Concertos no S.Luiz

Eu sou do tempo em que havia uma temporada de concertos no S. Luiz.

Por 10 paus (0,049 euros), podíamos assistir a um “pequeno concerto”. No dia 20 de Janeiro de 1972, assistimos a um concerto de Nella Maissa, que tocou obras para piano de Scarlatti, Beethoven, Croner de Vasconcellos e Chopin.

Uns dias antes, na mesma sala, tínhamos assistido à Abertura de “Gabriela, Cravo e Canela”, de Lopes Graça, ao 4º Concerto para piano de Beethoven e à 4ª Sinfonia de Tchaikovsky.

Com orquestra, era mais caro – 12 escudos (0,059 euros).


“I´m New Here”, de Gil Scott-Heron

Confesso que nunca tinha ouvido falar deste tipo – o que não é de espantar, já que ele próprio decidiu intitular este seu novo disco, desta maneira.

Gil Scott-Heron não é propriamente novo, nem aqui, nem em qualquer lado. Com 60 anos, tem já uma carreira longa, embora não com muitos discos. Há 16 anos que não editava qualquer disco.

Segundo dizem, Scott-Heron é um dos precursores do rap, embora, nos anos 90, tenha criticado os rapers, pela influência negativa que tiveram sobre a juventude. De facto, ele começou por publicar poesia e só depois ligou a música à poesia.

Este “I’m New Here” tem alguma coisa de rap, embora seja mais declamação com música de fundo, alguma coisa de r&b e hip-hop. Embora não seja propriamente a minha cena, gostei de ouvir “Me and The Devil”, “Your Soul and Mine” ou “New York Is Killing Me”.

Confesso, também, que só à terceira audição, consegui entrar no espírito do disco e acabei por ficar com pena que só tenha 28 minutos.

Obrigado, Doug Fieger

Em 1973 saíram “Dark Side of The Moon”, dos Pink Floyd e “Houses of the Holy”, dos Led Zeppelin.

Depois disso, entreguei-me à música popular brasileira (Chico, Caetano, Gilberto Gil), à música portuguesa de intervenção  (Zeca, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira…) e à chamada música erudita.

Papei de tudo, da Handel a Xenakis, de Mozart a Bartok, de Beethoven a Eric Satie.

Com o 25 de Abril, a coisa ainda se agravou mais. Era reaccionário gostar de rock’n’roll.

Foi em 1979, a fazer o estágio de Saúde Pública, em Armamar que, sem acesso ao gira-discos, recomecei a ouvir a Rádio Comercial e foi “My Sharona” que me fez voltar a bater o pé no chão, a compasso e, sem que ninguém visse, a abanar a cabeça, ao ritmo frenético dos Knack.

Deixei-me de preconceitos e recomecei a ouvir pop-rock.

O responsável foi Doug Fieger, líder dos Knack.

Morreu no passado domingo, com a minha idade, e um tumor cerebral.

Não conheço mais nenhuma música dos Knack, mas obrigado pela Sharona, pá!

“Quiet Is The New Loud”, dos Kings of Convenience

kings_quietQuando estes dois rapazinhos nasceram, em 1975, já Simon e Garfunkel estavam separados há muitos tempo. No entanto, foi a eles que Erlend ⱷye e Eirik Glambek Bⱷe foram buscar o estilo calmo e tranquilo, as guitarras dedilhadas e os restantes instrumentos acústicos, as melodias e as harmonias vocais.

Claro que as diferenças são maiores que as semelhanças – detecto, por exemplo, um ritmo tipo-bossa nova, que Simon & Garfunkel nunca usariam, mas enfim…

Já tinha ouvido falar destes Kings Of Convenience há uns tempos, mas ainda não conhecia nada deles. Agora, que saiu um novo álbum, decidi conhecer o primeiro, editado em 2001.

Confesso que gostei do que ouvi, embora não me entusiasme por aí além.

“Glitter and Doom Live”, de Tom Waits

waits_glitterQue pena, que raiva, que frustração não ter tido a iniciativa de programar a minha vida de modo a poder ir ver Tom Waits, por exemplo, a Milão!

Este disco é uma prova pálida do espectáculo formidável que deve ter sido esta tourné.

Waits reinterpreta, de forma irrepreensível, alguns dos seus temas mais recentes e eu fico rendido. Não precisa de cantar temas pré-Swordfishtrombones, não precisa de rebuscar nos baús da memória para ir buscar grandes êxitos de há décadas, como têm que fazer os Stones, ou McCartney, por exemplo. Waits tem evoluído, ao longo destas décadas, criando um estilo único, em que mistura valsas, polkas, tangos, blues, trash, hard, pop, histórias malucas, country, instrumentos desafinados e inventados.

E aquela voz rouca, funda, quase sinistra, faz o resto.

Prometo-me que, se o gajo fizer uma nova série de shows ao vivo, estarei atento e irei, nem que seja a Kuala Lumpur.

Sobretudo, se for em Kuala Lumpur!…

“A Mãe”, de Rodrigo Leão

maeDisco triste, depressivo, para ouvir apenas quando se está equilibrado psicologicamente.

Um tipo que esteja em baixo, ao ouvir, por exemplo, Ana Vieira a cantar o tema “Vida tão estranha” e a lamentar-se “já nem chorar me dá consolo”, é muito capaz de deixar o cd a rolar e atirar-se do sexto andar.

No panorama da música popular portuguesa, Rodrigo Leão é único, quer pelo tipo de música que faz, quer pela seriedade da produção, quer pela busca dos colaboradores, neste caso, o Cinema Ensemble, a Sinfonietta de Lisboa e mais.

