ER – 12ª série

—Se o ER sem o Dr. Greene já não era a mesma coisa, sem o Carter, ainda é menos.

Em desaceleração, em direcção ao fim da série (parece que acaba na 15ª época), este ER, ao querer competir com os seus congéneres, tipo Grey’s Anatomy, dá menos importância ao que se passa nas urgências do County e mais ao que se passa nas vidas privadas dos actuais heróis.

Nesta 12ª série, temos mais dois episódios fora do County, passados num campo de refugiados, em Darfour. Se, por um lado, para o público norte-americano, estes episódios podem ser um modo dar publicidade a uma situação de calamidade, por outro lado, os médicos americanos transformam-se em super-heróis muito bonzinhos, ajudando os pretinhos coitadinhos, o que me parece uma visão um bocado neo-imperialista da coisa.

Apesar disso, ainda há um ou outro episódio que se safa, sobretudo quando as urgências se enchem de vítimas de algum acidente e tudo começa a correr mal. Nesses episódios, o ritmo ainda é alucinante e os 40 minutos passam num instante.

Columbo – 3ª série

—Rever Columbo é fazer uma viagem no tempo.

Recuamos até 1971 e recordamos as modas de então, as calças í  boca de sino, as mini-saias, os penteados, os interiores modernaços das casas mas, sobretudo, os espadas!

Que lindos que eram os carros americanos, no fim dos anos sessenta, princípio dos anos setenta. Desnecessariamente enormes! A mala dava para esconder dois ou três cadáveres de americanos grandes. O motor ficava a nadar dentro do compartimento da frente, onde quase cabia um Fiat 600.

Peter Falk inventou um boneco muito bom. Columbo tinha diversas características que o definiam: o charuto sempre na mão e quase sempre apagado, a gabardina amarrotada e encardida, as botas, com muito uso e pó a mais, o fato cor de salmão, acanhado e o carro, contrastando com todos os outros, um Peugeot 403 cabriolet, de 1959, com um motor ruidoso e o ar de quem já percorreu muitos quilómetros.

A série tinha dois grandes trunfos: Peter Falk, claro, e o facto de cada episódio começar sempre com a perpetração do crime e assistirmos, depois, í  desmontagem dos í libis quase perfeitos, graças í  perspicácia insuspeitada de Columbo, í s suas perguntas como-quem-não-quer-a-coisa e ao facto de os criminosos menosprezarem o detective, baseados na sua aparência desleixada.

Uma série de 5 estrelas, mesmo 30 anos depois.

“Cellular”, de David R. Ellis

—Está uma professora de Biologia (Kim Basinger), muito descansadinha, na sua cozinha, quando um corpulento careca lhe entra pela porta dentro, com ar ameaçador.

Será o secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, que lhe vem aplicar, í  força, o sistema de avaliação?

Não! É um polícia corrupto e seus capangas. O marido da professora filmou-os, sem querer, quando eles matavam dois traficantes de droga e lhes roubavam o produto. Os polícias corruptos raptam a professora e fecham-na num sótão.

A partir de um telefone fixo desmantelado, a professora consegue clicar um número ao acaso e que é o do telemóvel de um jovem (Chris Evans). A partir daquele momento, ele não pode desligar o seu telemóvel, para se manter em contacto com a professora, até a salvar, com a ajuda de um polícia bonzinho (William H. Macy).

O filme é um enorme anúncio í  Nokia, mostrando todas as potencialidades de um telemóvel. Tem um bom ritmo, mas a história tem poucas surpresas e parece uma variação de “Phone Booth”, de Joel Schumacher – aliás, o argumentista (larry Cohen) é o mesmo.

Em português, recebeu o título de “Ligação de Alto Risco”, o que se percebe. Os portugueses, como são burros, poderiam pensar que “Cellular” teria alguma coisa a ver com Biologia…

“Dead Man”, de Jim Jarmusch

—Imagens a preto e branco do Oeste americano, como nós o imaginamos e como, de facto, ele é.

Um contabilista de Cleveland (Johnny Depp) viaja de comboio, atravessando oi continente americano. Aceitou um emprego numa metalúrgica kafkiana, numa pequena cidade lamacenta e obscura, cheia de bebâdos e prostitutas.

