“Youth Without Youth”, de F. F. Coppola

youthwithoutyouthOnde está o Coppola de “Apocalipse Now” ou da trilogia “Godfather”?

Ficou lá para trás.

Agora, parece estar apanhado pela regressão a vidas passadas, duplas personalidades e fenómenos para-normais.

Este “Youth Without You” (2007) conta-nos a história de um linguista (Tim Roth) que, aos 70 anos, é fulminado por um raio. Sobrevive miraculosamente e, quando recupera a consciência está 40 anos mais novo.

Está bem, abelha. Não tenho paciência.

A ideia central (um tipo que rejuvenesce, em vez de envelhecer), é também a base do “Curious Case of Benjamin Button”. O problema é que, no filme de Coppola, a coisa é levada a sério, mete nazis, línguas egípcia e suméria e confesso que adormeci no fim…

“In the Land of Women”, de Jonathan Kasdan

inthelandofwomenUm jovem argumentista de filmes de gosto duvidoso (Adam Brody), está em crise criativa, depois de ter sido deixado pela namorada. Decide ir passar uns tempos a casa da avó (Olympia Dukakis), que teima em dizer que está a morrer.

Na casa em frente, mora um casal quarentão, também em crise.

Ela (Meg Ryan com a cara tão espalmada como a Manuela Moura Guedes – devem ter tido o mesmo cirurgião plástico), acabou de descobrir que te cancro da mama.

A filha mais velha da quarentona (Kristen Stewart), também está em crise, como todos adolescentes.

A mãe e a filha acabam por beijar o argumentista, em momentos diferentes, mas a coisa não passa daí.

É um filme soft, entre a comédia e o drama, mas sem muita chama, embora politicamente correcto.

Se tivesse um pouco mais de humor, poderia ser um filme desinspirado do Woody Allen.

“Little Children”, de Todd Field

littlechildrenE aqui está mais um exemplo de cretinice na tradução. “Little Children” transformou-se em “Pecados Íntimos”. Porquê? Para chamar mais espectadores í s salas de cinema, para verem a Kate Winslet a ser comida pelo Patrick Wilson?

É que “Criancinhas” seria o título ideal. Além da filha de Sarah (K. Winslet) e do filho de Brad (P. Wilson), que são miúdos com 3-4 anos, os seus pais, no fundo, também se comportam como criancinhas, iniciando uma relação baseada na fantasia.

De facto, nem Sarah vai nunca conseguir libertar-se do seu marido, um bem sucedido homem de negócios, que se masturba perante sites pornográficos, como se fosse um puto, nem Brad, que já chumbou duas vezes no exame í  Ordem de Advogados, vai conseguir libertar-se da sua mulher Kathy (soberba Jennifer Connelly), que o sustenta, realizando documentários para a televisão.

Como segunda história, um pedófilo, recém-libertado da cadeia, e um ex-polícia, reformado compulsivamente porque matou, a tiro, um adolescente, acidentalmente, estão em guerra

No fundo, todos são imaturos e, sublinhando isso mesmo, o filme passa a maior parte do tempo na piscina e no parque infantil.

Vale a pena ver, quando mais não seja pelos olhos da Jennifer Connelly e pela interpretação da Kate Winslet.

“Benjamin Button”, de David Fincher

—Em 1921, Scott Fitzgerald (1896-1940) publicou um conto intitulado “The Curiou Case of Benjamin Button”, que serviu de inspiração a Eric Roth e Robin Swicord para escreverem o argumento deste filme.

A história é conhecida. Benjamin (Brad Pitt) nasce velho, um bebé cheio de rugas e artroses e vai rejuvenescendo ao longo da vida, acabando por morrer jovem. Pelo caminho, acontecem-lhe muitas coisas, incluindo uma namorada (Cate Blanchett), que vai envelhecendo, í  medida que ele fica cada vez mais jovem e pujante.

O tempo é o principal personagem desta história, a começar pelo relojoeiro cego que constrói um relógio cujos ponteiros andam para trás, e continuando pelo fluir do tempo, com as duas guerras mundiais, os anos 60 e os Beatles e, finalmente, os dias de hoje, marcados pelo Katrina, que inunda New Orleans, onde a maior parte da história se passa, embora Benjamin também ande pela Rússia, por Paris e pelos oceanos, a bordo de um rebocador, cujo comandante, na impossibilidade de ser artista, se tatuou a si próprio.

