“In the Land of Women”, de Jonathan Kasdan

inthelandofwomenUm jovem argumentista de filmes de gosto duvidoso (Adam Brody), está em crise criativa, depois de ter sido deixado pela namorada. Decide ir passar uns tempos a casa da avó (Olympia Dukakis), que teima em dizer que está a morrer.

Na casa em frente, mora um casal quarentão, também em crise.

Ela (Meg Ryan com a cara tão espalmada como a Manuela Moura Guedes – devem ter tido o mesmo cirurgião plástico), acabou de descobrir que te cancro da mama.

A filha mais velha da quarentona (Kristen Stewart), também está em crise, como todos adolescentes.

A mãe e a filha acabam por beijar o argumentista, em momentos diferentes, mas a coisa não passa daí.

É um filme soft, entre a comédia e o drama, mas sem muita chama, embora politicamente correcto.

Se tivesse um pouco mais de humor, poderia ser um filme desinspirado do Woody Allen.

“Little Children”, de Todd Field

littlechildrenE aqui está mais um exemplo de cretinice na tradução. “Little Children” transformou-se em “Pecados Íntimos”. Porquê? Para chamar mais espectadores í s salas de cinema, para verem a Kate Winslet a ser comida pelo Patrick Wilson?

É que “Criancinhas” seria o título ideal. Além da filha de Sarah (K. Winslet) e do filho de Brad (P. Wilson), que são miúdos com 3-4 anos, os seus pais, no fundo, também se comportam como criancinhas, iniciando uma relação baseada na fantasia.

De facto, nem Sarah vai nunca conseguir libertar-se do seu marido, um bem sucedido homem de negócios, que se masturba perante sites pornográficos, como se fosse um puto, nem Brad, que já chumbou duas vezes no exame í  Ordem de Advogados, vai conseguir libertar-se da sua mulher Kathy (soberba Jennifer Connelly), que o sustenta, realizando documentários para a televisão.

Como segunda história, um pedófilo, recém-libertado da cadeia, e um ex-polícia, reformado compulsivamente porque matou, a tiro, um adolescente, acidentalmente, estão em guerra

No fundo, todos são imaturos e, sublinhando isso mesmo, o filme passa a maior parte do tempo na piscina e no parque infantil.

Vale a pena ver, quando mais não seja pelos olhos da Jennifer Connelly e pela interpretação da Kate Winslet.

“Benjamin Button”, de David Fincher

—Em 1921, Scott Fitzgerald (1896-1940) publicou um conto intitulado “The Curiou Case of Benjamin Button”, que serviu de inspiração a Eric Roth e Robin Swicord para escreverem o argumento deste filme.

A história é conhecida. Benjamin (Brad Pitt) nasce velho, um bebé cheio de rugas e artroses e vai rejuvenescendo ao longo da vida, acabando por morrer jovem. Pelo caminho, acontecem-lhe muitas coisas, incluindo uma namorada (Cate Blanchett), que vai envelhecendo, í  medida que ele fica cada vez mais jovem e pujante.

O tempo é o principal personagem desta história, a começar pelo relojoeiro cego que constrói um relógio cujos ponteiros andam para trás, e continuando pelo fluir do tempo, com as duas guerras mundiais, os anos 60 e os Beatles e, finalmente, os dias de hoje, marcados pelo Katrina, que inunda New Orleans, onde a maior parte da história se passa, embora Benjamin também ande pela Rússia, por Paris e pelos oceanos, a bordo de um rebocador, cujo comandante, na impossibilidade de ser artista, se tatuou a si próprio.

Há muitas histórias, dentro da história de Benjamin Button e, por muito convencional que o filme possa ser, sabe sempre bem ver e ouvir uma história bem contada.

E, no que respeita a óscares, o dos efeitos visuais e o da caracterização, pelo menos, não vão escapar.

“Mr. Brooks”, de Bruce A. Evans

—Kevin Costner é Mr. Brooks, um bem sucedido homem de negócios, bom chefe de família, filantropo e tudo. No entanto, Mr. Brooks é, também, um serial killer, um viciado em assassínios.

