Quem quer cheirar os pastorinhos?

Será inaugurado amanhã, “O Milagre de Fátima” – um espaço que recria as aparições da virgem aos três pastorinhos, recorrendo a hologramas, sons e – pasme-se! – odores!…

Isso mesmo, odores!

Já acho bizarro haver pessoas que queiram ver e ouvir a recriação das alucinações dos pastorinhos.

Mas estranho mesmo é pagar um bilhete para cheirar as aparições.

Uma vez que a cena envolveu três pastores, será que se sente o cheiro das caganitas das ovelhas?

Acrescente-se que “O Milagre de Fátima” custou um milhão de euros!

Anda a malta a dar sacos de arroz e bolachas ao Banco Alimentar e os padrecas a esbanjar um milhão de euros com disneylandias marianas!

Frases matadoras

Há anos que não vejo a missa dominical do Marcelo Rebelo de Sousa e nunca vi os comentários de Marques Mendes.

Mas é quase impossível fugir í s palavras destes dois comentadores, já que as suas sentenças são reproduzidas na rádio e nos jornais, como se fossem palavras divinas.

Este fim de semana, no entanto, tanto Marcelo como Mendes proferiram frases assassinas, a propósito do caso do alegado super-espião, Silva Carvalho.

Disse Marcelo:

Miguel Relvas tornou-se uma “canga que pesa sobre os ombros do priemrio-ministro”.

Ora, sabendo que canga é uma peça de madeira que se coloca sobre o cachaço dos bois, Marcelo Rebelo de Sousa chamou boi a Passos Coelho.

Disse Marques Mendes:

“Gostava que nenhum membro do Governo do meu país tivesse relações com o doutor Silva Carvalho”.

Estranho desejo, Mendes…

Quer isso dizer que há algum ou alguns membros do Governo que têm a intenção de ir para a cama com o espião?

Em conclusão: temos um Governo de Mata Haris chefiado por um boi.

‘Twas 45 years ago today…

… Sargent Pepper taught the band to play

É muito difícil transmitir aos jovens de hoje, o assombro que era ouvir este álbum nos idos de 60 do século passado.

O primeiro álbum conceptual de rock psicadélico saiu no dia 1 de Junho de 1967, tinha eu 14 anos. Eu era ainda uma criança e esse ainda não era o Dia Mundial da dita.

Os Beatles não eram muito apreciados na rádio portuguesa e era raro ouvir um tema deles nas emissões do Armando Marques Ferreira ou do Henrique Mendes, em programas chamados Clube das Donas de Casa e similares.

No Portugal triste e cinzento de Salazar, até os Beatles eram quase clandestinos.

Eu tive a sorte de ter um tio que era jornalista desportivo, o Francisco Couto e Santos. Trabalhava no Mundo Desportivo e acompanhava o Benfica de Eusébio, Coluna e Companhia, nas suas aventuras europeias. De uma dessas viagens trouxe-me um gira-discos portátil e dois EP dos Beatles (“Any Time at All” e “A Hard Days Night“).

Aquele pequeno gira-discos cinzento, foi um sucesso na Avenida Gomes Pereira, onde eu vivi até aos 13 anos. Eu e os meus amigos Vargas e Vitor, ouvimos aqueles dois EP até as espiras ficarem gastas.

Só aos 15 anos comprei o meu primeiro disco dos Beatles, o White Album, que saiu em 1968. Poupei dinheiro andando í  pendura, nos eléctricos, entre o Arco do Cego e S. Sebastião (era uma zona: poupavam-se tostões!). Só mais tarde comprei o Sgt. Peppers.

—Não é o meu disco preferido; gosto mais quer do White Album, quer do Abbey Road. Mas temos que concordar que o Sgt. Peppers veio elevar muito a fasquia do pop-rock.

Lennon, McCartney, Harrison e Ringo criaram um produto homogéneo, com uma capa que ficou na história e com um conjunto de canções mais ou menos ligadas entre si, das quais tenho que destacar A Day in the Life.

Praticamente todas as canções têm algo de inovador, desde o uso de fita gravada correndo ao contrário, até í  incorporação de vozes de animais, sons distorcidos,etc.

