“O Perigo de Estar no Meu Perfeito Juízo”, de Rosa Montero (2023)

Montero pensa que a criatividade e a loucura talvez não andem de mãos dadas, mas têm apenas uma parede finíssima a separá-las.

Nascida em 1951, esta escritora espanhola, de quem já li A Boa Sorte, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te e Instruções Para Salvar o Mundo, dá-nos inúmeros exemplos de escritores, uns famosos, outros menos, que lutaram contra a loucura ou que a deixaram tomar conta de si próprios e que a aproveitaram para criar as suas obras.

Com efeito, são inúmeros os exemplos. Rosa Montero gosta, especialmente, de Sylvia Plath (1932-1963), Virginia Woolf (1882-1941) e Emmanuel Carrère (1957). Plath suicidou-e com a cabeça dentro do fogão da cozinha, Woolf suicidou-se metendo-se no mar, vestindo um sobretudo cheio de pedregulhos, e Carrère, embora não se tenha suicidado, sofre de uma perturbação bipolar.

Mas há muitos outros exemplos de criadores suicidas, alcoólicos ou loucos – e Montero compara-se com eles, em certa medida, embora nunca assuma nenhuma doença mental ou vício de substâncias aditivas.

A sua tese é que a criatividade está ligada a mentes diferentes das mentes das pessoas, digamos, comuns, banais.

Tem razão, certamente, mas não penso que seja absolutamente necessário dar as mãos à loucura para ser criativo – e poderia elencar uma lista de nomes de autores que criaram grandes obras sem estarem a entrar e sair de instituições psiquiátricas. Apesar disso, recomendo.

“A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te”, de Rosa Montero (2013)

Desta escritora espanhola, só tinha lido Instruções para Salvar o Mundo (2008), livro que muito apreciei.

a ridicula ideiaDevorei agora este livrinho de cerca de 150 páginas e há muito tempo que não lia nada que me enchesse tanto as medidas.

A partir de um pequeno diário escrito por Madame Curie, após a morte violenta e súbita de Pierre Curie, Rosa Montero fala sobre a sua própria experiência de perda, já que o seu companheiro de décadas, Pablo, morrera recentemente, vítima de cancro.

Rosa Montero usou a escrita deste livro como terapia para o vazio que o desaparecimento de Pablo lhe deixou e socorre-se do exemplo de Maria Curie, uma mulher aparentemente austera e fria mas que, naquele pequeno diário, se revela uma mulher carinhosa e sensual.

Pelo caminho, Rosa Montero fala da dificuldade que as mulheres ainda têm para se afirmarem num mundo de homens, conta pequenos episódios relacionados com a sua profissão de escritora, fala-nos de amizade, de amor, de sexo, da vida e da morte.

Recomendo vivamente!

 

“Instruções para salvar o mundo”, de Rosa Montero

Rosa Montero nasceu em Madrid, em 1951, e é autora de diversos romances. Este curioso “Instruções para salvar o mundo” é a primeira obra da sua autoria que eu leio e agradou-me.

A acção decorre nos subúrbios da capital espanhola e conta-nos a história de três personagens, cujas vidas se cruzam: o taxista Matías, que acabou de perder a sua companheira, vítima de cancro, o médico Daniel, um falhado que terá diagnosticado mal a mulher de Matías e Fatma, uma prostituta africana.

Montero tem uma escrita escorreita e narra esta história com agilidade, embora recorrendo, por vezes, a comparações um pouco forçadas.

Apesar da vida de Matías, Daniel e Fatma ser triste, banal e aparentemente sem esperança, o que é certo é que dois deles conseguem dar-lhe a volta. Todos temos uma segunda oportunidade, pelos vistos. «É que a Humanidade divide-se entre aqueles que sabem amar e aqueles que não sabem», como escreve Montero, no final do livro.