Desde que não sejemos toscos, a gente podemos mudar o país

Finalmente a gente temos um primeiro-ministro como deve ser, que auguenta as broncas e que se mantém firme.

Inda agora, a porpósito desta coisa da salvassão naçional, Paços Coelho diçe:

«Desde que tenhamos os pés assentes na terra e sejemos realistas – quer dizer, não comecemos a estabelecer objectivos que estão manifestamente para além daquilo que as condições nos permitem -, então é possível vencer e ultrapassar obstáculos e conseguir um clima de união nacional, não é de unidade nacional, é de união nacional, que permita essa convergência».

É isto mesmo que a gente precisamos: que sejemos realistas e façemos uma união naçional.

A última vez que a gente fizemos uma união naçional, durou 40 anos.

Digam lá se não era bonito que os deputados todos foçem amigos uns dos outros e  andaçem sempre abrassados?

Imajinem a Açunssão Esteves abrassada ao Jerónimo e a Catarina do Bloco ao colo daquele tipo do CDS que tem o cabelo oleozo, e o Zorrinho a fazer festinhas na barba do líder do PSD – digam lá se não era uma coisa bem bonita?

Sejemos realistas: demos a mãos uns aos outros, facemos um esforço para estarmos todos de acordo e de certeza que a troika nos empresta mais maça a um juro para amigos.

 

Escavacado Silva

Cavaco, Passos e Portas foram vistos juntos, em público, pela primeira vez desde o estalar da actual crise, na primeira missa do novo Patriarca de Lisboa, Mnauel Clemente.

E foram aplaudidos.

Parece-me correcto.

Um primeiro-ministro que perde os seus dois ministros de Estado em dois dias, um Presidente que parece não ter nada a ver com nada e um ministro dos Negócios Estrangeiros que deu novo significado í  palavra “irrevogável”, só merecem aplausos.

Muitos.

E é sintomático que sejam aplaudidos numa igreja, í  entrada para a missa.

Porque estes três cromos vão mesmo precisar de muita ajuda dos santinhos para conseguir resolver este imbróglio, sobretudo depois da decisão de Cavaco, anunciada esta noite, em mais uma comunicação ao país.

Se Portas deu um novo significado í  palavra “irrevogável”, Cavaco deu um novo significado í  palavra “decisão”.

Se, segundo Portas, “irrevogável” passou a querer dizer “o que pode ser anulado”, segundo Cavaco, “decisão” quer dizer “não sei como resolver esta merda”!

Não querendo convocar eleições, nem querendo apoiar este governo bacoco, Cavaco decidiu não decidir, inventando uma coligação de salvação nacional, talvez com a ajuda de uma personalidade independente, que talvez deva ser… Deus…

missa (2)

 

O golpe de Portas

portas_mandaQue o Paulinho das Feiras era tudo menos ingénuo, já todos sabíamos.

Que ele já tinha pregado rasteiras ao Rebelo de Sousa e ao Santana Lopes, também era do nosso conhecimento.

Por isso, não nos devíamos surpreender como mais esta manobra de Paulo Portas.

Depois de escrever que a sua decisão de abandonar o Governo era irrevogável, depois de dizer que continuar no Governo seria um acto de dissimulação, ei-lo a aceitar o cargo de vice-primeiro-ministro!

Irrevogável? Dissimulação?

Que se lixe a coerência, não é Paulito?

Os fins justificam os meios.

E eis como o CDS, que ficou em 3º lugar nas eleições, com uns míseros 11,7% (o PS obteve 28%, o PC e o Bloco tiveram, juntos, cerca de 13%), acaba por tomar o Poder.

Sem exageros.

Portas, além de vice-rei, coloca o Pires das Cervejas na Economia, mantêm o Soares da lambreta na Segurança Social e a parturiente Cristas na Agricultura, e fica com a coordenação das Finanças (vai mandar na Albuquerque Swap), com a reforma do Estado e vai controlar a negociação com a troika!

Um verdadeiro golpe de Estado!

E o Passos Coelho, mais uma vez, mostra que não passa de um totó.

Continuamos tramados…

 

O touro Marreta, o seu dono Farinhoto e os amigos do Facebook

As redes sociais são tão boazinhas!

E cómodas.

A gente senta-se no sofá, com o portátil no colo ou o smartphone na mão, e ajudamos crianças desaparecidas, pessoas com cancro, cães abandonados e até touros fugitivos!

Sem termos que pegar nas crianças ao colo, ou mexer no cancro ou fazer festas aos cães.

No princípio de maio, o Sr. Manuel Farinhoto ia levar os seus dois touros para o matadouro, lá para os lados de Viana do Castelo, quando os bichos conseguiram fugir para parte incerta.

Farinhoto começou a ver a vida a andar para trás, ao ver os futuros bifes do lombo a desaparecerem no horizonte.

Além disso, os bichos estavam zangados, e não era para menos, e podiam começar a dar cornadas a quem aparecesse pela frente.

