Plurales, plurães, plurões, plurãos ou pluralistas

Abundância é plural.

E o plural é muito mal tratado na nossa língua. Esta a conclusão a que chegou o Grupo de Trabalho do Gabinete de Estudos Linguales do Pão com Manteiga.

Com efeito, se o plural de televisão é televisões, o de cão deveria ser cões. Mas se o plural de cão é cães, o de mão deveria ser mães – mas este é o plural de mãe. O verdadeiro plural de mão é mãos, pelo que o de capitão deveria ser capitãos. Ora, se o plural de capitão é capitães, o de limão deveria ser limães. Mas se o plural de limão é limões, o de mão deveria ser mões. Mas se é mãos, o plural de patrão deveria ser patrãos – ou patrães, já que o plural de pão é pães.

Por outro lado, o plural de qualquer é quaisquer, pelo que o plural de halter deveria ser haister.

Não esquecer ainda que, se o plural de barril é barris, o plural de projéctil deveria ser projectis – mas é projécteis. E, neste caso, o plural de funil deveria ser funeis.

O próprio plural de plural é plurais e não plurales, como deveria ser, já que o plural de mal é males, e não mais.

Nem mais!

  • in Pão com Manteiga, março de 1988

“Conta-me tudo”, de Elizabeth Strout (2024)

Elizabeth Strout (Portland, EUA, 1956), criou um universo que lhe permite escrever livro atrás de livro.

Depois de ter ganho o Pulitzer com a obra Olive Kitteridge, criou outra personagem, a escritora Lucy Barton e, neste último livro, faz com estas duas personagens se encontrem.

Olive, uma ex-professora agora com 90 anos, escuta as histórias que Lucy lhe conta, mas, ao mesmo tempo, vamos conhecendo muitas outras histórias relacionadas com os amigos e os vizinhos.

Resumindo: é a vidinha em Crosby, pequena terra situada no Maine, onde life goes on.

O segredo destes livros é simples: falar do dia a dia de pessoas simples, com as suas angústias, as suas desgraças e as suas coisas boas.

No entanto, penso que depois de todos estes livros, Elizabeth Strout esgotou a mina.

Grandes segredos bíblicos

* Quando Jesus disse que era mais fácil a um camelo passar pelo buraco da agulha do que a um rico entrar no reino dos céus, não contou com uma coisa muito importante: alguns ricos são mesmo uns grandes camelos!

* Os mistérios de deus são mesmo insondáveis. Se há um anjo da Guarda, por que razão não há um anjo da Covilhã? Fica ali a dois passos!

* Por vontade expressa de Jeová, o Egipto é mais rico que a Checoslováquia. Sete pragas a uma

* De Sodoma, ainda nos chegou a sodomia. Agora, de Gomorra, nada… A gomorria deve ser cá uma indecência!

* Está provado: o dilúvio apanhou os meteorologistas desprevenidos

* Ao andar sobre as águas, Jesus inventou o surf

* Afinal, parece que 30 dinheiros velaram a pena. Não há dúvida que Judas é o mais famoso dos apóstolos

* Original foi o pecado de Adão e Eva. Todos os outros não passam de cópias

* Caim matou Abel porque não havia mais ninguém à mãe e matar os pais não era muito bem visto, mesmo naquele tempo

* A profissão do pai acaba sempre por influenciar o filho. S. José era carpinteira e trabalhava com madeira e pregos. O seu filho foi pregador

* Se deus tivesse um pouco mais de calma e gastasse, pelo menos, mais vinte dias a fazer o mundo, talvez isto fosse mais bem feitinho

* Como a sua mulher fosse estéril, Abraão dormiu com a serva – que assim se tornou a precursora das barrigas de aluguer

  • in Pão com Manteiga – março 1988

“Kairos”, de Jenny Erpenbeck (2021)

Kairos era o deus grego do tempo oportuno e foi com um livro com este título que Jenny Erpenbeck, nascida em Berlim Oriental em 1967, ganhou o Booker Prize Internacional de 2024.

A acção do livro começa em julho de 1986, quando Hans, um intelectual com mais de 50 anos, casado e com um filho, se encontra, num dia de chuva, com Katherina, uma estudante de 19 anos. Nasce então uma paixão que, com os anos, se transforma numa relação sado-masoquista. Depois de uma grande fascínio mútuo – ele, pela juventude dela, e ela, pela maturidade e experiência dele –  a coisa descamba para uma relação de poder, que ele exerce sobre ela, depois de Katherina ter tido uma experiência com outro jovem.

