O Ornamento do Estado

Começa hoje, por volta das 15 hortas, a primeira reunião para discutir o Ornamento de Estado mais importante do sexo 21.

De um lado, Peixeira dos Santos, ministro da Ecomania; do outro lado, Eduardo Catrefa, por parte do PSD.

O Presente da República, Cavado silva, já disse que é fundamental aprovar este Ornamento e todos os especialistas em Ecologia e Faianças dizem o mesmo, mas os principais paridos parecem mais interessados em discussões estéreis ou histéricas, já não sei bem.

Teixeira dos Prantos diz estar pronto para negociar, mas o aumento dos impressos não é bem aceite pelos sexuais-democratas.

O PSD, í  última orla, tirou um Coelho da Catroga e o duelo é inevitável.

Quem ganhará?…

Veremos…

Como dizem os cegos…

“Burn After Reading”, de Ethan e Joel Coen

—“Destruir Depois de Ler” é mais uma daquelas comédias mais ou menos malucas que os irmãos Coen gostam de fazer, de quando em vez. Começaram com “Arizona Junior” e, sazonalmente, chateiam-se do “cinema sério” (“True Blood”, “The ManWho Wasn’t There” e etc) e fazem uma coisa destas (um “objecto cinematográfico com discurso de comédia”, como escreveria um crítico profissional). Nem sempre se saem bem. Se “The Big Lebowski” acabou por se tornar um clássico da comédia, e “O Brother, Where Art Thou?”, embora um pouco pateta, ainda se aguenta, “Intolerable Cruelty”, também com Clooney, é uma seca.

Mas este filme, de 2008, é muito recomendável. O resumo do argumento diz tudo: «a disk containing the memoirs of a CIA agent ends up in the hands of two unscrupulous gym employees who attempt to sell it.»

George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich e um surpreendentemente pateta Brad Pitt, são os principais intérpretes e cumprem, com nota alta.

Foi o primeiro filme que vi, através do videoclube do Meo.

Zon down!

Meo rules!

As 13 condições

O PSD reuniu-se e decidiu: só deixará passar o Orçamento se se verificarem as seguintes condições:

1 – que Jorge Lacão mande extrair aquele sinal que tem na bochecha direita

2 – que Teixeira dos Santos pinte o cabelo

3 – que Maria de Belém e Edite Estrela deixem de pintar o cabelo

4 – que Isabel Alçada nunca mais faça vídeos de boas-vindas

5 – que Francisco Assis rape a barba e perca 15 kg e deixe de ter aquele ar tão sério

6 – que Manuel Alegre desista a favor de Defensor de Moura

7 – que Defensor de Moura desista a favor de Atacante de Barrancos

8 – que o IVA dos néctares se mantenha a 6%, incluindo os tintos que são verdadeiros néctares (depois faço uma lista)

9 - que os benefícios fiscais passem a incluir bicos de silicone para amamentar, fundas para hérnias, pés elásticos, capas para telemóveis, tapetes para rato com apoio de pulso, caixas para óculos escuros, cuequinhas sexy com aberturas várias, gel lubrificante, bigodis, banquinhos para apoiar os pés quando estamos a ver televisão e meias elásticas de fantasia

10 – que o Mendonça das Obras corte o cabelo í  escovinha

11 – que o Narciso Miranda seja readmitido e lhe seja dado um cargo importante, tipo chefe ou director ou responsável máximo de qualquer coisa

12 – que o Manuel Maria Carrilho fique como adjunto do Narciso Miranda

13 – que o Sócrates deixe de correr em público, deixe de usar gravatas de seda de uma só cor, deixe de abanar a mão direita, com o polegar encostado ao indicador, para cima e para baixo, quando está a discursar, porque parece outra coisa, deixe de ter aquele ar de que é primeiro-ministro de  outro país qualquer e, já agora, que passe a discursar sempre em espanhol ou em inglês técnico

Sócrates e os jornalistas

As relações entre Sócrates e a generalidade dos jornalistas não têm sido as melhores.

No entanto, por vezes, as iludências, aparudem.

Leiam, com antenção este naco de prosa, do Público on line de hoje:

No dia em que “Os Verdes” propuseram o adiamento por uma semana do debate do OE, devido ao atraso na entrega do documento, o PSD ainda questionou a previsível falta de Sócrates no dia da votação, 29 de Outubro, devido a uma cimeira europeia. O Governo garantiu que Sócrates vai estar. com Maria José Oliveira

O Governo garantiu que Sócrates vai estar com Maria José Oliveira, jornalista que faz parte dos quadros do Público!

Onde está a isenção jornalística?…

E o nosso primeiro-ministro prefere estar com uma jornalista em vez de estar no Parlamento, a defender o Orçamento, que era a sua obrigação?!