Envolve-se com uma delas e ambos são apanhados, na cama, por um antigo namorado dela. Quase sem querer, o contabilista, de nome William Blake, mata o ex-namorado, mas também é baleado, junto ao coração.

Ferido de morte, foge da cidade. Desmaiado, é recolhido por um índio (Gary Farmer), que se chama a si próprio Nobody.

É com este índio que William Blake vai fazer uma longa viagem até ao Oceano ou, se quisermos, até ao outro mundo.

Filme estranho, aparentemente absurdo, mas hipnótico. Datado de 1995,  é composto por pequenas cenas, interrompidas com fade-out, faz com que fiquemos presos ao écran esperando a cena seguinte, embora saibamos que nada de especial vai acontecer porque, ao fim e ao cabo, Blake já está morto, quase desde o início do filme…

“Lost” – 4ª série

—Confesso que perdi um pouco a pachorra com a 3ª série. A história andou muito enrolada, os argumentistas pareciam não saber muito bem o que fazer com as personagens que tinham e alguns episódios foram penosos.

Esta 4ª série, no entanto, prendeu-me novamente. O truque dos flash-forward, com a manutenção dos flash-back, transformou a história num puzzle curioso, sobretudo porque existem flash-forward que nos levam para datas diferentes.

Além disto, os três últimos episódios desta série dão um grande salto narrativo e seis sobreviventes do crash regressam, de facto, í  civilização. Restam duas séries para nos mostrar o que aconteceu aos que não regressaram, por que razão não regressaram – ou será que regressarão ainda? E, quanto aos “Oceanic 6”, o que lhes aconteceu entretanto?

Os extras do dvd contém duas peças fundamentais: um resumo das 3 séries anteriores (“Lost in 8:15 minuts”) e uma outra peça que junta todos os flash-forward, cronologicamente.

“Quantum of Solace”, de Marc Forster

—Não gostei deste filme do 007.

Talvez tenha sido porque:

– a sala estava cheia e o calor era insuportável! a Lusomundo do Fórum Almada não deve saber onde fica o botão da temperatura do ar condicionado e, mesmo de t-shirt, senti um calor de ananases!

– o som estava tão alto que gramei as apresentações dos próximos filmes tapando os ouvidos ou ficava surdo. Como o filme do Bond é uma sucessão de explosões, saí da sala com um zumbido que se manteve até í s 3 da manhã;

– durante todo o filme, ouvi o irritante som do “nha-nhac” da malta toda a empatnurrar-se com quilos de pipocas e o “shlurp-shlurp” da gajada a absorver quilolitros de Pepsi (bilhac!);

– o filme tem um intervalo idiota, que apenas serve para o “refill” das pipocas e da Pepsi;

– as cadeiras são incómodas.

Apesar disto:

A história deste “Quantum of Solace” é tão simples que eu não percebi nada. Entram uma série de organizações, tipo MI-6, CIA, PSP, GNR, BPN, MOSAD, FENPROF, CGTP e PCP-ML e, í s tantas, um tipo já não sabe quem é que está a bater em quem.

O filme é uma sucessão alucinante de perseguições e explosões e cenas de porrada, tão rápidas, com uma montagem tão frenética que ninguém percebe nada do que se passa, de quem bate em quem, de quem mata quem.

O realizador diz, em entrevista, que este Bond é mais humano porque tem menos engenhocas. í“ pá! Estás a delirar: mais realista, mais humano? Deves estar a brincar comigo – o gajo leva tanta porrada que devia ter morrido a meio do filme! E um Bond sem engenhocas, não é um Bond – é como um Superman sem super-poderes!

A Bond girl não tem graça nenhuma. Está muito traumatizada porque a mãezinha dela e a mana mais velha foram violadas por um presidente boliviano que é um cliché ambulante e, por isso mesmo, devia pertencer a outro filme. Nos filmes de Bond, as gajas não estão traumatizadas – gostam é de porrada e de uma boa queca…

Enfim, o Daniel Craig é, de facto, um bom Bond – mas este Quantum é uma seca…

“There Will Be Blood”, de PT Anderson

—Um filmaço (quase duas horas e meia) para proporcionar um óscar a Daniel Day-Lewis, que faz o papel de Daniel Plainview, um prospector de petróleo, na Califórnia do princípio do século 20.

