O ministro Mota Soares deu nas vistas quando chegou à tomada de posse deste governo, conduzindo uma lambreta.
Quis dar o exemplo. Estamos em crise, temos que poupar combustíveis – e Mota foi de mota.
Mas a poupança passou-lhe depressa.
Agora, o Mota anda de Audi.
Segundo o Correio da Manhã, Mota Soares faz-se transportar num Audi de 86 mil euros.
Suspeito que foi a Angela Merkel que telefonou ao Paulo Portas e lhe disse, em tom áspero: “Mas que merda é essa? Então o teu subordinado anda de mota em vez de usar um dos nossos carros? O gajo não tem um Mercedes, um BMW, um Audi?!
Faz hoje 50 anos que a Renault apresentou ao público o primeiro modelo do 4L, que rapidamente se popularizou como R4.
O R4 teve uma longa e profícua vida, que se prolongou até 1993, com mais de 8 milhões de viaturas matriculadas.
O R4 foi o meu primeiro carro. Comprei-o em enésima mão no stand do Alberto Henriques da Silva, em Julho de 1978, faz agora 33 anos.
Custou-me 110 mil escudos (548 euros), numa altura em que, como médico recém-formado, ganhava 8 mil escudos por mês (39.90 euros).
Tinha tirado a carta há pouco tempo e nunca tinha conduzido nenhum carro, para além do da instrução, que era um Fiat, se não me engano. Por isso, e porque o R4 tinha a alavanca das mudanças ao lado do volante, a viagem do stand, em Lisboa, até ao Algueirão, onde morava nessa altura, foi uma aventura.
Aquilo era dá cá a bengala, com o manípulo virado para a esquerda, e metias a primeira; toma lá a bengala, com o manípulo virado para a direita, e metias a segunda; dá cá a bengala, com o manípulo virado para a direita, e metias a terceira; toma lá a bengala, com o manípulo virado para a esquerda, e metias a quarta. Se não era assim, era parecido.
Só que eu, depois da primeira e da segunda, não atinava com a terceira.
O que vale é que ainda não havia IC 19 e, a partir da Damaia, era tudo província e quase não se viam carros na estrada…
Foi a bordo deste R4 que fomos todos para Moimenta da Beira, para cumprirmos os nossos seis meses de Saúde Pública, no Centro de Saúde de Armamar.
A viagem demorava o dia todo e era um pesadelo. Atrás, os miúdos enjoavam e, de quando em vez, era preciso parar na berma, para o vómito da ordem.
E há que recordar que, naqueles tempos, a auto-estrada Lisboa-Porto terminava em Aveiras de Cima. A partir dali, e até Moimenta da Beira, era um sufoco atrás dos camiões carregados de tudo e o R4 sem força para os ultrapassar.
Como enésimo dono deste R4, tive direito a sobre-aquecimento do motor, logo um mês depois da compra. E, nos trajectos entre Moimenta e Armamar e nas visitas às escolas da região, para fazer Saúde Escolar, muitas vezes ficámos no caminho, com o R4 a fumegar, qual geiser do Yellowstone!
Em Novembro de 1978 desisti. Comprei um Fiat 124 em quinta mão e vendi o R4 por 30 contos (150 euros).
Recuamos até 1971 e recordamos as modas de então, as calças à boca de sino, as mini-saias, os penteados, os interiores modernaços das casas mas, sobretudo, os espadas!
Que lindos que eram os carros americanos, no fim dos anos sessenta, princípio dos anos setenta. Desnecessariamente enormes! A mala dava para esconder dois ou três cadáveres de americanos grandes. O motor ficava a nadar dentro do compartimento da frente, onde quase cabia um Fiat 600.
Peter Falk inventou um boneco muito bom. Columbo tinha diversas características que o definiam: o charuto sempre na mão e quase sempre apagado, a gabardina amarrotada e encardida, as botas, com muito uso e pó a mais, o fato cor de salmão, acanhado e o carro, contrastando com todos os outros, um Peugeot 403 cabriolet, de 1959, com um motor ruidoso e o ar de quem já percorreu muitos quilómetros.
A série tinha dois grandes trunfos: Peter Falk, claro, e o facto de cada episódio começar sempre com a perpetração do crime e assistirmos, depois, à desmontagem dos àlibis quase perfeitos, graças à perspicácia insuspeitada de Columbo, às suas perguntas como-quem-não-quer-a-coisa e ao facto de os criminosos menosprezarem o detective, baseados na sua aparência desleixada.