O CDS e a unidose

portas_supositorio1.jpgE por que será que o CDS quer a unidose?

Quantos comprimidos para controlar a tensão hei-de eu receitar a um hipertenso: 30 para um mês, 60 para dois meses ou 365 para o ano inteiro? E quantos comprimidos receito para uma dor de dentes?

Se não me engano, neste momento, só os anglos-saxões continuam a usar as unidoses e, pelo menos em Inglaterra, já se fala em deixar essa velha mania.

Desde que houve o redimensionamento das embalagens, já há caixas com 10, 30 e 60 comprimidos de anti-inflamatório, caixas de 10, 20 e 60 de analgésicos, caixas de antibiótico para tratamentos de 3, 6, 7 ou 10 dias.

O problema é que há médicos que, distraidamente, prescrevem embalagens grandes quando uma pequena chegaria para uma dada situação.

O problema é que há doentes que continuam a não tomar a medicação até ao fim.

De qualquer modo, fiquei com a pulga atrás da orelha: por que raio é que o CDS quer a unidose?

Cinco meses sem fumar

A sensação de liberdade é magnífica!

Não estar sempre í  espera do momento para fumar mais um cigarro, não cheirar a tabaco, não ter a boca a saber a almanaques Bertrand de 1923 e seguintes, não ressonar, não tossir, não ficar a arfar depois de subir uma ladeira, não andar sempre í  procura do isqueiro, não ter cinzeiros para despejar, não sentir o coração a bater descompassado depois de três cigarros seguidos, não ser olhado de lado pelos próprios filhos, não estar com medo de queimar o sofá com o morrão do cigarro, não ter buracos no tapetes do carro, ter menos pedra nos dentes, não ter os dedos amarelos, não ter que me chatear por causa da hipocrisia da lei anti-tabaco…

…poupar cerca de dois mil euros/ano…

Santa Clara, a Velha e a costa vicentina

A barragem de Santa Clara, no concelho de Odemira, tem uma albufeira linda e, nas margens, uma Pousada muito tranquila e competente.

As torres elevatórias da barragem fazem lembrar uma obra da engenharia soviética ou algo da Dharma Iniciative.

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De manhã cedo, a neblina sobrevoa as águas da albufeira e dão-lhe um ar lúgubre.

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Para chegar í  costa vicentina, tem que se percorrer uma estrada com curvas e contracurvas. Podemos começar por Vila Nova de Mil Fontes, onde o Atlântico tenta empurrar o rio Mira de volta para o continente, em vão.

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No Cabo Sardão, há um farol, um campo de futebol de terra batida (as bolas fora vão parar ao Atlântico) e cegonhas que fazem ninho mesmo ali ao pé da rebentação.

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A Zambujeira é mais bonita quando está deserta.

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“Viagens no Scriptorium”,de Paul Auster

viagens.jpgQuando se tem uma carreira firmada, já se pode brincar um pouco consigo próprio, e vender livros na mesma.

Neste pequeno livro, de cerca de cem páginas, Auster conta-nos uma história sem princípio nem fim – tem apenas o meio: um velhote, fechado num quarto, com a memória muito afectada, aparentemente culpado de alguns crimes. Decidiu chamar-lhe Mr. Blank (vazio) e, pelos vistos, este velhote poderá ter sido o culpado de algumas das personagens que Auster criou, nos seus romances anteriores.

Ou não.

Mas há uma grande história, que vale toda a narrativa: um homem vai, todos os dias, ao mesmo bar e pede três whiskies, que bebe, de enfiada. Intrigado, o empregado do bar, perde a vergonha e, ao fim de alguns dias, pergunta-lhe por que motivo ele pede três whiskies e os bebe, de enfiada, em vez de beber um whisky e, só depois, pedir outro. O homem explica-lhe que tem mais dois irmãos, a viver longe e que os três combinaram, a uma determinada hora do dia, beberem um whisky em honra de cada um deles.

Os meses passam-se e, ao fim de algum tempo, o homem pede só dois whiskies, em vez de três. O barman pensa que um dos seus irmãos talvez tenha morrido, mas não tem coragem para perguntar. No entanto, a sua curiosidade é mais forte e, alguns dias depois, acaba mesmo por perguntar, por que razão o homem passou a pedir só dois whiskies – será que lhe morreu algum dos irmãos? Qual quê! exclama o homem. Os meus irmãos estão óptimos. Eu é que deixei de beber!

Cinco estrelas!

Um cheiro nunca visto!

Os telejornais rejubilaram: um cheiro a gás invadiu parte da cidade de Lisboa. Vários edifícios foram evacuados. Vieram os bombeiros, a polícia, a protecção civil e, claro, os jornalistas. Repórteres histéricos entrevistavam transeuntes em pânico, ninguém sabia, ao certo, o que se passava, mas diversos “especialistas” de bigode e cara de caso, levantavam tampas de esgoto e mergulhavam aparelhos de medição, em busca do gás – porque tinha que ser um gás.

Nos dias anteriores, os mesmos telejornais tinham transformado em notícia nacional, uma explosão e fuga de gás num bairro, em Évora. Portugal é, de facto, uma pequena paróquia e um traque do padre é notícia nacional.

Ora, como no tal bairro de Évora, a fuga do gás fora para os esgotos, talvez o mesmo se estivesse a passar em Lisboa. Evacuou-se uma Universidade, chegou a temer-se pela segurança do Hospital de Santa Maria e seus doentinhos.

A repórter da RTP-1, uma loira, que também acompanhou o caso Maddie, esganiçava-se para a câmara, em directos sobre coisa nenhuma, porque não havia coisa nenhuma para noticiar.

A causa do cheiro a gás, afinal, provinha de um frasco partido de ácido sulfídrico, que alguém deitou nas traseiras da faculdade de Farmácia.

