Ramalho, o enfermeiro mártir

Para memória futura, relembro os factos.

Há alguns meses, dois sindicatos dos enfermeiros iniciaram uma luta a favor daquilo que consideram justas reivindicações dos enfermeiros.

Entre essas reivindicações destacam-se o aumento salarial de 400 euros (de 1200 para 1600) para todos os enfermeiros em início de carreira e a reforma aos 57 anos (neste momento, a reforma é aos 66 anos e 5 meses).

Como o Governo não cedeu, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros e a Associação Sindical dos Enfermeiros (ambos formados recentemente), declararam greves prolongadas em novembro e dezembro do ano passado e todo o mês de fevereiro deste ano.

Em resposta, o Governo pediu um parecer ao Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República sobre esta greve e a PGR considerou que a greve era ilícita, por dois motivos.

Em primeiro lugar, porque o pré-aviso de greve indicava que ela seria total e, afinal, só os enfermeiros dos blocos operatórios fizeram greve e, mesmo assim, em regime rotativo. Graças a esta artimanha, bastava que um enfermeiro fizesse greve para que o bloco não pudesse funcionar. No dia seguinte, outro enfermeiro faria greve e o bloco continuava parado. Deste modo, milhares de cirurgias tiveram que ser adiadas. Entretanto, os restantes enfermeiros, quer os hospitalares, quer os dos Centros de Saúde, não faziam greve.

Em segundo lugar, a PGR considerou ser ilícito o financiamento dos grevistas por um crowdfunding, angariado no Facebook, e que era gerido por uma empresa e não pelo sindicato.

Após este parecer da PGR, a Associação recuou e desconvocou a greve, mas o Sindicato reagiu, através do seu presidente, e levou a luta para novos patamares.

Carlos Ramalho, o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros, criado em 2017 e cujos estatutos foram alterados e republicados no final do mês passado, afirmou aos jornalistas:

“Se era necessário um mártir, ele está aqui, sou eu, Carlos Ramalho, presidente do Sindepor”.

E, por esse motivo, iniciou hoje uma greve de fome à porta do Palácio de Belém.

Acho pouco.

Considerando as reivindicações – aumento salarial de 400 euros e reforma 9 anos antes dos restantes trabalhadores – Carlos Ramalho deveria, pelo menos, imolar-se pelo fogo, em frente ao Ministério da Saúde.

Só assim o nome de Carlos Ramalho poderia figurar no monumento patente no Campo Mártires da Pátria!

Vendam a cocaína!

As autoridades conseguiram interceptar um navio, ao largo dos Açores, que levava, a bordo, cocaína equivalente a cerca de 100 milhões de euros.

Se fosse devidamente cortada com bicarbonato, farinha Maizena ou gesso, talvez desse para doses que, vendidas no mercado negro, isento de IVA, valessem quase 200 milhões.

Ficava o problema dos enfermeiros resolvido.

Os enfermeiros continuam a exigir, entre outras coisas, um aumento salarial de 400 euros. Coisa pouca.

Diz a ministra Temido que esse aumento, assim, de repente, para todos os enfermeiros no início da carreira, equivale a cerca de 220 milhões.

Como o governo não cede, os enfermeiros decidem fazer nova greve às cirurgias.

Reivindicações justas, certamente.

Pena que não tenham sido feitas há mais tempo, quando o ministro era o actual Chefe da Caixa Geral de Depósitos…

Mas enfim… os enfermeiros acham que, atirando com milhares de utentes que aguardam cirurgias para as listas de espera, estão a lixar o governo, e que este, temendo perder as eleições, lhes vai dar tudo o que exigem.

Entretanto, como diz o povo, quem se lixa, é o mexilhão…

Será ético manter uma greve destas?

Eu acho que não – mas isso sou eu, que sempre defendi o SNS, ao longo de 40 anos de carreira…

Mas, já agora, que a ética parece ter pouco a ver com as lutas sindicais, por que não vender as toneladas de coca apreendidas e, com o lucro, dar o aumento que os enfermeiros exigem?

Assim como assim…

Submarinos, comboios e depilações

Fiquei satisfeito quando vi as notícias de hoje: foram absolvidos todos os 10 arguidos do caso das contrapartidas para a compras dos submarinos.

Como muito bem disse um dos advogados de defesa, o Estado não foi burlado, na medida em que não perdeu nada. É certo que também não recebeu nada em troca da compra dos submarinos, mas também quem é que mandou o Estado ser garganeiro?

Se eu, por exemplo, prometer oferecer um ramo de orquídeas à minha mulher, se ela me fizer uma boa feijoada e, depois de me alambazar com a feijoada, não lhe der nada, não se pode dizer que estou a burlá-la.

Ela não perde nada – não ganha é o ramo de orquídeas, mas aprende a não acreditar em tudo o que eu lhe prometo.

Assim devia ter feito o Estado!

Além disso, os alemães até nos fizeram o favor de nos vender dois submarinos – para que raio queríamos nós contrapartidas?

E ainda tivemos sorte em não nos terem tirado os submarinos.

Sorte é algo que a CP não tem…

Segundo o Público, “A CP perdeu 27 milhões de passageiros em 4 anos”.

Ora aqui está uma boa razão para nunca mais andar de comboio!

Imaginem entrar num comboio na Damaia e desaparecerem, algures entre o Cacém e Rio de Mouro!

Safa!

Quem não se safou foram as médicas e enfermeiras do H. S. João que se andaram a depilar à conta da ADSE.

Pelos vistos tinham uma médica amiga, dona de uma clínica onde se tiram pelos com laser, e vai de irem lá depilar-se e, depois, apresentar a conta à ADSE, como se fossem tratamentos dermatológicos.

Foi um depilar vilanagem!

Convenhamos que, pensando bem, a ADSE bem podia comparticipar a depilação das moças.

Já viram o que é um tipo levar uma injecção de uma enfermeira com buço ou ser auscultado por uma médica com patilhas?!

Proto manifes

Nos anos 70 do século passado participei numa manifestação. Descemos as avenidas, gritando “Otelo amigo, o povo está contigo!”

Não estava, como depois se viu.

Era uma manif dos GDUP que, se não me falha a memória, queria dizer Grupos Democráticos de Unidade Popular – ou será que era Grupo Desportivo União Piedense?…

De qualquer modo, estávamos no chamado PREC (processo revolucionário em curso) e até parecia mal que não nos manifestássemos.

Vem isto a propósito da manif dos enfermeiros, anteontem.

Igualzinho.

Avenida abaixo, gritando palavras de ordem – “Sócrates escuta, os enfermeiros estão em luta!” (um primor de originalidade…) – agitando bandeiras e cartazes, megafones em punho.

Tal como os professores, no ano passado, também os enfermeiros, este ano, entram neste folclore das manifestações, graciosamente organizadas pelos sindicatos que, como se sabe, nada têm a ver com o PCP.

Não seria mais original se os enfermeiros, em vez de gastarem dinheiro a alugar autocarros, montassem bancas e fizessem rastreios da diabetes, medissem o colesterol ou avaliassem a tensão arterial?

Não teria mais impacto, junto da população, se os enfermeiros montassem stands, nas capitais de distrito, onde fizessem educação para a saúde, fornecessem informações sobre a prevenção do cancro, estilos de vida saudável, planeamento familiar, a importância da precocidade da primeira consulta da gravidez, etc, etc?

Ou então, ao menos, que desfilassem nuas!…