Há muitas histórias, dentro da história de Benjamin Button e, por muito convencional que o filme possa ser, sabe sempre bem ver e ouvir uma história bem contada.

E, no que respeita a óscares, o dos efeitos visuais e o da caracterização, pelo menos, não vão escapar.

“Fados”, de Carlos Saura

—Depois de “Tangos”, de 1998, Saura debruçou-se sobre o fado e realizou este documentário formidável, que se vê quase como uma história da música mais genuinamente portuguesa.

“Fados” é isso mesmo, uma sucessão de fados, uns ilustrados com imagens de Lisboa, outros acompanhados de coreografias originais, outro recriando uma casa de fados, outro ainda com a câmara fixa na boca da fadista. Pelo meio, homenagens a Alfredo Marceneiro (com um rap um pouco deslocado, digo eu), a Amália Rodrigues e a Lucília do Carmo.

Momentos brilhantes: a interpretação espantosa de Caetano Veloso, de “Estranha Forma de Vida” (Chico Buarque podia ter feito melhor com o seu “Fado Tropical”, embora Júlio Pereira dê uma ajuda) e  Lila Downs, de quem eu nunca tinha ouvido falar, que canta muito bem uma versão bem esgalhada do clássico “Foi na Travessa da Palha”.

Em geral, todos os momentos são bons, incluindo Argentina Santos, que canta fado como deve ser. Só não gostei de Carlos do Carmo e da Mariza (embora a guitarra de Rui Veloso quase safe a coisa), mas isso são opiniões muito pessoais e que devem ser consideradas quase sacrílegas.

“Cellular”, de David R. Ellis

—Está uma professora de Biologia (Kim Basinger), muito descansadinha, na sua cozinha, quando um corpulento careca lhe entra pela porta dentro, com ar ameaçador.

Será o secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, que lhe vem aplicar, í  força, o sistema de avaliação?

Não! É um polícia corrupto e seus capangas. O marido da professora filmou-os, sem querer, quando eles matavam dois traficantes de droga e lhes roubavam o produto. Os polícias corruptos raptam a professora e fecham-na num sótão.

A partir de um telefone fixo desmantelado, a professora consegue clicar um número ao acaso e que é o do telemóvel de um jovem (Chris Evans). A partir daquele momento, ele não pode desligar o seu telemóvel, para se manter em contacto com a professora, até a salvar, com a ajuda de um polícia bonzinho (William H. Macy).

O filme é um enorme anúncio í  Nokia, mostrando todas as potencialidades de um telemóvel. Tem um bom ritmo, mas a história tem poucas surpresas e parece uma variação de “Phone Booth”, de Joel Schumacher – aliás, o argumentista (larry Cohen) é o mesmo.

Em português, recebeu o título de “Ligação de Alto Risco”, o que se percebe. Os portugueses, como são burros, poderiam pensar que “Cellular” teria alguma coisa a ver com Biologia…

“Dead Man”, de Jim Jarmusch

—Imagens a preto e branco do Oeste americano, como nós o imaginamos e como, de facto, ele é.

Um contabilista de Cleveland (Johnny Depp) viaja de comboio, atravessando oi continente americano. Aceitou um emprego numa metalúrgica kafkiana, numa pequena cidade lamacenta e obscura, cheia de bebâdos e prostitutas.

Envolve-se com uma delas e ambos são apanhados, na cama, por um antigo namorado dela. Quase sem querer, o contabilista, de nome William Blake, mata o ex-namorado, mas também é baleado, junto ao coração.

Ferido de morte, foge da cidade. Desmaiado, é recolhido por um índio (Gary Farmer), que se chama a si próprio Nobody.

É com este índio que William Blake vai fazer uma longa viagem até ao Oceano ou, se quisermos, até ao outro mundo.

