“Kafka í  Beira-Mar”, de Haruki Murakami (2002)

Afinal, Murakami não me convenceu.

—Depois de ter lido a colectânea de contos A Rapariga Que Inventou Um Sonho, fiquei curioso em relação a este autor japonês tão na moda; os livros dele vendem-se aos milhões e fala-se dele para Prémio Nobel.

Mas…

Mas este Kafka í  Beira-Mar começou por me agarrar e acabou por me enfastiar.

O romance conta duas histórias principais: a de Kafka Tamura, um jovem de 15 anos que foge de casa, onde vive com o pai e a do velho Nakata que, quando jovem, foi vítima de um acidente provocado por um OVNI (?), tendo ficado um pouco tolo mas capaz de falar com gatos.

Kafka vai ter a uma localidade com uma biblioteca privada, dirigida por um trangénero, de nome Oshima e cuja proprietária, uma senhora de cerca de 50 anos, talvez seja a mãe desaparecida de Kafka. Nunca o saberemos e isso seria importante porque eles acabam por dar umas quecas, quanto mais não seja imaginárias (para já não falar numa outra personagem, que poderá ser a irmã mais velha de Kafka, e com quem ele também vai para a cama).

Entretanto, Nakata mata o pai de Kafka, um arquitecto pérfido que matava gatos para fazer flautas e que talvez se chamasse Jack Daniels, como o whisky… e parte em busca de uma Pedra de Entrada, com a ajuda de um camionista bronco. A certa altura, somos levados a pensar que Kafka é que matou o pai e foi para a cama com a irmã e, depois, com a mãe, o que seria o delírio de qualquer freudiano de pacotilha…

Depois de muitas peripécias, que envolvem um coronel Saunders que é igual ao velhote do Kentucky Fried Chicken, uma prostituta que cita filósofos e outras cenas, Nakata e o camionista vão ter í  cidade onde está Kafka, encontram-se com a suposta mãe do rapaz e, a seu pedido, queimam-lhe todas as recordações, após o que ela falece. Nakata morre também e o camionista fica com a incumbência de matar uma coisa horrível que sai de dentro do velhote e, ao mesmo tempo, começa a conseguir falar com gatos.

Entretanto, Kafka foi para a montanha, interna-se na floresta, encontra-se com dois soldados da 2ª Guerra Mundial que continuam parados no tempo e vai ter a uma pequena localidade onde o tempo não tem importância. É lá que reencontra aquela que talvez seja a sua mãe.

E chega.

Se quiserem saber mais, leiam o calhamaço.

Para mim, chega!

Confesso que fui avançando no livro com curiosidade. Murakami tem uma escrita fluida e fácil, que nos prende. No entanto, a partir de uma certa altura, a coisa começou a parecer-me demasiado disparatada.

Não sei se terei pachorra para ler outro livro de Murakami…

A solução

A cidade japonesa de Izumisano está falida e tem uma dívida de cem mil milhões de ienes.

Como não tem modo de pagar essa enormidade, a Câmara decidiu vender o nome da cidade. Assim, quem decidir avançar com a massa para pagar a dívida da cidade, pode dar o seu nome í  mesma cidade.

Ora aqui está uma excelente ideia!

Aproveitando a visita da Merkel, o Passos Coelho podia convencê-la a comprar o nome do nosso país, a troco da nossa dívida soberana.

Merkolândia era um bom nome.

E matávamos 2 coelhos com um cajadada: a dívida soberana e a refundação do Estado, com nome novo e tudo.

Aliás, matávamos 3 coelhos, porque o Passos não resistiria a isto…

Afinal é revisitar, não é refundar!

A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, não gosta do termo refundar.

Nisso estamos de acordo.

Diz a senhora que prefere a expressão “revisitar as funções sociais do Estado“.

E confirmou que os cortes na Justiça, Administração Interna e Defesa, serão de 500 milhões.

Parece, portanto, confirmar-se o que se diz por aí: o governo, com a prestimosa ajuda dos técnicos do FMI, prepara-se para cortar os tais 500 milhões e mais 3500 milhões na Saúde, na Segurança Social e na Educação.

Depois dessas reformas concluídas, a ministra Paula já não poderá “revisitar as funções sociais do Estado”, pela simples razão de que não restará nenhuma!

“Skyfall”, de Sam Mendes

Só em 1981 vi o meu primeiro 007. Foi o For Your Eyes Only, com o Roger Moore, no S. Jorge.

—Antes disso, achava que os filmes do 007 eram mais um produto da decadência da sociedade burguesa, que eram uma patetice pegada, inverosímeis e inúteis.

