Guião da Reforma do Estado

O Coiso teve acesso ao Guião da Reforma do Estado.

É assim:

Cena única:

Dia cinzento. Subúrbios de uma cidade. Prédios degradados. Ruas desertas.

A câmara aproxima-se do Estado, que caminha encurvado.

Grande plano do Estado. Ar triste e cansado. Olheiras.

Entra em casa.

Plano da sala, quase sem móveis. Alcatifa degradada. Ao fundo, uma televisão antiga passa imagens dos debates sobre o Orçamento. Sem som.

O Estado senta-se num sofá que precisa de ser renovado.

Afunda a cabeça nas mão.

Chora.

Grande plano do Estado. Lavado em lágrimas.

Grita: “Estou reformado! Estou reformado e estou fodido!”

Fade out.

O programa cautelar ou acautelar o programa?

Segundo o ministro da Economia, Pires de Lima, «o nosso objectivo é começar a negociar um programa cautelar nos primeiros meses de 2o14».

No entanto, segundo o primeiro-ministro, Passos Coelho, chefe do Lima, «só no dia em que fecharmos o actual programa saberemos se é preciso um programa cautelar ou se é outra coisa».

Partindo do princípio de que não vai ser “outra coisa”, o que será um programa cautelar?

Pelo nome, poderá ser assim: a Maria Luís pega na dívida, divide-a em cautelas e vende-as. Como ninguém quererá comprar cautelas de dívida portuguesa, seremos nós, os contribuintes portugueses, obrigados a comprá-las.

Depois, haverá um sorteio, na Santa Casa da Misericórdia, e a dívida sairá a um de nós.

Se não for isto, o programa cautelar, será “outra coisa”, como tão bem explicou Passos Coelho.

E é por isso que a diferença entre um programa cautelar e acautelar um programa é a mesma que existe entre corpo consular e consolar o corpo…

…ou entre a olho nu e no olho!

O bandalho, o estupor e os filhos da mãe da direita

Sócrates concedeu uma entrevista í  Clara Ferreira Alves. Saiu ontem, na Revista do Expresso.

A leitura dessa entrevista, permite responde, pelo menos, a 10 perguntas.

1. Sócrates sempre foi um moderado?

– Sim, Sócrates é um «tipo que sempre foi a merda de um moderado».

2. Sócrates é de direita?

– «Esses gajos enganaram-se quando olharam para mim e disseram que era de direita».

3. E, sendo de esquerda, Sócrates é mais de esquerda do que outros membros do PS?

– «Quem você acha que é mais de esquerda, eu ou o Manuel Alegre? A esquerda mede-se aos palmos?»

4. Como é que Sócrates reagiu í  oligarquia do PS?

– «Raios vos partam, vou vencer-vos a todos! E foi o que fiz!».

5. Mas, apesar de ser de esquerda, Sócrates também poderia agradar í  direita?

«Eu sou o chefe democrático que a direita sempre quis ter!».

santana_bandalho6. Quem criou o boato de que seria homossexual?

– «Na televisão (Santana Lopes) insinuou num debate que eu era homossexual, queria que eu dissesse que era, era isso que ele queria».

7. E como o classificaria?

– «O bandalho!»

 

 

schauble_estupor8. E quanto ao ministro dos Negócios Estrangeiros alemão?

– «Em Berlim, tudo muito formal, conversámos e fomos jantar. A Merkel está do outro lado com aquele estupor do ministro das Finanças, o  Schauble.»

9. E esse Schauble era só um estupor?

– Não, «todos os dias esse filho da mãe punha notícias nos jornais contra nós».

 

filhos da mae10. E como classificaria os dirigentes do PSD e do CDS, no que respeita ao chumbo do PEC4?

– «Os filhos da mãe da direita em Portugal deram cabo de uma solução apenas para ganharem eleições«.

 

E assim ficámos a saber como a merda de um moderado zurze um bandalho, um estupor e alguns filhos da mãe.

Imaginem se o gajo fosse extremista!

Um Orçamento inovador

Inovador? Eu diria que este Orçamento é mesmo revolucionário!

Ora vejamos: os cortes na Função Pública começam logo nos salários acima dos 600 euros.

Acho bem.

Cortar a quem mais precisa.

É uma lição de vida.

Quem não tem dinheiro, não tem vícios.

Depois, os cortes vão subindo, nos salários dos funcionários públicos, até atingir os 12%.

Acho pouco.

Quem precisa de cantoneiros, professores, jardineiros, enfermeiros, médicos, arquitectos, contínuos, administrativos e toda a corja de funcionários públicos que passam os dias a coçar os testículos?

Mas enfim, os cortes poderão estimular alguns desses funcionários a desistirem de nos agravar o défice.