Plainview não olha a meios para conseguir os seus intentos, chegando a utilizar o seu falso filho como chamariz para obter melhor preços nas terras que vai comprando.

O centro do filme acaba por ser o duelo entre Plainview e Eli Sunday (Paul Dano), que se julga representante de Deus na Terra, fundando uma igreja evangélica, í  qual Plainview promete doar 5 mil dólares, em troca de poder perfurar o território. No entanto, nunca vai cumprir essa promessa e a relação entre os dois homens degrada-se, ao longo dos anos.

Day-Lewis faz um papelão, muito distante das suas anteriores prestações, é mau como as cobras, obstinado, violento e, como todos os tipos que se dedicam a vida inteira a uma só coisa, um pouco louco.

E, no fim, haverá sangue, claro…

“The Bucket List”, de Rob Reiner

—Aqui está um bom exemplo de que um realizador competente e dois actores consagrados não são suficientes para fazer um bom filme.

“Nunca é Tarde Demais” é pura perda de tempo. Nicholson faz de Nicholson, como sempre e Freeman faz de Freeman, como habitualmente.

A história também não tem nada de especial: dois tipos com cancros terminais decidem fazer coisas que nunca tinham feito antes e, porque um deles é rico como o caraças, vão ver as pirâmides, passam por Hong Kong, pela Grande Muralha da China. fazem um salto de pára-quedas e conduzem carros de corrida numa pista.

Bocejo.

“The Last King of Scotland”, de Kevin MacDonald

—Forest Whitaker ganhou o óscar de melhor actor, em 2007, pelo seu desempenho neste filme, encarnando um Idi Amin Dada muito convincente. Enfim, nunca vi o Idi Amin ao vivo e, nos anos 70, os meios de comunicação não eram tão intrusivos como hoje em dia; portanto, é difícil dizer se Amin tinha o humor assim tão lábil, ou se ele não seria, até, muito mais sinistro.

Whitaker faz Amin parecer uma criança grande que, de vez em quando, perde as estribeiras e não hesita em mandar matar e torturar.

Nos anos 70, a fama de louco de Idi Amin só era ultrapassada pela de Bokassa, o presidente da República Centro-Africana que, depois de chegar ao poder, decidiu coroar-se Imperador…

Neste filme, a história é-nos contada pelos olhos do Dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy), um jovem médico que decide ir trabalhar para o Uganda, porque sim, e acaba por se tornar o protegido de Amin, exactamente por ser escocês. O ditador tinha uma fixação pela Escócia, desde que serviu, como ajudante de cozinha, no exército britânico (o Uganda pertence í  Commonwealth).

As “excentricidades” de Idi Amin ficaram célebres; algumas delas podem ser consultadas aqui.

Não te posso ver nem pintado

—É este o título genérico de “um novo percurso pela Colecção Berardo”, um percurso que privilegia a “figuração na pintura destes últimos cinquenta anos”.

Podia dizer qualquer coisa deste género: como não sou especialista em arte moderna e contemporânea (nem em arte nenhuma, diga-se de passagem), não posso comentar a exposição porque posso a estar a fazer juízos errados.

Podia dizer e já disse, mas quero crer que a Exposição da Colecção Berardo não é só para especialistas.

E como não especialista, tenho que ser sincero e dizer que a coisa não me entusiasma.

Destaco o quadro do Andy Warohl (“Judy Garland”), duas obras de um tipo chamado Damien Deroubaix e uma instalação de Jakub Nepras, chamada “Babylon Plant” e que consiste na sobreposição de três vídeos.

De resto, confesso que passei pelos corredores e pelas diversas obras sem grande interesse. Já nem me choca a obra que inclui bosta de vaca envernizada.

Ainda dei uma olhadela í  exposição “Espaços Sensíveis”, da Colecção de Arte Contemporânea da Fundação “La Caixa”, mas foi só para me irritar um pouco mais.

Numa sala, passa um filme a preto e branco, aos soluços, interrompido por clarões de segundo a segundo e, antes de entrarmos na sala, um cartaz avisa que os epilépticos não devem entrar, ficando, assim, privados de contemplar aquela magnífica obra de arte. Sortudos!

Noutra sala, uma série de cubos pretos, de diversos tamanhos, banhados por uma luz amarela. Noutra ainda, um linóleo geométrico no chão e uma figura de bronze, sentada num muro.

Dispenso.