Telegramas sortidos

Esta história da Wikileaks, que já enjoa, vai enjoar durante muito tempo – mais tempo do que a história da falta de açúcar (quanto à falta de afecto, nem vale a pena falar…)

Com mais de 200 mil telegramas roubados, haverá pano para mangas e sempre que os jornais estiverem sem assunto, podem sempre ir ao sítio do Assange e arranjam, de certeza, um telegramazito para fazer a primeira página.

No fundo, isto tem uma vantagem: fala-se menos da dívida soberana, que era outra história que já cheirava mal (sabem a como está a taxa de juro agora? se tivesse ultrapassado os 7% sabiam…).

Agora, no meio daqueles telegramas todos, descobriram um sobre a pobre da Maddie. Que o embaixador britânico disse ao americano que a polícia inglesa tinha descoberto provas contra os pais da miúda.

E depois? Isto é alguma novidade?

Não é, mas é o suficiente para mais umas quantas primeiras páginas e reportagens de 20 minutos nos telejornais.

Bocejo…

Vão ver que ainda vão descobrir um telegrama com o nome da mãe do filho do Cristiano Ronaldo, outro com a morada actualizada do Bin Laden e ainda outro com a cura do cancro…

PS – Assange é um apelido com sonoridade francesa e “singe” é “macaco” em francês. Por outras palavras, o fundador da Wikileaks é um grande macaco!

Mexerikileaks

Anda tudo num alvoroço por causa da revelação da Wikileaks.

Um australiano, com cara de obstipado crónico, inventou esta coisa que consiste na exposição pública de conversas privadas. Enfim, o gajo não inventou nada. Limitou-se a transpor para a alta política o mesmo espírito do Big Brother televisivo.

Diz ele que é o direito à liberdade de imprensa. Resta saber se, ele próprio, aceitaria que fossem publicadas as suas conversas com a mãe, ou com as eventuais namoradas, ou com as fulanas que dizem ter sido assediadas e violadas por ele…

Mas, afinal, que novidades é que nos dá o Assange?

Que a ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros disse que Hugo Chavez «é uma besta, mas não é estúpido».

Que o presidente do Egipto, Mubarak, no poder desde 1981, deverá ser candidato em 2001 e poderá continuar no cargo até morrer.

Que a presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff, organizou três assaltos a bancos, nos tempos em que era guerrilheira de esquerda.

Que Angela Merkel terá dito que Putin era um “macho alfa” e Sarkozy um “rei vai nu”.

Que um conselheiro de Sarkozy terá dito que Chavez é louco e o estado iraniano é fascista.

Que Berlusconi é um tipo superficial e que é o “porta-voz” de Putin na União Europeia.

Que os diplomatas americanos dizem que Merkel é «o único homem capaz de governar a Europa».

Que Medved é o Robin do Putin Batman.

Etc, etc…

Olha que novidade!

Isto são coisas que toda a gente diz, no dia a dia.

Tudo isto está ao nível das revistas sociais, que exploram as figuras públicas. Mexericos. Mexirileaks.

Assange é um daquele heróis improváveis, que acaba por ter o apoio da esquerda que adora passar um fim de semana em Nova Iorque mas que, na sua fantasia anti-imperialista, pensa que era bom viver num regime norte-coreano ou iraniano.