Chinesices

O Expresso de ontem, publicava, na primeira página, uma notícia perturbadora: nos últimos cinco anos, não existe um único registo de óbito de um cidadão chinês, em Portugal!

Oficialmente, vivem em Portugal 9 426 cidadãos chineses, mas pensa-se que esse número pode ascender a cerca de 15 mil.

E, no entanto, nos últimos cinco anos, nenhum deles morreu.

Os chineses não adoecem, não são atropelados, não caem das escadas abaixo e partem o pescoço, não se suicidam, não são assassinados?

É verdade que, no ano passado, passei duas semanas na China, visitei várias cidades e todos os chineses que vi, estavam vivos – mas, bolas!, em quase dez mil emigrantes legais, não houve um só chinês que tenha morrido, caramba?

E, mesmo que acreditássemos que os emigrantes legais, estando menos submetidos ao stress, sejam mais saudáveis – que dizer dos cerca de cinco mil emigrantes ilegais?

Não houve um único que tivesse tido um enfarto, uma trombose, um cancro?

Convenhamos: era natural que um ou outro chinês tivesse batido a bota, ido desta para melhor, se passasse para o outro lado – enfim, falecesse!

A ser verdade esta notícia, quero, imediatamente, naturalizar-me chinês!

Dois números 12

José Sócrates foi visitar a selecção de futebol a Évora e ofereceram-lhe a camisola nº 12.

A selecção foi recebida no Palácio de Belém, pelo Presidente e ofereceu, a Cavaco, a camisola nº 12.

Quer dizer, portanto, que temos dois números 12 a jogar por Portugal.

Estamos tramados!

Aliás, já estávamos tramados.

Penso que não me engano, se disser que a carreira desta selecção, no Mundial, vai ser uma desgraça.

Não digo que não ganhe um ou outro joguito. Até pode ser que passe í  fase seguinte, apesar de ter que defrontar selecções tão poderosas como Angola, Irão ou México.

No entanto, considerando o tempo gasto nos telejornais com notícias sobre a selecção; considerando as conferências de imprensa transmitidas em directo (!), todos os dias, durante as quais, dois jogadores titubeavam perante dezenas de repórteres, dizendo aquelas coisas fantásticas, como “daremos o nosso melhor”, “vamos trabalhar em equipa”, etc; considerando os inúmeros hinos, oficiais e não oficiais, que se inventaram e que passam, constantemente, na rádio e na televisão; considerando toda esta histeria dos órgãos de comunicação social, a selecção só tem uma saída – ser campeã do Mundo.

E isso, meus amigos, não vai conseguir.

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Dia do Cão

O PSD apresentou um projecto í  Assembleia da República, para que seja instituído um Dia Nacional do Cão.

Vou repetir: o PSD apresentou um projecto í  Assembleia da República, para que seja instituído um Dia Nacional do Cão.

Não estou a brincar; a notícia vem nos jornais de ontem.

O projecto diz, nos seus fundamentos, que é “na qualidade de companheiro que o cão tem a sua mais apreciada e difundida característica”.

Marques Guedes, líder parlamentar do PSD, assina o projecto, que também sugere que seja instituído “no calendário oficial, um dia dedicado í  sensibilização de todos para o importante papel que a relação com os cães tem na nossa vida, dia que pode ser particularmente interessante para uma importante pedagogia de valores de cidadania a incutir nas nossas crianças e nos nossos jovens, razão pela qual parece adequado fazer aproximar esta data do 1 de Junho, Dia da Criança.”

Isto, sim, é uma Oposição responsável!

Anda para aí o Governo preocupado com os professores, os farmacêuticos, as maternidades que vão fechar, as escolas que não têm alunos, os cortes na função pública e todas essas trivialidades.

O PSD mostra-lhe o caminho: há coisas mais importantes! Há vida, para além do défice! O que importa o aumento do preço do petróleo quando nós, em Portugal, ainda nem sequer temos um Dia do Cão?

