“A Rainy Day in New York”, de Woody Allen (2019)

Woody Allen nunca desilude. Os seus filmes são todos iguais, e todos diferentes. Claro que já não há aquela surpresa que causaram “Annie Hall” ou “Manhattan”, mas há sempre uma história bem contada, com diálogos inteligentes, algumas boas piadas e muito romantismo, sem ser piegas.

Desta vez, Allen escolheu novamente New York como cenário de fundo, embora o filme se passe, quase todo, em interiores. Imagino que fazer cenas tendo, como pano de fundo, a Brooklyn Bridge, o Empire State, o East River, a Broadway, deveria sair muito caro – portanto, temos a cena final no Central Park e já vamos com sorte.

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Gatsby (Timothée Chalamet) é um jovem universitário que gosta muito de Manhattan e leva a sua namorada, Ashleigh (Elle Fanning) para um fim de semana em que lhe deveria mostrar a cidade. Ela vai fazer uma entrevista de uma hora a um realizador de cinema famoso, para ser publicada no jornal da Faculdade.

Só que, além da entrevista, ela se vê envolvida em diversas peripécias relacionadas com a fauna do cinema, acabando no apartamento de um actor mais ou menos famoso, e ele deambula pela cidade, sempre debaixo de uma chuva copiosa e, como vê todos os seus planos falhados, acaba por contratar uma prostituta para se fazer passar pela sua namorada numa festa organizada pela mãe dele.

E há, ainda, a irmã mais nova de uma antiga namorada de Gatsby.

Gostei de ver estes actores muito jovens; Timothée Chalamet tem todos os tiques de Woody Allen (por que será?).

Hora e meia de entretenimento garantido.

O milagre das Glock

Conta a lenda que o dono de uma empresa avícola, de nome Manuel Gonçalves das Neves, aceitou exportar para a Guiné-Bissau, umas quantas pistolas Glock e respectivas munições, gamadas í  PSP por João Paulino e António Laranjinha, especialistas na matéria.

Preparando-se para enviar para a Guiné um carregamento de ovos produzidos pelas galinhas da sua empresa, foi abordado pela Judiciária, que o terá interrogado:

“Manuel, que levais aí, senhor?”

“São ovos, senhor polícia, são ovos!…” – exclamou Manuel.

Foram ver e eram mesmo ovos!

Só que, entre os ovos, estavam também carregadores e munições para as Glock fanadas.

E o empresário foi preso, o que foi uma injustiça, já que ele pretendia, apenas, ajudar os guineenses a defenderem-se.

“O Assassino Cego”, de Margaret Atwood (2000)

Foi com este The Blind Assassin que a canadiana Margaret Atwood venceu o Booker Prize de 2000.

Só agora o li e foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos.

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A narradora é Iris Chase, uma octogenária com um coração doente que vai recordando a sua vida desde a infância, desde o tempo em que o seu aví´ enriqueceu com fábricas de botões. Depois, veio a Primeira Guerra, a Depressão, a Segunda Grande Guerra e a família Chase vai sofrendo convulsões, dramas e alegrias.

Iris tem uma irmã, Laura, com uma personalidade peculiar – hoje diríamos que seria, talvez, uma Asperger. Logo no início da narração, sabemos que Laura morre num acidente de automóvel, dez dias depois de terminar a Segunda Grande Guerra.

Postumamente, é publicado O Assassino Cego, romance alegadamente escrito por Laura e que é um sucesso instantâneo, mas Iris tem revelações surpreendentes para fazer, no final do livro.

Assim, esta obra de Atwood apresenta a narração de Iris Chase, intercalada com alguns capítulos do livro alegadamente escrito pela irmã e algumas notícias publicadas em jornais da época, relacionadas com a família Chase.

É começar a ler e não querer parar.

Edição Livros do Brasil, tradução de Elsa T. S. Vieira

Exposição de Miguel Palma no CCB

Chama-se “(Ainda) O Moderno Desconforto” e mostra muitas obras deste artista-performer, nascido em Lisboa há 55 anos.

Para um leigo como eu, a Exposição reúne uma série de engenhocas (não digo geringonças, porque o termo está estafado) muito curiosas.

Logo í  entrada, temos uma ambulância verdadeira; olhando lá para dentro, como os mirones fazem nos acidentes, podemos ver o simulacro de um acidente, com automóveis miniatura; mais í  frente, um tanque de guerra projecta uma série de imagens coladas aleatoriamente. Depois, nas duas salas da Exposição, encontramos diversas peças que merecem referência.

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Ao acaso, falo na mesa de pingue-pongue com buracos que parecem ter sido causados por obuses, ou a barra de ferro com um pequeno televisor na extremidade, onde podemos ver uma ginasta romena evoluindo na barra olímpica (a peça chama-se Barra Comaneci!).

A ironia aliada í  tecnologia. Mas há muito mais: uma máquina que tritura diversos electrodomésticos, um Google Plane que, na sua base, tem o céu estampado e que, em cima, tem fotos da Terra, e ainda a viatura em que o autor se fez transportar há uns anos e que é um verdadeiro bólide feito í  mão (na foto).

