“Memoirs of a Geisha”, de Rob Marshall

—Se em “Love in the time of cholera” temos actores espanhóis, italianos e brasileiros a falar inglês com sotaque colombiano, neste filme a coisa ainda é mais complicada: temos actores chineses, a fazer de conta que são japoneses e a falar inglês com sotaque de Osaka (ou será de Hokaido?).

Tirando este “pequeno” pormenor, “Memoirs of a Geisha” é bonito e quase que faz chorar as pedras da calçada. Conta-nos a história de Sayuri, desde que foi vendida pelo pai, um pobre pescador í  beira de ficar viúvo, até se tornar na mais famosa e aclamada gueixa do Japão e arredores, nos tempos da 2ª Guerra Mundial.

Este percurso que, no filme, dura mais de duas horas, está cheio de ódios, invejas, ciúmes e sentimentos correlativos, vividos entre as gueixas, o que nos deixa um pouco perplexos, já que retrata uma realidade que nos é desconhecida. Será que é (era) exactamente assim – ou esta é a visão dos ocidentais, que dificilmente penetram noutras culturas, nomeadamente na japonesa, sempre tão fechada ao exterior.

“Love in Time of the Cholera”, de Mike Newell

—Não sei por que razão ainda não li este livro do Garcia Marquez , publicado em 1985 – e nem sequer o tenho. Mas a história tem, toda ela, a assinatura do escritor colombiano.

O filme, de 2007, é escorreito e Javier Bardem faz um excelente papel, ao contrário da menina Giovanna Mezzogiorno que, para além de ter um par de maminhas interessantes, poucos mais atributos tem, nomeadamente na área da representação.

A pobre da Giovanna é pouco convincente como Fermina Urbino, sobretudo quando a personagem já tem uma idade mais avançada, e as camadas de pó-de-arroz também não ajudam.

Pelo contrário, Bardem faz um Florentino Ariza que nos convence, um sonhador que, na impossibilidade de ter a sua primeira amada, vai coleccionando mulheres e anotando essas experiências com minúcia, ultrapassando as seis centenas.

Outra coisa que faz com que o filme não seja tão interessante como poderia ser é o facto de ser falado em inglês: Bardem é espanhol, Giovanna é italiana, a mãe de Florentino é uma actriz brasileira cujo nome me escapa – e todos eles falam um inglês com sotaque colombiano, o que se torna ridículo.

De qualquer modo, e graças í  história, é um bom entretenimento.

PS – Afinal, encontrei o livro e descobri que o li em 1989… Tenho que começar a tomar as gotas…

“Public Enemies”, de Michael Mann

—Johnny Depp é um actor sui-generis, capaz de encarnar personagens tão estranhas como o Eduardo Mãos-de-Tesoura ou o pirata das Caraíbas e, nos intervalos, vestir-se de John Dillinger e ser um duro clássico, ao estilo dos gangsters de Chicago.

Os norte-americanos, como não têm heróis com mais de 200 anos, do tipo da Deuladeu Martins, Joana d’Arc, D. Quixote ou Ivanhoe – para citar apenas quatro -, fazem filmes sobre bandidos que, nas décadas de 30-40, assombraram as ruas de Chicago.

Michael Mann é um realizador excessivo e gosta dos planos rodopiantes, com a câmara a rodar em volta do actor e, depois, a subir, até se obter um plano aéreo, mas esses truques não substituem a caracterização das personagens. É por isso que não se percebe muito bem que tipo de pessoa era Dillinger, a não ser que desprezava o futuro e que vivia só para o dia-a-dia. Por que se tornou gansgter, por que escolheu assaltar bancos, em vez de ter uma vida honesta, de simples empregado do McDonalds? Dillinger não tem densidade, como personagem.

Mas enfim – se eu quisesse densidade (e chatice!…) – tinha alugado um filme europeu…

“Zack and Miri Make a Porno”, de Kevin Smith

—Quem sabe inspirado no britânico “The Full Monty“, em que seis trabalhadores desempregados resolvem montar um espectáculo de strip-tease para angariar fundos, o argumento desta comédia conta-nos a história de Mark e Miri, que se conhecem desde a escola primária e partilham a mesma casa, embora nunca tenham partilhado a mesma cama.

Sem dinheiro, com a água a luz cortadas, decidem fazer um filme porno para tentar arranjar umas massas.

Esta ideia tão disparatada podia dar origem a um filme completamente idiota, do género das comédias para adolescentes tão ao gosto de alguns norte-americanos.

Mas não. O filme vê-se bem, o tipo que faz de Mark (Seth Rogen) tem graça, as situações são divertidas, sem serem demasiado escatológicas (excepto uma, enfim…) e até se conseguem alguns sorrisos.

Claro que não perderia uma tarde no cinema por causa disto, mas tolera-se.

(Participação especial de Traci Lords – quem se lembra dela?)

