“Os Lusíadas”, de Zé Paulo

—O Zé Paulo é meu irmão.

Dito isto, quero garantir que, ao dizer que este cd duplo do Zé Paulo é muito interessante, não estou a fazer nenhum favor fraternal.

Há muitos anos que o Zé Paulo faz música “caseira”. É tudo da sua autoria ou, como ele costuma dizer “feito por mim, do princípio ao fim”. É ele que compõe, arranja, mistura, toca todos os instrumentos, grava em cd, faz as capas e distribui pela família e amigos.

Mas este “Os Lusíadas” merecia uma plateia mais ampla. São dez faixas que percorrem os 10 cantos de Os Lusíadas. Por vezes, a música faz-nos lembrar o Jean Michel Jarre, nos seus tempos bons; outras vezes, lembramo-nos do Vangelis ou da música para filmes de John Williams.

Quem estiver interessado em conhecer este trabalho, contacte zepaulo@netcabo.pt.

Não te cales, Manuela!

—Já percebi por que razão Manuela Ferreira Leite esteve tanto tempo calada.

Manuela estava apenas a tomar balanço!

E agora, que começou a falar, é bom que não se cale, porque a senhora, apesar daquele ar sério, é de uma comicidade formidável.

Qual Buster Keaton, que fazia os maiores disparates sempre com aquele fácies fechado, Manuela diz, por exemplo, que a decisão de aumentar o salário minimo em 24 euros, “roça a irresponsabilidade” (e a conotação do verbo “roçar” é sempre curiosa…) – e diz, agora, que a construção das grandes obras públicas (aeroporto e TGV) contribuem para resolver os problemas do desemprego… de Cabo Verde e da Ucrânia!

í“ Manuela, a senhora é impagável!

Que boa piada!

Embora se tenha esquecido dos brasileiros. Os nossos irmãos brasileiros imigrados, apesar de preferirem a restauração, o turismo ou outras ocupações alternativas, também trabalham nas obras. Bem como os guineenses, alguns quenianos e mesmo um ou outro marroquino.

Por favor, Manuela – não se cale!

Desde os tempos áureos do Sr. Lopes que não me divertia tanto com a leitura de entrevistas políticas.

“There Will Be Blood”, de PT Anderson

—Um filmaço (quase duas horas e meia) para proporcionar um óscar a Daniel Day-Lewis, que faz o papel de Daniel Plainview, um prospector de petróleo, na Califórnia do princípio do século 20.

Plainview não olha a meios para conseguir os seus intentos, chegando a utilizar o seu falso filho como chamariz para obter melhor preços nas terras que vai comprando.

O centro do filme acaba por ser o duelo entre Plainview e Eli Sunday (Paul Dano), que se julga representante de Deus na Terra, fundando uma igreja evangélica, í  qual Plainview promete doar 5 mil dólares, em troca de poder perfurar o território. No entanto, nunca vai cumprir essa promessa e a relação entre os dois homens degrada-se, ao longo dos anos.

Day-Lewis faz um papelão, muito distante das suas anteriores prestações, é mau como as cobras, obstinado, violento e, como todos os tipos que se dedicam a vida inteira a uma só coisa, um pouco louco.

E, no fim, haverá sangue, claro…

“Beatles – A História Secreta”, de Geoffrey Giuliano

—Na contracapa deste livro, lê-se: “a leitura deste livro mudará para sempre a maneira como vemos e ouvimos os Beatles”.

Não muda coisa nenhuma!

O livro é uma aglomerado de pequenos pormenores sem importância nenhuma, descrições de crises de mau humor de John Lennon, como McCartney se entregava í s drogas, como Ringo era um tipo porreiro, embora alcoólico e como Harrison era o mais simpático deles todos, muito Hare Krishna, etc e tal.

Não há história secreta nenhuma – apenas episódios soltos que talvez não tenham sido conhecidos porque, no tempo dos Beatles (1962-1970), os meios de comunicação social não eram tão agressivos e intrusivos como são hoje. Mesmo assim, os Beatles foram obrigados a viver uma vida inteira praticamente como reclusos, sobretudo durante aqueles oito anos de maior exposição.

Enfim, acabei por ler o livro todo por inércia, mas confesso que perdi o meu tempo…

Tenham medo, tenham muito medo!

