-lhe algum ritmo (há cenas intermináveis de Rick a conduzir pelas ruas e estradas de LA), faltam-lhe o monólogos de Keitel e de Cristopher Walken e falta-lhe uma personagem feminina como a de Uma Thurman.

Mas tem outros ingredientes muito bons: a dupla de Brad Pitt e Leonardo DiCaprio iguala a de Travolta e Sammuel L. Jackson, os diálogos são dignos de Tarantino e a banda sonora é excelente (Joe Cocker, Mamas and Papas, José Feliciano, Easy Beats e muitos outros, em versões menos conhecidas de êxitos de finais dos anos 60).

E depois, há a homenagem aos filmes, a Hollywood, aos western spaguetti, í s séries televisivas a preto e branco, aos cromos e aos tiques dos actores, realizadores e restante família.

DiCaprio faz um óptimo Rick Dalton, um actor de séries televisivas que está em declínio; muito bem acompanhado por Brad Pitt, o seu duplo e que, agora, faz de motorista e faz-tudo do actor.

Dalton mora mesmo ao lado da vivenda que Polanski partilha com Sharon Tate e, como a acção decorre em 1969, sabemos que estamos no ano em que Charlie Manson é o mentor dos assassínios brutais de Tate e dos seus amigos, na noite de 9 de agosto de 1969.

Por isso mesmo, o final do nono filme de Tarantino é surpreendente.

Embora não consiga atingir o nível de Pulp Fiction, Once Upon a Time in Hollywood garante um bom entretenimento durante três horas.

O Messias brasileiro

Segundo texto consecutivo sobre o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro – mas a culpa é dele.

Os factos, para registo: as queimadas, na Amazónia, estão no auge; os incêndios são de maiores dimensões do que nos últimos anos e já alastraram, por exemplo, í  Bolívia. Bolsonaro diz que a culpa é das ONG (que ele chama ongi) porque, ateando fogo í  Amazónia, atacam a sua governação. A comunidade internacional começou a preocupar-se com o assunto, nomeadamente, o presidente francês – a Guiana francesa tem fronteira com a Amazónia. Bolsonaro não gostou que Macron se referisse í  Amazónia como pertencendo a todo o planeta. E começaram os ataques ao francês.

O ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, disse que Macron é um calhordas, um oportunista e é ridículo – o que, para ministro da Educação, não está nada mal.

E demonstrando toda a sua instrução, escreveu no twiter esta coisa tão engraçada: “Ferro no cretino do Macrón, não nos franceses… nós já elegemos Le Ladrón (Lula), que hoje está enjauladón”.

Que dizer de um país que tem um ministro da Educação desta calibre?…

Eduardo Bolsonaro, filho do Messias, também chamou idiota ao presidente francês e Olavo Carvalho, conhecido como sendo o guru de Bolsonaro, postou este tweet esplendoroso: “Macrocon” — “con” é calão para “burro” ou “estúpido” e “macro” quer dizer grande –, Tia ângela deu umas palmadas na bundinha de Macrocon… Os franceses estão muito azarados. Não podiam votar na Le Pen porque ela é ajudante do Putin, o dono do gás, Tiveram de votar no Macrocon e agora não sabem como se livrar dele.”

Para completar esta série, um apoiante de Bolsonaro, postou no Facebook fotos de Macron e Bolsonaro, e respectivas esposas, explicando que o Presidente francês tinha inveja do brasileiro porque a sua esposa tem 66 e a do Messias tem 37 – que é como quem diz, que grandes pinocadas que o nosso (deles) presidente deve dar na brasileirinha, enquanto que o franciú se deve ver í  rasca para comer a velhota.

Coisa fina.

A este comentário, o Messias respondeu: “não humilha, kkkkk…”

De notar que, actualmente, os brasileiros riem-se nas redes sociais com uma série de kapas. Em tempos que já lá vão, riam-se com “rá-rá-rá”…

Enfim, deficiências…

Entretanto, a Amazónia continua a arder…

Bolsonaro – o presidente obstipado

Cada povo tem o Presidente que merece?

Não sei… quando a eleição é por sufrágio directo, sou levado a pensar que sim… Nós merecemos o Marcelo que temos, os brasileiros merecem o Bolsonaro que têm.