No fundo, a relação entre Hans e Katherina é uma metáfora para o declínio de uma nação, a RDA, e o despontar de uma Alemanha unida.

A certa altura, Katherina consegue autorização para visitar a avó, que vive em Berlim Ocidental e fica espantada com o que vê no metropolitano:

Uma imagem com texto, Tipo de letra, preto e branco

Os conteúdos gerados por IA poderão estar incorretos.“Junto às escadas que descem para o metropolitano, está sentado no chão um velho de barba por fazer, a dois metros de distância, uma rapariga, não muito mais velha que Katherina, mas que magra está, tem ar de doente, ao pé dela estão sentados dois homens jovens mal vestidos. Estão todos sentados no chão nu. O velho pôs à sua frente um letreiro onde escreveu em letras tortas: TENHO FOME. Um dos jovens dormita, o outro espera juntamente com a rapariga diante de um prato com alguns trocos. Claro que Katherina sabe que, no Ocidente, há mendigos, mas é uma coisa diferente ver isso com os próprios olhos”.

Na RDA não havia mendigos, pelos vestidos, mas havia outras necessidades e, quando Katherina vai a Colónia, visitar a avó, não perde a oportunidade para comprar vestidos que não existem no seu país.

A certa altura, Hans e Katherina vão visitar Moscovo e espantam-se com a monumentalidade do metropolitano da cidade:

“Já andaram agora quatro vezes de metro, e cada estação tem um aspecto diferente (…)

Ao entrar e sair há empurrões e cotoveladas, mas lá dentro, nas carruagens, no maior dos apertos, há sempre uma série de pessoas de livro na mão numa perfeita calma. Gente simples, operários, empregados, a ler. E livros bons, não uma porcaria qualquer, diz Hans. Em nenhum outro país, diz ele, qualquer vendedor e qualquer operário das obras é capaz de dizer poemas de cor”.

O elogio do intelectual, ignorando tudo o resto, nomeadamente, a falta de liberdade que, segundo ele, só conduzirá ao capitalismo.

As páginas mais interessantes do livro, na minha opinião, acontecem depois da queda do muro de Berlim. Nessa altura, a relação entre Hans e Katherina já se degradou – aliás, nunca é feita crítica nenhuma, ao facto de Hans ser casado e ignorar a sua mulher, Ingrid e o seu filho adolescente. São coisas que acontecem…

“Quando, em contrapartida, Katharina percorre a parte ocidental, sente-se como uma cópia de má qualidade das pessoas que têm ali o seu quotidiano, sente-se como uma embusteira, em risco permanente de ser desmascarada. Com os seus olhos, que, na outra metade da cidade, são os olhos de uma estranha, vê que, nas lojas do Ocidente, há muito tempo todas as necessidades imagináveis foram respondidas por um produto, a liberdade de consumo parece-lhe uma parede de borracha que separa as pessoas dos anseios que estão além das suas necessidades pessoais.”

Em conclusão: trata-se de um livro curioso, mas não é um dos meus preferidos.

O pum que Dona Genoveva deu, não foi ela, fui eu!

O primeiro-ministro Luis Montenegro faz-me lembrar aquela anedota do Bocage.

Num baile, uma Dona Genoveva deu um pum e pediu ao Bocage que assumisse o ónus do fedor que se instalou no salão. Foi então que o poeta anunciou, com voz grave que o pum que a Dona Genoveva  deu, não foi ela, fui eu.

Passa-se o mesmo com o Montenegro.

A empresa que ele fundou, não é dele, é da mulher.

Ou então, a empresa que ele fundou, não é dele, nem da mulher, mas dos filhos.

E os clientes que Luis Montenegro arregimentou, não são dele, mas do Hugo Montenegro, seu filho.

E quando a Solverde telefona a Montenegro e pede que lhe actualize os cookies e a política de proteção de dados, o primeiro-ministro, escandalizado, responde: pergunte ao meu filho, que eu não tenho nada a ver com essa empresa e até tenho raiva a quem tem!

Ai, Montenegro! A tua transparência é cada vez mais opaca!

“O Lago da Criação”, de Rachel Kushner (2024)

Rachel Kushner (Oregon, EUA, 1968) é já uma romancista norte-americana consagrada.

Dela já li Telex de Cuba (2008), Os Lança-Chamas (2013) e O Quarto de Marte (2018).

