Valha-nos São Ricardo!

E Portugal passou í s meias-finais, 40 anos depois!

Esta selecção é mesmo o retrato do país. Não vale a pena repeti-lo. Depois do sofrimento do jogo contra a Holanda, proporcionaram-nos mais duas horas de sofrimento e diversos motivos para múltiplos enfartes.

O jogo foi equilibrado, a Inglaterra não chegou a assustar, Portugal jogou compacto e o nulo manteve-se até ao fim. A meio da segunda parte, Rooney foi expulso, depois de amassar com os pitons os tintins do Ricardo Carvalho e, a partir desse momento, os ingleses remeteram-se í  defesa, só com o desengonçado Crouch lá í  frente, atirando com pernas e braços para todo o lado, menos para os lado certo – o que foi bom. Portugal carregou, mas também não muito. Postiga talvez tenha sido um erro de casting; se Scolari tivesse optado pelo Nuno Gomes, talvez se tivessem aberto mais clareiras para um dos médios rematar á baliza e marcar um golito e evitar a lotaria dos penáltis.

Mas, enfim… lá foram para os penáltis. E aí, o “frangueiro” Ricardo fez o que ainda ninguém tinha feito nos Mundiais: defendeu três penáltis! E não vale a pena dizer que os ingleses é que falharam – o que é certo é que o guarda-redes mediano, tão contestado, sobretudo pelos adeptos do FCP, acertou no lado para o qual os tipos iam rematar e só não defendeu um dos penáltis!

Claro que, para tornar as coisas ainda mais complicadas, o Hugo Viana acertou num poste e o Petit atirou ao lado.

Suspeito que estivesse tudo planeado, só para que mais alguns portugueses tivessem subidas tensionais, precordialgias e vaipes diversos.

E não é que a selecção chegou í s meias-finais!…

E agora, sinceramente, tudo é possível…

A França eliminou o super-favorito Brasil, que passou por este Campeonato como se já o tivesse ganho e acabou por sair sem glória, a Argentina também já foi para casa, pelo que, agora, por que não sonhar com o título?

Aliás, penso que a Fifa bem podia organizar dois campeonatos paralelos: um só para as selecções europeias e outro, para as restantes selecções. Talvez assim pudéssemos ter, sempre, um finalista que não fosse europeu…

Quanto ao Ricardo, um conselho: não vás a Inglaterra nos próximos anos, pá!

Marques Mendes é um tosco

Freitas do Amaral demitiu-se por razões de saúde. Parece que tem que ser operado í  coluna cervical.

A este propósito, Louçã disse: “O comunicado do Governo indica que o prof. Freitas do Amaral se demite por razões de saúde. Isso, naturalmente, merece todo o respeito e não faz parte do campo de debate político”.

Concordo.

Marques Mendes, sobre o mesmo assunto, disse: “no espaço de um ano é o segundo ministro do Estado que se demite. Primeiro, foi o ministro das Finanças. Agora é o ministro dos negócios Estrangeiros. (…) temos de concluir que o primeiro-ministro está com problemas sérios dentro do Governo. E isso é mau para o país.”

Portanto, para Mendes, o facto de Freitas estar doente e ter que ser operado í  coluna, é sinal de fraqueza do Governo.

í“ Mendes: ai de ti que partas uma perna antes da próxima campanha eleitoral!

í€ pedrada!

Pouca gente sabe quem é o senhor Fernando Ruas. Não faz mal nenhum.

Mas eu esclareço: é um senhor que usa bigode e pinta o cabelo de ruivo e é presidente da Câmara de Viseu e é chefe dos autarcas todos.

O que interessa aqui é aproveitar o seu exemplo.

O Sr. Ruas disse, numa reunião de autarcas que, caso aparecessem lá pelas freguesias deles, alguns fiscais do Ambiente, era “organizar um grupo e corrê-los í  pedrada”.

Ora, se o chefe dos autarcas disse isto, a coisa pode considerar-se oficial e acho que não faz mal nenhum generalizar.

Portanto, se aparecer cá em casa algum fiscal, digamos, das Finanças, penso que posso corrê-lo í  pedrada e dizer-lhe que foi o Sr. Ruas que autorizou.

Ou não?…

Chico em DVD

chico_dvd.jpgO novo disco do Chico surge ao mesmo tempo que esta colecção de 6 dvd, realizados para a tv brasileira.

A carreira de Chico é passada em revista, ao longo de mais de 6 horas, que se vêem com agrado, emoção e com uma lágrima verdadeira ao canto do olho.

