No domingo de Páscoa, algumas almas caridosas decidiram levar o Senhor a beijar aos velhinhos dos lares.
Num lar em Vila Verde, o senhor prior trouxe o crucifixo que, nesta época do ano, toma o nome específico de compasso e uma das empregadas do lar, devidamente mascarada, levou-o a cada um dos velhinhos, para que o beijassem. Entre cada beijoca, a empregada limpava a saliva do velhinho do corpo do Senhor, com um paninho, sempre o mesmo.
Enquanto a empregada ia oferecendo o crucifixo a cada velhinho, o padre ia cantando Aleluia, Aleluia, mas não era a do Leonard Cohen, e o padre estava desafinado. Via-se que alguns dos idosos beijavam o Senhor com alguma displicência, fruto, talvez, de perturbações neurológicas próprias da idade avançada.
Alguém filmou esta cena pungente e colocou-a no Facebook, para que todos pudessem ver como se celebra a Páscoa em Vila Verde, em tempos de pandemia.
No vídeo, vê-se a empregada a dar o crucifixo a beijar a um velhinho muito trí´pego que, coitadinho, lambuza o corpo do Senhor todo; a empregada limpa-o com o paninho e oferece o crucifixo ao velhinho seguinte, que recusa beijar o Senhor. Algum ateu, certamente. Como podem aceitar ateus destes em lares tão pios?
Há outro vídeo que circula por aí, feito numa rua de Barcelos e que mostra uma senhora, também muito pia, segurando um crucifixo XL. Os crentes, guardando a devida distância entre si, por causa do coronavírus, atravessam a estrada, í vez, para beijar o Senhor.
Finalmente, num outro lar, em Melgaço, a própria directora do lar decidiu levar o Senhor a beijar aos velhinhos residentes. Entre cada ósculo, borrifava o corpo do Senhor com um desinfectante em spray. Esta piedosa senhora foi mais longe, visitando também alguns velhinhos que ainda vivem nas respectivas residências. Anunciava a sua chegada com o tilintar de um sininho, oferecia uma máscara ao idoso e ele beijava o Senhor através da máscara.
A razão deste pormenor, escapou-me. Por que raio é que os velhotes internados não tiveram direito a uma máscara? A culpa é do Governo, que não fornece máscaras em quantidade suficiente.
A directora deste lar de Melgaço explicou, no Facebook, que os velhinhos estavam há muito tempo sem visitas, muito tristes e desanimados e, assim, levando-lhes o Senhor a beijar, eles ficaram mais felizes.
E mais infectados, acrescento eu ““ mas isto sou eu, um ateu empedernido, que nunca beijou o Senhor…
Perante estes casos, percebe-se melhor por que razão há muitos mais casos de coronavírus do Norte do que no resto do país.
Por isso, penso que as autoridades de Saúde deveriam divulgar o seguinte aviso:
A DGS ACONSELHA:
FAí‡A O TESTE DO COVID 19 ANTES DE BEIJAR O SENHOR