Esta dupla personalidade é resolvida, pelo realizador, com um segundo actor, neste caso, um assustador William Hurt, que é a “versão má” de Mr. Brooks.

Desta vez, porém, Mr. Brooks tem uma testemunha do seu duplo homicídio, um fotógrafo amador que pretende seguir o exemplo de Mr. Brooks e tornar-se num assassino.

Há ainda uma detective durona (Demi Moore) e a filha de Mr. Brooks que, pelos vistos, está, tambem a tornar-se numa assassina. Runs in the family…

Com este material, o filme podia ser bem melhor, embora os diálogos entre Brooks/Costner e Brooks/Hurt sejam deliciosamente perturbadores.

“The Painted Veil”, de John Curran

—Baseado num romance de Somerst Maugham (1925), já adaptado em 1934, com Greta Garbo, e em 1957, com Eleanor Parker, “The Painted Veil” tem uma fotografia soberba e mostra-nos a paisagem única dos montes que rodeiam o rio Li, perto de Guilin, na China.

Foi muito agradável rever aquelas paisagens, que visitei há 5 anos, e só é pena que o filme não mostre mais.

A história é um melodrama dos antigos: nos anos 20 do século passado, um médico bacteriologista britânico (Edward Norton), com um casamento falhado com uma menina rica (Naomi Watts), que o engana com um embaixador engatatão, decide castigar-se, a si próprio e í  esposa, partindo para a China, para uma localidade onde grassa em epidemia de cólera.

Norton mantém uma postura digna de qualquer inglês puritano, que está lixado com a vida e com o mundo e penso que só se sorri uma vez, em todo o filme. Naomi Watts também interpreta bem o papel de menina mimada, que acaba por se arrepender da frivolidade e admirar o trabalho do marido.

No fim, ele morre e ela fica viúva. É bonito e faz chorar. A banda sonora é interessante, mas daí até ganhar um Globo de Ouro…

“The Man”, de Les Mayfield

—O que faz Samuel L. Jackson ao lado de Eugene Levy?

Patetices.

“The Man” (traduzido obviamente para “Agente Acidental”), é uma comédia que não faz mal nenhum a ninguém, mas se o realizador tivesse ficado quieto em casa, também não se perdia nada de especial.

Samuel L. Jackson, claro, é o polícia que quer prender os bandidos.

Eugene Levy, que não tem cara de actor, é um vendedor de produtos ortodí´nticos que está no sítio errado í  hora errada, de modo que os bandidos pensam que ele é que é o gajo que vai negociar com eles a compra de um carregamento de armas roubadas.

Seguem-se vários desencontros, algumas cenas escatológicas, que incluem traques e ainda há tempo para o polícia ir ver um espectáculo de ballet da filha.

Coisas…

“Fados”, de Carlos Saura

—Depois de “Tangos”, de 1998, Saura debruçou-se sobre o fado e realizou este documentário formidável, que se vê quase como uma história da música mais genuinamente portuguesa.

“Fados” é isso mesmo, uma sucessão de fados, uns ilustrados com imagens de Lisboa, outros acompanhados de coreografias originais, outro recriando uma casa de fados, outro ainda com a câmara fixa na boca da fadista. Pelo meio, homenagens a Alfredo Marceneiro (com um rap um pouco deslocado, digo eu), a Amália Rodrigues e a Lucília do Carmo.

Momentos brilhantes: a interpretação espantosa de Caetano Veloso, de “Estranha Forma de Vida” (Chico Buarque podia ter feito melhor com o seu “Fado Tropical”, embora Júlio Pereira dê uma ajuda) e  Lila Downs, de quem eu nunca tinha ouvido falar, que canta muito bem uma versão bem esgalhada do clássico “Foi na Travessa da Palha”.

Em geral, todos os momentos são bons, incluindo Argentina Santos, que canta fado como deve ser. Só não gostei de Carlos do Carmo e da Mariza (embora a guitarra de Rui Veloso quase safe a coisa), mas isso são opiniões muito pessoais e que devem ser consideradas quase sacrílegas.