“Número Zero” de Umberto Eco (2015)

Quem diria que Umberto Eco, agora com 83 anos, tinha um sentido de humor tão apurado e era capaz de escrever uma sátira tão bem esgalhada.

É que depois de títulos, digamos, tão sisudos como O Nome da Rosa, O Pêndulo de Foucault ou O Cemitério de Praga, eu não estaria í  espera de um Número Zero tão bem disposto e que se lê de uma penada (também são só 160 páginas e eu, ultimamente, só tenho lido tijolos de 600 páginas, no mínimo!)

numero zeroO Número Zero é sobre um jornal, chamado Amanhã, financiado por um Comendador, que pretende editar apenas números zero, com notícias e artigos que possam ameaçar certas pessoas importantes, a quem o Comendador queira influenciar.

Nas primeiras páginas do livro, Eco denuncia os truques que a comunicação social utiliza para nos implantar determinadas opiniões. Claro que o jornalista não pode e não deve emitir uma opinião, mas pode sempre entrevistar um popular que emite essa opinião por ele.

Os diálogos entre os vários jornalistas da redacção são bem divertidos, como este, por exemplo:

«No seu artigo sobre as prostitutas usa expressões como fazer um cagaçal, encanzinamento, conversa de merda e põe em cena uma putéfia que diz vai levar no cu»

«Mas é assim», protestou Constanza. Agora todos usam palavrões, mesmo na televisão, e dizem caralho, inclusive as senhoras.»

«O que faz a alta sociedade não nos interessa. Nós devemos pensar nos leitores que têm ainda medo dos palavrões.»

Um dos jornalistas, entretanto, está a investigar a possibilidade de Mussolini não ter sido assassinado e estar ainda vivo, quem sabe, na Argentina e tudo isso envolveria uma teoria da conspiração gigantesca. O desenvolvimento desta história acabará por levar ao fim do jornal e, sinceramente, cheira-me que Eco queria mesmo contar esta história mas, como não dava para fazer uma romance, envolveu-a na história do jornal.

Número Zero é uma pequena novela que se lê rapidamente e com prazer.

Uma pequena nota para um erro frequente em português, mas que não se devia ver num livro.

Está na página 52 e seguintes:

«Porque crescem as bananas nas árvores», em vez de “por que crescem as bananas nas árvores”. Esta confusão entre “porque” e “por que” repete-se mais de vinte vezes! É obra!

“Um Homem Apaixonado”, de Karl Ove Knausgard (2009)

E já está despachado o segundo tijolo dos seis que constituem este momumental projecto que é “A Minha Luta”, da autoria do norueguês Knausgard.

homem apaixonadoDepois de A Morte do Pai, este Um Homem Apaixonado tem, como pano de fundo, o segundo casamento do autor, com Linda, e o nascimento dos três filhos, Vanja, Heidi e Jon, em apenas 4 anos.

O título é um pouco enganador porque, apesar de apaixonado, Karl Ove passa o tempo a discutir com Linda que, ainda por cima, é bipolar.

O autor debate-se entre a vidinha de todos os dias, fazer, comer limpar a casa, mudar as fraldas aos miúdos, levá-los ao infantário, aturá-los, fazer o jantar, levar o lixo para os contentores e arranjar tempo para escrever.

Tal como no primeiro volume, ora levamos com a descrição pormenorizada de como Karl Ove limpa o chão da cozinha, incluindo que tipo de detergente usa, ora apanhamos com uma exposição demorada sobre Dostoievsky ou qualquer outro clássico.

E podemos dizer que, ao fim e ao cabo, não se passa nada. Karl Ove discute com Linda ou com a vizinha de baixo, que é russa e faz barulho fora de horas, mudam-se de Estocolmo para Malmo, de vez em quando vai fazer leituras a Universidades, compra livros e discos, tem jantares com amigos, fala sobre tudo e nada com o seu amigo Geir e, quase no final do livro, vai jogar í  bola com um grupo de conhecidos, cai e fractura uma clavícula, o que deixa Linda muito chateada porque, nos dois meses seguintes, terá que ser ela a tomar conta dos três miúdos sozinha.

Delicioso!

No entanto, notei uma incongruência no autor. Na página 457, numa conversa com Geir, Karl Ove diz:

«Lembro-me de a Tonje estar sempre a falar de uma coisa terrível que lhe tinha acontecido, muitos anos antes. (…) Ao fim de dois anos, acabou por me contar tudo. Eu não tinha bebido. E ouvi-a com toda a atenção, sem pensar em mais nada. Ouvi atentamente cada palavra que ela dizia e, depois, falámos muitas vezes sobre o assunto. Mas acabei por esquecer tudo. Passados poucos meses, já não lembrava fosse do que fosse. Nada.»

E o autor continua neste tom, lamentando-se por ter, na altura, apenas 35 anos e ter já a memória tão queimada… e no entanto, ao longo destes dois livros relata episódios do passado, até da sua adolescência, com grande profusão de pormenores, incluindo longos diálogos.

Estamos, portanto, perante uma autobiografia ficcionada, e não há mal nenhum nisso.

Só um pequeno pormenor, quanto í  edição, da responsabilidade da Relógio d´Agua (tradução do inglês de Miguel Serras Pereira): talvez com a pressa de lançar o livro no mercado, existem vários erros, digamos, tipográficos, que uma revisão aturada teria evitado.

Por exemplo: “O tema da discussão eram agora” (página 38); “chávenas de café e piores numa bandeja” (em vez de pires, página 297), “Linda pusera em cima da mesa pratos da cozinha que trouxera da cozinha” (página 386). E há mais.

Fico í  espera do 3º volume.

25 de Abril sempre!

As portas que Abril abriu, Portas não as vai fechar – e Passos, muito menos!

