“The Last King of Scotland”, de Kevin MacDonald

—Forest Whitaker ganhou o óscar de melhor actor, em 2007, pelo seu desempenho neste filme, encarnando um Idi Amin Dada muito convincente. Enfim, nunca vi o Idi Amin ao vivo e, nos anos 70, os meios de comunicação não eram tão intrusivos como hoje em dia; portanto, é difícil dizer se Amin tinha o humor assim tão lábil, ou se ele não seria, até, muito mais sinistro.

Whitaker faz Amin parecer uma criança grande que, de vez em quando, perde as estribeiras e não hesita em mandar matar e torturar.

Nos anos 70, a fama de louco de Idi Amin só era ultrapassada pela de Bokassa, o presidente da República Centro-Africana que, depois de chegar ao poder, decidiu coroar-se Imperador…

Neste filme, a história é-nos contada pelos olhos do Dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy), um jovem médico que decide ir trabalhar para o Uganda, porque sim, e acaba por se tornar o protegido de Amin, exactamente por ser escocês. O ditador tinha uma fixação pela Escócia, desde que serviu, como ajudante de cozinha, no exército britânico (o Uganda pertence í  Commonwealth).

As “excentricidades” de Idi Amin ficaram célebres; algumas delas podem ser consultadas aqui.

“Lions For Lambs”, de Robert Redford

—Redford realizou este filme que põe e causa a actual política externa norte-americana, nomeadamente a sua “guerra contra o terror”.

O filme desenvolve-se em três cenários.

Num deles, um Tom Cruise clássico representa o papel de um ambicioso senador republicano, com vontade de concorrer í  Casa Branca e que é responsável por uma nova estratégia na luta contra os talibãs, no Afeganistão. Este senador resolve conceder uma entrevista a uma jornalista experiente (Meryl Streep), dando-lhe a exclusividade da notícia dessa nova estratégia. Ao ouvir a descrição da nova estratégia de guerra, a jornalista lembra-se que ela já foi usada no Vietnam, com resultados desastrosos.

No decorrer da entrevista, a tensão entre o senador e a jornalista, é evidente: ele, absolutamente a favor a guerra contra o “Eixo do Mal”, ela, de pé atrás, mas com dificuldade em marcar a sua posição porque, após o 11 de Setembro, apoiou as posições agressivas de Washington.

O segundo cenário é o de uma Universidade: o professor, interpretado por Robert Redford, tenta convencer um aluno, supostamente brilhante, a voltar í s aulas, porque o país precisa dos mais inteligentes e dos mais capazes – e são esses que, na maioria das vezes, de divorciam da política.

O terceiro cenário decorre nas montanhas do Afeganistão, onde dois militares voluntários, ex-alunos do professor, estão a pí´r em prática a nova estratégia do senador, com resultados desastrosos.

Um filme denso, com uma mensagem política evidente, com excelentes interpretações, mas poucas hipóteses de ser visto por muita gente, devido í  densidade dos diálogos.

“Broken Flowers”, de Jim Jarmusch

—Um “pequeno” filme muito curioso, que ganhou o Grande Prémio de Cannes, em 2005.

Don Johnston fez fortuna na área dos computadores e está retirado e deprimido, sozinho no seu grande casarão. Teve fama de Don Juan mas a sua última namorada abandonou-o e ele está sem energia para sequer se levantar do sofá da sala.

É então que recebe uma carta anónima; uma antiga namorada revela-lhe que, 19 anos antes, teve um filho dele. O rapaz só agora soube quem era o pai e anda í  procura dele.

Don mostra a carta ao seu vizinho, que tem a mania que é detective privado e que lhe propõe que faça uma lista das namoradas que teve, 20 anos atrás. Don acede, contrariado. Não lhe apetece fazer nada – nem sequer conhecer um filho que não sabia que existia, mas acaba por fazer a tal lista, da qual constam 5 nomes de antigas namoradas.

O vizinho de Don, como bom detective amador, faz-lhe um dossier para cada uma das namoradas, compra-lhe bilhetes de avião, reserva-lhe quartos em hotéis e prepara-lhe um itinerário completo, de modo a que Don vá visitar cada uma das namoradas, tentando, assim, perceber qual delas é a mãe do seu filho.

O resto do filme mostra-nos o encontro de Don com cada uma dessas namoradas; e cada um desses encontros é uma nova surpresa.

Bill Murray faz um bom Don Johnston, ao jeito do personagem do “Lost in Translation”. Com aquela cara de deprimido permanente, Murray só tem que “act naturaly”.

“Broken Flowers”, espantosamente traduzido para “Flores Partidas”, é uma agradável surpresa.

“No Country For Old Men”, de Ethan & Joel Coen

—Já li o livro há uns meses, mas só agora arranjei tempo para ver o filme.

Parece que Cormac McCarthy escreveu este livro a pensar nos irmãos Coen. A adaptação do livro a argumento de filme está estupenda. Feito í  medida. Daí o óscar por melhor argumento adaptado.

Quanto aos restantes óscares:

O de melhor actor secundário, para Javier Bardem era de esperar; para se ganhar um óscar para melhor actor secundário, basta fazer um papel em que se fala pouco e se mantém a mesma carantonha, do princípio ao fim do filme – os tipos da Academia de Hollywood, com complexos-de-cinema-europeu, acham logo que isso é ser um grande actor e dão-lhe um óscar.

Tenho dificuldade em avaliar a justeza do óscar para melhor filme porque vi poucos filmes de 2007.

Quanto ao óscar para melhor realizador, os irmãos Coen merecem-no. O filme é seco, como o texto do livro e retrata bem a América profunda, í spera, cheia de espinhos.

Bardem faz um psicopata convincente, que mata com uma espingarda de matar gado. Inventou aquela cara e aquele penteado e mantém-nos ao longo de todo o filme. Bom. Decide a vida das pessoas com moeda ao ar. No fim, leva com um carro em cima, num cruzamento qualquer. A vida é uma sorte.

Josh Brolin é o caçador que, por acaso, encontra uma mala com 2 milhões de dólares, passando, assim, de caçador a caçado. É o americano convencido. Arrisca e lixa-se. Paciência…

Tommy Lee Jones é o xerife “old timer”, que tem dificuldade em adaptar-se ao novo tipo de crimes, demasiado amorais, para os seus padrões. A personagem do xerife está entre gerações violentas: o seu pai também viveu numa época difícil e selvagem, em que as pessoas não hesitavam em resolver qualquer diferendo ao tiro. Hoje em dia, voltámos ao mesmo.

Este país não é para velhos?

Não há nenhum país para velhos?