“Musicofilia”, de Oliver Sacks (2008)

Mais um livro curioso do neurologista/escritor Oliver Sacks.

Originalmente publicado em 2007, Sacks fez uma nova edição no ano seguinte, revista e aumentada, incluindo muitos testemunhos que recebeu depois da publicação da primeira edição.

Como médico, confesso a minha ignorância em relação a muitas coisas de que Sacks fala, nomeadamente da importância da musicoterapia no tratamento de algumas doenças neurológicas, nomeadamente, nas demências. Desconheço se em Portugal existem musicoterapeutas, mas parece que nos Estados Unidos, são mais ou menos vulgares, pelo menos em determinados hospitais.

Fiquei a saber coisas bem interessantes sobre ouvido absoluto, savants, doença de Williams, etc.

Como é possível, por exemplo, que doentes amnésicos consigam cantar muitas canções, recordando os versos sem hesitação, para não falar na doente que canta canções em mais de dez línguas, sem saber falar nenhuma delas.

Só um exemplo, retirado da página 220:

O distúrbio da fala mais comum é a gaguez e aqui – e os gregos e os romanos sabiam-no bem – mesmo aqueles que gaguejam tanto que o que dizem se torna quase incompreensível, conseguem quase sempre cantar de forma fluente e livre e, através do canto ou optando por um discurso cantante, podem muitas vezes ultrapassar ou contornar a sua gaguez”.

Agora que temos um deputada cuja gaguez é, por vezes, insuportável, a Joacine Katar Moreira, deputada do LIVRE, talvez fosse boa ideia dar-lhe este livro a ler e sugerir que passasse a intervir na Assembleia da República, a cantar…

“Tudo no Seu Lugar”, de Oliver Sacks (2019)

É sempre um prazer ler um livro escrito por alguém que, além de neurologista e psiquiatra, tinha múltiplos interesses, como química e botânica, entre muitos outras disciplinas.

Sacks nasceu em Londres em 1933 e morreu em Manhattan, em 2015, depois de ter sido diagnosticado com metástases hepáticas de um melanoma do olho.

Viveu e fez toda a sua carreira de neurologista em Nova Iorque e escreveu mais de uma dezena de livros.

Este Everything in It’s Place: First Loves and Last Tales, foi publicado já depois da sua morte e reúne textos dispersos, que saíram no New Yorker, Discover, Three-penny Review e outras publicações.

Os temas são os mais diversos, desde a descrição de uma reunião de amantes de fetos, que os vão observar nas paredes do túnel da Park Avenue, em Manhattan, até várias histórias de doentes com situações neurológicas bizarras, passando por textos sobre química, ginko bilobas, o movimento dos elefantes (será que eles correm ou apenas andam mais depressa?), etc.

Ainda só tinha lido dois livros de Sacks, o inevitável O Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu (1985) e O Tio Tungsténio (2001), mas depois de ler mais este, já tenho ali outro na calha…

(Edição Relógio de Água, tradução de Marta Mendonça)