Esta lágrima foi bem tenaz quando, a propósito de “Tanto Mar”, vemos imagens do primeiro 1º de Maio, em Lisboa, 1974, com toda aquela multidão enchendo as ruas e as varandas, gritando “o povo unido jamais será vencido”.

E quem disser que não se emociona ao recordar esses tempos, das duas uma: ou não os viveu, de facto, ou é fascista. E, neste ponto, não admito meias tintas!

No primeiro disco, intitulado “Meu caro amigo”, filmado no Rio de Janeiro, Chico fala-nos das diversas parcerias que foi fazendo ao longo dos anos, mas sobretudo, nos gloriosos anos 70. Temos o privilégio de ver gravações, em razoável estado de conservação, de encontros memoráveis de Chico com Caetano, Tom Jobim, Edu Lobo, Milton Nascimento, Djavan e muitos outros. E “ouvemos” (como diria o Zé Duarte), grandes canções, como “Valsinha”, “Falando de amor”, “Meu caro amigo”, etc.

O segundo disco, “í€ flor da pele”, foi filmado em Paris. Um Chico Buarque muito clássico, de sobretudo e chapéu, fala-nos das canções que compí´s no feminino. E ouvemos “Tatuagem”, “Esse cara” e “Fantasia”, com Caetano, “O que será”, com Milton Nascimento, “Com açúcar, com afecto”, com Nara Leão, “Feijoada completa”, “Teresinha”, “Mulheres de Atenas” e “Olhos nos olhos”, com Francis Hime, e muitas outras canções inesquecíveis.

O terceiro disco foi gravado em Roma, onde Chico esteve exilado durante algum tempo, durante a ditadura dos militares. Chama-se “Vai passar” e reúne algumas das canções mais “políticas” do compositor: “Tanto mar”, “Vai passar”, “Vai levando” e “Cálice”, entre outras.

O quarto filme chama-se “Anos dourados”, foi filmado no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro e é um depoimento de Chico sobre Tom Jobim e a grande cumplicidade que existiu entre eles. Destaque para “Olha Maria”, “Chega de saudade”, “Lígia” e muitas outras canções, algumas delas gravadas em casa de Jobim, com familiares e amigos participando.

“Estação derradeira” é o quinto filme e, certamente, o menos interessante. Todo ele é dedicado í  Mangueira e pretende mostrar que Chico está bem ancorado numa tradição do samba carioca.

O último filme, “Bastidores”, fala-nos da música que Chico compí´s para o teatro: “Roda Viva”, “Calabar”, “Gota de água” e, claro, “A í“pera do malandro”.

Ao longo de toda esta semana, deliciámo-nos com estes seis filmes e recordámos os bons velhos tempos em que a música popular brasileira conseguiu, sem grande dificuldade, destronar o pop-rock anglo-americano, nas nossas preferências musicais. Foi um período curto, talvez entre 1973 e 1980, mas foi um tempo muito rico em boas canções, que toda a gente sabia cantar.

Obrigado Chico, por todos estes serões, em que recordei os meus 30 anos.


Chico Buarque – “Carioca”

chico_carioca.jpgOito anos depois do seu último disco, Chico Buarque resolveu dar um arzinho da sua graça, lançando este “Carioca”.

E é mesmo só um “arzinho” porque o disco é uma sombra dos bons velhos tempos do Chico – e isto não é saudosismo, é mesmo assim.

É verdade que a voz está lá, praticamente com o mesmo timbre, apesar dos 62 anos. É verdade que os arranjos são bons, embora haja para lá uma slide guitar que não fazia falta nenhuma. É também verdade que as letras continuam com a marca de qualidade habitual, com os jogos de palavras, com o gosto especial pela língua portuguesa.

Apesar disso, o disco não tem nenhuma grande canção, não tem nenhum daqueles temas que deixam uma marca.

Como costumo dizer: o que foi, não volta a ser…

A invasão tártara

Já devem ter reparado: ao longo dos telejornais, desfilam as mais variadas personalidades, exibindo o seu tártaro.

Quando o jornalista lhes faz a pergunta, e eles mantêm a boca fechada, tudo bem.

Mas quando abrem a boca e mostram os dentinhos de baixo, todos escurecidos pelo tártaro, acumulado há meses, um tipo nem acredita!

E são muitos, do major Valentim Loureiro í quele senhor do Sindicato da Função Pública. Todos com os dentes pretos ou castanhos, com camadas de tártaro, sedimentos acumulados há décadas!

