A reflectir

Desde as 9 da manhã que estou sentado no sofá da sala.

A reflectir.

Amanhã vou votar e ainda não decidi para quem vai o meu voto.

Se escolhesse o meu sentido de voto pela aparência dos candidatos, votaria em branco.

Ninguém se safa.

NO PS não votaria porque o Avô Cantigas me parece deslocado nestas eleições; aquele bigode e aquele cabelo parecem não pertencer àquela pessoa e a voz fica muito melhor a um professor primário de Mangualde do que a um deputado europeu.

No PSD também não votaria porque o cabeça de lista parece, de facto, o Manelinho, da Mafalda, com o cabelo cheio de gel e aquele corpo em forma de pêra, qual sempre-em-pé.

Na CDU, muito menos. A Dona Ilda aparece com aquele casaco verde, que parece uma grande alface frisada e troca os vês pelos bês e diz coisas que já ninguém diz em nenhum país da Europa, excepto, talvez, o Azerbeijão (que, por acaso, fica na Ásia).

O meu voto também não iria para o CDS porque o Nuno Melo também não se parece nada com um eurodeputado, dando mais a impressão de ser o gerente de um loja de roupa para homens modernaços, mas pouco, tipo Cortefiel ou Dielmar. E, depois, traz o Portas sempre atrás…

No Bloco, também não. O Miguel Portas tem aqueles olhos sempre franzidos, como se tivesse obstipação crónica e agora anda com uma calmeirona sempre atrás dele, com olhos de carneira-mal-morta e ar de matadora. Perigosa, aquela senhora…

O meu voto também não iria para nenhum dos outros candidatos, por razões várias.

Para a Laurinda Alves, do MEP, não, porque é demasiado católica. Para a Manuela Magro, do Partido Humanista, também não, porque não. Para o Partido da Terra, só se fosse adubo. Para aquela coisa que se chama MMS, também não, por razões óbvias (MMS?!…). Para o MRPP, nunca, porque tem Lenine a mais. Para a Carmelinda, do RUE (ligado ao POUS, que não tem nada a ver com a OCMLP, nem com a FSR, muito menos com o PCM-ML), também não, porque estou farto de siglas.

Sendo assim, poderia escolher o meu sentido de voto depois de ler as propostas de cada um dos candidatos.

E, neste caso, tirando o tal RUE (ligado ao POUS), que propõe a ruptura com a União Europeia, todos os outros candidatos querem uma Europa melhor e mais justa, mais igual e mais fraterna, mais humana e mais amiga do ambiente, mais moderna e mais aberta e mais honesta e mais bonita e mais limpinha e mais asseada e mais, e mais, e mais…

Já passa do meio-dia, já estou a reflectir há mais de 3 horas e cada vez estou mais confuso.

Ajudem-me, por favor!

Salvé Carmelinda!

Do que eu mais gosto nas campanhas eleitorais é da Carmelinda Pereira.

Carmelinda Pereira é a eterna líder do POUS – Partido Operário da Unidade Socialista.

Eterna líder e, suponho, única militante.

Sempre que há eleições, Carmelinda sai do seu esconderijo, onde está a hibernar, e vem para a praça pública defender as suas posições trotskistas.

Terminadas as eleições, Carmelinda retira-se, com os 5 mil votos que obtém não se sabe bem como e volta a esconder-se.

O POUS tem um site formidável. Para entrar no site, temos que clicar no punho socialista.

Nem o próprio Trotsky se lembraria desta!

Sabem o que os candidatos do POUS às eleições europeias, propõem?

Isso mesmo: o fim da União Europeia!

Pelo menos, não fazem fretes, como o Bloco ou o PCP, que sempre estiveram contra a União Europeia, mas aceitam ser eurodeputados para corroer o sistema por dentro. Pois…

Ontem, revi Carmelinda na televisão e fiquei feliz.

Está viva! Com mais rugas, mas viva!

E Carmelinda Pereira atirou logo com uma proposta revolucionária: que o Governo proíba os despedimentos!

Só isso, Carmelinda?!

Estás a perder qualidades, mulher!

Nos bons velhos tempos do prec, nos tempos em que o POUS eras tu e o Aires Rodrigues, terias ido mais longe e dirias:

O Governo tem que proibir os patrões!

Estás a ficar velha, Carmelinda…