“Os Lusíadas”, de Zé Paulo

O Zé Paulo é meu irmão.

Dito isto, quero garantir que, ao dizer que este cd duplo do Zé Paulo é muito interessante, não estou a fazer nenhum favor fraternal.

Há muitos anos que o Zé Paulo faz música “caseira”. É tudo da sua autoria ou, como ele costuma dizer “feito por mim, do princípio ao fim”. É ele que compõe, arranja, mistura, toca todos os instrumentos, grava em cd, faz as capas e distribui pela família e amigos.

Mas este “Os Lusíadas” merecia uma plateia mais ampla. São dez faixas que percorrem os 10 cantos de Os Lusíadas. Por vezes, a música faz-nos lembrar o Jean Michel Jarre, nos seus tempos bons; outras vezes, lembramo-nos do Vangelis ou da música para filmes de John Williams.

Quem estiver interessado em conhecer este trabalho, contacte zepaulo@netcabo.pt.

A morte de Richard Wright

Ora bem… o homem já morreu há uns dias e só agora arranjo um pedacinho para escrever algo sobre ele – aliás, algo sobre a minha “ideia” de Richard Wright.

Para mim, os Pink Floyd sempre foram um colectivo.

Eu explico: tenho 55 anos e fui contemporâneo de muitos destes senhores.

Para mim, tudo começou com os Beatles, que eram quatro. Sempre os identifiquei separadamente. Dois + um + um. Isto é: Lennon e McCartney + Harrison + Ringo. Os que sempre gostaram dos Beatles, percebem o que eu estou a dizer.

Os que têm vergonha de dizer que gostavam dos Beatles, por serem demasiado “populares”, fazem de conta que eles não existiram e elaboram grandes textos sobre, por exemplo, os Love, que ninguém sabe quem foram. Ou então, tipos com a idade do meu filho, masturbam-se com Brian Wilson, o maníaco-depressivo dos Beach Boys, dizendo que o tipo é um génio. Esses gajos não sabem o que é ouvir, pela primeira vez, “Eleonora Rugby”, num programa da Rádio Renascença, entre Tony de Matos e Simone de Oliveira e sentir que se estava a ouvir algo de subversivo.

(Um pequeno aparte: se for disléxico, direi Brain, em vez de Brian – será por isso que o gajo era o “cérebro” dos Beach Boys?)

Portanto, os gajos medianos, que gostavam dos Beatles, sabiam que havia ali uma dupla de génio (Lennon & McCartney), um gajo com jeito, mas tímido (Harrison) e um bronco, que foi a reboque, mas que aguentou a onda (Ringo). Os mais “intelectuais”, dirão que Harrison é que era o grande génio e que Lennon e McCartney nunca o deixaram vir à superfície (caso contrário, os Beatles teriam sido outra coisa qualquer…), e os mais “outsiders” dirão, ainda, que Ringo é que era o bonzão e que deixou os outros tomarem a dianteira, só porque era “cool” e não estava para se chatear.

Isto, quanto aos Beatles.

No que respeita aos Stones, convenhamos que aquilo era o Jagger e o Richards e que os restantes, eram apenas decorativos. Hoje, passados todos estes anos, o Charlie Watts e o Ronnie Wood já têm o seu lugar no Panteão, quanto mais não seja pelos anos que já levam a aturar os outros dois, e por terem sobrevivido a tantas bebedeiras e tantas drogas. E todos nós sabemos como difícil é aturar velhotes, sobretudo se forem drogados…

E ainda houve o Brian Jones, que morreu afogado em drogas e cloro da piscina e o Bill Wyman, que saiu a tempo de manter a sua sanidade mental.

Claro que, quando Wyman morrer, ainda há-de aparecer alguém a dizer que ele é que foi o verdadeiro Rolling Stone e que só abandonou a banda porque Jagger e Richards se tornaram mercenários do rock.

Bom, mas isto era para ser sobre Richard Wright.

Portanto, os Pink Floyd, para mim, nunca foram o Wright, o Mason, o Waters, o Gilmour ou o Barrett. Para mim, os Pink Floyd eram um grupo de gajos que faziam uma música que eu nunca tinha ouvido antes.

Tenho três memórias vívidas da música dos Pink Floyd. Duas, bastante arcaicas e outra, um pouco mais recente.

Primeira: no meu quarto de adolescente, com as paredes forradas com fotografias de pop-rock stars, rasgadas das revistas Bravo (em alemão, nunca percebi patavina) e Salut Les Copins. Sentado no beliche de baixo (em cima dormia o meu irmão), a ouvir o álbum “A Saucerful of Secrets” (1967). Devia ter cerca de 15 anos. Fiquei estupefacto com os efeitos estereofónicos. Querem eram aqueles gajos?

Segunda: 1973. Eu e o meu amigo Hermínio, colegas no Liceu Passos Manuel, passeando pela Rua do Salitre, e cantando, em voz alta, músicas do “Dark Side of the Moon”.

Terceira: 22 de Julho de 1994. Estádio de Alvalade. Show dos Pink Floyd, já sem Roger Waters. O meu filho desentende-se com um gajo que está à nossa frente e que, em vez de ficar sentadinho, desfrutando do rock planante dos Pink Floyd, está em pé, abanando a cabeça, ao som da música, não nos deixando ver o espectáculo como deve ser. Cena de socos. Rápida e concisa. O gajo passou o resto do concerto sentadinho.

No meio de tudo isto, lá estava o Wright, discreto, de volta do Farfisa, fazendo aqueles sons todos que me deixavam estarrecido.

Confesso: mal sabia o nome dele.

No entanto, sei que os Pink Floyd se mantiveram Pink Floyd sem Syd Barrett, continuaram Pink Floyd sem Roger Waters, mas teriam sido outra coisa qualquer sem Richard Wright.

E penso que, ao dizer isto, estou a fazer um grande elogio aos Pink Floyd.