“Inglourious Basterds”

—Tarantino está em forma!

Estava um pouco desiludido com ele. Depois do inolvidável “Reservoir Dogs” e do inultrapassável “Pulp Fiction”, o díptico “Kill Bill” não me entusiasmou. As artes marciais não são o meu forte…

Em contrapartida, este “Inglouriou Basterds” é um entretenimento cinco estrelas, contendo todos os tiques geniais de Tarantino: os longos diálogos aparentemente sem sentido, a divisão da narrativa em capítulos, a banda sonora muito especial.

A primeira cena do filme dá logo o tom: Christoph Waltz, que faz um espantoso Coronel Hans Landa, conversa com um produtor de leite francês, í  mesa da sua modesta casa, sabendo que, por baixo, se esconde uma família de judeus. Lá fora, estão alguns soldados alemães, que aguardam a ordem do coronel para chacinarem os judeus, e as três jovens filhas do agricultor, virginais e cândidas. Não lhes acontece nada, mas Tarantino cria o ambiente de tal modo que nós estamos sempreÂ í  espera da maior desgraça.

Brad Pitt faz o papel do sargento Aldo Raine que, com o seu bando de “basterds” (fazendo lembrar “Dirty Dozen”), se entretém a matar nazis e a tirar-lhe os escalpes. Algumas cenas são citações dos westerns de Sérgio Leone, incluindo a banda sonora, a fazer lembrar “The Good, the Bad and the Ugly”.

Na cena final, ou quase, Hitler é metralhado, juntamente com todo o seu Estado-maior, o que fez com que a guerra tenha acabado naquele dia. O facto disso nunca ter acontecido não tem a menor importância.

Destaque para a figura criada por Brad Pitt mas, sobretudo, para a interpretação de Christoph Waltz. O tipo consegue que odiemos o coronel Landa e aprovemos a sua sanguinária morte.

(Eu sei que ele não morre no fim do filme – mas aprovamos, ou não, a sua sanguinária morte?)

Mad Men – 1ª temporada

—Mad Men pode ter duplo sentido: homens loucos e homens de Madison Avenue.

Loucos, nem por isso. Não há sequer um alcoólico, para amostra, nem tampouco um cocainómano e, apesar do protagonista, Draper, ter duas namoradas, para além da esposa, também não há nenhum mulherengo.

Quanto í  Madison Avenue, lá está, em Nova Iorque – e só tenho pena de não ir lá há 8 anos. E a série nem para isso serve, isto é, não me mata as saudades de Nova Iorque, porque, embora a acção se passe, pretensamente, na Madison Avenue, raramente (ou nunca), vemos uma cena no exterior.

Apesar do aplauso unânime da crítica, esta série televisiva não conseguiu agarrar-me. Concordo que a reconstituição da época, do final dos anos 50 e princípio dos anos 60, é quase perfeita, mas a trama da série é muito superficial e não fiquei com vontade de ver a 2ª temporada.

Lost – 5ª temporada

—Já não há pachorra para esta série!

A coisa arrasta-se e, depois dos flash-back e dos flash-forward, agora temos saltos no tempo e vemos os principais paspalhões a saltarem 30 anos para a frente e 30 anos para trás, com a figura patibular do Locke, qual deus dos pequenos argumentistas, como pano de fundo.

Pena que a série não dê também alguns saltos para o lado. Podia ser que invadisse o espaço onde estão a filmar o “24” e o Jack Bauer entrasse por ali adentro e desatasse a partir o pescoço í  malta toda – menos í  Juliet, que deve ter feito um “boob job” nas férias, e í  Kate, que faz tão bem aqueles anúncios a champí´s (ou será depilatórios?).

Enfim, estou a ser mauzinho porque, na realidade, adormeci a meio de quase todos os episódios. No entanto, se me perguntarem, sou capaz de vos fazer um resumo do argumento, o que também não é difícil.

E ainda falta uma 6ª temporada!

24 – 7ª temporada

—O argumento da série 24 está cada vez mais inverosímil.

Na 7ª temporada, os EUA têm que enfrentar um bando de patetas, provenientes de um país imaginário, Sangala, comandados por um general improvável, chamado Zuma e que têm a brilhante ideia de invadir a Casa Branca.

Caso aquilo não resulte, têm, por trás, uma organização tentacular, que possui armas biológicas e que vai largá-las no metro de Washington, a fim de matar milhares de norte-americanos, provavelmente para obrigar a presidente dos EUA – desta vez uma mulher, que parece uma dona de casa desesperada – a renunciar, se é que é isso que eles querem, porque nunca se chega a perceber.

Tony Almeida que, afinal, não morreu, colabora com os maus, porque se quer vingar de um país que sempre serviu, mas que o lixou ou, então, quer-se vingar do homem que será responsável pela morte da mulher, Michelle, e que é o cérebro da tal organização, ou talvez não.