Onde isto já chegou!…

O canal de Pinto Monteiro

—O Procurador Geral da república, Pinto Monteiro, meteu baixa médica.

Não, não foi uma subida tensional provocada pelos sindicato dos juízes ou dos magistrados, ou lá o que é. Também não foi azia, própria de todas as rainhas de Inglaterra, obrigadas a engolir sapos vivos porque não têm verdadeiros poderes.

Não foi nada disso.

Segundo o Diário de Notícias de ontem, numa notícia assinada por Carlos Rodrigues Lima, Pinto Monteiro «decidiu meter baixa para tratar de um problema relacionado com o seu coração. Pinto Monteiro não será operado, mas apenas alvo de uma intervenção para desobstruir um canal que faz a ligação ao coração.»

Um canal que faz a ligação ao coração?!

O Pinto Monteiro tem um canal que faz a ligação ao coração?!

Ena pá!

Deve ser por isso que o homem é Procurador Geral da República!

Eu cá não tenho nenhum canal que faça a ligação ao meu coração, caramba!

Ora “ligação” refere-se ao acto de ligar duas ou mais coisas entre si. O canal de Pinto Monteiro fará a ligação do coração a quê? Ao pâncreas? Ao intestino? í€ boca – nesse caso, o PGR teria o coração ao pé da boca (ah! ah! ah!).

Não sendo o Canal da Mancha nem o saudoso canal 18, pergunto-me que canal será esse?

Não fui um grande aluno em Anatomia, mas passei í  primeira, com 11 valores e juro que não me lembro de nenhum canal que faça a ligação ao coração…

Mas o que é certo é que, segundo o DN, o tal canal estará entupido, talvez com pastas do processo Face Oculta, e há que desentupi-lo.

Depois da tal intervenção que, ainda segundo DN, não será cirúrgica (deve ser por telepatia…), sempre quero ver se o Pinto Monteiro vem com cara de quem tem o canal desentupido!

“Suttree”, de Cormac McCarthy

—Cornelius Suttree habita numa casa flutuante, no rio Tennessee, perto de Knoxville. É ele o protagonista deste romance, datado de 1979, cheio de personagens estranhos, marginais, excêntricos, criminosos e pobres que, no entanto, mantêm um certo código de conduta, onde não falta a solidariedade, apesar do individualismo feroz de todos eles.

É um romance denso e foi difícil chegar ao fim. Ao contrário do despojamento, por exemplo, da “A Estrada“, este “Suttree” tem passagens muito complexas.

Um exemplo, entre muitos:

«Coisas antigas estranhamente novas, a cidade vista com um olhar clarividente. A repetição das imagens da própria urbe, qual enxurrada, devastara-a, e ele via agora, erectas e sem atavios sobre a planície aluvial morta, formas mais sinistras, a cidade das suas memórias tão fantasmagórica como ele mesmo e a sua pessoa reduzida a uma silhueta entre as ruínas, esgravatando artefactos ressequidos como um obscuro paleoantropóide no meio das ossadas de acampamentos arrasados onde não resta ninguém para dar voz ao que sucedeu.» (pág. 260)

Não deve ter sido fácil traduzir este livro. O tradutor, Paulo Faria, conta, no seu Prefácio, que visitou Knoxville, para melhor se inteirar do ambiente onde “Suttree” se desenrola e diz que a descrição que Mccarthy faz desta cidade já foi comparada í  Dublin de James Joyce, em “Ulysses” ou a São Petersburgo de Dostoiévski, em “Crime e Castigo”.

Outro exemplo:

«Suttree ouviu risos e sons de festa rija. Com a clarividência de um louco, viu a natureza perecível da sua carne. Meretrizes com seus indumentos desgraciosos chamavam-no de pequenos alpendres na noite, vestidas de andrajos berrantes, qual panóplia de bonecas extraídas de um sonho obsceno. E pelos estreitos caminhos, por entre a chuva e os relâmpagos, veio uma trupe de esquálidos foliões, carregando aos ombros, sobre varas, um dragão alado numa jaula e ainda outras feras alquímicas, quimeras e cacodemónios trespassados por chuços de caçar javalis, e uma farmacopeia de condimentos infernais a adornar um tabuleiro transportado por duendes, com um gnomo encanecido como porta-estandarte, a gritar imprecações torpes pelo orifício que lhe fazia as vezes de boca, e um flautista flauteando uma flauta de osso de borrelho e trazendo í  cinta um frasquinho de vidro contendo um qualquer combustível fumegante que chocalhava lá dentro, viscoso como azougue.» (pág. 299 e 300)

E a linguagem é sempre assim, lírica e rebuscada, mesmo para descrever as cenas mais prosaicas:

«De cabelo negro, as pernas raiadas de fuligem, coxas rijas sob o vestido fino, movia-se com uma espécie de obscenidade lírica. Faltava-lhe um dente da frente e, quando sorria, enfiava a ponta da língua no hiato. Quando o bar fechou, rolaram pelas ruas no banco traseiro de um táxi e ele afagou-lhe um seio na palma da mão e ela enfiou-lhe a língua na boca. Ele afastou-lhe as coxas húmidas e nuas com a mão, o calor molhado a empastar tudo o que ali sentia sob o dedo, na comissura forrada de seda.» (pág. 260)

McCarhy é natural de Knosville e este deve ser o romance mais autobiográfico do autor de “Este País Não é Para Velhos“.

