“Todo-o-Mundo”, de Philip Roth

todo_o_mundo.jpgO novo livro de Roth (“Everyman”, no original) conta-nos a história de um homem qualquer, um homem no fim da vida, enfrentando a doença e a morte, a solidão e o sentido da vida (ou a sua ausência).

Depois do seu terceiro divórcio e depois de se reformar, este homem retira-se para a sua aldeia natal, para se dedicar í  pintura e recordar os bons e maus momentos da sua vida. Em sete anos, é operado outras tantas vezes, devido a problemas cardiovasculares. Há sempre uma artéria que teima em ficar entupida, no momento em que ele acaba de recuperar do desentupimento anterior.

Uma certa tristeza perpassa por toda a história, mas também uma resignação, que não é muito habitual nos romances de Roth. A isto não deve ser alheio o facto de o próprio Roth estar, também, doente e ter a mesma idade que o protagonista do livro.

Enfrentando a morte por várias vezes, arrependido de muitas opções que fez ao longo da sua vida, o homem está sozinho, como muitos de nós. Resignado.

E Deus está ausente de tudo isto.

Um Costa no Castelo

Todos os eleitores do novo presidente da Câmara de Lisboa não eram suficientes para encher o estádio da Luz.

Foi impressão minha ou, no domingo í  noite, Marques Mendes parecia mais baixinho?

Paulo Portas conseguiu acabar com o partido do táxi. Agora, nem de mota.

Manuel Monteiro – quem é?

Carmona e Roseta formaram Movimentos de Cidadãos. Esperemos que continuem em movimento.

Menos de meio lisboeta em cada cem, votou no PPM e, por isso, tem uma costela monárquica. Não dá, sequer, para uma grelha costal completa.

Felizmente, vivo em Almada.

O Estado protector

Vasco Pulido Valente, hoje, no Público: «Não sei como a minha geração, que viveu em permanente perigo de morte, conseguiu chegar í  idade adulta. (…) Quando, em 1940 ou 50, comecei a ir í  praia, comia bolas-de-berlim, com a criminosa colaboração da minha família. Aparecia a D. Aida com a sua lata e, em dez minutos, lá iam duas bolas a escorrer de creme, sem qualquer investigação ou autorização do Estado. O estado, nessa altura, não se interessava pela minha saúde».

Escreve ele isto, a propósito de mais uma intervenção da ASAE, desta vez atacando os vendedores de bolas-de-berlim, nas praias. Agora, as ditas bolas têm que estar acondicionadas em malas térmicas, í  temperatura de 7 graus, têm que ser servidas com pinças e os vendedores têm que ter um curso de manuseamento.

O Estado vela por nós. Cada vez mais.

Também eu gostava muito de bolas-de-berlim com creme, com muito creme. Também eu não sei como sobrevivi, embora me recorde, perfeitamente, de estar, de pé, agarrado a um varão, junto í  saída de um daqueles autocarros de dois andares da Carris, enjoadíssimo, aproveitando os solavancos do veículo, para vomitar, para a estrada, uma bola-de-berlim com creme, comida, horas antes, na praia.

Mas o Estado vela por nós. Cada vez mais.

Cientistas britânicos entregaram-se, recentemente, a um estudo verdadeiramente arrepiante. Arranjaram um programa informático qualquer, capaz de calcular o número de pessoas que não morreriam, se determinados produtos alimentares tivessem impostos mais altos. Já não me lembro dos números, mas era qualquer coisa do género: se aumentassem os impostos sobre o sal, poupavam-se xis mortes; se também se taxasse o açúcar, poupavam-se mais xis mortes; se se juntassem as gorduras, poupavam-se mais não sei quantas mortes. E assim sucessivamente.

Cheira-me a George Orwell.

O Estado preocupa-se, cada vez mais com a nossa saúde, não acham?

Peço desculpa, mas eu acho isto assustador.

O facto de existir, algures em Bruxelas, ou em Lisboa, um grupo de burocratas que decide o que é bom ou é mau, para mim, deixa-me incomodado.

Sobretudo, porque esses tipos não têm coragem para serem o que, no fundo, são – isto é, ditadores. E dizerem, por exemplo: as bolas-de-berlim passam a ser proibidas. Acabou-se a brincadeira! Se querem comer bolas-de-berlim, comprem-nas no mercado negro e comam-nas í s escondidas!

A mim, já nem me faz diferença. Há muitos anos que deixei, naturalmente, de comer bolas-de-berlim.

Não precisei que o Estado me educasse…

Apelidos – 2

Ora aqui vão mais uns quantos apelidos curiosos:

– Reis Dias Maneta

– Guerreiro Botão

– Valente Clara

– Marmeleiro Sapo

– Banheiro Corrula Caleia

– Jesus Velhinho

– Cravo Amiguinho

Que Jesus é Velhinho, já nós sabíamos, agora: como será uma Valente Clara? Será mais forte que uma valente gema?

O Cravo Amiguinho também já conhecia (“cravo, amigo, o povo está contigo!”), mas nunca ouvi falar de um Marmeleiro Sapo ou de um Guerreiro Botão.