Dificilmente se lançaria, hoje em dia, um disco com tantos hits potenciais. Juntar, no mesmo disco, Lucy in the Sky with Diamonds (que a BBC baniu por supostamente ser um hino ao LSD), Getting Better, Lovely Rita, With a Little Help from my Friends, She’s Leaving Home, When I’m Sixty Four, Fixing a Hole, Within You Withou You, Good Morning Good Morning, Being for The Benefit of Mr. Kite, Sgt. Peppers e terminar, em apoteose, com A Day in the Life, com aquele crescendo de orquestra, era, de facto, esbanjar, esbanjar…

E ainda sobraram Penny Lane e Strawberry Fields Forever

Em 1967 saiu, também, outro concept album muito importante, hoje quase esquecido. Falo de Days of Future Passed, dos Moody Blues, percursor do rock sinfónico ou rock progressivo. Qualquer dia falarei sobre ele.

Já passaram 45 anos!

Xiça! Estou a ficar velho!

 

O caso fruta (a propósito das PPP)

Hoje ouvi notícias tenebrosas sobre as parcerias público-privadas, que responsabilizam o ex-secretário de Estado, Paulo Campos, entre outros, de endividar os portugueses até í  terceira geração e ouvi o próprio a dizer que é tudo mentira.

Ouvir uma coisa e o seu contrário e ambas as versões com igual veemência.

Lembrei-me de uma pequena história que escrevi há 38 anos e que saiu no jornal República do dia 11 de Maio de 1974. Chamava-se “O Caso Fruta – mais uma lenda saltiburiana” e rezava assim:

Como já tive ocasião de dizer, Saltibúria era assim. Quando era necessário o apoio de todos – todos apoiavam.

Conta-se que Rajavick, célebre chefe saltiburiense, convocou os seus colaboradores certo dia, ordenando-lhes que fossem, não só, devidamente fardados, como também munidos da atenção máxima.

Rajavick chegou depois da hora e de uma pasta extraiu uma roliça maçã, que exibiu ao nível do mento, pronunciando esta frase mágica:

– Isto é uma laranja!

Não era, e os colaboradores deixaram escapar um leve rumor.

Rajavick repetiu, convicto:

– Isto é uma laranja!

Continuava a não ser e o rumor aumentou.

– Precisamos salvar Saltibúria da ambição dos nossos inimigos! – exclamou Rajavick – Isto é uma laranja!

Os colaboradores rugiram em uníssono:

– Isso é uma laranja!

Depois, foi só repartir a maçã e comer a laranja…

Quem quer dar tiros com a Lusa?

Fiquei hoje a saber que a metralhadora portuguesa foi um fracasso nos Estados Unidos.

Antes de mais, quem diria que existia uma metralhadora portuguesa!?

—Concebida e desenvolvida pelas Indústrias Nacionais de Defesa de Portugal (INDEP), a criação da metralhadora portuguesa terá custado 10 milhões de euros desde 1983 e, face ao seu fracasso comercial, acabou por ser comprada por um grupo de empresários norte-americanos por 40 mil euros! (onde é que eu já vi isto?)

A dita metralhadora tem uma velocidade de disparo de 790 metros por segundo (seja lá o que isso for) e um alcance de 400 metros mas, em dois anos, apenas se venderam 2 mil unidades, nos EUA.

Qual a razão deste fracasso?

Segundo a notícia do DN, a principal razão é o nome da metralhadora: Lusa.

De facto, imaginem mercenários norte-americanos, atacando um grupo da Al Qaeda e um diz para o outro:

– Watch out! Pick up the Lusa and shoot them!

– Pick up what?!

– The Lusa, you motherfucker!

– What’s the hell is that shit?!

De facto, no meio de um tiroteio, o termo Lusa tira qualquer tusa!

Três tristes títulos

1. “Relvas e ex-espião trocaram nove sms e tiveram três encontros” – DN de hoje

– e não foram para a cama?

2. “Mordomo do Papa detido por posse ilegal de documentos secretos” – i de hoje

– o representante de Cristo na terra tem um mordomo?!

3. “ANA PODE RENDER 1,6 MIL MILHí•ES” – Sol de ontem

– xiça! deve ser muito boa na cama!

O adjunto do adjunto

Temos um secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares.

Chama-se Feliciano Barreiras Duarte.

E diz coisas.

Por exemplo: «deixámos de ter em conta que o que contava não era a sociedade de prazer, nós fomos viciados no consumo».

Que pensamento tão bonito!

E que fraseado elegante…”deixámos de ter em conta que o que contava”…

Melodioso…

E a clarividência?

“Nós fomos viciados no consumo”.

Lapidar.

Descobri esta pérola numa pequena local do DN de hoje, que acrescenta:

«Feliciano Barreiras Duarte considerou que os portugueses “deveriam pí´r a mão na consciência”, porque Portugal se desviou do rumo certo.»

O secretário adjunto do ministro adjunto mostra-nos como é: toca a pí´r a mão na consciência, seja lá o que isso for!

Bem haja, Feliciano!