Arranjem os dentes, senhores!

Destartarizem-se!

Elvis Costello – “This Year’s Model”

costello.jpgSegundo álbum de Costello, editado em 1978; o primeiro com os Attractions (Steve Nieve, nas teclas, Bruce Thomas, no baixo e Pete Thomas, na percussão). Está remasterizado e tem um segundo cd com algumas faixas extras curiosas.

Inicialmente conotado com o punk, Costello já fez de tudo, incluindo discos gravados na Deustch Gramophone e um álbum com canções do Burt Bacharach.

Quase 30 anos depois deste “This year’s model”, algumas faixas já soam a mofo, mas ainda há muito material de primeira, como “No Action”, “Lipstick vogue” e “Radio, Radio”, por exemplo.

Naqueles tempos, este Elvis era um acelerado e despachava as canções em 2 minutos e picos, í s vezes, menos, escondendo as melodias assobiáveis em voltas e reviravoltas.

Apenas como registo, o Sr. Costello é um rapaz da minha idade (um ano mais novo) e nasceu com o nome de Declan Patrick McManus, a 25 de Agosto de 1954, em Inglaterra.

Quartos de final, í  rasca

Não podia ser fácil. Aliás, não se esperava que fosse fácil, mas também não era preciso ser assim tão complicado.

Ontem, a selecção de futebol ganhou 1-0 í  Holanda e passou aos quartos de final do Mundial. Mas com que sofrimento!

O jogo foi um retrato do nosso país: í  rasca, sempre í  rasca!

A primeira parte até correu bem: Maniche marcou um bom golo e a Holanda parecia mais ou menos controlada.

Mas, pouco antes de terminar a primeira parte, o Costinha decidiu fazer uma patetice: meteu a mão í  bola, a meio do campo, sem necessidade nenhuma e, como já tinha um amarelo, foi para a rua.

E a equipa começou a segunda parte í  rasca.

Como bons portugueses, lá se foram desenrascando e, quando o árbitro expulsou um holandês, as coisas tornaram a ficar equilibradas. Mas o árbitro russo estava com a mão leve (mostrou 20 cartões amarelos e 4 vermelhos!) e expulsou o Deco.

Os holandeses, novamente em superioridade numérica, carregaram. Houve bolas í  trave, defesas difíceis do Ricardo, falhanços incríveis dos avançados holandeses e um enrascanço cada vez maior.

Mas, como bons portugueses, os nove sobreviventes da selecção, lá se foram desenrascando e até poderiam ter marcado um segundo golo.

No último minuto do jogo, outro holandês foi para a rua e ficaram nove contra nove e Tiago teve a possibilidade de marcar um golo porque, pelos vistos, a bagunça, em campo era tal, que todos se esqueceram dele e o tipo foi por ali fora, em direcção í  baliza, sem que ninguém o travasse. Acabou por perder a bola porque, penso eu, também ele achou que havia qualquer coisa de errado.

O jogo acabou e foi um alívio nacional!

Portugal está nos quartos de final e vai defrontar a Inglaterra.

Mas í  rasca, sempre í  rasca.

É a História de Portugal.

Andar aos figos

E, no meio da consulta, toca o telemóvel.

Já nem protesto.

“Sim, sou eu…” – diz o doente – “Vendo a 2 euros por quilo, mas você pode vender ao preço que quiser… 3 ou 4 euros… Quer quatro caixas?… Está bem, eu levo-as amanhã.”

Desliga o telemóvel e confidencia-me:

“Ando aos figos… as figueiras estão abandonadas e eu vou lá e apanho-os!… faço 100 a 200 euros por dia em figos… O doutor não quer uma caixinha?…”

Cem a duzentos euros por dia?

Que andei eu a fazer na Faculdade, com tantos figos para apanhar?!

Sopranos – 2ª série

sopranos2.jpgA 2ª série de Sopranos, datada de 2000, continua e aprofunda o grande êxito que foi a estreia desta saga televisiva da HBO.

A série começa com Tony Soprano (James Gandolfini) a actuar pela calada, sabendo que está a ser vigiado. Pussy (Vincent Pastore) reaparece, dizendo que esteve na Costa Rica, a tratar as suas lombalgias, mas nós sabemos que ele está a colaborar com o FBI, para apanhar Tony.

O stress é muito e Tony desmaia ao volante. Precisa, novamente, da ajuda da Dra. Melfi (Lorraine Bracco).

