Se Gaspar fosse mais velho…

Se Gaspar fosse mais velho, digamos, se tivesse nascido em 1953, como eu, poderia ter feito o 6º ano do Liceu no D. João de Castro e conseguir, como eu consegui, 14 valores na cadeira de Organização Política e Administrativa da Nação.

Mas Gaspar nasceu em 1960, pelo que deve ter acabado o Liceu já depois do 25 de Abril e, portanto, não teve essa cadeira.

É por isso que Gaspar faz Orçamentos inconstitucionais.

Porque quem estudava Organização Política e Administrativa da Nação sabia que “a soberania reside em a Nação”, como dizia o livro da cadeira.

A soberania não reside em a troika, ou em o FMI, ou em a União Europeia – reside em a Nação!

Estás a topar, Gaspar?…

Afinal, o Relvas é animista

Que o Relvas não é lá muito católico, já a gente tinha percebido – agora, saber que o adjunto do Coelho é, afinal, um animista, é que foi uma grande surpresa!

E penso que foi esta revelação que esteve na base da sua demissão, e não o facto de ter feito falcatrua com o curso da Lusófona, até porque isso não é nada de especial…

Só ontem, ao escutar o discurso de demissão, ficamos então a saber a tendência religiosa de Miguel Relvas.

Qual foi a principal e única causa que ele apresentou para se demitir?

Exactamente a falta de “condições anímicas para continuar”.

Ora aí está, o animismo!

Como se sabe, o animismo refere-se í  manifestação religiosa que imana de todos os elementos do Cosmos (Sol, Lua e estrelas), de todos os elementos da natureza (rios,oceanos, montanhas, florestas, rochas), de todos os seres vivos (animais, fungos, vegetais), e de todos os fenómenos naturais (chuva, vento, dia, noite).

Relvas (vegetal) converteu-se ao animismo, para melhor poder servir Coelho (animal), sob a orientação de Cavaco (madeira, floresta).

Mas sem “condições anímicas” o que pode um animista fazer?…

Kim Jong-un, dois, três!

coreia

Andamos nós preocupados com a dívida soberana, a paridade do euro, as diatribes da Sra. Merkel e os resgastes do FMI.

Para quê?

Basta este general de quatro estrelas, que nunca foi militar, encontrar o botão e carregar.

Acaba-se a crise…

Um espião no Conselho de Ministros

Jorge Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas do Estado, vai ser interrogado na próxima 4ª feira pelo Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

É acusado dos crimes de abuso de poder, acesso ilegítimo a dados, violação do segredo de Estado e corrupção passiva.

Foi esta semana integrado como funcionário da Presidência do Conselho de Ministros, por despacho conjunto do primeiro-ministro e dos ministro das Finanças, publicado no Diário da República.

Por outras palavras: Passos Coelho e Vitor Gaspar contrataram um ex-espião, suspeito de vários crimes, para o Conselho de Ministros.

Parece-me correcto.

Ao saber desta notícia pelos jornais, Silva Carvalho disse «estou disponível e posso ajudar».

E Coelho e Gaspar bem precisam de ajuda!

Mas Silva Carvalho – qual 007 de pacotilha – disse mais: «Eu não sou esquisito, temos de ter alguma dose de humildade nestas coisas».

Claro, pá – servir os americanos ou os soviéticos, espiar para os árabes ou para os israelitas, trabalhar para o Passos Coelho ou para o Gaspar – é igual – desde que paguem o salário.

Ao Expresso, Silva Carvalho disse, a propósito do seu pedido de reintegração ter demorado tanto tempo a ser aceite: «sou forçado a compreender que durante o período do governo de José Sócrates tenha havido algumas nuances políticas em relação ao meu processo».

Mas agora, que Sócrates regressou í  ribalta, talvez dê jeito a Passos Coelho ter um ex-espião a trabalhar para si.

Ná! Deve ser só coincidência!

E falta de vergonha…

Francisco lava mais pés

Anda meio mundo espantado com o Papa Francisco.

Que ele está farto de inovar, quebrando várias barreiras – tenho lido.

Fui ver.

Será que Francisco reconhece os homossexuais, aceita o uso de preservativo, compreende o aborto, propõe mulheres-padres?

Não.

Francisco desistiu do papamóvel e lavou os pés a uma muçulmana.

De inovações dessas está o inferno cheio!

Se a cerimónia do lava-pés é apenas um gesto simbólico, qual será o simbolismo de ir lavar os pés a 12 jovens presos, incluindo mulheres?

Dizem que foi algo inédito, já que foi a primeira vez que um Papa lavou os pés a mulheres.

Não tarda nada, está a lavar-lhes os sovacos e as virilhas e, a partir daí, nunca se sabe do que um argentino é capaz!

No final da cerimónia, disse Francisco: «não se trata de lavar os pés uns aos outros todos os dias, mas devemos ajudar-nos.»

Os dermatologistas dizem o mesmo: lavar o corpo todos os dias agrava a secura da pele.

Já no dia anterior, na chamada missa crismal, Francisco tinha sido inovador, ao exortar os padres a serem diferentes. Disse: «sede pastores com ‘cheiro das ovelhas’… pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens».

Ora, para que os padres fiquem com o cheiro das suas ovelhas, não convém que lhes lavem os pés todos os dias.

Perde-se o perfume ovino.

Voltando í  cerimónia do lava-pés.

Parece que esta cerimónia é uma espécie de medidor do grau de inovação papal.

Li que Bento 16 já inovara «ao lavar os pés a 12 laicos do sexo masculino», mas Francisco inovou ainda mais, «ao incluir mulheres e jovens de várias confissões religiosas».

Esperemos que, para o ano, Francisco lave os pés a pretos e maricas.