O general Loureiro dos Santos disse que os militares estão descontentes com a política do Governo em relação í s Forças Armadas e que esse descontentamento poderia “conduzir a actos de desespero”, atitudes “irreflectidas”, por parte de “militares mais jovens”.

Ontem, dezenas de oficiais juntaram-se para um jantar em que se debateu, í  porta fechada, “o mal-estar” que se vive nas Forças Armadas.

O general Silvestre dos Santos disse que estes problemas “existem há muito tempo, mas que se agravaram em 2005, quando foram tomadas medidas í  revelia dos militares”, sobretudo no que diz respeito í  assistência na doença. Acrescentou que é urgente “os órgãos de soberania tomarem decisões antes que a situação se agrave”. Disse mais: a situação “poderá não chegar í s consequências do 25 de Abril, mas poderá agudizar-se”.

E os militares farão o quê?!

Dão um tiro no Sócrates? Invadem a Assembleia da República? Fecham os quartéis e vão para casa? Declaram guerra í  Mauritânia? Pintam a cara de preto? Rasgam os uniformes? Fazem uma manifestação todos nus?

Tudo isto seriam atitudes irreflectidas, como disse Loureiro dos Santos.

Estamos, portanto, no campo das ameaças.

É uma boa maneira de tratar dos problemas.

Os médicos, para obterem melhores salários, poderão ameaçar receitar os antibióticos errados.

Os professores, em vez de andarem aos gritos na Avenida da Liberdade, podem combinar não dar mais que 8 valores a todos os alunos, em todas as disciplinas.

Os trabalhadores que recolhem o lixo, podem passar a espalhá-lo pelas ruas.

Os motoristas dos transportes públicos podem começar a andar sempre em marcha atrás…

Independentemente de terem, ou não, razão nas suas reivindicações (a história da assistência na doença também daria pano para mangas, nomeadamente, a utilização dos cartões da ADME, ADMA, etc por toda a família, vizinhos e amigos…) – penso que os militares não têm o direito de fazerem ameaças deste género para tentarem vergar o poder político.

Ou então, eu estou enganado e vamos mas é fazer mais um golpe de Estado.

Estou disponível até í  próxima quarta-feira.

Depois, acabam-se as férias e teremos que combinar outra altura…

“The Bucket List”, de Rob Reiner

—Aqui está um bom exemplo de que um realizador competente e dois actores consagrados não são suficientes para fazer um bom filme.

“Nunca é Tarde Demais” é pura perda de tempo. Nicholson faz de Nicholson, como sempre e Freeman faz de Freeman, como habitualmente.

A história também não tem nada de especial: dois tipos com cancros terminais decidem fazer coisas que nunca tinham feito antes e, porque um deles é rico como o caraças, vão ver as pirâmides, passam por Hong Kong, pela Grande Muralha da China. fazem um salto de pára-quedas e conduzem carros de corrida numa pista.

Bocejo.

Leite e derivados

—Na concertação social (“concertação” com “cê”, porque vem de “concerto”; com “esse”, não, porque já não há “conserto”…), patrões, trabalhadores e governo chegaram a acordo: em 2011, o salário mínimo será de 500 euros.

Até lá, vai subindo devagarinho. Para o ano, será de 450 euros.

Manuela Ferreira Leite, distraída ou desconhecendo a decisão da concertação social, disse que Sócrates, ao fazer este aumento, “roça a irresponsabilidade”.

í“ Dra. Leite: é um aumentozinho de 24 euros mensais!

No que respeita ao leite, propriamente dito, e escolhendo o magro, tendo em atenção a doutora, 24 euros dá para comprar mais 27 litros de leite Matinal ultrapasteurizado por mês, partindo do princípio que cada litro custa 88 cêntimos. Quer dizer que o trabalhador, com o novo salário mínimo nacional, nem sequer vai poder comprar mais um litro de leite por dia, todos os dias do mês!

Quanto aos derivados: 24 euros dão para mais 40 iogurtes Longa Vida, a 2.19 cada pack de 4; ou mais 14 pacotes de 250 gramas de manteiga UCAL, a 1.69 cada um; ou 3 queijos e meio, tipo flamengo, da Agros, a 6.49 cada um.

A senhora acha que isto roça a irresponsabilidade?