No meio de tudo isto, Jack Bauer passa um terço da série a morrer, depois de ter inalado gás cheio de H1N1 ou algo parecido, sempre a chutar dopamina para as veias para evitar as convulsões, sempre a sussurrar, em vez de falar, e com um trejeito na boca que lhe deve ter dado caimbras.

Confuso? Mais ficarão, depois de verem a 7ª temporada de 24 – uma série que já foi das melhores mas que, a partir da 5ª temporada se assemelha, cada vez mais, a um filme de acção de segunda categoria.

Salvam-se alguns bons momentos de Jack Bauer, como aquele em que, amarrado a uma mesa cirúrgica, depois de ter sido sedado e de lhe terem feito uma punção medular na coluna cervical (!), e apesar de ter apenas duas horas de vida, estar cheio de convulsões e movimento atetósicos, consegue libertar-se, cortar o pescoço a um dos médicos com um bisturi, matar o outro com um golpe de karate e partir o pescoço ao terceiro!

Aguardemos pela 8ª série, na qual Bauer, de cadeira de rodas, vence um exército inteiro enquanto sussurra qualquer coisa ininteligível.

The Closer – 4ª temporada

closer4Kyra Sedgwick compí´s a personagem da Sub-Chefe Brenda Leigh Johnson de modo perfeito e a série The Closer vive dessa personagem.

Com argumentos mais ou menos imaginativos, o interesse da série é, de facto, ver como Brenda desvenda o mistério, ao mesmo tempo que tenta entreter os pais ou resolver qualquer outro problema doméstico.

Os personagens secundários também não são maus e acompanham bem a Sub-Chefe.

No último episódio, Brenda casa-se com o seu companheiro, que é agente do FBI. Veremos se a série sobrevive ao casamento.

Três Cantos – José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto

3cantosNo dia 26 de Novembro de 1971, tinha eu 18 anos, estive sentado na plateia do antigo cinema Roma e, com o coração exaltado, assisti í  emissão, ao vivo, do Programa Página Um, da Rádio Renascença.

Nessa emissão, foi feita a apresentação pública do primeiro disco de José Mário Branco, “Mudam-se os Tempos…”. O Página Um era um programa “revolucionário”, de José Manuel Nunes, onde passava música que mais nenhuma rádio transmitia. A apresentação do disco, sem a presença do seu autor, exilado em França, foi feita pelo jornalista Adelino Gomes que, mais tarde haveria de ser meu colega na redacção do Telejornal da RTP.

A música do José Mário Branco era diferente de tudo o que tinha ouvido antes, em português, entenda-se: os arranjos eram notáveis, as melodias complexas e simples, simultaneamente, as letras empenhadas politicamente. José Mário Branco tinha conseguido fazer algo de novo: um produto musical sofisticado e, ao mesmo tempo, revolucionário, no sentido político do termo.

Como em muitas outras coisas, a “luta” contra a ditadura unia pessoas com diferentes estilos e opções de vida. O 25 de Abril afastou-as. Nos primeiros anos, ainda me exaltei com algumas das músicas do José Mário Branco, compostas para o colectivo GAC, com o “Ser Solidário”, como o “FMI”, mas, a pouco e pouco, afastei-me.

No entanto, ontem, ao assistir, em dvd, ao concerto do Campo Pequeno, não pude deeixar de passar por muitos momentos de emoção, com um nó na garganta, sobretudo quando tentei acompanhar canções como “Mariazinha”, “Confederação” ou “Inquietação”.

No que respeita ao Sérgio Godinho, sempre acompanhei a sua carreira e sempre pensei que ele tem uma enorme capacidade para meter o Rossio na Betesga e acho que tem músicas notáveis, que vão ficar na história da música popular portuguesa, incluindo, mesmo, aquela do “tractor, trabalha a todo vapor”…

Também me emocionei, ontem, com “Maré Alta” e “Primeiro Dia”.

No que respeita a Fausto, a coisa é um pouco diferente. Nos anos 70, na sala de alunos da Faculdade de Medicina de Lisboa, assisti a um espectáculo em que ele cantou, mas em que a estrela foi, sem dúvida, Ary dos Santos, que pí´s aquela malta toda de pé a berrar “S.A.R.L! S.A.R.L.”

Para além de “Por este Rio Acima”, que é um grande disco, pouco conheço da carreira de Fausto.

O espectáculo captado no Campo Pequeno, para além da surpresa de juntar estes três figurões da música popular “revolucionária”, não tem mais nenhuma surpresa: os arranjos orquestrais e vocais são competentes, mas expectáveis, as versões das canções são o mais possível parecidas com os originais e o inédito é mais do mesmo.

No fundo, era isto que as pessoas queriam: o Zé Mário, o Sérgio e o Fausto o mais parecidos possível com o tempo em que tínhamos 18 anos!…