Sáo todos romances actuais, com implicações políticas e este O Lago da Criação não foge à regra.

Foi finalista do International Booker Prize e trata-se de um romance de espionagem à moda antiga, com a característica específca de ser narrado por uma mulher.

Sadie Smith é uma espia contratada para se infiltrar num grupo de activistas franceses, prontos a pôr em causa o status quo.

Sadie é implacável, e tem um humor muito especial, não se importando que o seu disfarce a obrigue a algumas cenas menos, digamos, formais. Faz-se passar por namorada de um grande amigo do líder do grupo activista, com tudo o que isso a obrigada a fazer, nomeadamente sob o ponto de vista sexual:

“Baixou-me os calções e pouco depois senti-lhe o hálito quente entre as minhas pernas. Sabia o que esperar. A língua na minha vulva era um prelúdio, um serviço que era sobretudo um pedido. (…)

Não sentia a menor atracção por Lucien, mas nessa tarde, naquele quarto de hotel, fechei os olhos, concentrei-me e, fingindo que me masturbava com um aparelho, ainda que o aparelho fosse o corpo de outra pessoa, consegui vir-me, precipitando assim o orgasmo dele, como cavalheiro que era.”

Sadie é americana e aceita trabalhos na Europa, nunca revelando quem a contrata. Desta vez está em França.

“…ou trufas secas, mostardas e frascos de carne gelatinosa semelhante a comida de gato, que os franceses apelidam de «terrine» e comem como se não fosse comida de gato”.

A crítica aos franceses está presente ao longo do livro:

“«Mas vai e diverte-te», dissera a Vito. «Os meus familiares teriam feito tudo para pertencer a um clube como esse. Em vez disso, esfregavam chãos e eram confundidos com portugueses.»”

A história é muito boa e poderá dar uma excelente mini-série de televisão, se alguém pegar nela.

Os activistas que Sadie infiltra, querem impedir as autoridades francesas de constituírem as chamadas mega-bacias hidrográficas que vão alimentar a agricultura intensiva. Têm, como mentores, alguns dos antigos activistas do Maio de 68 e toda a narrativa está cheia de ironia, como se este fosse um romance policial negro.

“Acho que confundiu água com identidade. Como aquelas pessoas que vão para o ioga e se convencem de que lhes bastará respirar para resolverem todos os problemas que têm.”

São 400 páginas de puro divertimento.

Fenómenos Estranhos

Indivíduos estranhos (excerto)

* Em Frankfurt existe um homem tão míope que precisa de óculos para dormir.

* Em Sydney é conhecido o caso daquele homem tão pequeno que tem de subir a um banco para atacar os sapatos.

* Em Liverpool todos conhecem o caso do homem tão magro que a gravata lhe fica larga nos ombros.

* Algures no Utah existe um senhor que, sempre que coça a cabeça, se acende uma luz no joelho esquerdo. Não precisa de pilhas.

* Em Nova Deli há uma mulher de ascendência anglo-britânica que tem uma boca tão pequena que só consegue alimentar-se de esparguete.

* Pelo contrário, em Kampala, há uma outra mulher com uma boca tão grande que consegue comer um melão inteiro de uma só dentada, desde que feche um bocadinho a boca.

* Em Antuérpia viveu um homem que tinha as duas orelhas do mesmo lado da cabeça. Felizmente para ele, do outro lado tinha o nariz.

* Perto de Pequim habita um camponês tão velho que assistiu ao próprio nascimento.

Fenómenos estranhos (excerto)

* Um cientista dinamarquês conseguiu, ao fim de 5 anos de trabalho penoso, demonstrar que, afinal, as estátuas dos gigantes da ilha da Páscoa, não se movem. Como se sabe, era aceite que essas estátuas se deslocavam cerca de 6 milímetros por ano, em direcção ao mar e, quando atingissem as águas, o ayatollah Khomeiny aceitaria escrever uma peça de teatro com Miguel Esteves Cardoso. Khadafi forneceria as anfetaminas. No entanto, o notável cientista dinamarquês – um tal Sjorgen qualquer coisa – esteve 5 anos sentadinho na ilha da Páscoa, vigiando as estátuas dia e noite, e afirma peremptoriamente, que elas não se mexeram.