Gostei e recomendo.

“A Lotaria e Outras Histórias”, de Shirley Jackson (1948)

Shirley Jackson (1916-1965) viveu apenas 49 anos mas é considerada uma das mais influentes escritoras norte-americanas, herdeira do gótico americano, iniciado por Edgar Alan Poe.

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O conto “A Lotaria”, publicado em 1949 no The New Yorker, provocou grande celeuma e alguns leitores pensaram que ele relatava algo de real, e cancelaram a assinatura da revista. Há que ler o conto para perceber porquê.

Tirando este conto, que faz mesmo lembrar Poe, os restantes 24 contos são, no mínimo, curiosos. Obviamente datados, retratam famílias em que as mulheres estão em casa, a cozinhar ou bordar ou em outras tarefas domésticas e, em que os homens estão ausentes, porque trabalham.

Em alguns dos contos, as mulheres são jovens que vivem sozinhas em Nova Iorque, vindas da província, e estão com dificuldade em viver na grande cidade.

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Toda a gente fuma, claro – a própria escritora era uma grande fumadora.

Vale a pena ler.

Edição da Cavalo de Ferro, tradução de Rita Carvalho e Guerra

Este bastonário não me representa

Miguel Guimarães foi eleito bastonário da Ordem dos médicos em 2017 por 10 830 médicos, de um total de 50 680 inscritos na Ordem.

No entanto, nas eleições, Guimarães obteve 73% dos votos, uma vitória esmagadora sobre os opositores, ílvaro Beleza incluído.

O problema é que apenas 29% dos médicos inscritos na Ordem se deram ao trabalho de votar, o que quer dizer que Guimarães, embora represente a maioria dos médicos votantes, apenas se pode outorgar o direito de falar por cerca de 20% dos médicos inscritos.

É pouco.

É sobretudo pouco quando Miguel Guimarães, em vez de se “limitar” í s questões relacionadas com a ética e a formação médica, se lança na política partidária, atacando permanentemente o Governo, contribuindo para os problemas, em vez de fazer parte das soluções do SNS.

Aqui há uns meses, surgiu a notícia de que a Galiza queria contratar médicos portugueses, oferecendo-lhes altos salários. Logo Guimarães se chegou í  frente, surgindo nas televisões, dizendo que, em Espanha, os médicos eram muito mais considerados que em Portugal e que era natural que aceitassem sair do país para trabalhar aqui ao lado.

Quando, algum tempo depois, se percebeu que os tais altos salários eram promessas vãs e que os médicos que aceitassem ir trabalhar para a Galiza, teriam que saltar de serviço em serviço, fazendo várias urgências por semana para conseguir as tais remunerações principescas, não ouvi o bastonário vir pedir desculpa e fazer o contraditório.

Nas várias declarações que tem feito – e que são muitas – oiço-o sempre “defendendo” o SNS sem nunca dizer aquilo que ele sabe, melhor do que eu, que está na génese da falta de médicos no serviço público: a fuga para os hospitais privados.

Como é possível que um bastonário aceite que os membros da sua Ordem sejam formados pelas Universidades públicas, façam os estágios nos hospitais públicos, se especializem nos hospitais do SNS e, assim que são especialistas, se pirem para os privados?

E depois, quando o novo governo é anunciado, os média anunciam: “os médicos contra a continuidade de Marta Temido e Mário Centeno”

E lá aparece o bastonário, com aquele seu ar superior, a dizer que António Costa “não está a saber aproveitar a nova oportunidade que os portugueses lhe deram”, ao manter em funções a ministra da Saúde e o ministro das Finanças!

Mas será que este palerma não percebe que mais de 2 milhões de portugueses votaram no PS e que isso legitima as escolhas do Costa?

Será que Guimarães pensa que os 50 680 médicos inscritos na Ordem votaram no PSD, no CDS ou pior?!…

A Gaiola das Malucas

Morais Sarmento, o ex-boxeur do PSD, classificou o seu partido como uma gaiola das malucas.

Gaiola das Malucas – no original, La Cage aux Folles – é um filme italo-francês de 1978, realizado por Édouard Molinaro, com Ugo Tognazzi e outros.

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O filme conta a história da chegada de Laurent Baldi í  casa dos pais, um casal homossexual formado por Renato, o gerente de uma boate drag de Saint-Tropez, e Albin, a atracção principal do estabelecimento. Laurent volta para casa para anunciar que está noivo de Andrea, filha do político ultra-conservador Simon. Com a ocorrência de um escândalo sexual no seu partido político, Simon decide casar sua filha com Laurent para poder fazer os média esquecer tudo, sem imaginar como é a família do noivo.

Acho que não é preciso dizer mais nada sobre o PSD…

A esfinge de Boliqueime está triste

Cavaco Silva fez saber que está triste com o resultado do PSD nas eleições legislativas.

Habituado a maiorias absolutas, não consegue digerir os 28% de Rui Rio – e faz questão de o dizer publicamente, o que equivale a uma facada nas costas do actual líder do PSD.