Apesar da bondade da proposta, no entanto, gostaria de levantar algumas perplexidades:

Primeira: Dia do Cão, está bem; mas… e Dia do Gato? Dia do Cágado? Dia do Periquito? Porquê esta discriminação entre animais?

Segunda: Dia do Cão, está bem. Mas, que cão? O doberman, que pode comer criancinhas, ou o irritante caniche, o lambéconas, que só apetece pontapeá-lo, porque não pára de ladrar? O maluco do cocker spaniel, que lambe o pessoal todo, ou o feroz lobo de Alsácia, capaz de morder em todos os distribuidores de publicidade?

Além disso, também a escolha do Dia do Cão não me parece nada pacífica.

Se escolhermos o dia 1 de Junho, teremos o Dia da Criança e do Cão, o que não me parece correcto.

Acresce que, sendo o cão o melhor amigo do homem (ou do PSD, neste caso), o seu dia deveria ser feriado, para que todos os militantes pudesse ter o dia livre para poderem ir passear o cãozinho, sem faltarem aos seus compromissos políticos.

No entanto, como já temos feriados a mais, talvez fosse boa ideia juntar o Dia do Cão a um feriado já existente.

Por exemplo: dia 10 de Junho – ficaria o Dia de Portugal, de Camões, do Cão e das Comunidades.

Por exemplo: dia 15 de Junho – ficaria o Dia de Corpo de Deus e do Cão.

Por exemplo: dia 1 de Dezembro – ficaria Dia da Restauração e do Cão.

Pensando melhor: o dia 1 de Dezembro seria o ideal.

Bastaria tirar a cedilha e ficava Dia da Restauracão!

Uma história portuguesa

Em 1994, chegou a Portugal uma esquadra de aviões F16, comprados em segunda mão aos EUA. Nessa altura, o primeiro-ministro era Cavaco Silva e o ministro da Defesa, era Fernando Nogueira.

Em 1999, chegou a Portugal uma segunda esquadra de F16, também comprada aos EUA. Então, o primeiro-ministro era António Guterres e o ministro da Defesa, era Veigão Simão.

Esta segunda esquadra, que custou 50 milhões de euros, ficou na base de Monte Real, empacotada por blocos de peças, aguardando por uma modernização, que só começou a ser feita há dois anos, pelas OGMA. O atraso, deveu-se a falta de verba.

Portugal faz parte da NATO.

Segundo as regras da NATO, cada país membro pode ter uma esquadra de, no mínimo, 12 aviões.

Da primeira esquadra, estão a voar 18 aviões.

Da segunda esquadra, quatro já estão modernizados e estão em voos de teste.

Agora, o Governo de Sócrates, decidiu vender doze F16.

Chegou-se í  conclusão de que não fazem falta.

Mas, como o contrato com as OGMA não pode ser quebrado, antes da venda, todos os restantes aviões da segunda esquadra terão que ser modernizados, antes de serem vendidos.

E, mesmo depois de modernizados, os EUA terão que concordar com essa venda.

Em resumo: Portugal comprou, aos EUA, aviões que precisavam de ser modernizados e que não eram necessários e, agora, só os pode vender, depois de os modernizar, e se os EUA deixarem.

Vocês não acham que, aqui, há qualquer coisa de muito errado?

“Cães Pretos”, de Ian McEwan

caespretos.jpgPublicado em 1992, “Black Dogs” foi, para mim, um livro difícil de seguir. O livro conta a história de um casal de jovens comunistas, Bernard e June que, após a Segunda Guerra, seguem caminhos diferentes. Um acontecimento traumatizante, precisamente com dois cães pretos, faz com June se afaste do comunismo e se entregue í  religião e a misticismo. Quanto a Bernard, apesar de, também ele, se afastar do comunismo, ainda antes dos anos 60, continua a ser um homem de esquerda. A história é-nos narrada pelo genro de ambos, Jeremy, que ficou órfão muito novo e que vê, nos sogros, uns segundos pais.