Mas, enquanto nós temos um Presidente que, apesar dos beijinhos, abraços e selfies, que apesar de estar a assinar decretos-lei em calções de banho, apesar de de tudo isso, é um homem culto, civilizado, inteligente – os brasileiros têm que se ver com um bergesso que nunca deve ter lido um livro até ao fim (nem a Bíblia) e que, ainda por cima, tem problemas de obstipação.

Esta informação importante – Bolsonaro tem dificuldade em evacuar – foi tornada pública pelo próprio presidente.

Quando lhe perguntaram se era possível conciliar desenvolvimento e proteção da natureza, a propósito da desflorestação da Amazónia, Bolsonaro respondeu com uma proposta de resolução deste magno problema, verdadeiramente revolucionária.

Disse a criatura:

“É só você deixar de comer menos um pouquinho. Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocó dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida”.

Portanto, aqui está a solução para os problemas ambientais que estamos a viver, para o degelo da Antártida, para a desflorestação da Amazónia, para o aquecimento global, a poluição e todas essas tretas recentemente inventadas: cagar menos!

Cagar apenas em dias alternados – que deve ser o que o presidente dos brasileiros deve fazer.

Fica portanto explicada aquela cara de quem não engoliu bem a hóstia, de quem tem muitas dificuldades em fazer cocó, e só o consegue dia sim, dia não, e apenas porque assim está a melhorar a poluição ambiental.

Apetece dizer: Bolsonaro, eleva o teu nível – passa a cagar de pé!

Será verdade que cada povo tem o presidente que merece, mas os brasileiros talvez não merecessem este obstipado…

Adeus Zuckerberg!

Estou farto do Facebook!

Duas pessoas conseguiram convencer-me que o Facebook é o inimigo infiltrado: o meu filho Pedro e o historiado Harari.

Sacar os nossos dados para melhor nos dominar, para influenciar atitudes, opiniões e votações. A vitória do “achismo” – toda a gente “acha” qualquer coisa em relação a tudo!

O Facebook é a nova cabeleireira da esquina, o lugar da fruta, o barbeiro, o taxista, o lugar onde se discute tudo, desde armas nucleares ao pé de atleta, desde a cura do cancro í s virtude do aloé vera.

A Dona Celeste e o Sr. Jerónimo têm sempre algo a dizer sobre os incêndios, as greves dos motoristas, a falta de obstetras, o degelo e a proibição dos sacos de plástico. E, lá em cima, Zuckerberg e seus compinchas, recolhem os dados, submetem-nos aos devidos algoritmos e põem a Dona Celeste e o Sr. Jerónimo a votarem no Bolsonaro, ou no Trump, ou no Salvini, ou noutro qualquer aspirante a ditador que saiba manipular bem esta traquitana.

Volto í s origens, onde comecei.

Foi em novembro de 1999 que O Coiso nasceu na net, com a ajuda de familiares; alguns anos depois, criei um blog de viagens no Sapo, com a ajuda de amigos.

O Facebook veio roubar esse espaço. Era mais fácil, comunicava com mais gente, era mais popular.

Mas não quero ser popular e não quero mais ajudar o Zuckerberg.

Portanto, a partir do dia 1 de Setembro, deixo o Facebook, acabando com a minha página pessoal e com as páginas Pessoas, O Tejo visto da minha janela, Abandonados e Como o Mundo é pequeno – todas estas páginas passam a ter um espaço no Sapo (as moradas estão aqui ao lado).

Bye bye Zuckerberg!

Que é feito dos jornalistas?

A greve dos motoristas de matérias perigosas pí´s a nu, mais uma vez, a falência de uma profissão que já foi das mais prestigiadas: o jornalismo.

Hoje, í  hora do almoço, os primeiros 40 minutos do jornal da Sic foram todos ocupados por reportagens relacionadas com a greve e com a requisição civil decretada pelo governo. Os directos sucederam-se, de norte a sul do país, e a imagem era sempre a mesma: um repórter, de microfone na mão, com um posto de combustíveis por pano de fundo. Ficámos a saber como estavam os depósitos numa bomba de Albufeira, numa outra em Coimbra, no Porto, em Lisboa, em Castelo Branco e apareceu até uma repórter a anunciar que, em Trancoso, havia duas bombas quase secas!

Penso que os habitantes de Nelas, Ferreira do Alentejo, Venda das Raparigas e Freixo de Espada í  Cinta devem ter ficado lixados por não falarem nas suas bombas de gasolina.

E que novidades, portanto, notícias, transmitiram todos estes excelsos jornalistas?

Nenhuma!