“The Last King of Scotland”, de Kevin MacDonald

—Forest Whitaker ganhou o óscar de melhor actor, em 2007, pelo seu desempenho neste filme, encarnando um Idi Amin Dada muito convincente. Enfim, nunca vi o Idi Amin ao vivo e, nos anos 70, os meios de comunicação não eram tão intrusivos como hoje em dia; portanto, é difícil dizer se Amin tinha o humor assim tão lábil, ou se ele não seria, até, muito mais sinistro.

Whitaker faz Amin parecer uma criança grande que, de vez em quando, perde as estribeiras e não hesita em mandar matar e torturar.

Nos anos 70, a fama de louco de Idi Amin só era ultrapassada pela de Bokassa, o presidente da República Centro-Africana que, depois de chegar ao poder, decidiu coroar-se Imperador…

Neste filme, a história é-nos contada pelos olhos do Dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy), um jovem médico que decide ir trabalhar para o Uganda, porque sim, e acaba por se tornar o protegido de Amin, exactamente por ser escocês. O ditador tinha uma fixação pela Escócia, desde que serviu, como ajudante de cozinha, no exército britânico (o Uganda pertence í  Commonwealth).

As “excentricidades” de Idi Amin ficaram célebres; algumas delas podem ser consultadas aqui.

Não te posso ver nem pintado

—É este o título genérico de “um novo percurso pela Colecção Berardo”, um percurso que privilegia a “figuração na pintura destes últimos cinquenta anos”.

Podia dizer qualquer coisa deste género: como não sou especialista em arte moderna e contemporânea (nem em arte nenhuma, diga-se de passagem), não posso comentar a exposição porque posso a estar a fazer juízos errados.

Podia dizer e já disse, mas quero crer que a Exposição da Colecção Berardo não é só para especialistas.

E como não especialista, tenho que ser sincero e dizer que a coisa não me entusiasma.

Destaco o quadro do Andy Warohl (“Judy Garland”), duas obras de um tipo chamado Damien Deroubaix e uma instalação de Jakub Nepras, chamada “Babylon Plant” e que consiste na sobreposição de três vídeos.

De resto, confesso que passei pelos corredores e pelas diversas obras sem grande interesse. Já nem me choca a obra que inclui bosta de vaca envernizada.

Ainda dei uma olhadela í  exposição “Espaços Sensíveis”, da Colecção de Arte Contemporânea da Fundação “La Caixa”, mas foi só para me irritar um pouco mais.

Numa sala, passa um filme a preto e branco, aos soluços, interrompido por clarões de segundo a segundo e, antes de entrarmos na sala, um cartaz avisa que os epilépticos não devem entrar, ficando, assim, privados de contemplar aquela magnífica obra de arte. Sortudos!

Noutra sala, uma série de cubos pretos, de diversos tamanhos, banhados por uma luz amarela. Noutra ainda, um linóleo geométrico no chão e uma figura de bronze, sentada num muro.

Dispenso.

“Lions For Lambs”, de Robert Redford

—Redford realizou este filme que põe e causa a actual política externa norte-americana, nomeadamente a sua “guerra contra o terror”.

O filme desenvolve-se em três cenários.

Num deles, um Tom Cruise clássico representa o papel de um ambicioso senador republicano, com vontade de concorrer í  Casa Branca e que é responsável por uma nova estratégia na luta contra os talibãs, no Afeganistão. Este senador resolve conceder uma entrevista a uma jornalista experiente (Meryl Streep), dando-lhe a exclusividade da notícia dessa nova estratégia. Ao ouvir a descrição da nova estratégia de guerra, a jornalista lembra-se que ela já foi usada no Vietnam, com resultados desastrosos.

No decorrer da entrevista, a tensão entre o senador e a jornalista, é evidente: ele, absolutamente a favor a guerra contra o “Eixo do Mal”, ela, de pé atrás, mas com dificuldade em marcar a sua posição porque, após o 11 de Setembro, apoiou as posições agressivas de Washington.

O segundo cenário é o de uma Universidade: o professor, interpretado por Robert Redford, tenta convencer um aluno, supostamente brilhante, a voltar í s aulas, porque o país precisa dos mais inteligentes e dos mais capazes – e são esses que, na maioria das vezes, de divorciam da política.

O terceiro cenário decorre nas montanhas do Afeganistão, onde dois militares voluntários, ex-alunos do professor, estão a pí´r em prática a nova estratégia do senador, com resultados desastrosos.

Um filme denso, com uma mensagem política evidente, com excelentes interpretações, mas poucas hipóteses de ser visto por muita gente, devido í  densidade dos diálogos.