E não é que são mesmo?

E não é que, por serem isso mesmo, os filmes do 007 são bem divertidos?

Depois daquele meu primeiro 007, vi todos os que ficaram para trás, graças ao dvd, e fui ao cinema ver todos os que vieram depois.

Digamos que é assim uma espécie de tradição, como ir í  Feira do Livro – um tipo pode não comprar livro nenhum, mas acha piada ao passeio.

Gosto deste 007 interpretado pelo Daniel Craig. É duro í  brava, machão quanto baste, raramente sorri, fala pouco e é mais humano, no sentido de que até chora!

E também gostei deste Skyfall.

A clássica cena de abertura, que é sempre uma perseguição, é bem esgalhada, e a cena final é épica, uma espécie de Home Alone para adultos. O argumento é engenhoso, mas não muito complexo (ninguém quer pensar muito, quando vai ver um 007), e Javier Bardem faz um vilão excelente.

Vale a pena.

Refundidos e mal pagos

—Mas que raio de ideia te trespassou, Passos!

Queres refundar o quê?

Fundar, refundar, fundir, refundir, afundar, transfundir, tresandar, tresmalhar, transmitir, retransimitir, formar, reformar, reformular, reorganizar, enfaralhar, enfarinhar!

Se fosses mas era refundar a tua prima!

Que aconteceu?

Acordaste um dia de manhã e pensaste: tenho que refundar isto!

Foi um tique? Foi um traque? Foi um flic-flac?

Foi o Relvas, foi o Gaspar, qual deles te fez avançar com esta ideia espectacular de querer refundar?

Refundar o memorando? Quando?

Vai refundar o raio que te parta!

A ameaça dos comentadores

Aguiar-Branco discursou perante os militares e insurgiu-se contra “os comentadores de fato cinzento e gravata azul, que têm do Estado e da soberania uma visão contabilística”.

O ministro da Defesa classificou o “discurso da inutilidade das Forças Armadas” como o “maior adversário”.

Disse: “Este adversário é tão corrosivo, tão arriscado e tão perigoso para a segurança nacional como qualquer outra ameaça externa”.

No passado, tememos as investidas de Castela ou as invasões napoleónicas.

Hoje em dia, somos ameaçados por comentadores de fato cinzento e gravata azul.

Ainda bem que temos submarinos, caças e carros de combate para dizimar esses bandidos!

Afinal, este povo não presta

Há bem pouco tempo, depois de nos lixar com mais um enorme aumento de impostos, Vitor Gaspar disse que o povo português é o melhor povo do mundo.

Acontece que anteontem, nas Jornadas Parlamentares do PSD/CDS, disse isto:

“Aparentemente existe um enorme desvio entre aquilo que os portugueses acham que devem ser as funções sociais do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar”

Ora, portanto, o melhor povo do mundo, pelos vistos, não está muito interessado em pagar os impostos que o Gaspar quer impor para manter o chamado Estado Social.

O próprio Gaspar está cansado de dizer que não há alternativa a esta política de austeridade.

Portanto, se a troika está certa, se este governo está certo, se Coelho não se engana, se Gaspar não falha – só há uma coisa a fazer: mudar de povo!

Relvas, o da consciência tranquila

Afinal, a façanha de Miguel Relvas foi ainda maior do que pensávamos.

—A criatura, não só fez um curso completo em 365 dias, obtendo equivalência em 32 cadeiras, sem sequer lá por os pés, como conseguiu, ainda, obter aproveitamento em cadeiras que nem sequer existiam!

Segundo uma auditoria agora realizada, Relvas obteve aproveitamento nas cadeiras de Teorias Políticas Contemporâneas II e Língua Portuguesa III e IV, cadeiras essas que nem sequer existiam no ano em que homem se licenciou.

Muita coisa fica explicada, depois desta revelação.

Não tendo frequentado Teorias Políticas Contemporâneas, Relvas não pesca nada da política actual e não tendo, de facto, assistido a aulas de Língua Portuguesa III e IV, não percebe o significado de algumas frases feitas do nosso idioma.

“Consciência tranquila” é uma das frases feitas que o tipo não entende.

É que Relvas afirmou: «não tenho receio de nada, quero que tudo seja apurado, porque, como disse, fiz de acordo com a lei, de consciência tranquila, de boa fé».

Ora, estar de “consciência tranquila”, significa estar em paz consigo próprio. Como pode Relvas estar em paz consigo próprio, ao saber que a Universidade lhe ofereceu cadeiras que nem sequer existiam?

Estás a ver, Relvas? fez-te falta frequentares as cadeiras de Língua Portuguesa, pá!|