Tudo o que disseram já se se sabia desde ontem: os serviços mínimos não estavam a ser cumpridos na sua totalidade e o governo decretou uma requisição civil parcial.

O resto é reality show, é transformar um acontecimento numa telenovela. Sim, uma telenovela, porque foi dito que os grevistas têm provas de que os patrões querem subornar trabalhadores para furarem a greve, e que os patrões querem fritar o advogado porta-voz do sindicato, e que os polícias não querem conduzir os camiões, e ouvimos cidadãos apanhados pelos repórteres a darem a sua opinião, como se estivessem no Facebook ou nos famigerados fóruns, onde toda a gente dá palpites sobre tudo ““ e eu gostava de saber onde está o jornalismo?

Esta maneira de dar notícias demonstra a preguiça do jornalismo de hoje: em vez de procurar, investigar e, depois, editar a informação, põe-se o microfone em frente da malta que vai a passar e a notícia está dada.

Vergonhoso!

“A Visita do Brutamontes”, de Jennifer Egan (2010)

Depois de ter lido A Praia de Manhattan, outro romance desta jovem escritora norte-americana, fiquei com curiosidade em ler este A Visita do Brutamontes, vencedor do Pulitzer de 2011.

Não me arrependi.

Este A Visit From the Goon Squad prende-nos do princípio ao fim e prima pela originalidade da escrita.

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Egan muda de estilo ao longo do livro, mantendo, no entanto, uma uniformidade a toda a prova (há até um capítulo em forma de Power Point).

O brutamontes aqui é o tempo, que passa pelas pessoas e que tudo muda. As principais personagens do livro são Bennie Salazar, um músico punk que, com a idade deixa de tocar e passa a produtor discográfico, e Sasha, uma sua assistente, cleptomaníaca e que acaba por ser despedida.

Cada capítulo do livro conta-nos uma pequena história, de certo modo relacionada com aquelas duas personagens, embora elas próprias só surjam em três dos treze capítulos.

A acção do romance decorre em Nova Iorque, San Francisco, Nápoles e algures em ífrica e aconselho vivamente a sua leitura.

“Máquinas Como Eu”, de Ian McEwan (2019)

Ian McEwan é um dos escritores vivos que eu mais aprecio. Não me lembro de um único livro dele de que não tenha gostado e já ,li todos os que estão editados em Portugal, começando pelo Amesterdão.

Este Machines Like Me and People Like You veio cair como sopa no mel depois de ter lido os três livros do historiador Harari.

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Todas as inquietações que o historiador israelita suscita, no que respeita ao nosso futuro próximo, com o desenvolvimento da inteligência artificial, a substituição dos humanos por robost mais inteligentes e eficazes, o desemprego que daí advém, a formação de legiões de humanos desempregados e ociosos – todas essas e outras inquietações estão espelhadas neste excelente romance.

McEwan consegue juntar ficção científica com realidade alternativa, uma história de amor, um crime e uma mentira, e criar uma obra que agarra do princípio ao fim.

O narrador é Charlie, um trintão apaixonado pela vizinha de cima, Miranda e que vive de investimentos e jogos de bolsa, trabalhando em casa. tendo recebido uma herança, por morte da mãe, decide gastá-la comprando um robot super-sofisticado, o Adão, que fora lançado no mercado há pouco tempo.

A história passa-se no tempo em que Margaret Tatcher era primeira-ministra, mas já existem carros autónomos, a robótica está muito avançada, o brilhante matemático Alan Turing, pioneiro da computação, que faleceu em 1954, está ainda vivo, bem como os quatro Beatles, que continuam a editar discos e a Argentina fascista, vende a guerra das Malvinas.

Charlie, Miranda e o robot vão acabar por formar um improvável triângulo amoroso.

Com estas linhas gerais, poderíamos estar perante uma história pateta, mas graças í  mestria de McEwan, temos um romance muito interessante, que levanta muitas questões morais sobre o crime, a culpa, a honestidade, a mentira, o amor.

Cinco estrelas.

“Homo Deus”, de Yuval Noah Harari (2015)

Faltava-nos este livro para acabar a trilogia deste historiador israelita – e talvez seja este o livro mais assustador dos três.

Escrevi notas sobre o Sapiens e sobre 21 Lições para o Século 21.

Harari tem uma visão muito bem definida da História do Homo Sapiens e, para ele, ninguém sabe o que vai acontecer daqui até a 2050, mas ele acredita que aquilo a que ele chama de Dataísmo será a nova religião – por outras palavras, quem detiver o maior número de informações (data), será o líder do Universo.