Aí sim, Jesus gritará vitória!

Sócrates strikes back

Deixemo-nos de embustes, Sócrates dá 5 a zero a qualquer outro político da actualidade.

Não diz a verdade toda mas fá-lo com convicção.

Não há narrativas que superem a sua prosa.

O Seguro não vai morrer de velho – o Seguro está morto.

Ao pé dele, Portas é um postigo, Passos tropeça, Coelho não passa de um láparo.

E o Cavaco?

Depois daquela sova já terá saído dos cuidados intensivos?

 

 

“No Coração Desta Terra”, de J. M. Coetzee (1976)

Um livro deste autor sul-africano, Nobel em 2003, é garantia de uma boa leitura.

no coração desta terraEste “In The Heart Of The Country” (prémio da Central News Agency em 1977), está escrito como se fosse um diário.

J. M. Coetze dá a voz í  filha única de um fazendeiro branco.

Virgem, desengraçada, solitária, vive numa quinta num local ermo, com o pai e três criados negros. Quando um dos criados leva para a quinta uma jovem imberbe, para se casar com ela, as desgraças vão começar. O fazendeiro leva a miúda para a cama e a protagonista mata o pai (ou terá sido o marido enganado?).

“No Coração Desta Terra” (edição D. Quixote, tradução de Maria João Delgado), tem 266 entradas, como se fosse um diário, mas sem datas, e é assim que a acção se vai desenrolando.

A protagonista, deprimida, feia, seca, azeda, vai-nos contando a história das desgraças e tecendo considerações sobre a solidão, as suas aspirações, os seus sonhos e devaneios, as suas alucinações, os seus delírios.

Aconselho.

Outros livros do mesmo autor: “O Homem Lento”; “Diário de Um Ano Mau”; “A Vida e o Tempo de Michael K.”.

“O Homem do Castelo Alto”, de Philip K. Dick (1962)

Arranjei finalmente tempo para ler este livro de Philip K. Dick, do qual já tinha ouvido falar muitas vezes.

O Homem do Castelo AltoA acção do livro decorre nos anos 60 do século 20, e parte do princípio de que a Alemanha nazi, o Japão e a Itália ganharam a segunda guerra mundial. Boa ideia que, no entanto, não terá sido bem aproveitada, na minha opinião.

Como livro de um autor de ficção científica, há uma mistura tecnológica: existem os chamados peditáxis, que são veículos movidos a pedais e guiados por “chinas”, mas também já há foguetões que fazem a ligação entre a Europa e a América; os alemães já estão a colonizar a Lua, Marte e Vénus mas, ao mesmo tempo, a televisão ainda está em fase muito experimental; e, estranhamente, apesar de todas essas viagens pelo espaço já parecerem coisas do quotidiano, as pessoas continuam a comunicar por telefone fixo e não há computadores, nem nada que se pareça.

Hitler está demente e internado num lar, mas Goebbels e outros nazis de renome, continuam a mandar, todos a cair da tripeça, porque serã já octogenários. Percebe-se que há uma nova orientação das nações, que os EUA desapareceram como tal, mas a coisa nunca é muito bem explicada.

Numa palavra: ao contrário de muitos outros livros de Philip K. Dick, este desiludiu-me um pouco, ou então, sou eu que já não tenho muita pachorra para FC.

Esta edição, da responsabilidade do jornal Público, integrada na colecção “Autores não Nobel, premiados pelo tempo” (tradução de António Porto), também não ajuda, devido í  quantidade alarmante de erros tipográficos que tem, para além de parecer uma adaptação de uma tradução brasileira ou espanhola (?).

“Um Homem Inquieto”, de Henning Mankell (2009)

Cheguei a este autor sueco através da séria Wallander, da BBC, protagonizada por Kenneth Branagh.

Gostei da atmosfera da série e fiquei curioso, para saber se os livros de Henning Mankell eram tão bons como a série.

homem inquietoEste “Um Homem Inquieto” (Editorial Presença, 2012, tradução de Ulla Baginha) é o último dos dez livros que Mankell escreveu tendo o detective sueco Kurt Wallander como principal personagem.

O ambiente do livro é tipicamente sueco ou, pelo menos, a ideia que fazemos da Suécia, vagamente depressivo, com pouco sol, quotidianos sombrios, rotineiros.

Wallander é um tipo um pouco perturbado com a sua história pessoal e, neste último livro, com a sua saúde: sofre de diabetes, faz insulina, tem hipertensão e, de vez em quando, lapsos de memória que, no final do livro, se aproximam cada vez mais do Alzheimer.

Por um lado, isto faz de Wallander uma personagem mais “humana”, por outro lado, conferem í  narrativa mais traços depressivos, que se juntam í s paisagens tristes, í s manhãs frias, í s noites escuras – e tudo isto é muito bem retratado na séria da BBC, que tem a virtude de resolver tudo em hora e meia de telefilme, enquanto aqui, no livro, as coisas, por vezes, demoram tempo demais.

O estilo da narrativa e a composição da personagem de Wallander fazem-me lembrar, por vezes, o comissário Maigret, criado pelo grande George Simenon; no entanto, enquanto Maigret apreciava um bom copo de vinho e, por vezes exagerava, ficando ligeiramente ébrio, mas divertido, Wallander afoga-se em vodca e, depois, fica com peso na consciência. A diferença entre os povos do norte e os do sul da Europa…

Este “Um Homem Inquieto” conta-nos a história de um oficial da marinha sueca que, subitamente, desaparece, seguido da sua mulher, a qual surge, mais tarde, assassinada. Por trás desta trama, há uma história inesperada de espionagem.

O livro lê-se bem, mas é um pouco longo demais e a história nuclear pareceu-me demasiado “sueca”.