Tony visita Nápoles e percebe as diferenças entre a Mafia original e a nova-iorquina. De Itália, vem Furio (Feredico Castelluccio), para ajudar aos negócios sujos de Soprano. E, da cadeia, vem Richie Aprile (David Proval), que pretende fazer frente a Tony, recuperando alguns dos negócios que perdeu, enquanto esteve “dentro”.

Furio adapta-se bem ao seu novo habitat e, por momentos, toma o lugar de Christopher, que anda com a mania que vai ser um grande argumentista de cinema. Furio sabe usar bem o taco de baseball, quando se trata de sacar massa aos devedores.

Entretanto, Tony organiza o “executive game”, onde participa, por exemplo, Frank Sinatra Jr. E onde os capangas de Tony depenam um pato, dono de uma loja de desporto e que, com o dinheiro que perde no poker, fica refém dos mafiosos.

Carmela Soprano (Edie Falco) acaba por utilizar os mesmos métodos do marido, para que a filha, Meadow (Jamie-Lynn Sigler) consiga entrar na Universidade preferida. Pressiona uma advogada para que escreva uma carta de recomendação e, embora não lhe fazendo “uma proposta que ela não poderia recusar”, anda lá perto.

Quanto a Christopher, vê os seus sonhos de Hollywood desfeitos, devido í  sua impulsividade, esmurrando um colega da classe de representação, só porque lhe dá na gana. E acaba baleado por dois aspirantes a mafiosos que, vendo que a sua carreira não medra, decidem abatê-lo para ganhar fama no meio.

Richie Aprile parece ter descoberto a melhor maneira de enfrentar Tony, começando a namorar com a irmã, Janice (Aida Turturro). Para o irritar ainda mais, a mãe de Tony, Livia, vai viver com Richie e Janice. Livia é uma pessoa abjecta. Por momentos, temos pena de Tony e até compreendemos como é que ele se tornou num mafioso. Com uma mãe daquelas, qualquer um de nós seria sociopata.

O jogo duplo de Pussy não o impede, entretanto, de participar, com Tony, na execução de um dos rapazes que disparou sobre Christopher. O problema é que alguém reconhece Tony, quando ele está a arrastar o corpo. Por momentos, Tony fica aflito: a acusação de assassínio poderia pí´r fim í  sua promissora carreira. No entanto, quando a testemunha se apercebe quem é Tony Soprano, tem um ataque súbito de amnésia. Conveniente.

A Dra. Melfi lida cada vez pior com as sessões de psicoterapia com Tony, e começa a meter-se na vodka. Janice e Richie preparam o casamento – até já têm casa. Mas os negócios de Richie correm mal, porque Tony o detesta e o despreza. Corrado (Vincent Pastore), tio de Tony, joga com um pau de dois bicos: por um lado, incita Richie a enfrentar Tony, por outro, diz a Tony que Richie o quer destronar.

Janice acicata Richie: tu é que devias ser o chefe. Richie dá-lhe um soco e ela dá-lhe dois tiros. Sem o saber, Janice fez um grande favor a Tony. O que vale é que Tony, tudo resolve: com a ajuda de Chistropher e de Furio, levam o corpo para a fábrica de salsichas e cortam-no aos bocadinhos. Janice parte para Seattle e Tony respira de alívio.

No último episódio, Tony, na ressaca de uma gastroenterite que lhe provoca vómitos e diarreia de arrasar, sonha – um sonho provocado pela febre, um sonho onde estão todos os seus capangas. E, de repente, nesse sonho, Pussy desaparece. Tony acorda do sonho com a convicção de que Pussy é um delator. Junta os tipos do costume: Paulie e Sal, vai buscar Pussy e vão todos dar um passeio de barco, do qual, Pussy já não voltará.

A última cena da 2ª série de Sopranos é a cerimónia de graduação de Meadow. Na plateia, sorridentes, o pai, a mãe e o irmão – uma família orgulhosa pelo primeiro dos seus membros que consegue acabar o liceu.

Descrevi, sinteticamente, o argumento dos 13 episódios, para mostrar a riqueza da trama desta série. Para além das histórias que se vão cruzando, a série tem o mérito de nos mostrar como agem todos estes personagens: um clã de sociopatas que passam ao acto com muita facilidade, que roubam, ameaçam, destroem e matam, com a maior das facilidades e sem aparentes complexos de culpa.

Claro que são pessoas em situações limite mas, com as devidas distâncias, todas estas personagens me fazem lembrar pessoas que eu conheço.