A criatura foi comparada a um eucalipto, que tudo seca í  sua volta. Ainda hoje, quando o vejo na televisão, não consigo tirar essa imagem da cabeça. Cavaco faz mesmo lembrar um eucalipto – hoje em dia, um eucalipto velho, seco, depauperado e com uma azia do camandro!

Deve ser difícil para ele ver um socialista ocupar o seu lugar durante tantos anos. No entanto, apesar de se afirmar triste, no fundo, Aníbal deve sentir uma pontinha de felicidade por assistir í  derrota de Rio, de quem não gosta especialmente.

De quem ele gosta, pelos vistos, é da Maria Luís Albuquerque, aquela especialista em swaps.

Nesta sua afirmação pública de tristeza, Cavaco lembra o nome de Maria Luís, dizendo que ela é “uma das mulheres com maior capacidade de intervenção que conheci”.

Será que a Dona Maria Cavaco Silva teve conhecimento destas afirmações?

Algo vai mal no reino de Boliqueime!…

E ainda se queixam do SNS!…

Fui fazer um tac crânio-encefálico e um angio-tac das carótidas í  Cuf Almada. Como tenho ADSE, “…só” paguei o que consta da tabela deste subsistema, isto é, 74 e 130 euros, respectivamente. Depois, enviei a factura para a ADSE e aguardo que me seja feito o reembolso de parte daquela despesa.

Para todos os efeitos, paguei 200 e tal euros í  Cuf para que me fizessem aqueles dois exames.

Fiz os exames sem qualquer problema, o atendimento, por parte da técnica, foi excelente.

Paguei os 200 e tal euros na secretaria e, quando ia a sair da Clínica, recebi um sms da Cuf, informando-me que o exame tinha sido cancelado.

Espantado, voltei í  secretaria e perguntei í  funcionária: então, o exame que acabei de fazer foi cancelado?

Ah! Não ligue!… ““ exclamou a funcionária ““ fez o exame, não fez?… então…

Encolhi os ombros e deixei a Clínica com a indicação que os exames estariam prontos no dia 30, mas era melhor só os ir levantar no dia seguinte.

Assim fiz. Ontem dia 1 de outubro, lá estava na Clínica Cuf Almada, para levantar os meus tão ansiados exames, os que iam determinar se tinha, ou não, uma carótida entupida, se tinha, ou não, alguma sequela de um eventual avc.

Não estavam prontos.

Disse-me a menina da secretaria que o médico se tinha atrasado, mas, se quisesse levar o cd com as imagens, depois, podia consultar o relatório na app mycuf. Embora desiludido, e ansioso, aceitei o que a menina me disse e sentei-me, aguardando que o cd fosse gravado.

Entretanto, percebi que havia um problema qualquer de folgas e que as senhoras da secretaria estavam preocupadas com isso e, uma delas, aquela que me atendeu, estava até a choramingar.

Aguardei…

Vi, depois, que o encarregado de transcrever os relatórios, chegou ao serviço e que a sua colega administrativa lhe explicou que um senhor (eu), tinha lá ido buscar os exames, mas que ainda não estavam prontos. “…Mas ele já levou o cd”, disse a administrativa.

Fui ter com ela e lembrei-lhe que continuava í  espera do cd. Olhou-me com surpresa; já não se lembrava de mim e só tinham passado alguns minutos!

Enfim, lá me deu o cd e avisou-me que o relatório estaria no mycuf talvez só amanhã!

Regressei a casa um pouco chateado: o resultado daqueles exames era mesmo muito importante para a decisão terapêutica.

Mas aguardei…

Durante a tarde, consultei, de vez em quando, a app mycuf, mas nada constava, no menu “…resultado de exames”.

Até que, a meio da tarde, alguém me telefonou da Cuf, informando-me de que o relatório dos meus exames estava, finalmente, pronto. Poderia ir levantá-lo. Quanto ao mycuf, talvez lá surgisse o relatório, mas era coisa para demorar umas horas…

Pela segunda vez, desloquei-me í  Clínica Cuf Almada e, finalmente, levantei o relatório dos meus exames que, felizmente, estavam melhores do que eu esperava.

Quando cheguei a casa, tinha, na caixa do correio, uma carta da Cuf avisando-me que teria de pagar um adicional de 12 euros devido ao contraste que foi utilizado no angiotac.

Tinha estado, por duas vezes, pessoalmente, na Clínica e nenhuma das administrativas me avisou disso e, só depois de ter regressado a casa, é que fico a saber que ainda devo mais 12 euros! Quem me enviou aquela carta, afinal?!

Praguejei e paguei os 12 euros por transferência bancária.

Passado algum tempo, recebo um sms a avisar-me de que deveria pagar os 12 euros; se não o fizesse, ficaria sujeito a juros!

Quanto aos relatórios dos meus exames, nada constava na aplicação mycuf.

E nada continuava a constar hoje, quase 24 horas depois.

E ainda dizem mal do SNS!…