A acção do livro é contemporânea í  queda do muro de Berlim, mas o narrador recua até aos anos 40, para nos contar o tal episódio dos cães e essa é, na minha opinião, a parte mas interessante do livro que, talvez, resultasse melhor na forma de uma “short story“. Mas quem sou eu?…

Eufemismos futebolísticos

No regresso de Rui Costa ao Benfica, o presidente Vieira disse qualquer coisa como isto: “o Rui disse-me, diga-me onde eu assino e, depois, o presidente põe lá a verba que eu vou auferir!”

Como George Carlin faria notar, estamos perante mais um eufemismo. E, quando se usam eufemismos, é porque nos estão a enganar.

Então, eu ganho um ordenado, mas o Rui Costa aufere uma verba.

Está bem. Compreendi-te.

Bom, e agora que já temos um nº 10 para orientar o jogo da equipa, só nos falta um avançado como deve ser, para concretizar (como sabem, no futebol, também já não se metem golos – concretizam-se golos).

Para quando o regresso do Eusébio?

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“O Código Da Vinci”, de Ron Howard

davincicode.jpgNão percebo tanto alarido. “O Código da Vinci”, de Dan Brown é apenas um livro de aeroporto, como diz Pulido Valente e o filme, realizado por Ron Howard, é apenas um filme.

No entanto, os críticos disparam em todos os sentidos. Que o livro é um conjunto de aldrabices bem urdidas e que a trama está cheia de erros. E depois? Qual foi o objectivo de Dan Brown, ao escrever este livro? Revelar, ao mundo, que, afinal, Jesus Cristo teve vida sexual, que fornicou com Madalena e que ela teve o seu filho – ou “apenas” ganhar uns milhões de dólares, escrevendo um best-seller? E, como best-seller, como livro de aeroporto, que se devora numa viagem de avião, está, ou não está, muito bem esgalhado?

Mas se, no que respeita ao livro, a Igreja católica e os guardiões da Verdade cristã se mantiveram, mais ou menos, indiferentes, no que respeita ao filme, as coisas mudaram de figura – e de que maneira!

Não admira: há muitos católicos analfabetos ou que nunca leram um livro na vida (nem a Bíblia!). Mas a imagem tem mais poder.

Até o Papa Ratzinger se sentiu na obrigação de dizer isto: “(actualmente) também há pessoas que querem falsificar a palavra de Cristo e retirar a verdade ao Evangelho”. Será que o livro e o filme são assim tão importantes, que mereçam que o Papa se incomode e que chame a atenção dos fiéis para essa grande “conspiração” que nos quer fazer crer que, afinal, Cristo não passava de um homem como os outros? Será que, ao fim e ao cabo, a Igreja, nesta história toda, tem segredos a esconder?

Nos EUA, organizaram-se manifestações, em frente aos cinemas, para protestar contra o filme. Nos jornais, pregadores evangélicos pagaram páginas inteiras de anúncios contra o filme. Vi um destes anúncios, no USA Today, da responsabilidade da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property, que incitava: “reject this film and show your love for Our Lord Jesus Christ, by joining me in one of 1000 peaceful prayer vigils before theaters across América”.

Tanto barulho para nada! O filme até é fraquinho, não conseguindo transmitir-nos o suspense que o livro nos provoca. Tom Hanks pode ser um bom guarda prisional, um bom comandante da Apollo 13, ou até um bom totó, preso num aeroporto porque o seu país deixou de existir – mas não é um Professor Langdon convincente. Do mesmo modo, Audrey Tautou não consegue deixar de ser uma Amélie parvinha, que aterrou neste filme por engano. Depois, Howard quis enfiar o Rossio na Betesga, isto é, não adaptou o livro, tentando enfiar todos os pormenores do livro, em duas horas e meia de filme.

Não conseguiu.