Como dizia uma testemunha, í  beira do colapso, “foi um cheiro que nunca visto!”

Podem crer: quando um cheiro for visto, os jornalistas atingirão o orgasmo!

Em directo.

“Lost” – 3ª série

lost3.jpgA sensação que dá é que os argumentistas desta série andam í  pesca e vão construindo o argumento í  medida que a série vai evoluindo. Depois, adaptam os “flashback” ou o percurso das várias personagens, conforme os acontecimentos. A flexibilidade do argumento até lhes permite matar uma personagem e fazê-la reaparecer mais tarde, num “flashback” ou numa alucinação qualquer.

Convenhamos no entanto, que a série perdeu metade da graça que tinha, í  medida que se vai percebendo que os Outros, enfim, são assim uma espécie de seita. E depois, há alguns pormenores místicos que me desagradam, bem como algumas idiossincrasias demasiado estapafúrdias, como o urso polar e a mancha negra que, de vez em quando, ataca as pessoas.

Mas, como já disse, a propósito da 2ª série, se entrarmos no espírito da coisa e se partirmos do princípio que, está-bem-abelha-o-tal-Jacob-e-a-especialista-em-fertilidade
-e-a-força-da-ilha-e-tal-e-coisa, a série ainda se vai papando e ainda não aleija a inteligência.

No entanto, não deixo de pensar que os writers perderam uma boa oportunidade de fazerem uma grande série, porque o material dava pano para mangas se, em vez de seguirem o caminho mais ou menos místico, optassem por algo mais ligado í  teoria da conspiração, tipo “ilha secreta onde se fazem experiências esquisitas, í s escondidas do resto da humanidade”.

Por exemplo…

A resposta da Câmara

E cerca de um mês depois, chegou a resposta da Câmara: 

“Exmº Sr. Artur Couto e Santos: 

Relativamente ao seu E-Mail de 09/12/2007, sobre o assunto em epígrafe, incumbiu-me o Chefe da Divisão de Trânsito e Segurança Rodoviária, Jorge Aleixo (Engº), de informá-lo que o estacionamento verificado sobre os passeios da Av. 25 de Abril, é considerado estacionamento abusivo pelo Código da Estrada, pelo que é uma atribuição da PSP, no entanto, para melhorar a actuação desta matéria a Câmara criou uma empresa municipal de estacionamento, a “…ECALMA – Empresa Municipal de Estacionamento de Almada”. Assim, de futuro, os fiscais desta empresa irão actuar nesta via, pelo que os problemas referidos irão ser resolvidos.
Mais informamos que foi dado conhecimento desta situação í  ECALMA. 

O Assistente Administrativo Principal, Paulo Costa”

Estarei atento…

dentada na língua

Que dizer desta parangona do jornal “Sem Mais”, de distribuição gratuita e que vem com o Expresso, aos sábados?

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O pobre do secretário de Estado que consta da foto, é o mesmo que propí´s que os reformados recebessem o magro aumento em suaves prestações mensais, o que ia dar cerca de 60 cêntimos por mês, se não me engano.

Claro que o pobre do homem não tem culpa que o ESTíšPIDO DO JORNALISTA NíƒO SAIBA ESCREVER A PALAVRA “CRECHES”, PENSANDO QUE íˆ UMA FORMA DO VERBO CRESCER!!!

BURRO!!!

“In Rainbows”, dos Radiohead

rainbows.jpgJá está í  venda o novo disco dos Radiohead, o tal que esteve disponível no respectivo site, para download, a troco do “que quiserem dar”. Apesar disso – ou, por isso mesmo – o disco está no primeiro lugar no top de vendas, pelo menos nos EUA.

Já o ouvi duas vezes e parece-me mais do mesmo, uma espécie de “Hail to The Thief” um pouco mais desenvolvido. O líder da banda, o Sr. Yorke, vai desenvolvendo a sua personalidade esquizóide, através de canções com melodias obsessivas, repetitivas, umas mais apelativas do que outras. Por vezes, parece que o tipo faz de propósito para complicar o que é simples, enredando as frases musicais, voltando atrás, repetindo o que já disse. Umas vezes resulta, outras vezes começa a ser chato.

Na faixa “Bodysnatchers”, Yorke diz, por exemplo: “I am trapped in this body and can’t get out” e esta frase parece resumir todo o disco – o homem está preso dentro dele próprio e não sabe como sair dali. Será que quer mesmo sair dali? Ou será que lhe dá jeito ter este ar de deprimido-esquizofrénico-drogado-que-não-tem-onde-cair-morto?

rainbows2.jpgBasta ver como as letras das canções estão impressas no livrinho que acompanha o disco. É mesmo para ninguém ler…

Onde está o good old rock’n’roll?

travelwilbury.jpgVem esta nostalgia a propósito de um disco que me ofereceram neste Natal – um duplo álbum que reúne os dois discos editados pelos Travel Wilburys, uma banda de rock formada por dois notáveis falecidos, George Harrison e Roy Orbison, e mais três figuras: Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne. Esses discos foram editados, originalmente, em 1988 e 1990, muito tempo depois dos tempos áureos de Harrison e pouco antes da morte de Orbison. Se calhar, as canções contidas nesses dois álbuns não são lá muito originais, os acordes são sempre os mesmos – mas com que alegria aqueles cinco gajos atacam cada um dos temas, contrastando com esta depressão esquizóide do Yorke, que chega a exasperar.

Em resumo: não me importo de ouvir, todos os dias, os Travel Wilburys a cantar “everybody’s got somebody to lean on/ put your body next to mine and dream on”, na cantiga “Handle with care”… já para escutar Tom Yorke a cantar estas melopeias repetitivas de “In Rainbows” é preciso estar com pachorra, que nem sempre se tem…