Foda à Monção?

Confesso que nunca provei uma foda à Monção.

Modéstia à parte, já provei fodas nos 5 continentes, mas nunca em Monção.

Em Valença, sim, que é lá perto, mas quando pernoitei em Monção estava com o estomago muito pesado e não dei uma para a caixa.

Agora, o que eu não sabia – juro que não sabia! – é que a Câmara de Monção quer mesmo certificar as fodas à moda lá da terra.

Que ideia do c******!

Já viram bem o orgulho que é um cidadão de Monção andar com um certificado, tipo um crachá, espetado no peito, dizendo algo do género: fodas à Monção é comigo!

E não há cá eufemismos: não é fazer amor à Monção, ou queca, ou mocada, ou trolitada, ou cambalhota à Monção.

É mesmo foda e mais nada!

É de Câmaras Municipais como esta que o povo precisa!

(certificar Diário de Notícias de ontem)

Melgaço, Monção e Valença

Foram 515 km, sempre por boas acessibilidades, eufemismo para auto-estradas, IP, IC, via rápida e afins.

Partimos por volta das 9 da manhã e já almoçámos bacalhau à minhota, na Adega do Sabino, em Melgaço.

Longe vão os tempos em que demorávamos oito horas até Moimenta da Beira, a bordo de um R4 com mudanças ao volante (dá cá a bengala, toma lá a bengala), e os miúdos lá atrás, a vomitar. Ultrapassagens memoráveis a camiões a 10 à hora, curvas e contra-curvas sádicas, em estradas desenhadas por ingleses que se limitavam a dizer “yes” e os operários portugueses lá punham mais um “esse” na estrada…

Agora, é apontar ao eixo norte-sul e ir sempre em frente, entre os 120 e os 140 – e até se pode usar o “cruise control” e tirar o pé do acelerador.

Depois do competente almoço, demos uma volta por Melgaço, que está situada numa encosta junto ao rio Minho.

A cidadezinha conserva, ainda algumas velhas calçadas e preserva os restos de uma fortificação do século XII (muralhas e torre de menagem), do tempo em que andávamos sempre à trolha com os castelhanos.

Mesmo junto aos muros do que resta do castelo, pequenas casinhas fazem lembrar o Portugal dos Pequenitos.

E, como é típico de Portugal, roupa estendida por todo o lado, a secar e a corar ao sol, mesmo num estendal montado num dos muros do castelo.

Mais à frente, paragem em Monção, mesmo junto ao rio Minho.

Aqui, como em todas as vilas e cidades por onde passámos, a mesma sensação de que o chamado Poder Local (mais um eufemismo) tem feito muito por todas estas terras. Claro que vemos mamarrachos em todo o lado, prédios horripilantes, casas de banho ao contrário, cobertas por azulejos de pesadelo. Mas, regra geral, nota-se que as autarquias têm tentado preservar e embelezar. Todas as localidades têm um centro pedonal bem arranjado e nota-se que tem havido o cuidado de tentar não estragar e, pelo contrário, evidenciar o património.

Em Monção, é o passeio ribeirinho que chama a atenção, com uma praia de calhaus frente a um parque densamente arborizado. Foi nesta terra que nasceu uma das minhas heroínas infantis, Deuladeu Martins. Muitas vezes a imaginei, do alto do castelo, a atirar pão aos castelhanos, para dar a impressão de que os sitiados não estavam a morrer à fome. Lendas da História de Portugal… o mais certo, é Deuladeu ter sido uma megera, capaz de matar a sangue frio qualquer espanholito magricela e estropiado que clamasse por misericórdia…

O passeio de hoje terminou em Valença, na Pousada de S. Teotónio, com uma vista espectacular sobre o rio Minho e a cidade de Tuy, com a catedral em destaque.

A zona velha de Valença está dividida em dois bairros, cada um deles rodeado porum recinto defensivo e separados por um fosso, que se transpõe por pontes, que terão sido levadiças. Os dois muros defensivos têm a forma de estrela.

Aos domingos, a zona antiga parece uma feira. Quando chegámos, ao fim da tarde, as ruas estreitas estavam repletas de espanhóis, a comprar atoalhados e lençóis. Nas fachadas das casas, confundem-se as janelas manuelinas com toalhas de praia e roupões de cores berrantes, pendurados das varandas.

Com muita dificuldade, vamos avançando pelas ruas empedradas, tentando não atropelar nenhum espanhol. E pensar que, há uns séculos, quando esta fortaleza foi construída, teríamos recebido medalhas e louvores se tivéssemos esmagado uns quantos espanholitos!…

Depois, quando se chega a um dos portões das muralhas, há que parar no semáforo, porque só passa um carro de cada vez.

A Pousada de S. Teotónio tem uma localização privilegiada, no ponto mais alto de Valença. Inaugurada em 1962, foi desenhada pelo arquitecto João Andresen e é uma bonita casa de pedra que se integra muito bem na paisagem esplêndida.

Das janelas da Pousada, para além do Minho e Tuy, também se vislumbra a ponte velha, de ferro, à moda do Eiffel, onde antigamente passava o comboio da linha do Minho.

Na segunda-feira, praticamente sem castelhanos, já se pode andar pelas ruelas de Valença, admirando as frontarias quinhentistas, os pormenores manuelinos e, seguindo os muros da fortificação, olhar lá para baixo e ver a paisagem, diferente conforme está a amanhecer, com pequenos focos de neblina, ou ao pôr-do-sol, com a luz dourando os montes e as casas.