A herança do MFA está assegurada, graças a estes dois verdadeiros revolucionários.

Ao apresentar o programa eleitoral da coligação Portugal í  Frente, Passos Coelho garantiu que “Estamos hoje a lutar mais por Abril e pela liberdade do que tantos outros”.

http://expresso.sapo.pt/politica/2015-07-29-Estamos-hoje-a-lutar-mais-por-Abril-e-pela-liberdade-do-que-tantos-outros

Governo escuta, Passos e Portas estão em luta!

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Vamos convencer o Peixoto?

Carlos Peixoto é deputado do PSD, eleito pela Guarda e, em declarações í  Rádio Altitude, explicou por que razão é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Disse o Peixoto:

«Se estamos a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então também podemos admitir, pelo mesmo princípio, casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos».

E entre avós e netos também, não é, Peixoto?

Pena que o teu pai se tenha casado com a tua mãe, em vez de ter casado com o primo Manuel, pá!

Peixoto disse ainda que apesar de ser contra os casamentos entre homossexuais, admite «poder vir a mudar de opinião», se o convencerem.

Vamos convencer o Peixoto, malta?

A fugir com o pé para o chinelo

Uma notícia de página inteira na secção Mundo do Diário de Notícias de hoje, esclarece-me que “Betty Batziana é mais caseira. Danae Startou é presença habitual na noite grega”.

O título da notícia diz quase tudo: “Desamor no Olimpo: como a riquíssima Sra. Varoufakis irrita a discreta Sra. Tsipras”.

Vale a pena revelar o nome da jornalista que assina este pedaço de trampa: Helena Tecedeiro.

Betty é o diminutivo da mulher de Tsipras, Peristera Batziana (com um nome destes, também eu preferia um diminutivo).

A jornalista esclarece-nos que Betty é muito discreta, pelo que, “foi assim (em segunda mão) que ficámos a saber como Betty e Alexis se conheceram no liceu, como se apaixonaram e nunca mais se separaram apesar de não terem casado.”

E o texto continua neste tom, relatando banalidades sobre a mulher de Tsipras, comparando-a com a mulher de Varoufakis.

Topem este naco: “Simples, de cara lavada e pouco amiga de cabeleireiros, a morena Betty não podia contrastar mais com a loira Danae”.

Sinceramente, Sr. Director do Diário de Notícias: se quisesse ler merdas destas, tinha comprado a Caras ou a Nova Gente!

Não os prendam todos, por favor!

Ora bem, o Sócrates já lá está há uns meses e o Vara foi agora, embora com pulseira.

Mas, cada pedra que se levanta, parece ter um lacrau lá por baixo.

Em Portugal e no Brasil.

Por cá é a Operação Marquês, lá é o Lava Jato.

E, ao lavar-se o jato, surge o nome de Lula da Silva.

Que veio a Portugal, ajudar a lançar o livro de Sócrates, a convite da construtora Odebrecht.

Esta construtora está em Portugal há mais de 20 anos e participou em inúmeras grandes obras, como a barragem do Alqueva, a Gare do Oriente ou a Ponte Vasco da Gama, atravessando os governos de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso…

Diz o DN que a Odebrecht também trocou telegramas com Passos Coelho (http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=4688510).

Por favor, não os prendam todos, que eu não estou disponível para governar esta merda!

cavaco lula

De Tsipras a Vara, passando por Casillas

Alguém já se lembra do Varoufakis?

E do Vítor Gaspar?

Neste mundo da alta finança, os ministros das Finanças sobem alto mas caem depressa.

A careca, a mota, a mochila e a pretensa insolência de Varoufakis depressa foram esquecidas e Tsakalotos ocupou o seu lugar; embora sem gravata, sempre é considerado mais convencional pelo ministro das Finanças portador de deficiência, Schauble.

Será suficiente para manter a Grécia no euro?

Pelos vistos, quer a Alemanha, quer a Finlândia, estão desejosas de desagregar a Grécia.

Gregos desagregados.

Chamam-lhe “Grexit”, por que carga de água?

“Exit” é saída, em inglês, mas a Inglaterra nem sequer está no euro; ou será êxito?

A saída da Grécia será, afinal, um êxito?

Saltar para fora do euro, como?

í€ vara?

Saltar í  Vara é um desporto socialista, que o diga o Armando.

Armando Vara ou armando barraca?

Armando é gerúndio – nunca fica resolvido.

Ele lá vai armando í  sua volta uma teia que vai deitando outros abaixo, primeiro os Penedos, agora o Sócrates (a Grécia, sempre a Grécia…)

Claro que vara também é um conjunto de porcos, mas não é caso.

O caso é que tudo isto vai degradando o Costa, pior, muito pior do que o mar, que também vai lixando a Costa da Caparica.

O Costa, o António, bem vai dizendo que acredita na justiça, que não tenciona tornar a visitar Sócrates (o português, não o grego), que nem sabe bem quem é o Vara (e vai-se Armando em parvo…), mas o que é certo é que a erosão lá o vai atacando…

Mas há Costas mais fortes, como o Pinto, por exemplo.

Apesar dos anos, dos ventos e das marés, esse Costa, em vez de se erodir, parece querer erguer-se das cinzas.

Contratou agora o Casillas para guarda-redes e vai-lhe pagar mais de 200 mil euros por mês.

Limpos.

Limpos porque, nestas contratações, a sujidade não existe.

Branqueamento de capitais (transformar Dakar em Paris), é crime.

Próprio de outras modalidades desportivas.

Do salto í  Vara, por exemplo?

Sócrates (o português) e Vara (o Armando), gritam: e nós é que estamos presos?!

E Tsipras (o grego) pergunta: esse Costa (o Pinto, não António, o erodido), não nos poderia emprestar algum dinheiro?