Além disso, e como não sabe cantar, pede a ajuda de quem sabe e, neste disco, tem a voz de Ana Vieira, de Stuart Staples (dos Thindersticks), de Neil Hannon (dos Divine Comedy) e de Daniel Melingo.

Destaco as faixas “Vida tão Estranha”, “Ya Skaju Tebe”, “A Corda”, “Canciones Negras” e “No sè nada”, mas todo o disco, dedicado à mãe do compositor, recentemente falecida, merece ser escutado com atenção.

“Beat”, dos King Crimson

Em 1982, os King Crimson eram, para além do eterno Robert Fripp (guitarra, órgão e frippertronics), Adrian Belew (guitarra e voz), Tony Levin (baixo e voz) e Bill Bruford (percussão).

São apenas 8 temas e o último é uma seca de guitarra, chamado “Requiem” e que é daqueles temas que algumas bandas, do rock dito “progressivo”, gostavam de gravar, para encher o vinil (deve haver por ai algum fã que ainda me bate!…)

De resto, este álbum vem na esteira do anterior “Discipline” (1981) e é muito semelhante mas, na minha opinião, perde.

“Canção ao lado”, dos Deolinda

Agradavelmente surpreendido.

Gosto dos Deolinda porque: a) misturam fado com marchinhas populares, valsinhas com samba e tudo com tudo; b) têm um som diferente, fruto da combinação de duas guitarras acústicas (Pedro Silva Martins e Luis José Martins) e um contrabaixo (Zé Pedro Leitão); c) a voz da Ana Bacalhau tem um timbre agradável e alegre; d) as letras das canções são bem esgalhadas, fazendo lembrar o Sérgio Godinho, quando estava em forma.

São muitos pontos a favor dos Deolinda.

Gosto, sobretudo, do “Fado Toninho”, quando ela canta “se não me seguram/ dou-lhe forte  efeio/ beijinhos na boca/ arrepios no peito”.

“Movimento Perpétuo Associativo” é quase um Hino Nacional: “Agora sim, temos a força toda/ agora sim, há fé neste querer/ agora sim, só vejo gente boa/ vamos em frente e havemos de vencer/ agora não, que me dói a barriga/ agora não, dizem que vai chover/ agora não que joga o Benfica/ E eu tenho mais que fazer”.

Gosto menos das “baladas” e das canções mais “sérias”.

Não se perde tempo ao ouvir os Deolinda.

Chet Baker

Olha que boa ideia esta de juntar numa caixa três discos de Chet Baker editados quando eu ainda andava de fraldas.

Com a sua voz de engatar miúdas e o trompete suave, Chet Baker (1929-1988) reuniu, nestes três discos, vários standarts eternos.

“My Funny Valentine” (1954), inclui, para além do tema de Rodgers & Hart, outras preciosidades como “Someone to Watch Over Me”, de Gershwin, “Time After Time”, de Cahn & Styne e o meu preferido “Let’s Get Lost”, de Loesser & McHugh.

“Chet Baker Sings” junta temas gravados em 1954 e que faziam parte do primeiro álbum de Chet Baker e temas gravados no Forum Theater de Los Angeles, em 1956.

“Embraceable You” foi gravado em Nova Iorque, a 9 de Dezembro de 1957 e inclui, por exemplo, “Trav’lin Light”, “They All Laughed” e “While My Lady Sleeps”.

Nos anos 50, a voz, o trompete, o ar triste e tímido e a popa de Chet Baker deviam partir corações.

O músico morreu em Amesterdão, aos 59 anos, ao cair da janela de um hotel.

Álbum Branco tem 40 anos

Foi no dia 22 de Novembro de 1968 que saiu o melhor disco dos Beatles. Faz hoje 40 anos.

O disco duplo, apenas intitulado “The Beatles”, mas que ficou conhecido como The White Album, é, na minha opinião, o melhor disco pop-rock de sempre. Nunca mais surgiu um disco assim.

No auge das suas carreiras, com as mentes bem abertas pela experiência, pela meditação com o guru indiano e pelo ácido lisérgico, os quatro rapazitos de Liverpool reuniram, neste duplo, grandes baladas (Julia, I Will, Good Night, Blackbird, Mother Nature Son), grandes rockalhadas (Helter Skelter, Why Don’t We Do It In The Road, Yer Blues), grandes canções pop (Honey Pie, Happiness Is a Warm Gun, Dear Prudence), experiências sonoras (Wild Honey Pie, Revolution 9), algumas das melhores canções de Harison (Glass Onion, Savoy Truffle, Whyle My Guitar Gently Weeps), coisas que soam a country (Don’t Pass Me By, Rocky Racoon), baboseiras (Ob-La-Di, Ob-La-Da) e ainda: Back In The USSR, The Continuing Story of Bungalow Bill, Martha My Dear, I’m So Tired, Piggies, Birthday, Everybody’s Got Something to Hide Except For Me and My Monkey, Sexy Sadie, Long, Long, Long, Revolution e Cry Baby Cry.

Que riqueza! Quantidade e qualidade! Quando se consegue tal combinação?

O álbum branco era numerado. Comprei o meu exemplar (nº 510 204), no dia 27 de Fevereiro de 1969, tinha ainda 15 anos. Tive que poupar dinheiro, andando à pendura nos eléctricos, para não pagar bilhete e comprar menos cigarros avulso, de modo a conseguir comprar este duplo álbum que, na altura, era caríssimo para mim. Comprei-o numa pequena discoteca (era assim que se chamavam as lojas que SÓ vendiam discos), situada na Praça de Londres, um pouco antes da Mexicana.

Lembro-me que fiquei obcecado pela música deste duplo álbum.

Passaram 40 anos.

Ainda me emociono ao ouvi-lo…