* Gregory Stewart, hortelão de Ohio, afirma ter ouvido uma das suas couve-flor proferir, em tom profético, «you Bloody bastard!». Verificou-se, mais tarde, que eram os tomates de Stewart que falavam e o norte-americano foi acusado de praticar ventriloquia em vegetais, sem a devida autorização do sindicato.

* Extraordinário fenómeno de telequinésia na 7ª Avenida, em Nova Iorque. Todo o conteúdo de uma ourivesaria foi deslocado pela força mental de um extra-sensorial para o interior de uma carrinha a diesel que, por sua vez, se deslocou pelos seus próprios meios, para bem longe dali.

* Em Abbiate Guazzone, subúrbio da pequena cidade de Tradate, a alguns quilómetros de Varese, em plena Lombardia, isto é, Itália, sem tirar nem pôr, Bruno Facchini, um homem de 40 anos e dois filhos, decidiu ir à retrete após uma valente tempestade. A retrete situava-se do outro lado do pátio e Facchini teve que se deslocar cerca de 10 metros. Quando regressava a casa, após ter satisfeito as suas mais elementares necessidades, viu um reflexo, uma cintilação que cortava a obscuridade do seu pátio. Tinha deixado a lâmpada fosforescente da cozinha acesa.

* Em Aveiro, a senhora de Castro Sintra afirma ser capaz de influenciar a saída das cartas numa jogatana de poker. Partiram-lhe dois braços.

* Na Nova Cantuária é encontrado um túmulo de um homem que, segundo os primeiros estudos, teria falecido há mais de 3 mil anos. O corpo estava intacto, as roupas praticamente novas e o próprio morto confirmou, depois de muito instado, que morrera há uma porrada de anos.

* Dois ovnis aterram em Alverca, mas ninguém vê.

Fenómenos estranhos em Portugal (excerto)

* Em Avintes, uma galinha pôs um ovo cosido com esse.

* Em Ourique, existe uma árvore genealógica com 3 metros de altura

* Em Sernancelhe nasceu uma pata com um erro genético nas vogais.

* Em S. Bento existe uma fonte geralmente bem informada que nunca deu água. Apenas mete.

* Em Viana do Castelo o sr. Rebordão tem tomates do tamanho de melões no seu quintal. Já foram fotografados e tudo.

* Em Tomar, perto do rio Nabão, foi encontrado um gambuzino com o dobro do tamanho habitual e ainda mais verde.

* Na Amareleja existe um barbeiro tão desajeitado que só faz a barba aos outros. A ele, corta-se

* Na Amadora, um gato tentou suicidar-se e só conseguiu à oitava tentativa.

Mais fenómenos estranhos

* Andar com os dois pés no chão ao mesmo tempo

* ter caspa na cabeça dos dedos

* ter umbigo na barriga das pernas

* voar nas asas do nariz

* fazer o ninho atrás da orelha e pôr ovos no sovaco

* ir para a cama com todas as meninas dos olhos

* usar soutien nos peitos dos pés

* atirar tudo para trás das costas das mãos

* estar pelos cabelos, sendo careca

* atar os nós dos dedos

* subir ao alto da cabeça

* meter a mão na consciência e sujá-la

* morrer e ir para o céu da boca

* pôr supositórios pelo rabo do olho

* ter o coração aos saltos em altura

* sofrer de dores na bacia e ser operado ao bidé

* jogar andebol no pavilhão auricular

* ter um olho de vidro martelado

* curar a bebedeira do intestino grosso

* ter as costas largas e só entrar em casa de lado

* lavar os dentes com a pasta de executivo

* ensebar o couro cabeludo

* usar pêra no queixo e nêspera nas orelhas

* ter as maçãs do rosto com bicho

* ter uma corda na garganta e engoli-la

* despir o sobretudo e vestir o realmente

* estender o cabelo escorrido

* tomar o pulso com um copo de água

* ter garrafas de tinto na caixa dos pirolitos

* colocar lentes de contacto nas pupilas do sr. Reitor

* pôr óleo nos maxilares para não ranger os dentes

* bocejar com a boca de incêndio

* engolir em seco debaixo de água

* usar suíças na Alemanha

* dormir ao ralenti e constipar-se devagarinho

* beber uma cervejinha e comer os caracóis do cabelo

* ter a cara cheia de pés de galinha, a cabeça cheia de bicos e pôr ovos pelos ouvidos

* ser analfabeto, ter nariz aquilino e chamar-se Ribeiro

* ser um testa de ferro e enferrujá-la numa noite húmida

  • Programa Pão com Manteiga – 2 de janeiro de 1983

“A Parede”, de Marlen Haushofer (1963)

Marlen Haushofer (1920-1970), foi uma escritora austríaca que nunca quis a notoriedade, mas que acabou por influenciar outras autoras do seu país. Escreveu três ou quatro romances e um livro de contos e morreu com 50 anos, vítima de cancro ósseo.