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No limite, a espécie humana será secundarizada, como os cavalos o foram na época das máquinas a vapor.

Com uma visão muito nítida da História, Harari escreve de um modo muito convincente e claro.

Eis alguns exemplos:

“Actualmente, comer em excesso é, para a maioria dos países, um problema muito mais grave do que a fome. No século XVIII, Maria Antonieta terá supostamente aconselhado o povo que morria í  fome a comer brioches, já que não tinha pão. Hoje, os pobres seguem esse conselho í  letra. Enquanto os ricos de Beverly Hills comem alface e tofu cozinhado a vapor com quinoa, nos bairros desfavorecidos e nos guetos, os pobre devoram Twinkies, Cheetos, hamburgueres e pizzas. em 2014, mais de2,1 mil milhões de pessoas tinham excesso de peso enquanto 850 milhões estavam subnutridas. Em 2030 espera-se que metade da humanidade venha a sofrer de excesso de peso. Enquanto, em 2010, a fome e a subnutrição foram responsáveis em conjunto pela morte de um milhão de pessoas, a obesidade matou três milhões.” (pág. 16)

“John Watson, uma sumidade da psicologia infantil nos anos 20 do século passado, aconselhava vivamente os pais a «nunca abraçar ou beijar os filhos, nunca lhes dar colo. Se tiver de ser, dê-lhe um beijo de boas-noites na testa. De manhã, dê-lhes um aperto de mão.». A popular revista Infant Care afirmava que o segredo para criar os filhos era manter a disciplina e prover todas as necessidades materiais das crianças seguindo uma rotina diária inflexível. Um artigo de 1929 dizia aos pais o que fazer quando a criança chorava por comida antes da hora prevista: «Não a segure nem a embale para que ela pare de chorar, e dê-lhe a comida apenas quando for hora disso. Chorar não faz mal ao bebés, mesmo as mais pequenos»”. (pág. 105)

“Uma moderna família judaica que festeje um feriado religioso com um churrasco no quintal está muito mais perto do espírito dos tempos bíblicos do que uma família ortodoxa que passe o tempo a estudar as escrituras numa sinagoga.” (pág. 108)

“Ninguém se chateia com a teoria da relatividade porque esta não põe em causa nenhuma das nossas estimadas crenças. A maioria das pessoas não se preocupa minimamente em saber se o tempo e o espaço são relativos ou absolutos. Se há alguém que pensa que é possível dobrar tempo e espaço, então, faça favor. Força nisso. O que é que isso me interessa? Com Darwin é diferentre porque ele nor roubou as nossas almas. Quem compreende realmente a teoria da evolução, percebe que a alma não existe. Isso assusta não apenas os critãos e os muçulmanos devotos, mas também muitas pessoas sem qualquer crença religiosa em particular mas que, ainda assim, querem acreditar que casa swer humano tem uma essência individual eterna que não sofre alterações ao longo da vida e que permanece intacta mesmo após a morte”. (pág. 122)

“O mesmo acontece quando o sistema de educação decide que os exames de acesso são a melhor forma de avaliar os estudantes. O sistema tem a autoridade suficiente para influenciar os critérios de admissão das universidades e ainda os critérios de contratação quer na função pública quer no sector privado. Assim sendo, os estudantes envidam todos os esforços na obtenção de boas notas. Os cargos mais desejados são ocupados por pessoas que tiveram resultados elevados, que como é natural apoiam o sistema que as levou até ao lugar onde estão. O facto do sistema educativo controlar os exames acrescenta-lhe poder e aumenta a sua influência junto das universidades, dos gabinetes governamentais e do mercado de trabalho. Se alguém contestar e disser: «o diploma de licenciatura é apenas um bocado de papel» e agir de acordo com isso, é muito provável que não vá muito longe” (pág. 193)

“Prova disso é que, ainda hoje, quando o presidente dos EUA faz o juramento na tomada de posse, põe a mão sobre a Bíblia. De uma forma idêntica, em muitos países de todo o mundo, incluindo os EUA e o Reino Unido, as testemunhas em tribunal põem a mão sobre a Bíblia e juram dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Não deixa de ser irónico que jurem dizer a verdade com a mão sobre um livro recheado de tantas ficções, mitos e erros” (pág. 196)

Aconselho vivamente.