Outra medida justa: o corte nas pensões de sobrevivência.

Diz o Governo que só vão atingir 3% das pensionistas.

Acho pouco.

As viúvas passaram a vida a dizer mal dos maridos, que não as ajudam, que nunca estão em casa, que se embebedam, que as tratam mal, respiram fundo quando eles, finalmente, morrem e, depois, ficam a receber as pensões?

Quer dizer, em vida, os gajos não valem nada mas, depois de mortos, as pensões já lhes dão jeito.

A convergência das pensões também é boa ideia, mas não vai juntar-se í  contribuição especial de solidariedade.

Também acho mal.

Quanto menos dinheiro os reformados tiverem, melhor.

O pior que pode haver é um bando do reformados ociosos, cheios de dinheiro!

O aumento do imposto de circulação para carros a gasóleo também merece aplausos, uma vez que estes veículos provocam mais poluição que os movidos a gasolina.

Mas também se devia aumentar os impostos sobre a gasolina.

Precisamos de menos carros nas estradas. Só assim poderemos diminuir a sinistralidade rodoviária.

Também vai aumentar o imposto sobre o tabaco e, mais uma vez, o meu aplauso.

O tabaco só faz é mal.

Simultaneamente, os medicamentos para deixar de fumar continuam sem comparticipação do Estado, o que é excelente.

Deste modo, os verdadeiramente viciados continuarão a fumar e há esperança que morram precocemente.

Menos umas pensões que o Estado terá que pagar.

Finalmente, o aumento da idade da reforma para os 66 anos é outra medida que merece apoio.

Mas também acho pouco.

Conheço tipos com 80 anos que continuam cheios de pica e basta olhar para o Mário Soares que, com 88 anos, continua a tentar lixar o Cavaco.

Portanto, 66 anos é escasso.

A reforma devia ser quando um gajo já não dissesse coisa com coisa.

Razão pela qual o Passos Coelho já devia estar reformado há dois anos!

 

Meteóricos

* Alcácer do Sal: Homem fugiu pela janela do tribunal e está a monte – em Alcácer não deve haver muitos montes; deve ser fácil encontrá-lo

* Alberto Martins eleito líder parlamentar do PS com 69% dos votos – eleições malandrecas…

* Motorista simulou o roubo de 22 toneladas de bacalhau – vai finalmente provar que existem mil maneiras de cozinhar bacalhau

* Papa “sofre com papel reduzido da mulher” dentro da igreja – mas o que é que o Papa quer que elas façam mais, além de se ajoelharem?

* O criminalista Barra da Costa afirma saber onde mora o famoso estripador de Lisboa – o famoso estripador também sabe onde mora o criminalista…

* Rádios de polícias nos Açores custam 30 milhões – devem apanhar estações australianas

* Mário Soares, sobre o governo: “estes senhores têm de ser julgados, depois de saírem do poder” – í“ Marocas, depois? Por que não já agora, pá?

* CGTP insiste na manifestação na Ponte 25 de Abril – por que não cobrar portagem a cada manifestante?

“Netherland”, de Joseph O’Neill

Joseph O’Neill nasceu na Irlanda em 1964, tem ascendência irlandesa e turca, cresceu na Holanda e vive em Nova Iorque, onde é professor.

netherlandNetherland, que ganhou o Prémio Pen/Faulkner em 2009, é um livro triste que, no entanto, termina com uma nota de esperança.

O narrador é um holandês, Hans van den Borek, que vive em Nova Iorque com a sua mulher inglesa, Sara, e o filho Jake. A acção do romance começa pouco depois da destruição das Twin Towers. O apartamento onde esta família vivia, na zona da Tribeca, ficou danificado e eles vivem, agora, provisoriamente, no conhecido Chelsea Hotel.

O medo de mais ataques terroristas fazem com que Sara queira ir viver para Londres, que pensa ser uma cidade mais segura. Hans quer continuar em Nova Iorque. A relação entre o casal deteriora-se.

Hans é um entusiasta de criquet e conhece um imigrante de Trinidade, Chuck, também ele amante daquele desporto. Os dois desenvolvem uma amizade com alguns contornos estranhos.

No final da história, Hans vai para Londres e reconcilia-se com Sara.

O’ Neill não perde tempo com palavras inúteis. O tom do livro é limpo e seco, mas não desprovido de sensibilidade, pelo contrário. Hans chora, tem saudades, por vezes raiva, mas tudo muito comedido, diria, muito “holandês”.

Como diz o crítico do New Yor Times, Dwight Garner, Netherland é “the wittiest, angriest, most exacting and most desolate work of fiction we”™ve yet had about life in New York and London after the World Trade Center fell.”

Gostei.