Chamou-se a GNR que começou a palmilhar o terreno, em vão.

Chamaram-se vacas que, apesar de charmosas e boazonas, não conseguiram atrair os touros.

Talvez não se interessassem por vacas…

Entretanto, no omnipresente Facebook, foi criada uma página, intitulada Touro em Fuga, destinada a conseguir demover o Sr. Farinhoto da sua estranha vontade de mandar ou touros para o matadouro.

Cerca de 2800 pessoas contribuíram com 1300 euros e Farinhoto aceitou ceder os direito do Marreta, que assim vai para uma herdade em Aveiro, onde poderá correr em liberdade até ao fim dos seus dias.

Gesto bonito, o destes cidadãos anónimos.

Que tal criarmos uma página semelhante, intitulada Governo em Fuga, e colaborarmos, todos, com um donativo, até conseguirmos uma verba aliciante que levasse estes gajos da manada do Passos Coelho para bem longe, para uma herdade qualquer, onde pudessem marrar í  vontade, em tudo que quisessem, menos em nós, carago!

O subsídio de férias, perdão, de Natal, isto é, de férias, quer dizer, de Natal

Afinal, em que ficamos?

Recapitulemos porque isto é complexo.

O subsídio que nos estavam a pagar, em duodécimos, era o de Natal e o de Férias foi í  vida.

Depois, o Tribunal Constitucional fez aquela maldade e mandou repor o subsídio de Férias.

Vai daí, o Governo disse que, afinal, o subsídio que estava a pagar em duodécimos não era o de Natal, mas sim o de Férias e que o de Natal seria pago em Novembro.

Depois, disseram que, afinal, iam pagar o subsídio de férias em Junho a quem ganhasse menos de 600 euros; quem ganhasse entre 600 e 1100 euros, receberia parte do subsídio de férias em junho e outra parte em Novembro; e quem ganhasse mais de 1100, receberia só em Novembro.

Isto queria dizer que o subsídio que estamos a receber em duodécimos não é afinal o de Férias, mas sim o de Natal, como inicialmente o Governo disse.

Entretanto, algumas Câmaras decidiram pagar o subsídio de Férias em junho, continuando a pagar o de Natal em duodécimos, apesar de o primeiro-ministro Passos Coelho ter explicado que o de Férias não podia ser pago em junho, não porque não houvesse dinheiro, mas sim porque o Orçamento rectificativo ainda não tinha sido promulgado.

A Lei do Rectificativo já está nas mãos do Presidente mas, mesmo que ele a promulgue rapidamente, como Cavaco prometeu, já não deve haver tempo para processar o subsídio de Férias, de modo a que ele seja pago ainda em junho.

Mas ontem o ministro Maduro, que obviamente ainda está  muito verde, reafirmou que o subsídio de Férias já está a ser pago desde o princípio do ano!

Se assim é, por que razão é que Cavaco prometeu ser lesto na promulgação do Rectificativo? Até Novembro, tem muito tempo!

A única chatice desta embrulhada é mesmo o facto de Maduro não ter dinheiro para o barbeiro!… mySuperLamePic_f0c0c79b73c60fdec2ec94b652127f9f

Só te mato se for estritamente necessário!

1. O pai vira-se para o filho e diz:

– Se chumbares este ano, deixo de pagar o telemóvel, tiro-te a playstation e vais trabalhar para as obras.

A mãe indigna-se:

– Desculpa mas há uma linha que não deixo que seja ultrapassada: não permitirei que o meu filho vá trabalhar para as obras!

O pai reconsidera:

– Está bem, só vais trabalhar para as obras se for estritamente necessário e se eu encontrar outro castigo com o mesmo impacto.

2. O bandido vira-se para o refém e grita:

– Se não me derem o que exijo, encho-te de porrada, parto-te as pernas e dou-te um tiro nos cornos!

Lá de fora, pelo megafone, o negociador afirma:

– Tem calma, rapaz! Há uma linha que não deixo que seja ultrapassada: não permitirei que mates o refém!

O bandido reconsidera:

– Ok, só lhe dou um tiro nos cornos se for estritamente necessário e se eu descobrir outra maneira de obter o que quero!

passos_rajoy3. Passa-se algo de semelhante com o Governo de Portugal.

Passos Coelho diz que vai cortar as pensões.

Paulo Portas diz que há uma linha que não permite que seja ultrapassada: ninguém toca nas pensões.

Passos Coelho, através do seu alter ego Vitor Gaspar, diz que as pensões só serão cortadas se for estritamente necessário e se o Governo descobrir outra medida que tenha o mesmo impacto.

A pergunta lógica é: se o parceiro da coligação não aceita que se corte nas pensões e se o ministro das Finanças admite que essa medida pode ser substituída por outra, de igual impacto, por que carga de água não riscaram essa medida da 7ª avaliação e arranjaram já outra para o seu lugar?

í“ Gaspar, estás a gozar!