Continuarei í  coca…

Sport Beijing e Benfica

Um grupo económico chinês quer comprar o Benfica.

Como me disse o Pedro, “os encarnados vão, finalmente, ser vermelhos”.

Um Benfica chinês? Por que não?

O capitão da equipa passará a chamar-se Si Mao Tsé-Tung.

Na baliza, estará Kim, claro e, com pequenas adaptações, todo o plantel se poderá manter: Lu-i Sao, Mao Torras, Peh Ti, Rui Kos-Tah…

Só o treinador, Fernando Santos, não se safa, nem que lhe mudem o nome para Lin Piao.

Vantagens de um Benfica chinês?

Muitas!

Bilhetes para os jogos í  venda em qualquer loja dos 300, a um euro. Fogo-de-artifício mais barato para a festa do título. Os adversários todos com os olhos em bico, perante os dribles dos vermelhos.

E a principal: acabar com essa mariquice do equipamento cor-de-rosa.

Como se dizia da China, no tempo do Bando dos Quatro (Vieira, Vilarinho, Santos e Berardo) – o Benfica, de Mao a Piao.

Dizer mal do governo, só cá em casa

A secretária de Estado da Saúde, Cármen Pignatelli, revelou toda a filosofia da nossa classe dirigente, ao dizer o seguinte:

“Eu sou secretária de Estado. Aqui (numa cerimónia pública), nunca poderia dizer mal do governo. Aqui. Mas posso dizer na minha casa, na esquina, no café.”

Estamos esclarecidos.

Se quiserem saber o que eu penso do ministro da Saúde e da sua secretária de Estado, das suas políticas, nomeadamente no que diz respeito aos cuidados de saúde primários, onde trabalho há mais de 20 anos, estão, desde já, convidados a vir aqui a casa.

Poderei, então dizer que #$$%fd$# de política é que Correia de Campos está a implementar e que /&%%$HJ, se não for pior…

correiadecampos_secretaria.jpg

Cagarros com GPS

“A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves está a colocar GPS nos cagarros das ilhas de Santa Maria e do Corvo, para estudar as suas deslocações no mar e identificar as áreas marinhas mais importantes para as aves”, diz o Público de ontem.

Cagarros controlados por GPS.

Vejam bem onde já chegou a perseguição aos fumadores.

Depois dos cigarros, os cagarros.

Um fumador já nem se safa com truques fonéticos: nunca mais poderei dizer “vou ali fora fumar um cagarro”, que logo o GPS me detecta!

“Na Praia de Chesil”, de Ian McEwan

napraiadechesil.jpgPublicado este ano, este pequeno romance de McEwan mais parece um conto extenso. A acção decorre em 1962 e centra-se em Edward e Florence, dois jovens apaixonados mas inexperientes, no que ao sexo diz respeito.

Ele gosta de rock and roll, ela é violinista e toca num quarteto de cordas. O namoro é o mais “respeitoso” possível. A revolução sexual ainda não tinha rebentado, mas estava í  porta. Já se falava que, nos EUA, as raparigas tomavam a pílula anticoncepcional.

Florence sabe que o casamento vai implicar intimidade física e, racionalmente, tenta preparar-se para isso. Edward está desejoso de tocar no corpo de Florence, já que ela nem um beijo na boca, que inclua contacto de línguas, lhe permite.

Com estas premissas, claro que a noite de núpcias é um desastre.

Afinal, “all you need is love” ou “all you need is sex”? Ou, melhor ainda: “all you need is love and sex”?

Lê-se de uma penada.

Columbo

columbo1.jpgFoi muito agradável rever a primeira série de 8 episódios de Columbo que foi uma das séries televisivas de culto, dos anos 70 do século passado.

Peter Falk criou um personagem único, que das fraquezas fazia forças. O seu aspecto insignificante e desleixado, com a gabardina sempre amarrotada e acanhada, os sapatos empoeirados, a gravata í  banda, o olho de vidro e o eterno charuto ao canto da boca, enganava os assassinos. Por trás dessa figura, tínhamos um misto de dedução de Sherlock Holmes, células cinzentas de Poirot e matreirice de Miss Marple.

A série baseava-se nesta excelente personagem e no seu contraste com os ambientes da classe alta de Los Angeles, as suas grandes mansões e os seus crimes sofisticados. Na primeira parte do episódio, era-nos mostrado como o assassino cometia o seu crime, arranjava o seu álibi e tentava esconder as provas. Na segunda parte, Columbo aparecia e ia massacrando o criminoso, até o apanhar em falso.

Claro que, se o CSI já existisse, cada cenário de crime de Columbo, seria um paraíso de provas. Mas, naqueles tempos, não havia ADN, nem luzes especiais para detectar manchas de esperma, nem maneira de saber a quem pertencia aquele cabelo minúsculo. Também não havia computadores, muito menos, telemóveis.

Por trás de cada argumento, a mão de Steven Bocho que, depois, se tornaria famoso com Hill Street Blues.

Uma curiosidade: o primeiro episódio, datado de 1971, foi realizado por um rapazinho chamado Steven Spielberg.