KAOS

Caos é a palavra mais ouvida nos noticiários e mais lida nos jornais.

Se o Orçamento não for aprovado, será o caos. Se o Orçamento for aprovado, com as medidas de austeridade draconianas, o caos será.

Com o corte nos vencimentos, muitos médicos, que já estavam para se reformar antecipadamente, vão mesmo fazê-lo, passando-se para a iniciativa privada – será o caos na Saúde.

Os polícias, gê-éne-érres, guarda prisionais e demais, com o corte nos vencimentos e o congelamento das promoções, preparam-se para aderir í  greve geral do dia 24 de novembro – será o caos na Segurança.

Os juízes, para além de levarem uma ripada de 10% nos salários, ficam também sem subsídio de residência e vão passar a viver ao relento – será o caos na Justiça.

Os professores não precisam de fazer mais nada porque, na Educação, já temos o caos.

O caos nas Finanças, o caos na Economia, o caos no Emprego, o caos, o caos, o caos.

Quem se lembra do KAOS?

Temos que chamar Maxwell Smart e a sua inseparável agente 99!

Merry Dublin

Os pubs, cheios até í  porta, de irlandeses de Guiness em punho, as portas georgianas, pintadas de cores garridas, a Christ Church, os jardins de St. Stephen e da Merrow Square, o rio Liffey e a Ha’Penny Bridge, Temple Bar e a multidão pelas ruas medievais, os artistas de rua, O’Connell Street e the Spire, as ruas pedonais, Grafton e Moore Street, com o mercado de legumes, Meeting House Square e o mercado de comidas, o Castelo e o Trinity College, as Wicklow Mountains e Glendalough, as ruínas e os lagos.

Já lá estive.

—

“Whatever Works”, de Woody Allen

—Woody Allen voltou í s boas comédias com este “Whatever Works”, traduzido para “Tudo Pode Dar Certo”, que é exactamente o contrário do título original e da filosofia do filme.

“Whatever Works” quer dizer qualquer coisa como “o que for, soará”, ou “seja o que for”, ou “desde que resulte” – nunca “tudo pode dar certo”. Pode e não pode…

O personagem principal é Boris Yelnikoff, um físico reformado que quase ganhou o Nobel e interpretado por Larry David (outro trunfo do filme – já que todos estamos um pouco farto destes personagens interpretados por Allen). Boris está sempre zangado, não suporta os outros seres humanos porque, como tem um QI de 200, todos são imbecis, a seus olhos. Vive sozinho e detesta tudo e todos até que, certo dia, acolhe em sua casa uma jovem sulista (Evan Rachel Wood), ignorante, pouco mais que analfabeta e que, acabada de chegar a Nova Iorque, não tem onde dormir.

A partir daí, a história do Pigmalião, de Bernard Shaw, repete-se, mas com os tiques de Woody Allen. Claro que Boris é um hipocondríaco, tem crises de pânico e, temendo a gripe A, canta o “Happy Birthday” duas vezes, enquanto lava as mãos, tal como a OMS aconselhava.

O filme está cheio de boas piadas e embora seja um déjí  vu das comédias de Allen, vale a pena o tempo e Larry David merece 20 valores.

Aconselho.

“Cheri”, de Stephen Frears

—Chéri é a alcunha do filho de uma prostituta reformada (Kathy Bates) que, aos 19 anos, não faz nada senão perder-se em noitadas de sexo e drogas (ainda não havia rock’n’roll, uma vez que o filme decorre na chamada Belle Époque, em Paris).

A mamã, preocupada, pede í  sua amiga Lea, também prostituta a entrar na casa dos 50, mas ainda com muita meia sola para gastar, que desvie o seu filho daqueles maus caminhos e o seduza. Ela assim o faz acaba por se apaixonar pelo puto.

A tal prostituta cinquentona é interpretada por Michelle Pfeiffer, ainda em muito boa forma física e, pelos vistos, com a sabedoria suficiente para prender e manter um rapazola de 19 anos.

E depois?

Depois, nada.

O que se esperava de um filme baseado num romance de Colette?

Cenários excelentes. í€s tantas, parece que estamos num filme sobre decoração de interiores, mas pouco mais. Se Stephen Frears tentou repetir o êxito de “Strange Liaisons”, falhou.

Um pouco bocejante.