Filme estranho, aparentemente absurdo, mas hipnótico. Datado de 1995,  é composto por pequenas cenas, interrompidas com fade-out, faz com que fiquemos presos ao écran esperando a cena seguinte, embora saibamos que nada de especial vai acontecer porque, ao fim e ao cabo, Blake já está morto, quase desde o início do filme…

“Quantum of Solace”, de Marc Forster

—Não gostei deste filme do 007.

Talvez tenha sido porque:

– a sala estava cheia e o calor era insuportável! a Lusomundo do Fórum Almada não deve saber onde fica o botão da temperatura do ar condicionado e, mesmo de t-shirt, senti um calor de ananases!

– o som estava tão alto que gramei as apresentações dos próximos filmes tapando os ouvidos ou ficava surdo. Como o filme do Bond é uma sucessão de explosões, saí da sala com um zumbido que se manteve até í s 3 da manhã;

– durante todo o filme, ouvi o irritante som do “nha-nhac” da malta toda a empatnurrar-se com quilos de pipocas e o “shlurp-shlurp” da gajada a absorver quilolitros de Pepsi (bilhac!);

– o filme tem um intervalo idiota, que apenas serve para o “refill” das pipocas e da Pepsi;

– as cadeiras são incómodas.

Apesar disto:

A história deste “Quantum of Solace” é tão simples que eu não percebi nada. Entram uma série de organizações, tipo MI-6, CIA, PSP, GNR, BPN, MOSAD, FENPROF, CGTP e PCP-ML e, í s tantas, um tipo já não sabe quem é que está a bater em quem.

O filme é uma sucessão alucinante de perseguições e explosões e cenas de porrada, tão rápidas, com uma montagem tão frenética que ninguém percebe nada do que se passa, de quem bate em quem, de quem mata quem.

O realizador diz, em entrevista, que este Bond é mais humano porque tem menos engenhocas. í“ pá! Estás a delirar: mais realista, mais humano? Deves estar a brincar comigo – o gajo leva tanta porrada que devia ter morrido a meio do filme! E um Bond sem engenhocas, não é um Bond – é como um Superman sem super-poderes!

A Bond girl não tem graça nenhuma. Está muito traumatizada porque a mãezinha dela e a mana mais velha foram violadas por um presidente boliviano que é um cliché ambulante e, por isso mesmo, devia pertencer a outro filme. Nos filmes de Bond, as gajas não estão traumatizadas – gostam é de porrada e de uma boa queca…

Enfim, o Daniel Craig é, de facto, um bom Bond – mas este Quantum é uma seca…

“There Will Be Blood”, de PT Anderson

—Um filmaço (quase duas horas e meia) para proporcionar um óscar a Daniel Day-Lewis, que faz o papel de Daniel Plainview, um prospector de petróleo, na Califórnia do princípio do século 20.

Plainview não olha a meios para conseguir os seus intentos, chegando a utilizar o seu falso filho como chamariz para obter melhor preços nas terras que vai comprando.

O centro do filme acaba por ser o duelo entre Plainview e Eli Sunday (Paul Dano), que se julga representante de Deus na Terra, fundando uma igreja evangélica, í  qual Plainview promete doar 5 mil dólares, em troca de poder perfurar o território. No entanto, nunca vai cumprir essa promessa e a relação entre os dois homens degrada-se, ao longo dos anos.

Day-Lewis faz um papelão, muito distante das suas anteriores prestações, é mau como as cobras, obstinado, violento e, como todos os tipos que se dedicam a vida inteira a uma só coisa, um pouco louco.

E, no fim, haverá sangue, claro…

“The Bucket List”, de Rob Reiner

—Aqui está um bom exemplo de que um realizador competente e dois actores consagrados não são suficientes para fazer um bom filme.

“Nunca é Tarde Demais” é pura perda de tempo. Nicholson faz de Nicholson, como sempre e Freeman faz de Freeman, como habitualmente.

A história também não tem nada de especial: dois tipos com cancros terminais decidem fazer coisas que nunca tinham feito antes e, porque um deles é rico como o caraças, vão ver as pirâmides, passam por Hong Kong, pela Grande Muralha da China. fazem um salto de pára-quedas e conduzem carros de corrida numa pista.

Bocejo.