Pesquisa lingual

Foi quando os seus lábios se encontraram que ela reparou na complexidade da língua. Que órgão maravilhoso aquele!…

Lentamente, minuciosamente, notou que a língua ocupava a parte média da cavidade bucal, sendo mais ou menos ovalar, com uma grande extremidade posterior e terminando por uma ponta, à frente.

Paulatinamente, com o rigor dos cientistas, percorreu a sua face dorsal, os seus bordos, a sua ponta, e percebeu que todos eram revestidos por uma mucosa. Mais ao fundo, na base, notou que a língua se ligava através de numerosos músculos ao oso hioide, ao maxilar inferior, à abóbada palatina e à apófise estiloide.

Já sabia – até porque não era nenhuma ignorante – que a língua era a sede dos órgãos do gosto, mas só então reparou que, graças a tantos músculos, ela possuía uma mobilidade verdadeiramente fantástica – o que explicava a sua participação na deglutição, na mastigação, na fonação e também naquele beijo prolongado e científico.

Cada vez mais interessada, ainda notou que a face superior ou dorsal da língua estava dividida em duas partes por um sulco em forma de vê, aberto à frente. Mas o seu estudo ficou por aí. Ligeiramente roxo, ele empurrou-a ofegante, abriu a janela de par em par e aspirou uma boa dose de oxigénio, jurando para si próprio que nunca mais beijaria uma estudante de Anatomia…

  • in “Uma Vez por Semana – o seu programa sexual”, Rádio Comercial, 8/2/1986

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