“Uma História das Mulheres em 101 Objectos”, de Annabelle Hirsch (2022)

A autora nasceu em 1986 e trabalha como jornalista freelancer. Decidiu escrever este curioso livro (420 páginas) em que descreve 101 objectos de certo modo relacionados com a mulher e a sua relação com a sociedade.

Os textos estão organizados por ordem cronológica, começando com o osso do fémur sarado, datado de cerca de 30 mil anos antes de Cristo e terminando com uma madeixa de cabelo cortada por homenagem à jovem morta pela polícia iraniana por não usar o véu de modo “adequado”.

Sendo 101 objectos, os textos são muito diversos, uns mais interessantes que outros, mas, no geral, dão uma boa ideia da luta que as mulheres foram desenvolvendo no sentido de se tornarem cada vez mais livres e independentes (claro que, em certas sociedades, essa luta não lhes valeu de quase nada…).

De entre as muitas curiosidades que estes textos nos desvendam, aqui fica uma, no texto sobre o bidé:

“Porém, esta ligação feminina com o bidé parece não ter existido em todo o lado – nem toda a gente sabia como o utilizar, nem com que finalidade. Reza a história que, quando um enviado francês, à semelhança do que se fazia nas festas francesas, ofereceu um bidé a uma senhora romana, foi lá que ela lhe serviu o peixe na refeição seguinte.”

No texto sobre a Litografia L’ Ávenir:

“Como dia a socialista e feminista Flora Tristan, avó de Paul Gaughin, em 1843: «Mesmo o homem mais oprimido encontra um ser para oprimir: a sua mulher. ela é o proletariado do proletariado». Com esta constatação, nascia o feminismo, que estendia a mão ao socialismo emergente para lutarem contra um sistema de poder injusto, o capitalismo patriarcal”.

E, finalmente, este naco que faz parte do texto sobre o chocolate de rádio:

“A casa, localizada em Cottbus, tinha no seu sortido vários chocolates com uma pitada de rádio – chocolate para beber, barras de chocolate, pequenos snacks (…). Concretamente, «o segredo do seu efeito rápido e penetrante baseia-se no facto de o rádio integrado no chocolate de alta qualidade chegar rapidamente à corrente sanguínea e, assim, a todos os órgãos, ao sistema nervoso central, às glândulas, aos nervos e às últimas ramificações das células». (…) A partir do início do século, quase tudo era enriquecido com rádio, desde os cremes faciais às pastas de dentes, aos batons, aos pós de arroz e ao champô. Havia supositórios de rádio para aumentar a «potência sexual», o radio-active eye applicator – uma espécie de óculos radioactivos que supostamente curavam dores de cabeça e problemas de visão – as pessoas eram aconselhadas a beber água com rádio (os copos e as garrafas especialmente fabricados para o efeito ainda hoje aparecem, de vez em quando, nas lixeiras alemãs) e eram oferecidos banhos de rádio nas termas para tratar o reumatismo, as dores nas articulações e outras queixas semelhantes.”

Mais um livro curioso que vale a pena ler.

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