Este “A Parede” é o seu romance mais conhecido e parece ter sido redescoberto recentemente; como diz a badana do livro, trata-se de um “clássico ecofeminista”.

A narradora vai passar um fim de semana a um pavilhão de caça pertencente a um casal amigo, em plenos Alpes. O casal decide ir a um aldeia próxima e a narradora fica sozinha. Adormece e quando acorda, o casal não regressou. Explorando as imediações do pavilhão de caça, descobre uma parede que a isola do resto do mundo. Para lá da parede, todos os seres vivos parecem ter perecido. Terá acontecido uma qualquer catástrofe, mas a narradora não se detém muito sobre quem terá construído a parede, como ela foik parar àquela zona, nem sobre que tipo de catátrofe terá acontecido. E assim, ali está ela, aparentemente sozinha no mundo, apenas com a companhia de um cão.

Tudo isto é revelado logo nas primeiras páginas, portanto, é obra como a autora nos consegue manter interessados ao longo de quase 300 páginas, limitando-se a contar o seu dia-a-dia. Confesso que achei o livro um pouco monótono, mas, ao mesmo tempo, interessou-se esta espécie de Robinson Crusoe moderno.

A tradução é de Gilda Lopes Encarnação, numa edição Antígona.

Futebol – modalidade multifacetada

Quando o guarda-redes rechaça com os punhos – é boxe

Se o avançado executa um pontapé de bicicleta – é ciclismo

Se o guardião mergulha aos pés do adversário – é natação

Se o avançado dispara à queima-roupa – é assassínio

Se fuzila o guarda-redes – é carrasco

Se dispara sem preparação – é assassínio involuntário

Quando a bola bate na barra – é galo

Se passa por baixo das pernas do guarda-redes – é frango

Se bate duas vezes na barra e não entra – é vaca

Se o avançado está à mama – é a zoologia completa

Se a bola pinga sobre a baliza – há molho

Se os avançados fazem tabelinha – é bilhar

Quando o jogador chuta na relva – é desprezo pelos espaços verdes

Quando atira para a terra de ninguém – é um perdulário

Quando o avançado surge isolado na grande área – é a solidão

Quando o defesa corta – há sangue

Quando o defesa se corta – é maricas

Se o jogador se agarra muito à bola – é fanático

Se passa em profundidade – é escafandrismo

Quando o avançado se interna no campo adversário – está doente

Se se agarra muito à linha – é alfaiate

Se o guardião defende in extremis – é latim

Se o defesa alivia de qualquer maneira – é porcalhão

Se o defesa, atento, está sempre em cima do adversário – é a dor nas costas

Quando o avançado centra solicitando a cabeça de um companheiro – é um sanguinário

Se o guardião oferece o corpo à bola – é um depravado

Se o jogador vai a todas – é um garanhão.

Anúncios Pão com Manteiga

* Evite o roubo – junte-se a nós. Nunca roubamos colegas.

* Monte Gordo – que o magro não aguenta

* Drogaria – se não fosse proibido. Assim, tenho medo da polícia

* Andar Baixa – faz mal à espinha; endireite essas costas

* Dá-se 5 000$00 – a quem der 10 000$00. Negócio absolutamente limpo. Lavo sempre as mãos antes de receber a massa

* Furos para água – orifícios para vinho, buracos para cerveja, aberturas para leite, covas para laranjada. Fazemos orçamentos.

* Parede vende-se – pintada de verde, sem buracos de pregos. Tem apenas um quadro pendurado

* Bom Andar – tudo depende dos sapatos. Use o nosso calçado e verá como andará bem

* Quinta Compro – sexta vendo. Sou um inconstante

* Paio Pires – Mortadela Amaral, Presunto Silva, Bacon Oliveira, Salsichas Borsalino. Carnes das melhores proveniências

* BMW, DKW, VW – Pltr rtgsls  ldkjhd lslkjdh

* Andar na Pontinha – é perigoso; mantenha o equilíbrio!

* Sementes – levas porrada! É muito feio mentir.

  • in revista Pão com Manteiga, diverso números, 1981/2