A turbulência nos aviões é de propósito!

Alguém acredita que a turbulência, nos aviões comerciais, é inevitável?

Estão a ver um Boeing 747, aquela bisarma com 70 metros de comprimento e 64 de envergadura, com capacidade para mais de 400 passageiros? São milhares de toneladas. E, no entanto, voam. Aceleram durante uns minutos, na pista, e elevam-se nos ares, como se não pesassem senão umas gramas. De repente, estão acima das nuvens e cruzam os céus, com elegância.

Ora, este facto é, ou não é, uma espécie de milagre da engenharia aeronáutica?

Claro que é.

Agora, não me venham dizer que os engenheiros que conseguem que um monstro destes voe, não são capazes de evitar a turbulência! E não me venham dizer isso, porque eu não acredito! Claro que conseguem acabar com a turbulência!

Mas não querem!

Os engenheiros aeronáuticos não acabam com a turbulência para que nós, os simples viajantes, continuemos a ter medo de voar ou, pelo menos, continuemos a ter algum respeito por isso.

Se acabasse a turbulência, nós íamos para um voo como se fí´ssemos apanhar o cacilheiro para o Terreiro do Paço e acabava-se toda aquela história de ter que estar duas horas antes no aeroporto, a detecção de metais e todas as outras tretas da segurança. Já se imaginaram a ter que ir para a estação da Rotunda, duas horas antes de apanharem o Metro para o Socorro?

Claro que não!

Esta história da turbulência não passa de uma invenção dos engenheiros aeronáuticos e já é tempo de eles serem desmascarados!

Abaixo os urinóis!

Os urinóis masculinos são um caso sério de discriminação sexista.

Por que razão as mulheres têm direito a urinar em casinhas fechadas, e os homens são obrigados a mijar uns ao lado dos outros, apenas com uma pequena faixa separadora, que nem sempre existe?

Não percebo por que é que uma mulher se pode isolar num cubículo, baixar as cuequinhas e fazer chi-chi í  vontade, podendo soltar, até, um ou outro traque, em completa privacidade, enquanto o homem tem que partilhar a visão da sua pila com os parceiros dos lados e, se quiser soltar um gás, é logo descoberto!

Não vejo por que os homens e as mulheres devem ser tratados de modo diferente, no que diz respeito í s casas de banho públicas.

Já mijei em urinóis públicos nos cinco continentes e irrita-me estar ali, de pé, de pila na mão, e saber que posso estar a ser escrutinado pelo fulano do lado e a sentir, nas costas, o olhar ansioso do prostático que se segue e que já mal aguenta a urina. Um tipo inibe-se e acaba por não mijar em condições!

E depois, há aqueles tipos que ficam longas horas agarrados í  pila, puxam-na, abanam-na, espremem-na, torcem-na, afagam-na, fazem pequenas flexões com as pernas, joelhos para fora, como se estivessem a libertar os testículos de algum aperto. Um tipo entra nos lavabos (nos lavabos?! Que raio de nome para um sítio onde, a única coisa que se lava, quando se lava, são as mãos!), e aquele fulano já lá está. Logo por azar, não há mais nenhum urinol livre e, como estamos aflitos, não temos outro remédio senão urinar ao lado do tarado. E percebemos que ele está a olhar para o nosso instrumento, por cima da tal faixa separadora, está a avaliá-lo, a medi-lo, a classificá-lo. Quem consegue mijar nestas condições?

Não existe nenhuma razão científica para que as mulheres possam urinar em privado e os homens tenham que participar numa espécie de piss party, com todos a mijar em comunidade.

O que impede os fabricantes de urinóis de fazerem um cubículo para cada urinol?

Ou, por que não sermos mais radicais? Por que não acabar com os urinóis? Por que não fazer casas de banho iguais, para ambos os sexos? Por acaso, alguém tem um urinol em casa?

A sanita serve perfeitamente!

Vamos lá mudar esta coisa!